Um Desconhecido escrita por Daijo
- Você está imunda! – disse Thomas, parecendo voltar ao seu estado normal. – Ainda bem que trouxe umas roupas para você.
Ele recolheu uma das sacolas que a pouco jogara no chão. De dentro dela tirou um embrulho e lançou em minha direção. Peguei e abri. Havia um vestido simples, mas bonito. Eu fiquei admirando-o por um tempo; era bem melhor que as roupas sujas que estava usando.
- Foi o melhor que eu pude comprar. – esclareceu ele, notando que eu observava o vestido.
- Obrigada. – agradeci num fio de voz. Ele sorriu.
- Parece que você deu uma limpada aqui. – ponderou, enquanto tirava coisas das outras sacolas; alguns pães e um litro de leite.
- Você percebeu? – indaguei sarcasticamente. Como ele achava que eu sujara-me? Homens nunca percebem essas coisas. - Achei que nem notaria. – revirei meus olhos, enquanto ele ria.
Repentinamente, senti meu estômago reclamar de fome. Olhei cobiçosa para os pães e Thomas percebeu.
- É melhor tomar um banho para comermos. – Ele caminhou até mim e entregou-me uma toalha limpa e um sabonete, tirados de uma sacola. – Eu gastei quase todo meu salário nessas coisas.
“Bem feito!” – pensei.
Tomei meu banho, certificando-me de trancar bem a porta da casa de banho. Quando sai, Thomas estava sentado em uma mesa, que ficava ali mesmo na sala, esperando-me. Sentei na cadeira a sua frente.
Ele serviu-me um pedaço de pão, e um copo de leite. Os copos já estavam ali, dentre outros utensílios abandonados. Perguntei-me, internamente, quem morara naquela casa um dia.
- Sabe, uma hora dessas o Henrique já deve ter lido o bilhete que eu mandei. – comentou ele, mastigando um bocado de pão. – Eu marquei um encontro com ele amanhã; vai me entregar o dinheiro e depois partiremos para São Paulo.
- Você não vai me soltar? – indaguei apreensiva.
- Claro que não! - Ele olhou para mim com carinho. – Você não percebe que agora é minha mulher?
Num ímpeto levantei, irritada.
- Por acaso você tem um problema mental, Thomas? – Estava começando a tremer, nervosa. – Eu não sou sua mulher! Casei-me com Henrique!
- Um simples papel não vale nada. – respondeu, se levantando calmamente.
- Foi na igreja, idiota! – expliquei, sem a menor paciência. – Foi perante Deus!
- Não coloque religião no meio. – Sua voz era suave e indiferente. – Pois eu não acredito nessas coisas. – Ele se aproximou de mim.
- Como eu te odeio! – explodi. Ergui minha mão pronta para dar-lhe um tapa.
Ele segurou-a no meio do caminho.
- Eu adoro seus carinhos, mas hoje não estou afim. – Ele pressionou um pouco minha mão, me fazendo contorcer levemente o rosto. Largou-a com força.
- Sádico. – murmurei, com os olhos faiscando. Meu ódio era eminente.
Ele escutou meu comentário, pois riu gostosamente.
- Nunca imaginei que encontraria uma jovem como você. – confessou ele, acariciando meu rosto. – Uma mulher que mexesse tanto comigo.
- Talvez Inês. – soltei aborrecida.
- Ela era apenas uma distração. – Ele tirou a mão de meu rosto, e entrelaçou-a na minha. – Inês sempre foi apaixonada por Henrique. Mas eu nunca me importei com isso.
Eu só pude ficar imóvel e em silêncio, diante das informações de Thomas. Queria apenas escutar atentamente e tentar entender, onde eu havia me metido.
- Ela me convenceu a te seduzir, dizendo que assim poderia desfrutar a riqueza de Henrique através de você. – Thomas sorriu de lado. – Mas eu estava ciente que ela só queria você longe dele. Na primeira oportunidade, Inês diria a Henrique que você estava traindo-o.
Eu fiquei chocada.
“Maldita serpente!” – pensei, mas logo me arrependi. A coitada já estava morta.
- Eu aceitei ajudá-la não pelo dinheiro. Mas sim por vingança. – Seus olhos se tornaram distantes.
- Vingança? – perguntei, quebrando o silêncio.
Ele voltou à realidade.
- Sim, vingança. – Ele não disse mais nada. Apenas puxou-me para si e selou meus lábios. Nada violento, apenas um encostar. – Só não achei que essa vingança seria tão prazerosa. – concluiu após se afastar.
Ele passou lascivamente à língua pelos lábios; eu bufei irritada. Thomas seguiu em direção ao quarto.
- Estou te esperando, não demore. – disse, e logo desapareceu na porta.
- Vai sonhando. – sussurrei, sentando-me na cadeira novamente.
Algo estava me intrigando. Que vingança era aquela, que ele falara?
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