Um Desconhecido escrita por Daijo


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Capítulo um pouco extenso e um tanto complexo no finalzinho. ^^
Boa leitura!!



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Uma sombra perpassou os olhos de Henrique; e eu fiquei a espera de sua resposta.

Depois de alguns instantes de silêncio, ele quebrou o clima tenso.

- Não podíamos falar disso depois? – indagou, levando a mão para as costelas. – Eu estou um pouco machucado, e não estou nada confortável aqui neste maldito lugar.

- Desculpe Henrique. – pedi, chocada com minha falta de tato. – É melhor voltarmos para casa.

Ele assentiu e nós saímos da casa, Henrique andando apoiado em mim.

- Como chegou aqui? – indaguei, quando estávamos fora da casa.

- Eu vim de carro. O deixei um pouco distante e vim andando. – esclareceu ao ver que eu olhava para os lados a procura do automóvel. - Não queria chamar a atenção de Thomas.

Saímos da propriedade e seguimos pela estrada de terra; depois de alguns minutos chegamos a uma curva e ali, atrás de um barranco, estava o carro de Henrique. Ajudei meu marido a entrar e ocupei meu lugar ao seu lado; com certa dificuldade ele dirigiu até a cidade e finalmente eu estava de volta a minha casa.

 

 

Havia se passado algumas semanas, desde a última vez que vira Thomas. Ainda não conseguira arrancar de Henrique as informações que me trariam paz. Eu sempre achava uma oportunidade de interrogá-lo, mas ele dava um jeito de escapar.

Estávamos em nosso quarto, eu me encontrava deitada na cama. Ficara o dia todo ali, pois havia acordado indisposta. Ele passara o dia ocupado com seus negócios, mas, agora que anoitecera, já me fazia companhia.

- Se sente melhor? – indagou, sentado na beirada da cama.

- Sim. – respondi sorrindo.

Aproveitei aquele momento para tentar extrair as informações de Henrique. Eu já não agüentava mais. A perspectiva de morar com um assassino, me deixava angustiada.

- Henrique, por favor, seja sincero. – pedi, e ele imaginou o que eu iria perguntar, pois logo abaixou o rosto. Eu pousei a mão em seu queixo e levantei sua face. Mirei bem o seu rosto para ter certeza que ele me responderia a verdade. – Você matou seu irmão? Eu preciso saber isso! – cortei, antes que ele fugisse novamente.

Ele soltou um longo suspiro, mas sem quebrar nosso contato visual.

- Tudo bem, acho que eu já enrolei demais. – comentou, com um sorriso melancólico. – Eu não matei Richard. Ele suicidou-se.

Fiquei assombrada.

- Mas então por que Thomas te culpa tanto? – indaguei indignada.

- Segundo ele, eu não ajudei meu irmão quando mais precisara. – Parou e soltou outro suspiro. – Talvez ele tenha razão. Mas eu não agüentava mais bancar o vício de Richard!

- Vício...?

- Ele era dado à jogatina. – respondeu, tornando-se ao mesmo tempo distante. – Em pouco tempo contraiu uma dívida enorme e matou nosso pai de desgosto; foi aí que piorou, se entregando ao vício da bebida também. Muito me admira Thomas não ser igual a ele.

- Seu pai morreu...?

- Sim, logo depois de um arrombo que tivemos de fazer no caixa da empresa para pagar a dívida de Richard. Ele adoeceu e, alguns meses depois, nos deixou.

Uma lágrima silenciosa rolou por sua face.

- Para que não tivéssemos mais nenhum problema com a empresa, acabei comprando a parte de Richard. – Balançou a cabeça negativamente. – Ele apenas torrou o dinheiro com jogos e bebidas, e logo já estava endividado novamente.

Henrique franziu o cenho e eu imaginei que o que falaria a seguir não seria agradável. Num ímpeto segurei sua mão, para encorajá-lo.

- Pediu minha ajuda novamente, mas eu não cedi. – Ele parou seu relato por um momento; fiz uma leve pressão em suas mãos. – Sua dívida crescera, os agiotas estavam em seu encalço e logo perderia a mansão. Acredito que foi o desespero que o levou ao suicídio.

Eu respirei fundo sem saber o que dizer.

- Definitivamente Thomas estava certo. Se eu tivesse ajudado e pagado novamente suas dívidas, Richard estaria vivo e seu filho não seria um desequilibrado. – Henrique pendeu a cabeça, derrotado.

- Se Richard não tivesse morto, já teria levado você a falência também. – ponderei veemente, fazendo-o erguer a cabeça surpreso. – Você não tem culpa de nada. Richard fez a sua própria escolha!

Henrique sorriu fracamente, cortando meu coração.

- Thomas também me culpa pela morte de sua mãe. – disse, num tom monótono. – Sabe, foram muitos os motivos que o deixaram amargurado comigo.

- E essa se matou também? – indaguei meio impaciente.

- Oh, não. Ela morreu de tristeza. – Ele agora olhava para o teto. – Ficou trancada em sua casa e definhou pouco a pouco.

- E onde você entra nessa história? – Eu sentei-me na cama, para encará-lo melhor.

- Ela estava triste pelo marido, e como eu supostamente causara a morte de Richard, a culpa era minha também.

Fiquei indignada com a injustiça; Thomas era mesmo um desequilibrado, só sendo doente mental para acusar o tio daquela maneira.

- Mas por que Thomas virou seu motorista? – indaguei num estalo. – Ele é seu sobrinho não é?

Ele desfez o aperto de nossas mãos e se levantou.

- Ele estava desempregado e não queria viver com “as minhas esmolas”. – Ele foi até a janela e pôs-se a observar a noite. – Empreguei-o como motorista, já que não tinha estudado para tomar conta dos negócios da família. Ele aceitou de bom grado, e eu realmente acreditei que havia me perdoado. – Nesse ponto sua voz tornou-se amargurada.

Nunca passaria pela minha cabeça que a família Moura tinha um passado sombrio como aquele. Apesar de tudo, senti meu coração leve ao ter certeza que Henrique não era culpado de nada. Mas tinha algo que ainda me incomodava.

- Henrique? – chamei e ele se virou para mim. – Você sabe que não tem culpa da morte deles, não é?

- Eu...

- Se não sabe, eu te digo agora. – Eu o olhei intensamente, e ele sustentou o olhar igualmente. – Você é inocente!

Ele não conteve um sorriso sincero.

Talvez ainda não estivesse convicto de sua falta de culpa, mas pelo menos tinha certeza que eu acreditava nela.

- Sabe, tem mais uma coisa que preciso dizer. – disse, enquanto ele voltava para a beirada da cama.

- E o que é? – indagou, olhando desconfiado.

- Bom, eu não tenho certeza, mas... – Eu sorri constrangida. – Acho que estou grávida.

- Como? – Henrique arregalou os olhos, e eu ri de sua reação.

- Os sintomas me levam a crer que sim. – Eu coloquei minha mão sobre a barriga. – Vamos ter um filho.

Ele relaxou seus músculos e sorriu bobamente.

- Um... Filho... – sussurrou atordoado.

Repentinamente, puxou-me mais para perto, selando meus lábios. Nós no separamos; fitei seus olhos azuis e eles brilhavam. Henrique parecia uma criança contente ao ganhar um agrado.

- Eu te amo. – confessou, fazendo-me estremecer diante da intensidade de seu olhar.

- Eu também. – respondi hipnotizada.

Abraçamos-nos e logo depois nossas bocas se uniam novamente. Uma lágrima escorregou pelo meu rosto. Mas esta não era amarga, ao contrário, era doce. Tão doce quanto os lábios de meu marido.

Agora não tinha mais motivos para pranto, a não ser por felicidade. Finalmente tive a certeza que seria feliz ao lado de Henrique.

Seria apenas eu, ele e nosso herdeiro.

 

 Fim

 

_______________________________________________________________

 

 

São Paulo, 1938

 

 

A jovem caminhava saltitante pelas ruas da cidade, com os cabelos negros dançando em suas costas. Era acompanhada de algumas amigas que riam e tagarelavam animadas. As garotas caminharam para a praça, deixando a outra sozinha, admirando uma vitrine.

Ela analisava um lindo vestido em seu manequim. Os olhos azuis da jovem brilhavam encantados.

- Charlotte, vem logo! – gritou um coro do outro lado da calçada.

A garota despertou de seus devaneios e virou, num ímpeto, para encontrar com as amigas. Cambaleou um pouco ao colidir com um corpo a sua frente.

- Me desculpe. – foi logo falando, sem ao menos ver em quem esbarrara.

- Não tem problema. - respondeu o homem.

Charlotte, então, ergueu o olhar.

Era um homem, com no máximo trinta e oito anos, bem bonito. Tinha os cabelos castanhos e os olhos num tom raro; eram violetas. Ele estava vestido elegantemente, em um terno e sorria abertamente.

Ela ficou um tempo observando o homem, sem dizer nenhuma palavra.

- Você está bem? – indagou o homem, erguendo a sobrancelha.

- Ah sim, eu estou bem. – respondeu rapidamente, ficando vermelha com sua lerdeza.

O coro de meninas, agora, gritava esganiçadamente, devido ao alvoroço que Charlotte causara ao conversar com aquele estranho.

O homem olhou surpreso para o outro lado da rua, e instantaneamente as jovens silenciaram-se. Logo já estavam discutindo para qual delas o homem olhara.

Do outro lado, a frente da loja de moda, ele analisava cuidadosamente a jovem. A pesar da pouca idade, dezoito anos, era dotada com um corpo de mulher. Charlotte também percorria o olhar mais atentamente pelo homem. Era extremamente atraente.

- Ai está você Thomas! – exclamou uma voz distante.

Os dois desviaram o olhar para o lado que a voz soava.

Outro senhor aparecera; este era loiro e devia ter uns quarenta anos. Ele se aproximou e puxou Thomas para um abraço. Eles trocavam palmadinhas amigáveis, enquanto Charlotte assistia constrangida. Separam-se e os olhos do loiro pousaram nela.

- E esta jovem? – indagou, sorrindo maliciosamente. – Não sabia que você era chegado em ninfetas.

Charlotte corou fervorosamente, indignada. Mas antes que pudesse se pronunciar, Thomas o fez.

- Não fale assim, Michel. – pediu, franzindo o cenho. – Eu apenas esbarrei nessa jovem, nem ao menos a conheço.

- Tudo bem, eu só estava brincando. – Ele voltou a mirar à jovem. – E você garota, o gato comeu sua língua? – indagou divertido.

- Desculpe, mas é que eu não converso com estranhos. – respondeu impetuosamente, fazendo Thomas rir um bocado.

- A senhorita tem a língua bem afiada, não? – comentou Michel, azedo.

Charlotte apenas sorriu de lado, virando as costas e caminhando em direção a praça.

- Ei! Espere! – pediu Thomas, e ela se virou já do outro lado da rua. Os olhos dos dois se encontraram, e mesmo a distância o ato provocou sensações agradáveis. – Não vai dizer o seu nome? – indagou, cheio de expectativa.

- Charlotte. – respondeu com o coração aos pulos.

Deu as costas e correu para as amigas.

Os dois amigos seguiram seu caminho, logo depois que Thomas observou à jovem desaparecer de vista. Foram para um bar e lá colocaram a conversa em dia.

Do outro lado da cidade, num internato, a garota de olhos azuis mantinha-se ansiosa esperando a chegada dos pais. Estava em seu quarto, andando de um lado para o outro. Escutou, então, leves batidas na porta.

- Pode entrar! – exclamou animada.

A porta se abriu revelando um casal, contente.

- Pai! Mãe! – gritou ela, jogando-se nos braços dos dois, que a ampararam.

Não havia dúvida que fosse mesmo filha dos dois. Ela tinha os mesmos olhos azuis do pai e a mesma beleza angelical da mãe. Henrique e Ana eram pais orgulhos.

- As malas estão prontas? – indagou Henrique, bagunçando os cabelos da filha.

- Sim! – respondeu, enquanto a mãe pegava sua mala. – Podemos ir agora?

Os dois assentiram.

Enquanto o carro percorria as ruas, Ana conversava animadamente com a filha.

- Adivinha querida. – pediu, fazendo uma cara de suspense.

- O que é? – Charlotte não se agüentava de curiosidade.

- Compramos uma casa aqui! – respondeu, e a outra arregalou os olhos. – Não precisaremos mais voltar para o Rio de Janeiro!

- Que bom!

Charlotte estava radiante; tinha mesmo muita sorte. Agora poderia continuar a ver as amiga. E lá no fundo de sua mente a imagem de Thomas flutuava; poderia ter a chance de encontrá-lo novamente.

...


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Notas finais do capítulo

Espero que o final tenha ficado bom ^^
T.T... último capítulo!! Vou sentir muita falta de escrever essa fic!!
Gostaria de agradecer imensamente todos os leitores que acompanharam a fic, e especialmente aqueles que sempre me apoiaram deixando seus reviews!!
Thanks!! Arigato!! Obrigada!!
A maioria deve estar se perguntando se a história continua... Mas não, a história de Ana acaba por aqui. Por outro lado a de Thomas pareceu começar... RsRs. Espero que acompanhem meu novo projeto; este finalzinho foi uma prévia do que está por vir. Eu imagino que a história ficará boa, já que terei uma ajuda especial em algumas cenas ^^.
Bom, chega... Novamente obrigada.. e até a próxima fic!!
Bjão
Daijo*