Os Clichês de Rosemary escrita por Gabriel Campos


Capítulo 25
Soltando a franga e a granja inteira - PARTE 1


Notas iniciais do capítulo

Maior capítulo da fic, e ainda precisei dividir em dois.. vcs vão entender.
Informação: estamos na reta final da fic e meu PC quebrou. Ainda bem que salvei quase tudo.
Bora lá!



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— Rose, é você? — ouvi a voz de Sebastian do outro lado da linha. Ele parecia estar cansado, talvez por ter passado várias horas numa sala de cirurgia.

— Sou eu sim, Sebastian! — mal pude disfarçar minha alegria em ouvi-lo. — Como você está? A cirurgia correu bem? Quando você volta.

Aquele silêncio que antecedia as respostas das minhas diversas perguntas já tomava o meu coração. Era como se todo milésimo de segundo virasse uma eternidade, como numa aula de matemática.

— A cirurgia correu bem, Rosemary. — respondeu ele — Mas não posso saber se ela deu certo ainda, até eu tirar os curativos. Mas não se preocupe, pois não deve demorar muito.

— Vai dar tudo certo, você vai ver. — falei, esperançosa. Minha respiração ficava cada vez mais ofegante.

— Eu fiquei sabendo do casamento... — ele disse, com um tom engraçado na voz. — Na boa, Rose, eu não posso falar muito porque a ligação custa caro, mas enquanto eu não estiver aí, cuida pra que minha irmã não quebre a cara. Por favor?

— Claro. — respondi, dando minha palavra. — Eu sei que isso não vai prestar, mas pode deixar que cuido da Dóris. Agora... eu acho melhor desligar, depois a gente se fala mais.

— Rose, espera!

— Oi...

— Eu não vejo a hora de voltar... estou com saudades de você.

E desligou, quase me fazendo cair pra trás.

👯♡ 👯♡ 👯

(por Rubem Maldonado)

— Pra onde você vai, Rubem? — indagou minha mãe, enquanto eu vestia o terno.

Finalmente chegara o grande dia. Eu me casaria com Dóris, uma cerimônia simples, de última hora. Pouca gente iria, apenas alguns amigos meus e dela; da parte do meu pai, vários fazendeiros e outros conhecidos do interior, além da mãe da noiva, já que Sebastian e seu pai ainda estavam nos Estados Unidos.

— Ah, mamãe... eu não te contei porque achei que a senhora não iria gostar de saber da ideia, mas vou me casar.

Mamãe quase teve uma síncope e se sentou na cama, apertando a mão contra o peito. Solange, sempre exagerada.

— Eu sempre temi por esse dia. Ah, meu Deus, esse século XXI é cheio de surpresas! Quem é ele? Fale!

Rumei até o espelho e arrumei meu cabelo, depois a gravata e, sem seguida, coloquei uma rosa branca no bolso da camisa. Respondi:

— Não é “ele”. É ela. E a senhora já conhece a Dóris. Ela sempre vem aqui.

Minha mãe ficou me observando como se eu tivesse oito anos e feito besteira. Tá, depois do vinte, de vez em quando a gente pode fazer uma coisinha que possa levar a gente pra cadeia né?

— Eu não tô entendendo mais nada, filho. — mamãe cerrou o punho e apoiou o queixo — Só sei que eu não posso perder o casamento do meu filho por nada desse mundo.

E ela saiu correndo para o quarto dela para se arrumar. Retirou do armário um daqueles vestidos que ela não usava já havia uns dez anos mas que, surpreendentemente, ainda cabiam nela. Ela só havia esquecido de um detalhe:

— Mãe — chamei-a — Eu já disse à senhora que o casamento vai ser no jardim da mansão do papai?

E então ela olhou desconfiada para mim e foi pentear os cabelos. Fazia muito tempo que eu não a via de cabelos soltos.

— O que interessa? — indagou.

— A Marjorie vai estar lá. E o papai também, ué. — lembrei-a — A senhora nunca se deu bem com ela e nem com ele depois da separação.

— Mas acontece que o meu filho vai se casar e eu não quero fazer desfeita.

— Ah, mãe. É só uma cerimônia simples.

Era o que eu achava que seria.

👯♡ 👯♡ 👯

Dóris se olhava no espelho de um dos quartos do casarão do meu pai e contemplava o vestido de noiva que ela mesma escolhera para vestir. As costureiras davam os retoques finais.

— Sabe o que eu ouvi meu pai comentar, Dóris?

— O quê, Rose?

— Que você e Rubem só estão se casando assim, tão rápido, porque acha que você está grávida.

Ela gargalhou.

— A Rose, por favor! Seu pai é uma graça.

— Ele até disse que você deu uma engordadinha. — completei.

— Retiro o que eu disse.

— Eu só digo uma coisa: estou muito incomodada com isso. Casando ou não, vocês estão enganando o meu pai. E ele não merece isso. Ainda mais tendo aquela jararaca sanguessuga da Marjorie como esposa. Rubem só pode estar precisando bastante do dinheiro pra aceitar fazer uma coisa dessas. — suspirei.

Dóris me olhou como se já soubesse de tudo e acabou desembuchando.

— Sim, ele está. Ele não me contou, mas eu sei que sim.

— Que história é essa, Dóris?!

Dóris levantou a anágua do vestido e caminhou até a cama, se sentando em seguida. As costureiras saíram do quarto, desconfiadas.

— Até onde eu sei, Rubem desviou uma grana dos cofres da Folk Basfond, mas não foi por que ele quis. Quer dizer, foi e não foi.

— Ai, Deus, eu não tô entendendo mais nada,

— Bom, o que interessa é que o seu irmão foi enganado e, digamos que ele “emprestou” esse dinheiro desviado a alguém e a pessoa nunca mais apareceu. Talvez a dona da loja tenha descoberto o rombo nos lucros, claro.

— Depois Rubem me chama de burra.

— Rose, quando digo que gosto do Rubem é verdade... — ela fitou meus olhos, séria — Eu só topei esse casamento porque não quero vê-lo atrás das grades e também porque é uma maneira de ficar perto dele. Eu sei que ele está me usando, mas não se preocupe. Rubem vai aprender uma lição.

Sinceramente, se eu fosse Dóris, não aceitaria. Rubem sempre foi uma boa pessoa, apesar dos pesares e apesar de nunca termos nos dado tão bem quanto deveríamos nos dar. Ele sempre teve esse jeito meio toxico com todos a sua volta, até mesmo com a mamãe; sempre pensou apenas no próprio umbigo, sem pensar no próximo e nem nas pessoas que (eu acho que) ele ama. Dóris e Rubem, por exemplo, são amigos há bastante tempo e ele, mesmo sabendo da cilada que poderia estar colocando a garota, já estava a pondo nessa saia-justa sem achar que ela não estava percebendo.

— Como é que tá meu cabelo? — indagou a noiva, fascinada com o penteado chiquérrimo que fizeram nos seus cabelos curtos e loiros, combinando-os com flores.

— Eu acho tudo isso exagerado demais. — respondi.

— Está chegando a hora. — ela falou empolgada, como se de nada valesse a minha opinião.

👯♡ 👯♡ 👯

(por Sebastian Freitas)

Eu já estava cansado de ficar deitado naquela cama. Papai ficava o tempo todo no corredor do hospital pois, sem nada para fazer, a única coisa que lhe sobrava era esticar as pernas e sair andando por aí.

Era ruim saber que eu estava nos Estados Unidos e não podia aproveitar a viagem para conhecer um novo país, uma nova cultura.

Percebi que não estava mais sentindo os curativos sobre os meus olhos e deduzi que algum enfermeiro deveria tê-los retirado enquanto eu dormia. Era a primeira vez que eu estava sem os curativos após a cirurgia. Fiquei com medo de abrir os olhos, pois poderia ser arriscado e colocar tudo a perder.

— Tem alguém aí? — perguntei; ninguém respondeu.

Resolvi, ainda de olhos fechados, me levantar da cama e dar alguns passos, mas acabei esbarrando em alguma coisa e fiquei parado, como uma estátua ali naquele lugar. Foi naquele momento que senti falta do meu companheiro Puff, que era mais do que um cão-guia para mim: era um amigão, era os olhos que eu nunca tive.

— Alguém, por favor? — perguntei, um pouco mais alto, mas apenas as paredes me ouviram.

Então eu decidi arriscar abrir os olhos e, de quebra saber se tudo valera a pena mesmo. Aos poucos minhas pálpebras foram cedendo e a luz penetrou nos meus globos oculares. Era uma sensação estranha, como se uma névoa densa estivesse sempre a minha frente. Tudo estava embaçado, eu tinha certeza de que as pessoas não enxergavam daquela maneira.

Comecei a tatear as paredes em busca de uma saída, encontrando assim uma maçaneta redonda e girando-a em seguida.

— Pai, o senhor está aí? — perguntei — Pai! Socorro!

Ouvi muitos passos ligeiros vindos do corredor, ao longe, mas que se aproximavam. Curvei-me para o outro lado e percebi três ou quatro manchas correndo na minha direção. Eles falavam, desesperados, em inglês. Deveriam ser os enfermeiros. Do outro lado, ouvi meu pai chamar meu nome.

— Sebastian!

Sozinho, como uma criança, segui sua voz e caminhei até ele. Quando me aproximei, pude enxergar melhor seu rosto: era a primeira vez que via meu pai. Com meus olhos. Não era muito nítido, mas ainda assim, eu o enxergava.

— Pai... pai, eu posso ver o senhor.

E então, emocionado, ele me abraçou.

O doutor Lionel me explicou que eu reagi muito bem a cirurgia, mas que eu precisava descansar bastante se quisesse enxergar melhor. Ainda assim, mesmo vendo tudo em manchas, estava feliz por sair, de alguma forma, da escuridão. Ver aquele ventilador girando no teto do quarto era uma alegria para mim, pois outrora eu só podia ouvir seu barulho mecânico com os meus ouvidos apurados.

Assim, queria não apenas ouvir a voz da garota que eu amava, tampouco apenas tocá-la: queria enxerga-la também.

👯♡ 👯♡ 👯

Achei que Rubem faria a vez da noiva e chegaria atrasado, mas, incorporando o papel de noivo apaixonado, foi o primeiro a chegar, com um terno super exagerado, mas elegante. Mas as surpresas estavam apenas começando, pois meu irmão trazia mamãe, vulgo Dona Solange, consigo.

Fazia muito tempo que Zeferino e Solange não ficavam cara a cara. Que eu me lembrasse, desde a separação dos dois. Minha mãe já conhecia Marjorie dos anúncios dos supermercados de papai, onde, como eu já disse, ela sempre era a estrela.

— Isso é uma pouca vergonha, uma sacanagem sem tamanho! Essa mulher está praticamente com os seios do lado de fora num comercial em pleno horário nobre! — dissera mamãe, certa vez, quando vira Marjorie estrelar o primeiro comercial da rede de supermercados Zeferino.

Minha mãe demorara algum tempo para se conformar com o fato de nosso pai, seu ex marido, ter se casado novamente, construído uma nova família e ter se dado bem financeiramente. No entanto, ela mal sabia que também tinha essa chance, de mudar de vida, dar um passo à frente, fosse como ela quisesse. Bastava ter força de vontade e não ficar se remoendo pelos cantos.

Solange escolheu um lugar mais afastado do jardim, e bem discreto, de onde poderia acompanhar a cerimônia. Ela me viu no altar, arrumando algumas flores e acenou. Soltei um beijo no ar e ela fingiu tê-lo fisgado e guardado no coração. Mamãe estava, de certo modo, feliz.

Rubem, por outro lado, estava ansioso e uma pilha de nervos. Ele me abraçou e olhou pra mim com aquela cara de cachorro que está querendo fugir da chuva e busca um abrigo. Eu via em seus olhos a essência do arrependimento, o medo de que tudo desse errado.

Só restava dançar conforme a música.

Papai e sua amada e adorada esposa Marjorie chegaram. Foram cumprimentados pelos convidados, muitos vindos do interior a pedido do próprio Zeferino. O tititi e o bafafá do momento era o vestido da primeira dama, feito com o que parecia ser pele de cobra, a cara dela. Vestido em seu corpo, lembrava uma embalagem de café a vácuo, de tão justo.

Percebi que mamãe, lá do seu cantinho discreto, fez uma cara de horrorizada.

Sabe de nada, inocente!

— Rubem, estou muito orgulhosa de você. — Ouvi Marjorie dizer, ao mesmo tempo em que apertava as bochechas rosadas do meu irmão — Você sabe que é como um filho para mim. — lágrimas de crocodilo desceram dos olhos dela; voz embargada, típica atriz. Fingiu não ter palavras e acabou abraçando o rapaz. Rubem fez cara de nojo.

E o Oscar de maior show em público vai para...

— Calma, fofa, assim você vai borrar sua maquiagem. — disse Rubem, o veneno escorrendo pelo seu queixo. Não quero te ver... feia ... no dia mais feliz da minha vida.

— Parabéns filhão! — papai cumprimentou seu filho prodígio esmurrando suas costas, em seguida, com sua esposa, se dirigiu às cadeiras mais próximas ao altar.

A noiva estava atrasada, no entanto, todos sabiam que ela estava na mansão, se arrumando. Dóris fez questão de sair pelos fundos da casa, pegar uma limusine e dar a volta no quarteirão, até a entrada do jardim, onde chegaria à cerimônia em grande estilo.

Quando ouviram o barulho do veículo que trazia a noiva, os convidados fizeram silêncio. Logo uma música da Katy Perry, chamada Ur So Gay veio à minha cabeça, pois combinava muito com o momento e bem que poderiam tocá-la em vez da marcha nupcial. Mas seria bem sugestivo...

Dóris colocou o pé direito para fora da limusine, e com cuidado colocou o resto do corpo, botando a cara no sol e mostrando a sua feminilidade. Os convidados ficaram de pé, de pescoço virado, acompanhando seus passos durante a marcha nupcial. Ela estava linda e o buquê que segurava destacava toda a sua beleza.

Ao chegar no altar, estendeu sua mão a Rubem, que a tocou. Ficaram de joelhos diante do padre.

Após a troca de votos e da troca de alianças chegou a hora que, talvez, fosse a que Dóris mais esperava. E eu também. Queria saber se Rubem levaria aquela mentira adiante beijando uma garota na frente de todo mundo.

— Pode beijar a noiva, rapaz! — Já era a terceira vez que o padre repetia.

Rubem encarou s convidados do jardim antes de encarar Dóris, que já fazia biquinho. Era agora ou nunca. Beija ou não beija? Diz a verdade ou não?


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Notas finais do capítulo

O casamento tá só começando...