CAPITULO 12: Amizade - Reinício

Aline acabava de chegar em casa, estava ensopada, uma chuva daquelas tinha começado do nada enquanto voltava para casa, e para a má sorte da garota ela estava sem guarda-chuva, teve que ir para casa correndo e, mesmo assim, fora completamente encharcada pela água que caía.

A primeira coisa que fez chegando ao lar foi tirar a roupa molhada e tomar uma boa ducha quente. No chuveiro, começou a pensar no que pretendia fazer, e sentiu uma ponta de medo, mesmo com toda a confiança que conseguira criar. Será que Dayane aceitaria seu pedido de perdão? Será que havia a chance de elas voltarem a ser amigas de novo, como se nada houvesse acontecido?

Mas e se ela dissesse que sim? Como seria sua reação? Estava muito preocupada no que teria que dizer, no que teria que falar. Será que deveria começar a conversa com um “oi”? Séria? Descontraída? Como seria sua recepção? Será que Dayane ia desligar na cara dela? Será que ia falar como se nada acontecera? Na verdade estava com bastante medo das possibilidades, porém estava também controlando esse temor e juntando coragem.

Aline terminou seu banho, trocou de roupa e foi assistir TV, procurando distrair um pouco a cabeça. Ligaria para Dayane logo mais, e enquanto o momento não chegasse, ela desejava eliminar toda a tensão. Mas a programação não contribuía para isso: em quase todos os canais havia uma novela ou filme justamente tratando do tema de dois antigos amigos que se tornaram inimigos mortais!

Decidiu que não seria uma boa idéia continuar a ver TV, não parecia estar lhe ajudando. Tinha decidido que seria melhor começar a ler, mas nem isso parecia estar surtindo efeito. Os cinco livros dos quais ela tinha lido a contra-capa falavam sobre tragédias envolvendo ex-amigos: “Ben-Hur”, “O Conde de Monte Cristo”...

Que fazer então? Jogar videogame? Bem, naquele momento Carlinhos estava se divertindo justamente com um game chamado "Resident Evil" no qual um personagem chamado Wesker traía os seus colegas de trabalho, envolvendo-os num plano mortal... Droga, parecia que tudo conspirava contra Aline desde que começara a chover!

Ela não via muita escolha, decidiu simplesmente deitar na cama e esperar o tempo passar. Mas o tempo não passou, demorou, e se prolongava junto com a chuva lá fora, parecia uma tortura eterna e ela apenas pensava no que teria que dizer para Dayane e o que ela responderia...

Será que aquela tortura teria fim? Provavelmente só depois que ela conversasse com a garota com a qual desejava se reconciliar. E, num ato simbólico, resolveu tomar outra ducha. Havia se passado menos de uma hora desde a anterior, porém agora o chuveiro tinha a função de lavá-la de todo o medo, livrá-la de toda a preocupação... E, em meio à água quente, o receio escorreu pelo ralo.

Decidiu que aquela era a hora, ia ligar para Dayane agora mesmo, antes que o medo voltasse. Pegou sua agenda, trouxe-a próxima ao telefone, e começou a discar o número. Começou então o aparelho a dar sinal... Uma vez... Duas vezes... Três vezes... Aline chegou a pensar que ela não estava em casa até que então...

- Alô?

A voz de Day veio de repente, chegando a assustar Aline do outro lado. Seguiram-se segundos de silêncio, as duas garotas podendo uma ouvir a respiração da outra através do fio. O que a menina que ligara poderia dizer? Como iniciar tal conversa? Dependendo das palavras que escolhesse, uma amizade podia ser reatada ou então Dayane não ia querer mais ver Aline nunca mais em sua frente!

- Day? – falou Aline.

- Quem está falando?

-Day... Antes que você desligue na minha cara, eu gostaria de pedir desculpas!

Só depois dessa última fala de Aline que Dayane percebeu quem estava falando, fez menção de desligar o telefone, mas pelo mínimo da boa educação, ela se manteve na linha.

-Diz logo o que você quer – disse Dayane um pouco irritada.

Ela tinha todos os motivos do mundo para encerrar aquela conversa, porém resolveu ouvir a ex-amiga:

- Pela amizade tão forte que tínhamos, Day...  Eu estou muito arrependida do que fiz. Sou uma nova pessoa agora, sei que é difícil acreditar, mas eu mudei! E peço que me dê ao menos uma chance de mostrar isso!

- Aline, eu...

- Sei que pisei muito na bola, causei feridas de todos os tipos, mas...

- Aline... Eu tenho que pensar... Por mais que esteja arrependida não é isso que vai poder trazer nossa amizade de volta.

- Day, eu...

- Sério, Line. Vou desligar, até depois.

- Tá... Até...

Apesar de não ter tido um resultado muito positivo, a tentativa acabara sendo bem melhor do que Aline imaginara. Sentindo-se como que entorpecida, as palavras de Dayane ressoando em sua mente, a garota caminhou até onde o irmão jogava videogame, e permaneceu bons minutos ali, fitando-o, sem ser notada, olhos distantes, perdidos em inúmeras coisas... Pensar. Dayane ia, e precisava, pensar...

Talvez elas pudessem voltar à velha amizade duradoura, talvez não, mas só por Dayane já pensar no assunto, fazia o peito de Aline se encher de alegria. Ela permaneceu vendo seu irmão jogar e viu que no final, embora tenha havido a traição de Wesker, os dois personagens principais conseguiram ficar juntos e descansar depois daquele pesadelo.

Ela esperava muito que, naquele caso, a vida real imitasse o jogo eletrônico.

Continua...