Can we whisper? escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 23
Capítulo 22 — Machucando.


Notas iniciais do capítulo

Okay, garotas, o nome do capítulo diz tudo, então... espero que gostem e é isso ai. Não se esqueçam de comentar, srslyyyy, comentar sempre faz bem para que a autora poste mais rapidamente. Obrigada a todas que estão comentando, mesmo! Não sabia o que seria de mim sem vocês, garotas. Vocês são incríveis.



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Eu não fiquei por muito mais tempo lá, embora Edward não quisesse deixar que eu fosse por causa da tempestade que tinha aumentado consideravelmente. Mas eu fui mesmo assim, afinal ainda precisava revisar algumas coisas para aula de amanhã. Tinha uma professora que sempre amava fazer perguntas, e quem não respondesse ou respondesse errado, perdia alguns pontos de sua média.

Edward sabia bem como isso era; por isso não teimou muito até me soltar, beijando-me por uma ultima vez nos lábios, informando-me que amanhã passaria em meu apartamento, depois do trabalho. E eu, claro, não fiz nenhuma objeção já que o queria lá. Meus dias estavam ficando mais animados desse jeito e o meu tédio saia rapidamente quando ele falava qualquer amenidade sobre seu trabalho ou o quanto odiava as pessoas de Bristol.

Ele não era o único, de fato. Se eu pudesse, voltaria para Glastonbury e suas pessoas preconceituosas sem pensar duas vezes.

― Sabe Bella, quando eu te falei sobre ficar com alguém imperfeito, eu não pensei que você chegaria a tanto. ― Alice disse casualmente assim que entrei no apartamento. Ela olhou para o meu casaco, que na verdade era de Edward e sorriu de leve. ― Não que o fato de você estar com Edward não seja… hã, maravilhoso, pode-se dizer. Vocês combinam… tem personalidades muito fortes. Chega a ser… intimidador.

― Combinamos, é? Eu não acho isso. ― Murmurei, tentando fazer que ela parasse de falar. ― E o fato de sermos estressados de vez em quando não é uma vantagem.

― Não estou dizendo que é. Estou dizendo que combinam nesse ponto. Eu nunca tinha visto vocês juntos e… em menos de três dias você ficou mais sorridente, percebeu? Edward também. Vocês se fazem bem e eu nunca o vi sendo assim com outra pessoa.

― Ele te pagou pra dar esse discurso? ― Indaguei erguendo minhas sobrancelhas, fechando a porta atrás de mim e a trancando logo em seguida. ― Não vou dizer a ele que você me disse, sabe.

Ela sorriu com minha petulância.

― Estou dizendo isso porque quero que vocês fiquem juntos.

— Claro, claro que é. — Concordei sarcástica. — E logo quando eu chego da casa de Edward que você vem me falar isso? Vocês combinaram, eu sei, eu sei, não tenho mais dez anos de idade, não é tão fácil me enganar agora. Lhe mandei uma piscadela, sorrindo. — Não vou dizer a ele que seu plano não funcionou.

Ela bufou cruzando os braços de raiva.

— Argh, Bella! Acredite no que quiser.

Eu não disse mais nada antes de ir para o meu quarto e me encolher na cama, assistindo um filme qualquer para que o sono viesse o mais rápido que pudesse. Eu não estava com concentração ou paciência para estudar alguma coisa da faculdade agora, não por causa da teimosia de Alice e alguma coisa que envolvesse Edward, eu só estava cansada.

Eu queria voltar para Glastonbury, queria ficar na casa de minha mãe o dia todo, queria a escutar reclamando de meus modos grosseiros demais para uma garota. Queria viver naquela casa imensa e me perder de vez em quando na mesma ou até mesmo achar algum lugar que eu me sentisse confortável sem ser meu próprio quarto. Eu não tive tempo para ver isso, meus dezesseis anos fora corrido demais e horríveis, diga-se de passagem.

E eu também queria Riley, comigo. Nos Estados Unidos quando não éramos nada, quando éramos amigos e eu não o via como alguma coisa a mais que isso, pois era pequena demais. Queria rir feito uma maluca quando estávamos brincando de alguma coisa boba, ou até mesmo queria me sentar na árvore que tinha perto do laguinho o qual sempre íamos e brincar de adivinhar os pensamentos dele.

Eu não queria o amor. Ele machucava, doía e aumentava a dose de insegurança dentro da pessoa. O máximo do amor que eu queria chegar perto era o amor fraternal ou algo assim. Enfim, eu não queria crescer, tomar decisões, ficar longe de quem eu infelizmente amava.

Você sabe, não é? Eles estão querendo ir embora. Riley me acusou no verão de 1997. De novo, de novo e de novo. Não aguento mais viajar, Bells.

Eu assenti, abraçando minhas pernas e encaixando meu queixo nas mesmas, o olhando quando ele se sentou de frente para mim.

Mas você vai conosco, isso já serve para alguma coisa. Sussurrei.

Sim. Em compensação, ele não vai com a gente. Apontou com o rosto para o cachorro branco com caramelo que estava deitado ao nosso lado.

Ah sim, claro que vai.

Riley sorriu com a determinação em minha voz e jogou um pouco de terra no cachorro que tinha a sua frente, fazendo-o levantar as orelhas e somente o olhar, com preguiça o bastante para levantar-se e o atacar de brincadeira como estava acostumado a fazer. Era fim de tarde, Kato sempre ficava com sono nessas horas e só acordava elétrico no outro dia.

Cachorro feio. Riley o provocou, puxando suas orelhas levemente, sorrindo.

Ele era o cachorro mais lindo que eu ganhara em minha vida, eu queria que ele vivesse para sempre, embora soubesse em minha mente infantil que um dia ele teria que partir para algum lugar e isso viriam muito antes de mim. Eu estaria mais matura e não sofreria nada eu me agarrava a essa ideia, e chorara um dia e noite inteira quando soubera que não seria assim.

Kato morrera quando eu só tinha 14 anos e o impacto foi o mesmo de um caminhão me esmagando.

Eu quase funguei ao lembrar-me disso, entretanto somente desliguei a televisão, fechei as cortinas claras do quarto e tranquei minha porta, cobrindo-me por completo quando deitei de novo na cama. Eu queria ligar para Riley, falar com ele e rir de sua infantilidade, mas ele estava morto.

A verdade era frívola e eu a odiava.

No outro dia eu estava tão bonita quanto um zumbi saído diretamente de um filme de terror dos melhores. Meu rosto estava horrível, mais que o normal e meus olhos estavam cansados, deixando-os caídos e me deixando mais… estranha que o normal. Por isso, passei mais maquiagem que o normal e suspirei, vendo que eu não conseguiria fazer nada.

Agora eu estava igual à antes. Não bonita, de jeito algum; eu continuava do mesmo jeito: sem graça e com a expressão fria, quase como se eu estivesse entediada.

Como sempre, o dia na faculdade não poderia ter sido mais tedioso do que foi. Hoje era o dia em que as aulas eram as mais chatas e eu quase dormira na aula a qual era a mais importante do trimestre. Quase. Ângela me cutucara de leve e me acordara, sabendo que não era de propósito que eu quase dormira.

Ângela era a única pessoa educada naquela faculdade, ou talvez não fosse; eu não sabia dizer com tantos detalhes. Eu quase não falava com ninguém daquela faculdade pelo simples fato de não precisar, e quando vinham falar comigo era para saber se teve algum trabalho ou conferir se a prova estava igual a minha.

Isso mesmo. Eu era chata mesmo e não me importava com o que diziam sobre mim.

— Eu estava pensando em fazer o trabalho com… — Ângela se interrompeu, olhando para minhas costas.

Ao mesmo tempo senti mãos másculas me puxando para trás e um rosto se encaixando em meu ombro. Eu estava pronta para dar um chute para trás, mas rapidamente reconheci o cheiro de Edward e me virei para trás, fuzilando-o com o olhar e corando ao perceber que várias pessoas — principalmente garotas — me olharam como se eu fosse um ET.

— Eu, hm, tenho que ir, Bella. Tenho que ficar com meus irmãos hoje. — Ângela disse a primeira coisa que veio em sua mente, eu pude perceber. Ela estava vermelha feito um pimentão assim como eu.

— Tudo bem. A gente se vê amanhã, Ang.

Ela assentiu por cima do ombro, afastando-se apressada.

Por que Edward sempre amava me deixar sem graça?

— Pensei que estivesse trabalhando hoje. — Murmurei, o olhando. — Céus, Edward! Vamos sair daqui antes que te comam com os olhos aqui mesmo. Essas garotas atiradas e idiotas. E você também não deveria estar aqui porque eu vim com Alice e se ela tivesse ido para casa de Jasper, eu poderia ir muito bem ir andando. Meu apartamento nem é tão longe assim. Tenho que me lembrar de trazer meu carro mais vezes para que isso não venha mais acontecer. — Tagarelei, nervosa e o puxando pela mão para fora do pátio.

Ele gargalhou de meu tom e eu faisquei meus olhos para ele, o fitando.

— O que está fazendo aqui? — Perguntei.

— Além de matar você de ciúmes? — Ergueu as sobrancelhas e quando chegamos a seu carro, empurrou-se contra meu corpo, pressionando-me contra ele e encurralando-me em seus braços. — Vim te pegar para almoçar comigo.

— O almoço… é d-de m-meio dia. — Consegui botar para fora.

Aquela proximidade não estava fazendo bem para a minha concentração.

— Hoje tiveram muitas consultas, tive que sair para almoçar mais tarde. — Ele explicou e pegou meu rosto entre as mãos, olhando-me. — E você parece não ter comido nada também. Que coisa feia, Isabella Swan, você está comendo muito mal esses dias.

Droga! Não tinha como ele saber que eu não tinha comido na hora do almoço.

— Seus lábios ficam sem cor quando você não se alimenta. — Ele disse quando ergui uma sobrancelha para ele. — Você não fica menos atraente por isso, obviamente. É só que eu aprendi a observar isso por causa da… de antes.

— Não tinha nada na cantina que me interessasse. — Dei de ombros.

— Pois bem, você vai comer agora.

Antes que eu pudesse protestar contra isso, ele capturou meus lábios, beijando-me e prendendo meu rosto em sua mão, inclinando-o para frente. Era ótimo o modo como ele me beijava sem tanto cuidado, mas ao mesmo tempo delicado ao entrelaçar sua língua com a minha e deslizar sua mão para a minha cintura, possessivo.

Edward nunca deixaria de ser possessivo e meu coração nunca deixaria de surtar dentro de meu peito por todos os seus toques. Assim que nosso ar acabou, eu me coloquei nas pontas dos pés para depositar um último beijo em seus lábios, o olhando quase hesitantemente quando abri meus olhos.

— Você está mais alta. — Ele observou, sorrindo.

— Sim, mas não tanto quanto eu queria. — Resmunguei.

Ele sorriu.

— Está bom, Bella. Para mim, pelo menos, está ótimo.

— Não acredito em você. — Eu disse. — Você não costuma ser muito sincero nas coisas que me fala; eu já percebi isso.

Edward me fitou incrédulo.

— Deveria acreditar. — Simplesmente falou.

Também não falei nada porque se fosse teimar, provavelmente ele estaria certo e me deixaria sem graça por isso. Aliás, até eu me perguntava às vezes qual era o meu problema com elogios. Eles eram as coisas mais simples do mundo e eu não devia me incomodar em recebê-los, ao contrário, eu deveria gostar. Mas os de Edward, principalmente os dele, me pareciam tão… irreais. Eu me sentia tentada a não acreditar e era isso que eu fazia.

Poderia ser idiotice de minha parte, na visão dele, mas eu não me importava com isso. Ele elogiava e era meu dever acreditar ou não.

— Aonde você quer ir? — Perguntou.

Dei de ombros.

— Pode escolher hoje. — Eu disse, e o olhei cautelosamente antes de abrir a gaveta de CDs de seu novo e perfeito carro. Ele não pareceu se importar com isso, por isso olhei com calma cada capa de CD que tinha lá, fazendo careta quando tinha alguma banda a qual eu não gostasse.

— Qual é? São clássicos.

Sorri.

— Realmente. — Minha voz não passou de um murmúrio indisposto.

Assim que chegamos ao restaurante que Edward tinha escolhido, baixei meus olhos para nossas mãos que estavam entrelaçadas e eu não tinha notado. Era quase automático e eu não podia evitar, apesar de querer muito que aquilo não acontecesse. Possessivo era a palavra que mais definia, entretanto o calor que a mão dele estava irradiando para minha era boa demais para eu me dar o luxo de soltar.

Aconteceu uma coisa muito estranha no restaurante, e mesmo morrendo de sono e cansaço, percebi e me incomodei por ser muito óbvio. Estávamos indo bem, não foi nada que Edward fez que talvez me incomodasse. Mas sim o que uma pessoa dentro do restaurante fizera, desencadeando o resto.

Para começar, ele parecia, mesmo em pouco tempo, ter muita popularidade naquela merda de cidade, então em pouco tempo que estávamos lá, mil pessoas vieram falar com ele, ignorando-me completamente como se eu fosse invisível. Eu até perguntei se eu realmente não era porque pelo modo como as mulheres se jogavam para cima dele e mandavam indiretas indiscretas ao extremo.

Qual era afinal? Eu não era surda, muito menos cega ou paciente.

Eu tinha quase certeza que ele só me levara para aquele restaurante somente por milhares de pessoas o conhecerem. Como se isso fosse importante para mim. Eu não deveria ter dito para ele escolher, eu deveria ter previsto isso. Aliás, ele nunca me falara sobre isso, por essa causa que eu não sabia sua popularidade insultante.

Edward não tinha senso? Ele não percebia que eu quase estava entrando embaixo da mesa para me esconder? Pois sim, era quase essa atitude que eu estava tomando. Em nenhum segundo ele me apresentou como sua namorada ou qualquer outra que fosse, e isso estava me incomodando mais que o normal.

Era como eu tinha pensado dias atrás: o único amor que eu queria chegar perto era o fraternal. Não que eu… não, não e não, eu não o amava, era só que… era como se eu fosse invisível até pra ele. Isso era normal pelo menos?

— Podemos finalmente pedir, Edward? Estou com fome. — Chamei sua atenção com uma expressão que era de raiva a cansaço.

A mulher que falava com ele também olhou para mim com as sobrancelhas loiras erguidas, quase com indiferença e nojo. O meu olhar foi pior, com certeza. Quando eu queria ser desagradável eu conseguia com a maior perfeição possível, tanto que ela baixou os olhos antes de olhar para Edward de novo.

— Quem é essa? — Perguntou ela.

Ergui minhas sobrancelhas, esperando sua resposta.

— Uma amiga. — Ele respondeu. Seu olhar não tinha nenhum resquício de arrependimento ou algo que me explicasse àquela palhaçada toda.

Amiga. Amiga. Amiga! Somente amizade.

Engoli em seco, controlando minha raiva e minha vontade de sair daquele restaurante e o deixar sozinho ali. Ele nunca mais teria companhia para o almoço, nem para nada que ele pensasse naquela mente idiota que ele possuía. Eu fiquei alheia à conversa de todas as pessoas que passaram depois daquela, até que meu celular tocou e eu fui atender fora do restaurante, aliviada pela desculpa decente.

Era Sean! Eu quase sorri ao atender.

— Isabella? — Ele perguntou assim que eu atendi. — Você passou! — Me informou com empolgação tingindo sua voz. — O emprego é seu, a vaga é sua!

Ri baixinho de sua empolgação.

— Eu já tinha perdido as esperanças, para ser sincera.

— Eu me atrasei para isso, desculpe-me. Tive que fazer muitas coisas esses dias e quando eu ia ligar, era tarde demais para ser apropriado. Então… você já almoçou? Eu sei que você almoça tarde.

— Não, na verdade… — Olhei para dentro do restaurante, vendo Edward conversar animado com outra mulher. Ela estava até sentada na mesa, no meu lugar. — Eu estava pensando em almoçar, mas estou perdendo a vontade.

— Não perca! Você quer uma companhia para almoçar? Eu estou faminto, o chefe não me deixou sair mais cedo que isso.

— Aonde? — Perguntei erguendo minhas sobrancelhas ao fitar a cena que aparecia na minha frente.

Era sério isso? A mulher se inclinou sobre a mesa e sussurrou algo no ouvido de Edward que o fez sorrir, lançando um sorriso cínico para a mesma. Ela mordeu os lábios e como a mesa era longe, vi a mão dela deslizando sobre a coxa dele, por cima da calça. O olhar dele se voltou para o meu e ergui o polegar para ele, sorrindo sarcasticamente.

— Podemos ir naquela lanchonete de sempre. Quer que eu vá te pegar? Onde você está? — Disparou.

— Não, não precisa. Eu estou perto.

— Ótimo, já estou chegando.

E assim eu desliguei o celular com os punhos apertados.

Eu tinha o direito de me sentir um lixo? Era tudo que estava me sentindo no momento e não queria olhar no rosto de Edward para ser algo sem ser esmurrá-lo até que toda a minha… raiva e desapontamento estivessem se esvaído completamente de mim. Não iria ser tão fácil e eu garantia que doeria bastante… nele.

— Se me dá licença, Sr. Cullen, tenho coisas mais interessantes para fazer agora. — Murmurei assim que me aproximei da mesa, pegando minha bolsa e jogando o celular de qualquer jeito dentro dela. — Meu celular estará desligado e não peça para Alice vir falar comigo se presa a vida de sua irmã.

— Você está sendo infantil, Isabella. — Ele disse com a voz sussurrante.

— Estou mesmo, é? Não me interessa. — Dei as costas para ele.

Não pude chegar até a porta, pois ele pegou em meu braço bruscamente, virando-me para ele com raiva explícita em seu olhar.

— Você vai ficar.

— Você está me machucando. Tem… 30, 40 minutos que eu estou esperando seus amiguinhos parar de nos atrapalhar e onde está a porcaria de sua consideração? Não existe! Olhe quantas mulheres querem falar com você, são… 1, 2, 3, 4, 5 mulheres — Eu sorri. —, conquistador. Se contar comigo são seis.

— Você não vai a canto nenhum.

— Mas é claro que eu vou! Você não é meu dono, querido. — Sussurrei ajeitando a gola de sua camisa que estava desarrumada. — Dê o seu melhor e as impressione porque a mim você já o fez sem precisar nenhuma palavra.

Soltei meu braço de sua mão dando um empurrão brusco nele, deixando-o estatelado lá.

— Sean? — Indaguei com a voz chorosa. — Eu não vou poder ir por que… porque eu não estou me sentindo bem. Pode ficar para a próxima?

— O que aconteceu? — A voz dele do outro lado da linha parecia preocupada.

Pressionei minha têmpora, sentando-me em um banco de praça que tinha perto do restaurante. Minha vontade de chorar era grande o bastante para eu precisar me sentar para respirar de modo regular, sem precisar ofegar como eu estivera fazendo.

— Deve ter sido… algo que eu não sei. Preciso me deitar.

— Quer que eu vá ao seu apartamento?

Por que ele era tão preocupado? Não deveria. Eu não queria que ninguém se preocupasse porque aquilo me incomodava. Eu não queria ninguém me perguntando o que tinha acontecido pelo simples desejo de não ser grossa e o mandar se ferrar porque aquilo era minha vontade de fazer no momento. Eu não queria ser idiota com ninguém para não perdê-los no final e ficar sozinha.

— Não, não se dê ao trabalho.

— Tudo bem, tudo bem, mas coma algo, Bella!

— Eu vou. — Sussurrei.

Quando eu cheguei à minha casa, ignorei todas as chamadas de meu celular e quando me irritei, o desliguei me contendo para não jogá-lo na parede. Eu não tinha dinheiro sobrando, por isso deveria conter meus instintos antes que estes mesmo acabassem me prejudicando como sempre acontecia.

Você não tem mais dezesseis anos, Isabella! Aja como uma adulta. — Ordenei-me quando as primeiras lágrimas começaram a cair de meus olhos, iniciando a sequencia de soluços que sacudiam o meu corpo inteiro junto. O lençol estava começando a ficar fino demais para os meus dentes que batiam. Edward riria de mim se me visse assim, nesse estado ridículo.

Ninguém merece suas lágrimas, Bella. Riley me disse quando eu tinha quinze anos e comecei a ter a bulimia por causa dos comentários de minha mãe. Ninguém. Mas sabe… se você quiser chorar, eu estou aqui.

Ele abriu os braços quando o olhei e sorriu para mim, me observando levantar-me com o lençol a minha volta, sentando-me em seu colo. Ele me embalou como um bebê e beijou minhas bochechas, apertando seus braços a minha volta como se a qualquer momento eu pudesse talvez me despedaçar.

Vamos ao médico comigo. Ele convidou.

Não. Não vamos falar sobre isso, por favor.

Escutei seu suspiro e logo em seguida sua voz sussurrante cantando a música que era minha favorita.

A porta da frente bateu com força e eu dei um salto da cama, acordando-me assustada e lembrando-me de modo lento o que tinha acontecido e onde eu estava. Por que estava tão escuro? Eu tinha dormido tão pouco. Mas ao olhar o relógio, constatei que já eram oito horas da noite e eu estava sozinha em casa, no escuro.

Até porque eu adorava escuro e adorava mesmo ficar sozinha, tanto quanto morrer.

— Isabella Swan! Você não pode sair sem me dar explicações alguma! — Edward gritou do lado de fora.

Enrolei-me no lençol antes de sair do quarto, e ir para a sala, destrancando a porta e fitando com calma um Edward furioso e vermelho.

— Como eu disse… você não pode sair daquele jeito.

— Sabe o porquê de eu poder? — Perguntei erguendo meus olhos para ele. — Da mesma forma que você pode me fazer de idiota, se agarrar com outra pessoa e me apresentar como uma amiga, eu posso simplesmente sair de um local onde eu não estou me sentindo confortável.

— Não me agarrei com outra pessoa.

— Aquela mulher estava quase arrancando as suas calças lá no restaurante, Edward! Ah, mas a culpa não fora dela, foi? Foi sua. Somente sua por ter me apresentado como uma amiga. Ah, eu não sabia que amigos se beijavam, desculpe-me a inocência. Não vou ser feita de idiota de novo, se quer saber.

— Você não é a mesma de antes… Você não

— Você que não é! — Gritei. — Você que não é. O Edward de três anos atrás não pegaria no meu braço daquele jeito, não falaria comigo daquela forma, não seria isso que eu estou vendo na minha frente.

— Agora vamos falar sobre o quanto mudamos?

— Você entrou no assunto!

— Então por que não começamos a falar sobre o amor que você ainda sente por Riley estando comigo? Por que não falamos de sua frieza? Por que não falamos também…

— Está usando uma pessoa morta como desculpa, Edward? É isso mesmo? Riley está morto! Morto! Infelizmente.

— Se ele não estivesse você não estaria comigo. Estaria com ele.

— Não estaria mesmo! — Gritei, com raiva e com as lágrimas despencando de meus olhos.

Ele esperou incrédulo que eu me controlasse e recuperasse o meu autocontrole para não jogar qualquer coisa que estivesse na minha frente em seu rosto, e quando eu limpei minhas lágrimas, suas sobrancelhas se ergueram. Seu olhar dissecou minha expressão e ele suavizou a sua expressão, mas ela ainda me causava arrepios.

— Se eu não tivesse ido embora, com quem estaria?

— Não sei. — Sussurrei.

Quando tive coragem o bastante para olhar em seu rosto, percebi que ele também queria me machucar. Machucar-me assim como eu estava fazendo com ele sem a mínima intenção. Edward perguntara e eu respondera, simplesmente.

— Você não precisa pensar em com quem vai ficar agora porque nós não temos nada, de qualquer jeito. — Murmurou frívolo.

Passei a língua por meus lábios e abri a porta para ele, sem falar nada ou protestar algo sem precisar gritar e me humilhar mais em sua frente. Desde o começo, eu sabia que isso não daria certo, mas mesmo assim era como se eu amasse me machucar no final de tudo, porque sim, isso era o final. Eu não daria outra chance para Edward Cullen ou ele quereria outra.

Depois disso, de hoje, eu tinha certeza que nós tínhamos nos machucado o bastante para não querermos que isso acontecesse de novo. Para mim, pelo menos, tinha sido doloroso o bastante para que se tivesse uma segunda vez, eu não aguentaria e sabe-se lá o que aconteceria.

Ele me olhou antes de sair e esse olhar durou um milésimo de segundo antes de Alice invadir o apartamento, afobada.

— Ah… você está aqui! — Ela disse, olhando para o irmão.

— Estou prestes a ir embora.

Dei as costas e fui para meu quarto, trancando-me lá até que a voz de Edward desaparecesse completamente, sinal que ele já tinha ido embora. Meus olhos estavam marejados, meu rosto estava quente e meu estomago rugia, mas eu me recusava a sair do quarto para Alice me ver naquela situação. Eu nunca ficara tão acabada como estava.

Era ridículo. Era… previsto. Eu deveria ter previsto isso!

Eu fui para a janela somente para me torturar, vendo Edward. Apesar da altura, eu podia ver bem o modo como ele passara a mão pelos cabelos e o modo como socara a porta de seu carro, sem se importar com a dor que eu apostava que era excruciante. Mais uma vez sua mão adentrou seu cabelo, quase os puxando com força.

Encolhi-me na cama assim que o carro dele desapareceu do meu campo de visão, e apertei o lençol com força a minha volta, com mais frio do que deveria estar. Alice aumentou o aquecedor por mim quando entrou em meu quarto sem bater, calmamente, quase com medo de eu lhe estrangular ali mesmo.

Ela me entregou um prato de macarronada esquentada e um copo enorme de coca-cola, sentando-se a minha frente, no chão.

— Você está bem, Bella?

Eu neguei com o rosto, deixando minhas lágrimas caírem. Passei o lençol em meu rosto, limpando-o e fitei o prato que tinha a minha frente, perguntando-me se eu comeria tudo aquilo.

— Vocês não deveriam fazer isso com vocês… mesmo. Não é bom, pra nenhum dos dois, pra falar a verdade. Você viu como você e Edward estão? Acabados, completamente.

Ela hesitou.

— Ele mandou que comesse tudo. — Ela assinalou delicadamente.

— Edward não manda em mim. — Sussurrei, após ter mastigado.

— Mas eu mando! E eu estou mandando que você coma direito.

Ela ficou me vigiando comer a macarronada, e não foi nenhum esforço muito grande fazer isso. Eu estava com fome o bastante para ter que repetir quando acabou o que tinha no prato, fazendo Alice rir dizendo que meus lábios estavam vermelhos agora. Eu não sorri; aquilo me lembrava dele e era tudo que eu menos queria no momento.

Eu dormi pouquíssimo naquela noite. Passei a metade dela chorando e quando finalmente adormeci, duas horas depois o meu celular tocou. Estranhei ao perceber que era Renée e atendi com a voz sonolenta, percebendo que soluços escapavam de sua garganta enquanto ela tentava formular frases as quais eu não entendia uma palavra.

— Rose, Bella! Rose morreu.


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Notas finais do capítulo

Morrer? De quê? Todas essas perguntas serão respondidas no próximo capítulo que (dependendo de vocês) não vai demorar a sair. Gente, sério, comentar é bom. Boa noite para todas ♥ beijos.