O Primeiro Massacre Quaternário escrita por AnaCarol


Capítulo 1
Feliz Aniversário pra Quem?!




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  O dia da Colheita no Distrito Quatro foi horrível. Esse deveria ser apenas outro ano de tristeza e medo. Mas não era. A Capital inventou o Aniversário de 25 anos dos Jogos Vorazes, e chamaram de Massacre Quaternário. Portanto, de acordo com o anúncio do Presidente Snow, as crianças que deveriam ser mandadas para a Arena foram escolhidas pelo povo de cada distrito. Isso é sofredor.

  As crianças de 12 anos, assim como eu, em sua primeira colheita tremiam, choravam e rezavam todas as orações que conseguiam se lembrar. As de 13 anos arregalavam os olhos com a percepção de que, um ano atrás, elas estavam agindo praticamente da mesma forma que seus irmãos, irmãs e conhecidos mais novos. AS de 14 anos já demonstravam uma ponta de coragem, mas nada que pudesse se comparar aos de 15 e 16 anos, que olhavam para o palco com seus olhares mortos e amedrontados, mas sem lágrima alguma. Os adolescentes de 17 e 18 anos olhavam esperançosos para o palco. “Só mais esta colheita”, eles deveriam estar pensando. “Só mais esta”.

  Mas claro que essas eram as crianças mal educadas, enxeridas, desrespeitosas, inúteis pequenos seres que apenas fingiam se comportar para não serem a escolhida. Idiotas. Nosso Distrito tem carreirista! Um carreirista poderia muito bem montar uma campanha para ir disputar os Jogos, não?

  Errado.

  O que eles não sabiam era que não importava a votação. Não importava quantos votos cada um tinha conseguido. Apenas um nome feminino seria tirado da grande bola de papeizinhos.

  Jason segurava a minha mão. Ele tem 13 anos. Seu olhar expressava confiança, mas atrás de toda sua postura heroica eu quase podia ver seu medo.

  Hanny Bellun andava serelepe pelo palco. Seus saltos de aproximadamente 15 centímetros, seus olhos roxos contornados por uma sombra preta, seus lábios pintados por um batom vermelho-sangue.

  Como ela deveria estar se divertindo! Em poucos minutos, seus lábios iam se mover e anunciar o casal que iria ser mandado para disputar os Jogos Vorazes. Seus lábios vermelhos, os quais, se você se concentrasse bastante, poderia até mesmo imaginá-los machucados e sangrando.

  O prefeito discursava as mesmas baboseiras de sempre. Tentei me concentrar em suas falas em consideração à Rosemary, filha do Prefeito, mas praticamente já as decorara o discurso, então eu comecei a estalar os dedos e pensar. Quem seria o tributo masculino do Distrito Quatro esse ano? Algum carreirista provavelmente. Existem vários deles aqui.

  Eu poderia vencer os jogos. Eu me obriguei a pensar. Eu poderia voltar para casa. Voltar para Jason. Voltar para Rosemary e Beau. Eu poderia fazer isso.

  Como Hanny é, provavelmente, a mais enrolada das acompanhantes, ela discursa sobre “como é bom estar aqui” e “como ela se sente honrada de ser a acompanhante desse distrito tão vitorioso”.  E enfim se dirige à grande bola.

  Mas só há um papelzinho em cada uma delas. Só há um nome para ser chamado, em cada uma delas.

  -Anna Madison! – A voz de Hanny retumbou na praça. A multidão de adolescentes ao meu redor suspirou. Aliviados. – Onde está você, gracinha?

  Quando fiz os primeiros movimentos, a multidão tentou não se assustar. Eles fingiam me conhecer, fingiam saber quem eu sou para dar algum sentido ao fato de que eu fui escolhida pelo povo para jogar.

  Eu caminhei com o coração acelerado, os lábios secos e a garganta fechada até o palco. “Eu não vou chorar!” gritei comigo mesma por dentro.

  Subi os degraus com a melhor expressão de coragem que eu tenho. Olhei para o lado e vi a multidão me encarando. Por dentro de seus rostos aliviados estava a sensação de confusão. Quem era eu? O que eu havia feito? Por que todos os outros haviam votado em mim?

  Acenei.

  Foi divertido. Eles ficaram confusos, mas alguns tentavam se convencer de que sou uma daquelas pessoas que blefa até o final. Alguns tentavam se convencer de que eu sou mesmo maligna.

  Mas será que é possível se convencer de que alguém é maligno o suficiente para ser entregue pelos próprios vizinhos para os Jogos? Em plenos 12 anos? Não sei. Mas antes eu do que eles, certo?

  Será que eles pensam que sou uma carreirista, filha de ricos comerciantes que compraram votos? Existem tantas possibilidades para eles descobrirem quem eu sou. Ou será... Será? Que se lembram do pobre homem com sua mulher que não aceitaram a realidade dos Jogos, que não aceitaram a realidade de Panem, e tentaram se levantar contra? Será que ainda se lembram de seus sangues escorrendo por seus rostos? Será que se lembram, assim como eu, de suas costas sendo arrebentadas pelo mais poderoso chicote dos Pacificadores? Será que se lembram da menininha gritando atrás de tudo? Eu ainda sou reconhecida?

  Ainda sou a mais famosa menina órfã do Distrito Quatro, ou me esqueceram em poucos meses, pensando demais em suas próprias vidas?

  Acho que alguns se lembram de minha imagem. E alguns sabem por que eu estava parada naquele palco quando Hanny chamou o segundo tributo.

  -John Turnit! – Eu ouvi Hanny dizer em meio às batidas de meu coração. – Suba aqui, vamos!

  Não sei nada sobre John Turnit, mas sei que ele não é Jason Clin. Então estava tudo bem. Eu posso matá-lo. Eu posso fazer isso.

  Um menino caminha até o palco. Seu rosto não esconde o medo que sente. “Ele não é um carreirista? O que está fazendo aqui, então?”. Tentei imaginar o que ele fez para a sociedade que o fez parar ao meu lado no palco. Meus pensamentos foram interrompidos pela voz aguda de Hanny, mandando-nos apertar as mãos.

  Quando percebi ele estava com a mão estendida. Eu estendi a minha e nós levemente as chacoalhamos. Ele me olhou nos olhos. Suas mãos estavam suadas. Seus olhos brilhavam em terror. Ele pedia ajuda?

  Ele é tão diferente de todos que eu amo.

  Ele não tem medo de mostrar que está com medo. É covarde, talvez. Talvez ele seja um carreirista e essa é sua estratégia de jogo, porque seus olhos não me mostram um menino malvado, que as pessoas mandariam para a arena por qualquer motivo bobo. Seus olhos me apresentam um menino legal.

  Legal, mas “matável”.

  Ele deve ser rico. Provavelmente, porque eu não ouvi as Tratadoras do Abrigo comentaram nada a respeito de algum John Turnit. Então deve ter comprado votos com a população mais pobre de nosso Distrito. As pessoas acham que somos todos ricos e bem alimentados, apenas porque temos um mar ao lado. Mas nem todos pescam as mesmas coisas. Enquanto um quilograma de Camarão vendido para dois dias com três refeições completas para uma família inteira, um quilograma de peixe comum (como trutas não especiais) paga metade de uma noz.

  Enquanto soltava minhas mão das dele, ele ruborizava. Por que estava ruborizando? Não foi nada demais. Um aperto de mãos. Minha consideração em não limpar a minha mão nos shorts jeans imediatamente. Só isso. Qual era o problema dele?

  Olhei para Jason. Eu havia me despedido dele na noite passada, porque nós dois tínhamos certeza de que um de nós seria sorteado. Ele apenas observava, claramente lutando contra os sentimentos de raiva em seu coração. Examinou John Turnit de cima a baixo, e minutos depois ele olhou para mim. Nossos olhos se encontraram e ele discretamente assentiu: Sim.

  Sim o que?


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