O Primeiro Massacre Quaternário escrita por AnaCarol


Capítulo 30
Uma visita a Casa de John




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  Começo a pensar que os Idealizadores estão brincando comigo, quando percebo que John continua chorando, dessa vez plantado ao meu lado em frente à Janela.

  Logo em frente a ela está o centro de treinamento dos carreiristas. Paredes construídas para nada mais nada menos que serem quebradas, atingidas por flechas, machados, socos, outras pessoas, e tudo o que se possa imaginar. Armas deveriam estar espalhadas por todo o piso, e quase posso vê-las ao piscar. Os treinadores e coisas mais avançadas como paredes de escaladas, jogos para o treino mental, bonecos de treino, sacos de pancada, etcs, estão no galpão, um pouco mais longe do abrigo, mas esse seria o ponto de encontro para os carreiristas.

  Quando uma flecha passa voando por nossas cabeças, eu o puxo pela gola da blusa e ele volta à realidade. Olha rapidamente pela janela e atira a flecha de volta, mas não há atirador humano.

  Imagino que Marina e Distrito Doze tenham se separado e desistido da briga, por um momento, pois não ouço mais rugidos vindos da praia.

  -Temos que sair daqui. – Eu encaro John.

 Ele está encolhido embaixo da janela. Ele me observa assustado por alguns segundos, e então pula em cima de mim, me fazendo cair de costas no chão duro com um gemido. Antes que eu tenha chance de perguntar, uma flecha voa por nossas cabeças. Nós nos arrastamos para fora do Abrigo, com flechas passando frequentemente sobre nossas cabeças. Quando alcançamos a porta de saída do abrigo, não fazemos nada além de correr.

  O vento bate em rosto e quando pisco posso sentir a sensação de fuga novamente. Estou traçando o mesmo caminho que sempre tracei, e surpreendentemente lágrimas nascem em meus olhos e embaçam minha visão. “Tudo bem” eu penso “Você já sabe esse caminho de cor”.

  John me impede de entrar onde planejava - na suposta segurança da casa de Beau - e me conduz até outra casa, um pouco isolada das outras. Eu corro diretamente até a porta da frente, mas ele a ignora e dá uma volta na casa. Eu o sigo e encontramos a porta dos fundos aberta.

  Ele segura minha mão com força, o que me conecta ao mundo real. Se não fosse seu aperto não tenho certeza de que não correria até a casa de Beau gritando por ele. Ou que não correria até a praia, também gritando.

  Para minha surpresa, encontramos um armário velho no porão da casa. Poeirento e pequeno, John abre sua porta e indica para que eu entre.

  Estamos grudados demais e posso sentir sua respiração quente e abafada tocando meus ombros. Há aproximadamente cinco minutos nós não fazemos nada, além disso.

  -Turnit. – Eu sussurro, virando meus joelhos de modo a tocarem os dele. Ele abre os olhos e vejo que eles estão tão brilhantes como sempre. -Não era exatamente essa casa para a qual eu queria voltar.

  Ele sorri.

  -Acho que você seria um vitorioso melhor do que eu. - Eu digo, dois minutos depois. – Quer dizer... Você não acusa ninguém de matar seus pais durante uma entrevista.

  -É verdade. – Seus olhos estão fixos em mim, mas não posso afirmar que ele está sorrindo.

  -E, por mais que eu odeie puxar seu saco... – Eu continuo – Já consigo imaginar as meninas da Capital suspirando por você em seu traje de vitorioso.

  Eu rio e imito o sotaque da Capital.

  -Papai, papai! Pode me dar um aumento de mesada? Por favor, pai! Eu quero uma noite incrível com John Turnit! – Eu imito e ele gargalha.

  -Estava pensando que – O minuto de silêncio que intercede nossas frases/conversas se passa e é ele quem começa um novo diálogo. – já que estamos aqui mesmo, eu poderia te mostrar minha casa. O que me diz?

  -Sua casa tem o telhado bonito? – Eu caçoo dele. – Venta lá?

  Ele abre o armário depois de espiar pela fechadura se alguém estava próximo.

  -Engraçadinha. – Ele imita minha voz. Pula para fora e estende a mão para mim. Eu poderia muito bem me levantar sem sua ajuda, mas decido ser legal. Sua mão está quente eu meu rosto fica vermelho assim que a toco. Espero que ele ande, mas John não faz nada. Eu faço um sinal com a cabeça, como quem diz: “E aí?”, mas ele apenas dá de ombros. É então que eu entendo.

  -Essa é a sua casa? – Eu meio sussurro, meio grito incrédula. Ele assente.

  -E este aqui é o maravilhoso porão. – Ele imita a voz de um corretor de imóveis, coisa há muito tempo extinta em nosso distrito. Eu abafo uma risada e sorrio para ele.

  John está me olhando. O armário atrás de mim dá um ar sinistro à ocasião, mas ele sorri e seus olhos brilham como se ele tivesse acabado de se casar. Ele está prestes a falar algo quando eu ouço uma maçaneta se virando levemente. Arregalo os olhos e John me manda entrar de volta no guarda roupa. Nós voltamos, e em questão de segundos já estamos novamente acomodados e dessa vez totalmente calados.

  Ouvimos os passos sem ao menos respirar, e logo, para nosso total azar, o tributo se acomoda apoiado na parte lateral do armário em que estamos. Tenho vontade de praguejar, mas ao invés disso decido que respirar é bem mais útil e menos arriscado.

  John abre os olhos e eles quase brilham na escuridão do armário. Descobrimos que é noite porque o tributo se levanta caminha para longe enquanto toca o hino de Panem. “É agora ou nunca!”.

  Abrimos a porta do armário rapidamente e a fechamos, deixando-a do jeito que estava. Mas somos barulhentos demais, porque enquanto subimos a escada o tributo parece nos ouvir e vêm até nós. Antes que possamos fazer qualquer coisa, uma lâmina desenha uma reta em meu mundo e eu caio. Sinto as mãos de John em volta de minha cintura. Ele grita meu nome ao longe. Ou sou eu que me afasto?


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