Os Clichês de Rosemary escrita por Gabriel Campos


Capítulo 27
Fiz origami com seu papel de trouxa - PARTE 1


Notas iniciais do capítulo

Gente, tô vivo!
Agradecendo imensamente à Mrs Cary por ter recomendado a história. EU AMEEEEEI!!! *-*



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Chegamos ao hospital minutos depois de papai ter desmaiado. Rubem estava sentado no chão, o rosto enfiado entre as palmas das mãos. Só sabia chorar. Dóris estava preocupada e, com seu vestido de noiva, caminhava para lá e para cá, esperando que algum médico aparecesse para dar notícias de papai. Marjorie estava sentada, ao meu lado, na sala de esperas, serrando suas unhas. Ninguém tocava no assunto. Ninguém parecia se importar com o acontecido. Nem mesmo questionavam sobre o aparecimento daquelas Drag Queens no casamento.

Saí do lugar onde eu estava e me sentei ao lado de Rubem, no chão. Ele chorava muito, mal conseguia olhar para Dóris, com vergonha, de certa, por ter tentado a enganar. Ele não sabia, no entanto, que ela já estava por dentro do plano malicioso que ele tinha de se casar apenas para conseguir o dinheiro.

— Eu estou arruinado, Rose. — desabafou Rubem, entre soluços. — Se papai morrer, vai ser por minha causa. Mas eu juro, eu juro que não foi por ganância que eu fiz aquilo.

Era a primeira vez que eu via meu irmão daquele jeito. Eu só queria que ele fosse humilde o suficiente para assumir seus erros e pedir desculpas a todos que ele magoou.

— Só me diz, Rubem: por quê você tentou enganar a Dóris? — olhei fundo nos olhos do meu irmão — ela não merecia isso, ela não merecia ter o coração partido dessa forma. Ela gosta de você, de verdade... como homem.

— Mas eu não sou homem! — ele abaixou o rosto entre as palmas das mãos novamente e voltou a chorar. Eu forcei sua cabeça de modo que ele retornasse a olhar para mim.

— Não, Rubem. Você não é um homem. Ainda. Mas você pode assumir seus erros, você pode pedir desculpas. E recomeçar. Se ninguém te aceitar do jeito que você é.... — pus minha mão sobre seu peito — apenas viva, sem medo de ser feliz e não se importe com que os outros pensam de você. Mas nunca Rubem, nunca, use ninguém como degrau para chegar ao topo de alguma coisa. Você está me ouvindo? — encarei-o, séria. Parecia eu quem era a irmã mais velha, e não ele.

— Obrigado, Rosemary. — ele disse, amistoso, me dando um beijo na testa.

— Agora Rubem, se levanta daí... — levantei-me, ficando de pé a sua frente e puxei seus braços para que ficasse de pé também - e vai falar com a Dóris. Não se preocupa com o papai agora, acredita que vai dar tudo certo, ok?

Então, como uma criança indefesa, Rubem caminhou em direção a Dóris, que, ainda aflita, rumava de um lado para o outro naquele corredor de hospital. Ela já o esperava, mas não daquele jeito. Talvez minhas palavras o fizeram mudar um pouco, talvez as circunstâncias o fizeram perceber que ele, Rubem, não poderia mais ser aquele grande esnobe de sempre.

👯♡ 👯♡ 👯

(por Rubem Maldonado)

Eu nunca percebi que Dóris olhava para mim de modo estranho. Eu sempre deixei claro para ela que sou gay e, com isso, achei que seria impossível que uma mulher - ela, principalmente - pudesse se apaixonar por mim.

— Eu... eu sinto muito, Dóris. — falei, me aproximando. Estaria um silêncio absoluto naquele hospital, se não fosse por Marjorie serrando suas unhas.

— Eu não sou boba, Rubem. — afirmou — É óbvio que eu sabia das suas segundas intenções. É óbvio que você não estava se casando comigo por amor, e sim por dinheiro. A sua chefe descobriu o roubo, não foi?

— Eu só queria o dinheiro para não ir pra cadeia, você entende? Eu queria me acertar com a Tereza e dar a ela o dinheiro que o Martin roubou através de mim. Eu não roubei, foi o Martin, através de mim, entendeu?

— Você quer que eu acredite que você é inocente quanto a esse roubo, Rubem... — Dóris me fitou com suas órbitas castanhas, séria - E eu acredito. Mas... o que você fez para apagar esse fogo não foi uma coisa bonita. Você tentou me enganar, você quis mexer com os meus sentimentos... Por que você não me contou a verdade? Eu toparia casar com você mesmo assim! Nós somos amigos há quanto tempo?

— Mais do que eu posso imaginar. - Eu comecei a pensar que Dóris e eu já éramos amigos há pelo menos uns dez anos, e quase sofro com isso. Meus pés de galinha estavam tão salientes assim?

Ficamos em silêncio por algum tempo. Uma enfermeira passou pela sala de esperas, achamos que ela trazia notícias de papai, mas era alarme falso. Peguei as mãos de Dóris e as apertei firme. Ela me fitou novamente.

— Dóris... me perdoa? - me ajoelhei - Me perdoa, por favor? Eu sei que dez anos de amizade não vão apagar jamais o que eu fiz com você, mas... você é uma garota tão especial e bondosa...

— Eu te perdôo, Rubem. Ela soltou uma das suas mãos e me mostrou seus dedos. — Afinal, somos marido e mulher agora, não?

Apesar de tudo, eu havia casado com Dóris. Ela era a minha esposa, no meio daquela história mentirosa que eu havia contado e que queria que todos à minha volta acreditassem. Eu sabia que não podia traí-la, tampouco magoá-la de qualquer forma. Ela era a senhora Dóris Maldonado, por enquanto. E eu, como marido, tinha que preservá-la.

— Eu te amo, Dóris. Você é uma excelete amiga, nem sei se te mereço. Depois de ter feito origami com seu papel de trouxa, você ainda me quer bem.

Ficamos de pé, frente a frente, e ela me abraçou forte e eu a correspondi. Vi Rosemary nos observando de longe, orgulhosa de mim. Sussurrei um "muito obrigado" para minha irmã e ela pôde ler meus lábios; estava tudo bem.

Bom, quase tudo.

O médico chegou e Marjorie quase deu um pulo da cadeira da sala de esperas. Rosemary, que era mais apegada a papai do que qualquer um ali, se aproximou rapidamente do doutor. Dóris e eu, apreensivos, preferimos não nos aproximar e escutar tudo daquela pequena distância que mantínhamos.

— E então, doutor, como papai está? — Rosemary indagou.

— Bom, Zeferino está... — o médico começou a falar, mas Marjorie o interrompeu:

— ... MORTO!

Todos olhamos com olhos arregalados para aquela mulher, que achava (e queria) estar viúva. Fiquei pensando no quanto papai era infeliz ao lado daquela mulher interesseira, que se casara com ele só por causa do dinheiro. Era bem o que eu estava querendo fazer com Dóris.

— Desculpa. — ela fingiu choro — pode continuar, doutor.

— Zeferino está bem. Foi só uma queda de pressão, devido a algum estresse.

— Ah, doutor, ele recebeu uma notícia muito triste e decepcionante, vindo do próprio filho que ele alimentou em seu seio — Marjorie me olhou, com aqueles olhos de jacaroa — Então... eu posso vê-lo?

— Claro! — ele respondeu.

Fiquei com medo de ver papai e de fazer com que ele tivesse um piripaque novamente, então nem Dóris nem eu fomos. No entanto, estava receoso: Marjorie queria que papai morresse para colocar as mãos no dinheiro dele, óbvio. Então pedi que Rosemary a acompanhasse, para evitar que a perua sufocasse Zeferino com um travesseiro ou algo assim.

👯♡ 👯♡ 👯

(por Solange Campos)

Eu e os outros convidados (inclusive as Drag Queens "amigas" do meu filho) ficamos na festa depois que saíram às pressas para levarem Zeferino ao hospital após a síncope que ele teve. Todos estavam apreensivos, preocupados com o pai do noivo, com aquela notícia que Rubem dera logo após trocar as alianças com Dóris.

Meu filho saiu do armário e eu bem que já sabia. Toda mãe, no fundo sabe tudo sobre o próprio filho, por mais que ele esconda. O pior cego é aquele que não quer ver, e eu bem que quis ser cega no início, na infância de Rubem, quando ele preferia as bonecas de Rose aos carrinhos que eu comprava para ele; achei que era uma fase passageira, mas não passou. E, bom, Rubem é meu filho, acima de tudo, e eu nunca o abandonaria por isso.

Eu sabia que meu filho não chamaria aquelas Drag's que sabiam de todos os seus podres para a sua festa de casamento. Tinha o dedo de alguma pessoa nisso tudo, e eu bem que desconfiava de quem era.

A Drag Queen que parecia ser a líder de todas elas estava agarrada ao prato de bem-casados. Aproximei-me dela e puxei o prato de suas mãos. Ela me encarou com suas sobrancelhas postiças e pôs suas mãos na cintura, dizendo:

— Quem você pensa que é pra roubar meus docinhos desse jeito?

— E você, quem pensa que é para estragar o casamento do meu filho? — retruquei.

A Drag Queen deu uma gargalhada muito maléfica, jogou seu cabelo falso para trás e zombou:

— Você? A mãe do Rubem? Agora eu sei de onde ele herdou toda aquela cafonice. — ela gargalhou novamente, tentou tirar o prato de bem-casados da minha mão, mas eu não deixei.

— Eu te dou o prato de docinhos, até esqueço o que você falou de mim se você me contar uma coisa.

— O quê? — a transformista indagou.

— Quem convidou vocês?

Ela caducou um pouco antes de me responder. Quer dizer, de me confirmar:

— A primeira dama dos Supermercados Maldonado, a Diva Suprema, Marjorie Maldonado, claro. Disse que a gente precisava vir, porque iria ter uma boca livre e tal. Disse que se a gente quisesse fazer barraco, estava liberado. E, cá entre nós, querida, seria impossível não fazer um barraco diante de uma situação daquelas. Afinal, Rubem é e sempre será uma de nós. Agora me devolve isso aqui. — ela puxou o prato de bem-casado da minha mão e começou a comer freneticamente.

E o meu sangue, ah o meu sangue começou a ferver. Corri até o lado de fora da mansão, peguei meu fusca branco e acelerei em direção ao hospital onde levaramZeferino. Era lá onde eu encontraria Marjorie.

— Essa piranha vai aprender a nunca mais cruzar o caminho dos meus filhos! — suspiriei, enquanto manobrava o carro.


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Notas finais do capítulo

Estamos quase no fim! A fic vai até o capítulo 30.
No próximo tem Rosebastian :)