O Primeiro Massacre Quaternário escrita por AnaCarol


Capítulo 2
Ele não pode morrer!




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A despedida no Edifício da Justiça foi mais rápida do que deveria. Agora, quando olho para trás, imagino se foi apenas uma sensação ou se eu realmente tive menos tempo para me despedir das pessoas que amo.

Felizmente, elas não são muitas.

O primeiro a aparecer foi Jason. Ele não disse nada ao entrar raivoso por entre os Pacificadores, e foi direto até mim me abraçar. Ficamos assim por um tempo. Ele me deu um beijo e começou a falar.

-Quando te lançarem na Cornucópia, pegue a primeira coisa que vir e saia correndo de lá, procurando abrigo. – Ele disse como se fosse meu mentor. – Não coma nada suspeito, e nos treinamentos, vá até o maior número de estandes possíveis e aprenda tudo o que puder.

Ele fez uma pequena pausa.

-Você sabe que eu te amo. – Ele disse, esboçando o melhor sorriso que conseguiu.

Eu olhei para ele uma última vez. De cima a baixo. Desde seus olhos azuis profundos que ainda fazem minhas pernas tremerem e meu coração acelerar. Desde os lábios, que formam palavras doces e reconfortantes com a voz que viaja por meus sonhos, e que se curvam no sorriso mais bonito do universo... Os braços, que me envolvem e me protegem do mundo lá fora; Que já me carregaram tantas vezes. As mãos, sempre ocupadas com algo: desde segurar a minha, até brincar de guerra de polegares, fazer nós ou pentear meus cabelos. Até as pernas, que já correram até a praia tantas vezes ao lado das minhas; que eu sento em cima tantas vezes. Até os pés, que já me ensinaram a dançar tanta coisa; Que eu já pintei com esmalte no meio da noite escura em que não conseguia dormir; Que jogam água em cima de mim...

-Eu também te amo. – Eu disse, o abraçando. Um Pacificador tocou no ombro de Jason, indicando que ele deveria sair da sala. Ele me aperta mais uma vez.

-Lembre-se: Você é muito mais do que uma órfã inocente. – Ele sussurrou em meu ouvido. – Você é Anna Madison.

Eu sorri e deixei uma lágrima cair em sua camiseta.

-Está bem. E aquela frase é minha. – Eu disse, me referindo a seu “você sabe que eu te amo”.

Ele ri e os Pacificadores o levam embora.

A segunda visita foi de Rosemary.

Tecnicamente, ela deveria estar no Abrigo, contando as crianças para ver se nenhuma havia fugido durante a saída, mas ela estava lá.

Rosemary é uma Tratadora do Abrigo do Distrito. Geralmente as tratadoras vêm da Capital, mas esse não é o caso de Rosemary. Ela vem do Distrito quatro, assim como nós. E só está lá porque quer fazer o bem para as crianças órfãs, ao contrário de muitas das tratadoras, que estão aqui por causa do salário, ou até mesmo porque querem conhecer os grandes carreiristas vitoriosos.

Ela é como uma madrasta para mim. E também é a única das tratadoras que não me olha feio. Rosemary cuida de mim e de Jason desde que chegamos. Às vezes ela pensa em desistir do trabalho e se juntar à família rica. Mas ela sabe que é nossa única esperança no Abrigo. Porque, quando ela sair, Úrsula vai tomar seu lugar. E se Úrsula tomar seu lugar, nós já éramos.

Ela me abraçou também. Lágrimas escorriam por seus olhos. Ela não disse nada até outro Pacificador tocar em seu ombro. Então me encarou nos olhos e disse, com a voz rouca:

-Não faça amigos. Eu sei que você é ótima nisso... Mas simplesmente não faça.

Então se virou e deu lugar à Beau.

Beau venceu sua edição dos Jogos aos 16 anos quando eu tinha quatro, portanto, agora que tenho 12, ele já é um adulto de 24 anos. O mais triste de tudo é que, por se passarem oito anos desde que ele se tornou vitorioso, Beau não vai ser meu mentor, graças à grande quantidade de carreiristas em nosso distrito. Meu mentor vai ser um homem carrancudo e silencioso chamado Troy. Carreirista esquecido pela Capital.

Beau não me abraçou ao chegar. Apenas abriu a boca e soltou uma avalanche de recomendações.

-Não lute na Cornucópia. Não se junte aos tributos Carreiristas, a não ser que precise muito. Faça aliados, mas não faça amigos. Se houver água na arena, vá até ela. Sabe que é sua melhor escolha. Participe do maior número de aulas que conseguir. Aprenda muito sobre como caçar. Talvez não tenha peixes para você pescar lá. Não seja antipática na entrevista. Faça-os ter medo de você... Mas não ouse tocar em Tridente algum antes das sessões particulares. – Ele parou, provavelmente para respirar e eu vi minha chance de falar algo.

-São 24 de nós, Beau! Eu não sou carreirista, não vou conseguir! Estão mandando os melhores de cada Distrito, eu não sou a melhor! – Eu desabafei. Não poderia falar aquelas coisas para o preocupado Jason ou para a frágil Rosemary; mas Beau é forte, e realmente já passou pelo o que eu estava passando. Ele suspira. Por um momento penso que lágrimas vão cair de seus olhos, mas ele as recolhe.

-Você vai conseguir garota. Eu acredito em você. – Ele disse. E, apenas para não deixar a situação tensa, ele brincou – Nem mesmo que eu tenha que passar fome para te patrocinar, eu vou estar ao seu encalço.

Eu ri.

-Obrigada, Beau. Obrigada! – Eu o abracei. Ele me retribui, mas é tarde demais. E para minha surpresa, ele não era o último.

Os pacificadores abrem espaço enquanto eu imagino quem seria. Não gosto de mais ninguém na vida. Ninguém poderia vim me visitar.

É uma mulher velha, mas que claramente tenta esconder as rugas enquanto entra na sala.

-Quem é você? – Eu me afastei.

-Stein, tia de John. – Ela disse, mas eu não respondi. – Stein Turnit.

-O que quer aqui?

Ela olhou para trás: Um pacificador indicava que seu tempo logo, logo acabará. Em um ato de desespero e insanidade, ela se ajoelhou aos meus pés e os abraçou.

-Por favor. Por favor. Ele não pode morrer.

-Me solte! O que está fazendo?

Um pacificador a afasta de mim, mas ela continuou suplicando aos gritos, desesperada. Até seus gritos serem abalados pelo fechar da porta. Em minutos eles me levariam até o Trem, em direção à Capital, onde seria tratada e embelezada para os acontecimentos que virão.

O pensamento de que, antes de um enterro, eles preparam os mortos, vestindo-lhes com ternos e gravatas caros, me vêm à cabeça quando penso no modo em que eles tratam os Tributos. Como cadáveres prestes a serem enterrados.

De qualquer modo, ser um tributo é quase isso.



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