Um Desconhecido escrita por Daijo


Capítulo 21
Capítulo 21




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Minha cabeça doía irritantemente. Abri meus olhos, e analisei onde me encontrava. Estava deitada em uma cama, coberta com um lençol branco. Sentei-me na cama, e minha cabeça latejou mais ainda.

“Droga de bebida!” – pensei, massageando minhas têmporas.

Olhei a minha volta e reconheci o quarto; estava novamente no casebre de Thomas. Levantei oscilando um pouco. Fiquei em choque ao ver no chão alguns pingos de sangue.

Eu segui o rastro vermelho temendo o pior. Cheguei até a sala e vi Thomas deitado no sofá. Ele estava dormindo; quem o via naquele estado, jamais imaginaria o demônio que era.

Levei minhas mãos à boca ao observar melhor o motorista. A manga da camisa, branca de Thomas, estava manchada de sangue. Eu corri para ele apreensiva.

- Meu Deus, Thomas! – exclamei, chacoalhando-o levemente. – Por favor, acorde!

Ele gemeu um pouco e abriu os olhos.

- O que foi mulher? – indagou ele, rouco.

Eu não disse nada; apenas levei as mãos nos botões de sua camisa, e abri um por um com cuidado. Ele ficou confuso, mas não se expressou. Abri sua camisa e ele se inclinou um pouco, para que eu a retirasse.

Meu rosto se contorceu ao ver o feio corte no braço dele. Sai rapidamente e logo voltei com um pedaço do lençol, que havia rasgado no quarto, e uma tigela com água.

Molhei um pouco do pano, e comecei a limpar a ferida.

- Ai! – gemeu Thomas, se contorcendo.

- Como você arranjou isso? – indaguei impaciente.

- Foi aquele bêbado idiota! – respondeu ele, cerrando os olhos. – Não queria de jeito nenhum que eu te levasse. No fim acabou quebrando uma garrafa em mim.

Eu ri internamente; Alfred era genial. Se algum dia saísse bem dali, o procuraria para agradecê-lo; num dia em que estivesse sóbrio de preferência.

Foi ai que atentei para algo.

- O que você fez com ele? – indaguei apreensiva. Ele sorriu matreiro. – Thomas?

- Não se preocupe, ele ainda está vivo. – Eu soltei um suspiro, aliviada. – Apenas o deixei desacordado.

 Terminei de limpar seu machucado, deixando a tigela de lado.

- Isso é perigoso Thomas. – ponderei observando o corte. – Pode infeccionar. Você deveria ir a um hospital.

Ele olhou-me docemente, pousando sua mão em minha face.

- Não se preocupe. Eu já tive feridas piores. – Seu olhar tornou-se distante. Ele voltou-se para mim, novamente. – Você poderia pegar outra camisa?

Eu assenti.

- Tem uma no banheiro. – avisou, tirando sua mão de meu rosto.

Eu fui até o banheiro e recolhi a veste. Entreguei-a nas mãos de Thomas e ele a vestiu.

- O que você tinha na cabeça ao tentar fugir? – indagou repentinamente. Eu pensei um pouco.

- Queria voltar para casa. – respondi amargurada.

- Eu sei que aqui não é muito confortável. – Ele se levantou, postando-se a minha frente. – Mas quando receber o dinheiro, mudaremos para São Paulo e eu prometo comprar uma mansão maior que a de Henrique.

- Você sabe que não pode substituir Henrique. – afirmei decidida.

Thomas dirigiu-se para o banheiro, sem abrir a boca. Deixou a porta entreaberta, e eu pude o ver passando água no rosto. Voltou para a sala e calçou seus sapatos.

- Vou até a cidade pegar minha encomenda. – Ele me enlaçou pela cintura. – O dinheiro de Henrique. – concluiu ao ver minha expressão confusa.

Antes que eu pudesse protestar, ele me beijou suavemente.

- Volto logo. – disse, afastando-se e deixando-me atordoada.

Ele saiu e tomou o cuidado de trancar a porta dessa vez.

 

 

Já estava escurecendo e nem sinal de Thomas.  Estava começando a ficar apreensiva. E se tivesse encontrado Henrique e tivesse feito algo a ele?

Senti meu coração apertar. Escutei logo em seguida meu estomago roncar. Não havia nada para comer ali, tínhamos comido as últimas fatias de pão no horário de almoço.

Thomas chegou um tempo depois, trazendo mais sacolas; colocou-as em cima da mesa e se jogou o sofá.

- Maldito Henrique! – exclamou, com a cara azeda.

- Qual o problema? – indaguei insegura, enquanto conferia as sacolas.

- Ele não apareceu no local de encontro. – esclareceu, levantando-se e pousando-se a minha frente na mesa. – Talvez ele ainda acredite na versão da Inês.

Eu lhe servi um pedaço de rosca doce e logo em seguida retirei uma fatia para mim.

- Será que ele está pensando que eu fugi com você. – Fiquei chateada.

O que Henrique estava pensando de mim?

- Vou ter que escrever uma carta mais assustadora. – ponderou Thomas, terminando sua fatia. Eu ia servir-lhe mais, mas ele recusou. – Não obrigado, eu já comi na cidade.

Olhei-o com amargura. Enquanto eu me alimentava com aqueles pedaços de pães, ele se esbaldava no centro.

Eu terminei de comer, e fiquei observando Thomas escrever.

- Veja o que acha. – disse, e então começou a ler um trecho que tinha escrito. – “Se eu fosse você entregaria logo o dinheiro, a menos que queira ver sua doce Ana jogada em uma vala qualquer.”

Ele olhou para mim cheio de expectativa.

- Bem impactante. – respondi, e imaginei meu corpo jogado em um barranco qualquer. Um arrepio percorreu minha espinha.

- Não se preocupe, eu jamais faria isso com você. – explicou, notando minha careta;

Ele deixou o envelope, com a carta, em cima da mesa, e levantou-se puxando minha mão consigo.

Estávamos próximos; o motorista colocou minha mão sobre seu peito. O coração dele pulsava fortemente.

- Sente? – indagou ele, sorrindo. Eu assenti com a cabeça. – Isso é uma prova do meu amor por você.

Aquele homem era um total enigma para mim. Às vezes insano, às vezes carinhoso. Ora gentil, ora cruel. Thomas era um verdadeiro mistério; e talvez fosse por isso, que por algumas vezes, eu me deixara encantar-se por ele.

Ele se aproximou de meu rosto para roubar-me outro beijo. Suas mãos pousaram em minha cintura.

Repentinamente, escutamos um estrondo e olhamos para a porta escancarada.

- Tire suas mãos sujas de minha mulher! – vociferou o homem de orbes azuis, fazendo meu coração acelerar. – Eu vou te matar Thomas!

 


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Notas finais do capítulo

*O* Henrique o salvador!! rsrs