Amor À Prova escrita por Bell Amamiya


Capítulo 13
A verdade dói, mas deve ser dita


Notas iniciais do capítulo

Nota: Os personagens do Kaleido Star não me pertencem, mas queria que o Leon e o Yuri me pertencessem 
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Gostaria de agradecer a todos os meus leitores pelo carinho.
Tenham uma boa leitura
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I.

Já fazia alguns minutos que Yuri havia chegado na casa de Layla. Antes de conversarem, Layla pediu que o jovem pintor esperasse na sala de estar, que ela iria preparar um chá para os dois. Ela tinha que preparar por si só, visto que Penelope estava na casa de Sora.

A leonina não sabia ao certo dizer se a vontade de preparar um chá era por ver Yuri tão nervoso, ou apenas para adiar a conversa o máximo que ela poderia. Desde a hora que a loira abriu a porta e deparou-se com Yuri, e que ele lhe dissera que precisavam conversar, ela sabia que coisa boa não viria.

A última vez que havia visto Yuri daquele jeito foi quando ele a tinha procurado para contar todos os detalhes sobre a morte de Sophie. Ele estava arrasado por uma coisa que havia acontecido a tempos, mas que ele não conseguia encontrar a paz interior e o próprio perdão que ele tanto precisava.

Lembrar dessa última vez que Yuri a procurou fez com que Layla sentisse um frio na espinha. Será que durante toda a vida do jovem pintor ele faria coisas inconsequentes e procuraria refúgio nela? Sentia-se um pouco temerosa do futuro dos dois. Não sabia se gostaria de ser sempre o refúgio de Yuri, ou mesmo de sempre protegê-lo de si mesmo. Como qualquer mulher comum, ela procurava um marido para protegê-la e ser seu refúgio.

Layla retornou para a sala de estar com uma bandeja com um bule e duas xícaras. Depositou a bandeja em cima da mesinha de centro e acomodou-se no outro sofá. Não sabia ao certo o porquê de não sentar ao lado do pisciano, mas a loira acreditava que aquilo poderia simbolizar que queria manter a distância suficiente para passar a informação de que não estava ali para ser babá dele e muito menos ser seu refúgio. Se ele queria conversar, eles conversariam, contudo, seria uma conversa de adultos.

– E então? O que você precisa conversar que é tão sério assim? – Layla estava impassível. Não queria mostrar que estava temerosa com a conversa.

– Na verdade... Eu não sei nem como começar a conversa. – Yuri estava muito abalado. O pisciano abaixou a cabeça e Layla pensou ver lágrimas correrem pelo rosto do pintor.

– Tudo tem um começo, então comece por ai!

Yuri respirou fundo, enxugou as lágrimas que corriam por seu rosto, e levantou o rosto para voltar a encarar o olhar de Layla. Aquilo seria mais difícil do que ele imaginava, mas precisava ser forte. Sua mãe sempre lhe ensinara que a verdade dói, mas deve ser dita. Além de que seria menos doloroso se ela soubesse a verdade por ele e não por terceiros, e nem por repórteres. Esses últimos podia se dizer que não tinham alma.

– Tudo começou quando a Rosseta veio me procurar. Ela veio me perguntar o que eu achava da Sora e ficou me dizendo para seguir meu coração, pois não havia conseguido ficar com Sophie.

Layla apenas ouvia tudo atentamente. Mas ainda não saia de si a sensação de que algo pior estava por vir.

– Mas eu não me importei muito. Ela é só uma criança e o que ela sabe sobre destinos que se entrelaçam? Além de que como ela poderia saber sobre a minha relação com a Sophie? – respirou fundo novamente e prosseguiu. – Então estava chegando o dia da minha exposição na galeria. Você bem sabe que eu já havia lhe chamado, mas infelizmente estava ocupada aquele dia. Então eu decidi chamar Sora para ir comigo.

Até ai tudo bem. “Será que Yuri está querendo dizer que não estava mais apaixonado por mim, e que ele quer Sora?” pensou Layla. Mas admitiu que antes de tirar conclusões precipitadas precisava ouvir a estória toda.

– Nós não só fomos à exposição, mas também levei-a para conhecer alguns lugares de Paris. Eu havia sentido que Sora não estava bem com alguma coisa, e eu precisava anima-la. Aliás, ela estava na França e era eu que estava lá. A Rosseta estava sempre ocupada.

Layla assentiu.

– Porém. É até idiota dizer, mas eu me vi apaixonado por ela. Não era amor, disso eu tinha a total certeza. Mas era uma paixão avassaladora. – Yuri desviou o olhar do de Layla. Não queria contar aquilo e ver a reação de Layla aos fatos. Era demais. – Sora é realmente uma pessoa fantástica e desperta o melhor em nós. E naquele instante eu queria ser o melhor para ela.

Era o que Layla mais temia. Yuri estava apaixonado por Sora. Mas se fosse verdade que não era algo forte, eles poderiam superar juntos. A leonina seria hipócrita se dissesse que jamais sentira uma paixonite por algum de seus parceiros até hoje. E sabia que mesmo assim, o amor que ela sentia por Yuri prevalecia e ambos ficariam juntos. Portanto, havia esperança de que o mesmo aconteceria agora. Yuri a amava, não era mesmo? Ele não vivia dizendo isso a ela? Além de que Sora estava esperando um filho de Leon e os dois teriam uma vida maravilhosa juntos. Sora amava Leon.

– Nós nos rendemos ao que estávamos sentindo naquele momento, e fizemos amor. – Yuri parou de falar, e podia se ver pequenas gotículas de lágrimas formarem-se em seus olhos. Não sabia se conseguia prosseguir.

– Vocês... tiveram uma noite de amor? – Era insuportável ouvir o som da própria voz dizendo aquelas palavras. Aquela confissão a atingira como um soco, e dóia demais.

– Tecnicamente, foi durante a manhã. Mas sim. – Yuri voltou seu olhar para Layla, e reparou que ela estava com o rosto virado para o lado oposto e o pisciano tinha certeza de que ela estava chorando.

Layla não conseguia dizer nada. Uma coisa era suportar a paixonite dele por outra mulher, mas era pedir muito que ela conseguisse assimilar e perdoar uma traição daquele tamanho, e principalmente com a sua melhor amiga. Para terminar de acabar com a leonina de vez, e pisar em seu ego, só faltava ele dizer que...

– Ela voltou para a América, e eu percebi que havia agido como um idiota. Eu a amo demais Layla, mas eu te decepcionei. Me rendi aos desejos da carne e quando fui me dá conta, eu já havia te traído. – Lágrimas grossas rolavam do rosto de Yuri. – Eu não espero que você me perdoe. Apenas precisava ser sincero com você.

– Você me pediu em casamento! Eu me iludi acreditando que você realmente queria apenas a mim. Como eu podia pensar que você fosse alguém de confiança? – Layla estava chorando, mas também transparecia muita raiva. Estava sentindo-se profundamente enganada.

Lágrimas rolavam de ambos os rostos. Ambos estavam feridos. Mas a leonina não daria o braço a torcer tão fácil. Dona de uma personalidade forte, Layla não aceitaria facilmente o fato de ter sido traída, mas não podia dizer que jamais perdoaria ou que não iria ver o Yuri nunca mais na sua frente. Precisava pensar e pensar muito.

– Há mais uma coisa.

Havia mais a ser dito? Já não era suficiente o golpe que Yuri havia lhe dado? O que mais ele poderia dizer que já não a havia machucado o suficiente? Acreditava que nada mais poderia a ferir tanto quanto o que já havia sido dito. Mas Layla nunca imaginou o quanto estava redondamente enganada.

– O filho que Sora espera é meu!

Aquilo foi a gota d’água. Fora imbecil em acreditar que mais nada que ele lhe dissesse a machucaria ainda mais. A cada vez que Yuri abria a boca conseguia ferir mais e mais a leonina. É como se houvesse enfiado uma lança em seu peito e ficasse empurrando mais e mais para dentro de seu corpo, a matando de tanto sofrer. Ser traída era uma coisa, mas o envolvimento de uma criança era pior ainda. E não somente doía a mentira de Yuri, mas também a omissão de Sora.

– CHEGA! NÃO VOU MAIS PERMITIR QUE VOCÊ ME MACHUQUE ASSIM! SAIA DA MINHA CASA E DA MINHA VIDA AGORA! – Layla estava chorando muito e gritava loucamente. Queria Yuri o mais longe possível dela. Não queria nunca mais ver aquele imbecil em sua frente.

Aquilo que ele havia feito era imperdoável.

II.

Cape Mary,

Apartamento de Leon Oswald

May fora visitar Sora. Andava muito preocupada com a amiga. Desde que Leon acordara do coma a japonesa parecia sofrer mais do que o normal. Ela precisava de apoio e a chinesa queria estar ali para o que a amiga precisasse. Não conseguia imaginar o quanto tudo aquilo a estava desgastanto, queria poder fazer algo para ajudar, mas não sabia o que.

Naquele dia a japonesa parecia estar bem. Não havia tido crises de choro e estava se alimentanto adequadamente. Penelope nunca deixava a acrobata perder seus horários de refeição e ficava sempre atenta aos horários de remédio. May sentia-se muito grata por tudo que a empregada de Layla estava fazendo por Sora, mas daquele dia em diante havia prometida para si mesma, que iria passar mais tempo no apartamento de Leon juntamente com a amiga.

– Você parece perdida em pensamento. Posso saber no que está pensando? – Sora tirou May de seus pensamentos e abriu um sorriso doce.

– Ah... Eu só estava pensando que não tenho dado a assistência que você merece. – May segurou na mão da japonesa e retribuiu o sorriso.

– Não se culpe. Você tem as suas coisas para resolver. Além de que já tenho muitas pessoas querendo cuidar de mim e que cuidam muito bem por sinal. – a acrobata abriu um sorriso triste que não passou despercebido pela chinesa.

– Tem alguma coisa que você quer me contar? Sabe que você me contar qualquer coisa.

Sora suspirou e se entregou. Era incrível como a amizade entre ela e May havia crescido desde o dia em que ambas receberam os seus papéis na peça do “Lago dos Cisnes” e que May descobrira que não seria a principal. Desde então, a chinesa havia sido quase uma mãe para Sora, e a japonesa estava esperando um momento para poder retribuir toda a atenção e o carinho da taurina.

– Eu estou muito preocupada. O Leon veio conversar comigo sobre comprar um novo apartamento, pois este é muito pequeno para a família que estamos formando.

– Ele está bem empolgado. – May disse mais para si do que para a amiga.

– É justamente esse o problema. May, eu não aguento mais manter esse segredo dele. Ele merece saber a verdade. Ele merece saber que essa criança não nascerá com a cor dos olhos dele. Na verdade, não nascerá com nenhum traço dele. – Lágrimas escorreram pela face de Sora. Ela precisava contar, mas não sabia como.

Nesse instante, ouviram batidas à porta. Penelope, que estava na cozinha, rumou em direção a porta da frente e abriu. Ela já sabia quem era, visto que o interfone tocara e pedira para abrir o portão lá de baixo.

Assim que Penelope abriu a porta, Yuri passou pela porta cumprimentando a empregada. Seguiu em direção ao único quarto da casa e deparou-se com May juntamente com Sora. O jovem pintor esperava encontrar a japonesa sozinha em casa, mas pelo visto não tinha mesmo sorte. Definitivamente aquele não era seu dia de sorte.

– Yuri? O que o traz aqui? – Sora perguntou meio assustada com a visita repentina do pintor, e ainda por cima sem aviso.

Yuri olhou para May e balançou a cabeça para Sora como que quem perguntasse alguma coisa. Queria saber se poderia dizer na frente da chinesa aquilo que viera falar. Sora entendera a mensagem e assentiu afirmando que ele podia prosseguir.

– Eu contei tudo a Layla.

– O que você quer dizer com tudo?

– Eu contei a ela do que aconteceu quando estávamos na França e também sobre a criança que você carrega em seu ventre. Agora não tenho mais segredos com ela. Sei que ela jamais irá me perdoar pelo que fiz a ela, mas ela merecia saber. – Yuri olhava fixamente para os olhos de Sora esperando qualquer reação da parte dela.

–Então ela sabe que essa criança é sua? – May apontou para a barriga de Sora e olhou para Yuri em seguida. – Você precisa contar para o Leon, Sora. Antes que a Layla ou alguma outra pessoa faça isso por você. – May olhou para a amiga preocupada.

Sora se perdeu em pensamentos. Queria muito contar para Leon que aquela menina que carregava no ventre não era dele. Mas só de imaginar tirar toda a felicidade dele era uma covardia. Mas a japonesa tentava pensar que era uma covardia maior ainda alimentar aquela mentira por mais um dia sequer.Iria sim contar para ele a verdade, mas antes disso precisava planejar o que faria em seguida se tudo desse errado.

– E então? O que você vai fazer? – Yuri estava preocupado tanto com o bem estar de Sora quanto o de sua filha.

“Filha” pensou Yuri. Como aquilo alegrava seu coração. Era claro que a situação não permitia ter muita felicidade e nem muita esperança. Mas era incrível poder saber que seria pai. Quando era mais jovem e imaginava ter filhos, não esperava que fosse em uma situação como aquela. E nem com uma mulher que não amava, não como amava Layla. Mas agora perdera Layla para sempre.

– Vou arrumar as minhas malas e conversar com Leon hoje a noite. Logo após conversar com ele, eu vou embora. – Sora estava decidida. Ela não era tola a ponto de pensar que Leon a aceitaria depois de manter aquela mentira por todo aquele tempo. As coisas teriam sido mais fáceis se ela tivesse criado a coragem necessária para ter dito a ele a verdade desde o início.

– Embora? Para onde? – May aproximou-se da amiga e segurou a sua mão. – Você não está sendo precipitada demais?

– Não! Eu já tomei a minha decisão. – A japonesa voltou sua atenção para Yuri. – Assim que eu me instalar no local que eu for ficar, eu mando o endereço pra você. Eu jamais privaria minha filha de conhecer o pai e ter contato com ela, e nem privaria você de ver a sua filha. Mas até lá, ninguém saberá meu paradeiro.

Yuri e May olharam para Sora. A decisão era dela e eles não tinham o direito de questionar. Não depois de tudo o que ela havia passado. Não depois do que acontecera com sua vida. Em uma coisa a japonesa tinha razão, ela precisava ter essa criança longe dos paparazzi. Se eles descobrissem que essa criança não era de Leon, não deixariam a acrobata em paz. E a credibilidade do Kaleido Star cairia muito mais. E Sora jamais permitiria que algo afetasse aquilo que ela mais amava.

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Naquele mesmo dia à tarde, após Yuri ter ido embora, Sora começou a fazer as malas e juntar todas as suas coisas. Como dissera para May e Yuri, já estava decidida a ir embora. Por mais que Leon pudesse tentar aceitar aquela criança, por mais que ele a amasse incondicionalmente, a acrobata sabia que era completamente injusto com ele. Sabia bem dos problemas que Yuri e Leon possuíam, e de tudo que o pintor havia feito de ruim na vida do acrobata, e ter mais uma coisa para completar a lista não era o que Sora queria.

Seria demais para o rapaz ter que acordar todos os dias e ver aquela criança crescendo, e saber que em nada ela parecia com ele, e pior ainda, ver o quanto se parecia com o pai verdadeiro. Por mais que Leon dissesse a Sora que não se importava, dentro do coração dela, ela bem sabia que nada daquilo daria certo. Além de não ser justo com Leon ter que dividir a criança que ele tanto passaria a amar com aquele que ele se dá bem. Seria um sofrimento enorme e Leon já tinha sofrido o suficiente, assim como ela.

É claro, que o tempo acalma os corações e carrega as dores. Mas ela bem sabia que era mais fácil para dos dois se esquecerem com o tempo e viverem suas vidas, do que para Leon, que não teria a chance de esquecer o ocorrido, pois além da criança poder se parecer com Yuri, este iria sempre visita-la e não permitiria que o acrobata esquecesse, portanto era a única coisa certa a se fazer.

Levou as coisas para o seu apartamento no dormitório do Kaleido Star, não poderia permitir que Leon impedisse ela de ir, e não tendo mais nada dela ali, seria muito mais difícil dele a impedir. Não sabia ao certo se fazia aquilo para se proteger ou para proteger Leon, mas sentia no fundo do seu coração que precisava fazer aquilo. E sempre seguira seu coração e nunca se decepcionara. Até poderia ter muitos obstáculos no caminho, mas sempre que seguira seu coração, não se arrependia do resultado.

Não conversou muito com May depois da conversa com Yuri, não havia muito que se explicar. Já havia tomado a decisão e nada a faria voltar atrás. Poderia estar até cometendo uma besteira, mas precisava fazer e depois veria o que iria dar. Mas na verdade, a japonesa não falou muitas palavras, pois tinha certeza de que um pouco que May insistisse para ela não fazer essa “loucura”, era assim que ela chamava, Sora acabaria cedendo.

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Por volta das 19 horas, Leon chegou ao apartamento. Estava alegre e feliz, como vinha aparentando desde que recobrara a memória, ou pelo menos parte dela. Estava animado com a ideia de ser pai, e sempre que estava no Kaleido Star resolvendo alguma coisa não via a hora de chegar em casa e ver Sora.

Mas naquela noite alguma coisa estava diferente. Assim que passou pela porta, notou uma aura diferente no ambiente. Era como se estivesse faltando alguma coisa. Mas como poderia estar faltando? Tudo aquilo de que ele mais precisava estava ali junto a ele. Devia ser apenas o cansaço se manifestando.

Procurou a japonesa no quarto, mas esta não estava lá. Foi até a cozinha e perguntou a Penélope. A empregada o informou que a acrobata estava sentada na varanda. E estava esquisita desde a visita de Yuri naquela manhã. Mas a jovem não se abria para ninguém e a empregada não sabia o que o pintor havia falado para a moça ficar tão abalada daquele jeito.

Antes mesmo de saber o que era, Leon já sentia-se com raiva. Como aquele imbecil se atrevia a vir até a sua casa quando ele não estava lá, e ainda por cima deixar Sora abalada. “O que aquele covarde fez a minha Sora?”, pensou Leon. Não sabia ainda, e mesmo que Sora não quisesse lhe contar, ele sairia dali e tiraria satisfações com aquele pintor atrevido.

Aproximou-se da varanda do apartamento. Precisava deixar a raiva de lado por um tempo e se preocupar com o bem estar de Sora. A gravidez dela era de risco e, qualquer emoção muito forte poderia colocar a vida dela e a do bebê em risco. Ao lembrar-se disso, mais uma vez a raiva tomou conta de Leon. “Se aquele imbecil prejudicou Sora e a minha filha, eu vou acabar com a vida dele. Ele já me tirou coisas demais”.

– Sora... Meu amor! Você está ai?

A jovem tremeu ao sentir a voz de Leon. Já havia percebido que ele havia chegado e escutara o chamando-o e procurando pela casa, mas não encontrara forças para responder. Estava tentando adiar aquele momento por mais tempo possível, apesar de saber que era inevitável aquela conversa.

Como a jovem não respondeu, Leon adentrou na varanda. Realmente Sora deveria estar muito triste com alguma coisa. Mesmo que não estivesse muito animada em determinado dia, mas sempre recebia Leon com muito carinho e afeto. Mas naquele dia ela estava distante e triste.

– Ei meu amor! – começou Leon. Sua voz era suave, com a finalidade de poder se aproximar da jovem e tentar ajuda-la de alguma maneira. – Está muito frio aqui fora. O que houve?

Sora virou o rosto para Leon e o encarou com olhos distantes e um sorriso triste. O momento havia chegado e a moça não estava pronta para ter aquela conversa, mas infelizmente não tinha mais tempo e muito menos escolha.

– Eu fiquei sabendo que o Yuri veio aqui lhe visitar. O que ele queria? É por causa dele que você está assim? – Mesmo que Leon tentasse evitar, dava para perceber a raiva em seu tom de voz ao falar de Yuri, e isso não passou despercebido por Sora.

– Leon, nós precisamos conversar. E será uma conversa cansativa e não terá um final feliz. – A jovem chamou Penélope e pediu que ela lhes trouxesse um pouco de chá.

Como Leon suspeitara. Alguma coisa não estava certa ali. Percebera desde que chegara. Mas o que havia acontecido em sua casa enquanto estivera fora? A raiva que sentia do ex acrobata de madeixas loiras só aumentava. Com que direito ele vinha em sua casa e acabava com a felicidade de sua família? Já não tinha feito estragos demais?

– Sou todo ouvidos! – Era percebível o tom de voz triste e raivoso de Leon.

Sora suspirou e começou a contar toda a história, desde o começo.

– Eu não sei se você se lembra, mas antes do seu acidente, eu e Rosetta fomos para a França. Ela queria visitar a mãe dela e queria a minha companhia. E o Karlos acreditava que eu precisava de umas férias, e como eu não podia negar, eu aceitei ir com ela. – respirou fundo e continuou. – Lá, eu e Yuri nos encontramos, e ele foi muito gentil em me levar para conhecer Paris, enquanto a Rosetta estava em fazendo coletiva de imprensa, por ordens de sua mãe.

O acrobata ouvia atentamente o que a jovem lhe contava, mas já sentia em seu íntimo que aquela estória não teria um final muito agradável.

– Além de conhecer Paris, o jovem Yuri me pediu para acompanhá-lo na exposição das obras dele, pois Layla não poderia acompanha-lo e como eu estava lá, ele queria muito que eu fosse. Simplesmente, eu aceitei. Não via nada de mais em acompanhar um amigo em um evento tão importante para ele. – a jovem deu uma pausa e parecia que seus olhos estavam enchendo de lágrimas.

– A exposição foi um sucesso e tudo foi maravilhoso. Nos dias que se seguiram à exposição, eu e o jovem Yuri passamos a passar todas as tardes juntos. Ele era uma ótima companhia e eu realmente não queria ter que acompanhar a Rosetta nos eventos que a mãe dela proporcionava. Se eu havia ido lá com um pretexto de ter férias, então eu me permitiria ter férias.

Penélope chegou com o bule de chá e duas xícaras em uma bandeja e colocou em cima da mesinha da varanda, bem no meio dos dois jovens. Retirou-se assim que terminou de arrumar a mesa e colocar o chá em cada uma das xícaras.

Sora bebeu um pequeno gole de seu chá, e criou forças e coragem para terminar de contar o que havia começado. Estava chegando na pior parte, e não conseguia nem imaginar qual seria a reação de Leon.

– Depois de alguns passeios e de passarmos algum tempo juntos, algumas coisas começaram a vir a tona. Não posso dizer que sinto nada muito forte pelo Jovem Yuri, mas tenho um carinho muito especial por ele. E acredito que ele sinta o mesmo por mim. Mas naquela ocasião aqueles sentimentos se confundiram, e acabamos tendo um amor proibido. – deu uma pausa e olhou para Leon, seu olhar estava confuso e sua expressão impassível. Era muito difícil decifrar o que estava passando pela cabeça dele.

– Você dois dormiram juntos? – Foi a forma mais fácil que o escorpiano arrumou de tentar entender aquela estória.

– Infelizmente sim. E preciso te dizer, que me arrependi no primeiro momento de sanidade que tive. Aquilo foi o maior erro que já cometi na vida, mas não havia como voltar atrás.

O rapaz estava apreensivo. Passava as mãos diversas vezes pelo rosto. Estava incrédulo. Tudo aquilo não devia ser mais do um sonho, isso mesmo, um sonho. E logo, logo ele acordaria e tudo estaria da forma que deveria estar.

– No mesmo dia, eu recebi a notícia de que você tinha se acidentado e não pensei duas vezes. Peguei o primeiro avião que vinha para cá. Precisava te ver e principalmente, precisava me afastar o máximo possível do Jovem Yuri. – tomou mais um gole do chá. – Mas o destino é cruel e não perdoa ninguém. Quando cheguei aqui, você estava em estado grave e estava em coma. E como não bastasse me vem mais uma notícia.

– Você estava grávida. – Leon afirmou como se já soubesse a resposta a muito tempo. Aquilo era complemente assustador para Sora. Sabia que Leon era muito inteligente e sacaria logo de cara, mas não estava preparada para encarar a verdade dura.

O semblante de Leon estava impossível de decifrar. Era visível saber que aquilo o estava perturbando, mas não havia como saber o quanto. Aquilo o machucara mais do que Sora poderia imaginar, mas não havia como soprar a ferida, ela estava aberta e sangrava demasiadamente.

– Isso mesmo. – A jovem apenas conseguira confirmar o que Leon falara.

– Então essa criança que está no seu ventre é filha daquele cretino? – A raiva agora era visível no rosto de Leon. Sora jamais havia visto ele daquela maneira. Passou por seu corpo o medo de que ele pudesse agredi-la ali mesmo, por causa de toda a raiva que sentia, e que ela lhe causara.

Sora apenas conseguiu balançar a cabeça em sinal de concordância. Não conseguia dizer mais nada, era como se tivesse esquecido como falar. Lágrimas grossas escorriam por sua face. Gostaria que tudo aquilo que contara para Leon não passasse de uma ficção. Uma boa estória para um livro, mas não era. Não consegui levantar o rosto e encarar o olhar frio e duro de Leon.

– E você, simplesmente, me deixou acreditar que essa criança poderia ser minha? – Ouviu o barulho do punho de Leon ao encontro da parede. Estava muito nervoso e tinha que descontar em alguma coisa. “Como eu gostaria de arrebentar a sua cara agora, cretino imundo”.

– Leon... Não é be...

– E o que te fez mudar de ideia? Porque decidiu contar agora para mim? Porque Yuri veio reconhecer a paternidade? Ele quer a filha dele? É por isso que ele veio aqui hoje? – Leon estava visivelmente irritado e não sabia até quanto tempo conseguiria se controlar. Levantou da cadeira onde estava sentado, e olhou de forma fria e cruel para Sora. – Quer saber? Não precisa me contar. Nada disso me diz respeito não é? Eu preciso sair para pensar.

Leon retirou-se do local e bateu com força a porta do apartamento. Estava muito irritado e pensava colocar os pensamentos em ordem, antes que cometesse uma besteira. Apesar de estar louco por arrebentar aquele pintor cretino. Mas não podia fazer nada com a cabeça quente. Orgulhava-se de seu autocontrole em situações de crise, e não seria agora que iria decepcionar a si mesmo.

Aquilo doía muito. Em grande parte, porque desejava com todo o coração que aquela criança fosse sua. Não apenas por simples desejo de ser pai, mas também porque se tinha algo que ele tinha a maior certeza, era de que amava Sora incondicionalmente, além de odiar profundamente aquele Yuri insolente.

Não conseguia entender porque o Yuri gostava tanto de arruinar a sua vida. Qual seria o prêmio no final? Receberia uma gratificação do destino? Primeiro tirara Sophie de sua vida e agora vai tirar a filha que ele estava aprendendo a amar e desejar? Aquela ideia era insuportável de aguentar, precisava por para fora tudo o que estava sentindo se não ficaria louco.

III.

No apartamento de Leon, Sora estava chocada com o que acabara de acontecer ali. Não que esperava menos de Leon, mas pela forma como ele saíra. Será que iria atrás de Yuri? A jovem esperava que não. Mesmo que tudo aquilo tivesse acontecido por um descuido dela e de Yuri, ele não havia feito tudo sozinho e ela tinha uma grande parcela de culpa e precisava aprender a conviver com ela, antes de prosseguir.

A jovem acrobata dispensou Penélope e pediu que a empregada voltasse para a mansão dos Hamilton. Ela não precisaria mais dos serviços da empregada e nem Leon precisava mais. Doía-lhe o coração ao imaginar pelo que Leon estaria passando e onde estaria indo numa hora daquela, estava perambulando por ai, a noite, e sozinho.

Mas não havia como desfazer o que estava feito e precisava seguir adiante com seu plano. A moça pegou uma caderneta que havia na gaveta do meio da escrivaninha de Leon e também uma caneta, que ali continha e começou a escrever um pequeno bilhete. Estava indo embora, e não seria justo com Leon que não lhe avisasse que estava partindo.

Deixou o bilhete em cima da mesa de centro da sala, e saiu do apartamento do rapaz com lágrimas nos olhos e sabendo que sentiria muita saudade de tudo aquilo ali, mas não havia como voltar atrás e nem havia muita oportunidade.

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

Olá Galerinha!
Eu trouxe para vocês mais um capítulo dessa fanfic maravilhosa de se escrever. Não, eu não esqueci dela e nem vou parar de escrever. Mas é que minha vida é extremamente corrida e não me sobre muito tempo para escrever.
Mas podem ficar tranquilas que eu irei terminar essa estória fascinante. Principalmente, porque eu também amo demais essa fanfic e jamais me perdoaria se eu a abandonasse.
Então... Espero que gostem! E até o próximo capítulo! 
Beijinhos e até breve!