A Grande Busca escrita por Rebeca Bembem


Capítulo 13
Saio às escondidas de minha própria casa


Notas iniciais do capítulo

GEEEEEEEEEEEEENTE ME DESCULPEM. Sério mesmo? Estava no mais terrível bloqueio criativo da minha história de vida D:minha escola nova tem muita tarefa e prova, ah é um horror. Eu estive sem tempo, sem ânimo e sem criatividade. Eu estava me sentindo culpada por nao escrever, mas eu nao conseguia D: MAS AGORA EU CONSEGUIIIIII UHUL. ME PERDOEM, PLEASE. E aqui vai mais um cap, para os que ainda nao me abandonaram. Obrigada viu ;) espero que gostem



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O relógio antigo pregado acima da porta de carvalho da sala marcou uma e quinze da tarde. O almoço ainda recente dançou em meu estômago embrulhado quando o nervosismo subiu por minha garganta. Levantei-me do sofá e olhei ao redor para a sala vazia, enquanto ouvia o silêncio vindo da sala de jantar onde todos ainda comiam. Sim, eu conseguia ouvir o silêncio. Quase podia tocá-lo, pra dizer a verdade. Todos comiam, ninguém falava. É porque sabem que precisamos fazer alguma coisa, e rápido, eu concluí. Não que alguém tivesse dito, mas era claro que o plano ia ser exposto. Logo quando estávamos quase nos acomodando nessa monotonia... Mas eu não. Eu estava me corroendo para fazer alguma coisa, correr atrás, buscar por algo. Não aguentava ficar parada enquanto tudo o que eu ignorava acontecia do lado de fora daquela casa.

Subi a escada da esquerda me perguntando se as estratégias de Nymeria já teriam sido colocadas em prática. Como ela vai fazer com que possamos sair sem que ninguém nos perceba? Isso é praticamente impossível, eu pensava. Cheguei ao corredor e entrei em meu quarto. Ele estava arrumado de acordo com o meu entendimento sobre “arrumado”. Portas abertas do guarda-roupa e a mochila com o que eu levaria jogada em cima da cama. Abri-a e peguei meu celular. Uma e dezessete. Faltavam ainda quarenta e três minutos para eu ter a chance de ter uma resposta decente. Ou para ser também sequestrada e levada por essa família maluca. Veja os pontos positivos, pensei. Vai encontrar sua irmã. Sorri diante de meu falso otimismo e resolvi não pensar mais nisso já que a decisão estava tomada.

Abri o mapa que tinha imprimido e dei uma olhada no caminho que teríamos que percorrer para chegar ao Café Rio. Grata por ter que andar apenas algumas quadras, eu tracei com o dedo um percurso que ia da minha casa, ao sul da Lagoa da Tijuca, até mais ao sul ainda, em uma ruazinha que dava de frente para o mar. Calculei mentalmente que não poderia demorar tanto pra chegar lá, já que não era tão longe, afinal. Respirei fundo e guardei o mapa de volta na mochila, lembrando-me de que minha correspondente dissera que meu amigo sabia onde este café ficava. Mas eu não levaria Hugo, nem contaria nada a ele. Eu só colocara Nymeria nessa “missão de risco” porque ela se oferecera e praticamente me obrigara. Já havia pessoas demais em risco por minha causa.

 Meus pés e mãos já estavam inquietos, enquanto eu aguardava por Nymeria e sua solução milagrosa. Bianca, Bianca, é bom que o que tenha pra me dizer valha a pena... é bom mesmo, eu pensava, ao mesmo tempo que me perguntava se realmente ia receber uma resposta digna. Segurei o celular nas mãos enquanto verificava as horas a todo o momento. Uma e vinte, uma e vinte e três. Nada. Eu havia terminado o almoço o mais rápido que conseguira, dizendo que não estava com tanta fome e precisava verificar umas coisas em meu quarto. Sim, eu era péssima em enrolar as pessoas, mas não era possível que Nymeria fosse ainda pior. Ela estava demorando demais pra chegar a nosso “ponto de encontro”. Não fiquei tão surpresa assim, e sorri diante da ideia de Nymeria estar tentando enrolar Lyanna. Essa seria difícil de passar pra trás, pensei.

Eu me agarrava com toda a ansiedade possível ao cabo da minha espada, tirando dela a força que precisava. Defensora de almas... até que é um bom nome, pensei, orgulhosa. Até dei um meio sorriso enquanto me fantasiava salvando minha irmã de uma prisão horrível, levando-a para a praia para dar um mergulho, defendendo-a de todos que quisessem seu mal. Queria poder fazer isso, Manu, disse a ela em pensamento. E foi quando decidi olhar de novo para a mensagem que eu vira mais cedo, para obter certo conforto. Aí está uma coisa que a gente sempre faz: correr atrás de lembranças para não sofrer com a realidade atual. “Estou bem. Cuidado em quem confia. Venha logo. Eu te amo.”

E foi quando, por algum acaso - ou não – eu apertei um botão sem querer, e a tela do celular mostrou os detalhes da mensagem. O número de quem mandou e a data e hora em que fora enviada. Estaquei, vendo aqueles números dançarem pela minha cabeça, como se cantassem: Hahahaha agora você vê, não é, agora você vê. Por que não pensou nisso antes, sua idiota? Perguntei a mim mesma. Olhei de novo, só para ter certeza, e olhei então para um calendário escolar com uma foto minha e de Manoela, colocado com carinho em cima da cômoda, que marcava o dia de hoje como 16 de dezembro. Dezesseis, dezesseis, tem alguma coisa errada. E então olhei novamente para a tela do celular, para a data do envio da mensagem. E todo o meu ar se foi, se esvaiu do meu peito como uma bexiga que fora solta para ir aonde o vento levasse. Vazia.

Eu tinha visto a mensagem há apenas uma hora e alguns minutos, mas na verdade, ela fora enviada há alguns dias. Dias! Ah senhor! E eu que pensei que a mensagem era um sinal de que ela estava viva, um aconchego, um consolo... mas agora já não tinha certeza. A única coisa que eu sabia é que ela estava viva até dia 13. Dois dias antes de eu acordar na casa de Hugo, olhar para a árvore de Natal e receber, com um sorriso, a resposta de que era dia 15 e eu estivera inconsciente por dois dias desde o atropelamento... desde o sequestro.

Bati minha mão em minha testa com toda a força que pude. IDIOTA, IDIOTA, IDIOTA!, gritei pra mim mesma. Alice, como pode demorar tudo isso para tranquilizar sua irmã, como pode não pensar em ver quando a mensagem fora enviada, como não pensou em ligar pra ela, responder a mensagem ou qualquer outra coisa? Sentia-me uma inútil, imprestável e egoísta. Sentia-me culpada por não tomar atitude nenhuma e ficar esperando que algo acontecesse. Ah merda! Pensei. Lá vou eu de novo, esperando a vida me levar. Digitei então uma mensagem rápida para Manoela, tentando tranquiliza-la e expulsando da minha mente a terrível possibilidade de ela não estar mais viva. “Não perca a esperança. A gente vai te achar. Prometo que tudo vai ficar bem. Eu vou te achar.” E mesmo não podendo prometer que tudo ficaria bem eu o fiz. Algumas pessoas simplesmente precisam de esperança, e minha irmã era uma delas. Apertei o botão de enviar, me sentindo a pessoa mais merecedora do mundo de receber uma placa com a palavra “lerda” pra colar na testa.

“Mensagem enviada” o celular escreveu em sua tela pra me dizer. Respirei fundo e percebi que tremia. Uma e meia, o relógio do celular marcava. Estava ansiosíssima, não aguentava mais esperar. Meus pés e mãos tremiam, eu sentia o peso do céu sobre meus ombros. Nymeria, Nymeria, onde está seu plano infalível?, eu me perguntava. E então me levantei da cama, puxei a mochila e pendurei uma alça sobre o ombro direito, como sempre fazia, coloquei o celular no bolso e passei pelo batente da porta do meu quarto, em direção ao corredor.  Tão perdida em pensamentos e determinação que estava, nem percebi que esbarrei em Nymeria, logo nela que vinha toda calma e sorrateira, tentando não fazer barulho. Ela bateu de frente comigo assim que saí do quarto e virei à esquerda e eu dei um pulo de susto enquanto ela bateu sua testa na minha.

 - Ah que susto! Eu não tinha te visto, quer me matar do coração? Desculpa, desculpa mesmo! Te machuquei? – eu perguntei pra uma guerreira vestida de adolescente normal que passava a mão na testa com expressão de dor.

 - Shiu! – ela sussurrou, irritada. – Fale mais baixo, ou eles vão acordar, sua boba! Não, não me machucou não, está tudo bem – ela tirou a mão da testa e a colocou sobre sua aljava de flechas, pendurada à cintura, erguendo a cabeça e fixando seus olhos verdes e puxados em minha mochila.

 - Acordar? – eu sussurrei surpresa. – Você os colocou pra dormir?

 - Isso mesmo – ela balançou a cabeça, dando um sorrisinho orgulhoso e olhando agora para mim – Poção do sono que eu mesma fiz e coloquei nas bebidas. Precisava ver, estava perfeita! Assim que você saiu e eu tomei um gole do meu próprio copo pra estimulá-los  e eles também tomaram. Todos eles. E no mesmo instante suas cabeças caíram pra trás e eles dormiram como anjos. Você precisava ver, de verdade, nunca fiz uma poção tão boa! – ela sorria radiante, sem perceber que falava de ter colocado sua líder e sua irmã em um sono profundo. Isso não devia ser demais pra ela, afinal, nós não estávamos justamente desobedecendo a uma ordem de Lyanna que era ficar na casa até que elas tivessem um plano?

Poção do sono? Ah céus, o que será que existe a mais nesse mundo que eu não sei?

 - Bom, parabéns, eu acho – sorri pra ela, escondendo meu nervosismo. – Sabia que você seria capaz de fazer com que eles não notassem a gente. Só não sabia que seria assim – mas quando vi o sorriso dela murchar logo me senti culpada e acrescentei: - Mas você foi perfeita, fez melhor do que eu imaginava!

 - Obrigada – ela disse, jogando o cabelo para trás de um jeito que dizia: “eu sei que sou fabulosa”. E era mesmo, eu pensei. – Mas então, vamos logo? Quero chegar antes da hora marcada e inspecionar a área, pra ver se essa frescurenta não armou nada pra nós.

 - Ah claro. Vamos, eu tenho o mapa, não é longe daqui esse Café Rio. Eu já não aguentava mais esperar. – ela acenou com a cabeça.

Então seguimos pelo corredor em silêncio, descemos a escada à nossa direita e atravessamos a sala deserta. Pelas janelas de vidro eu via o céu nublado e pela sacolejar das cortinas eu via e sentia a brisa gelada. Passamos pela sala de jantar e eu vislumbrei uma cena cômica demais para ser ignorada: Hugo estava com o rosto no prato de comida vazio, Pedro estava com a cabeça pendida pra trás, a boca aberta e roncava profundamente. Raquel e Katy tinham caído com as cabeças ao lado do prato, e Lyanna era a mais engraçada de todas: sua cabeça estava apoiada no ombro de Hugo ao seu lado e ela estava com a boca escancarada. Não pude me conter e comecei a rir. Olhei para Nymeria e ela sorriu e fez um sinal com as mãos e os ombros que dizia “a culpa não foi minha”. Entrei na sala e tirei os pratos vazios da mesa, não querendo que algum deles batesse a cabeça ali dentro e acabasse se machucando. Quando passei pelo lugar de Hugo, porém, deixei o prato no lugar, me sentindo a vontade pra fazer uma brincadeirinha com ele. Como nos velhos tempos, eu pensei com saudade.

Levei os pratos à cozinha e Nymeria fechou a porta da sala de jantar. Eu e ela nos encontramos na porta dos fundos da cozinha e uma rajada de vento vinda da sala de estar que fez a janela aberta estremecer me lembrou de algo. Um calafrio percorreu meu corpo todo quando me veio à memória as tentativas fracassadas que alguém teve de abrir a porta, mais cedo naquele mesmo dia. Alguém estivera ali fora, naquele quintal, espreitando, tentando entrar. Eu recordei do medo que sentira de ter minha segurança invadida mais uma vez, e esse medo me atormentou novamente. E se quem estivera ali mais cedo estivesse ainda lá fora, aguardando?

Pus minha mão sobre a de Nymeria quando ela foi girar a maçaneta, impedindo-a. Ela olhou assustada pra mim.

 - Mudou de ideia? - ela perguntou.

 - Não, não é isso, eu só... lembrei que alguém tentou entrar aqui mais cedo, lembra? – ela acenou afirmativamente com a cabeça, o cenho franzido. – Então... e se estiverem lá fora agora também? Nos esperando...

 - Alice, nós já fomos lá fora hoje, lembra? Quando você recebeu sua espada. E não havia ninguém lá. – ela sentia o tom tenso em minha voz e respondia tentando me tranquilizar, o que quase funcionou. Quase.

 - Mas nós estávamos em muitos. Agora estamos só eu e você. E eu ainda nem sei usar essa espada direito. – eu pus a mão sobre minha defensora. – Eu quero ir, quero mesmo. Mas...

 - Eu entendi – ela disse, solenemente. – Já sei o que vou fazer. – então ela virou as costas e foi para a sala de estar, eu estava curiosa demais pra sair do lugar. Alguns segundos depois ela volta, a Garra de Loba com bainha em tudo em suas mãos, e a aljava não mais em sua cintura. Nem o arco em suas costas. – Acho que a Ly não vai se importar se eu pegar sua espada emprestada. Você se importa de carregar um pouco? – ela estendeu a espada para mim.

 - Ah, não. Claro que não – então eu peguei Garra de Loba, mesmo sem entender o que Nymeria ia fazer.

Então ela respirou fundo e abriu a porta da cozinha. O vento cortante nos atingiu como uma lâmina que rasgava nossa pele descoberta. Olhei para o céu e vi imensas nuvens pretas. O sol já tinha ido totalmente embora. Na segunda rajada de vento forte, eu ouvi um ruído de algo pesado caindo na grama e olhei para o lado, me surpreendendo ainda mais. Ali estava uma loba, que cintilava como a mais polida prata com neve a recortar seu pelo macio. Nymeria havia se transformado. Maravilhada e sem folego, eu me sentia protegida com um grandioso animal ao meu lado. O céu ficou ainda mais negro e ela fez um rosnado tão feroz que eu me assustei, mesmo sabendo que quem estava por baixo daquele casaco de pele era minha amiga Nym.

A loba começou a farejar por todo lado, indo de um muro à direita ao outro à esquerda. Foi até a entrada do bosque, mais a diante e voltou. Sumiu de um dos lados da casa e apareceu do outro, focinho colado à grama que dançava ao som da brisa. Ela olhou para o céu e sentiu o vento, de olhos fechados. Quando os abriu de novo, era humana novamente. Uma garota graciosa e esguia de olhos verdes.

 - Não há nenhum cheiro estranho que esteja forte por aqui – ela disse para uma garota estupefata com a beleza do que acabara de ver. – Se alguém esteve aqui de manhã, já foi embora há tempos. Não há rastros ou algo do tipo. Sua casa está limpa.

Respirei aliviada e estendi a espada de Lyanna para ela, com uma porção de dúvidas em mente. Ela pendurou a bainha à cintura e nós começamos a andar em direção ao bosque, atravessando a grama a passos largos. Olhei no relógio do celular: uma e quarenta e dois. Fiquei em silêncio, remoendo perguntas e mais perguntas em minha mente até que chegamos à primeira árvore e começamos a descer, nos agarrando aos troncos. Eu sentia a espada fazer pressão sobre minha coxa direita – pois ela estava pendurada em minha cintura – e sua ponta cutucar meu joelho toda vez que eu dobrava minha perna para passar por cima de alguma raiz. Mas era uma sensação boa, fazia com que eu me sentisse segura e protegida. Quando a ladeira estava quase acabando e eu avistei o buraco no muro, mais abaixo, não aguentei o silêncio e soltei uma de minhas perguntas.

 - As pessoas não vão ver se sairmos com uma espada na cintura? Quero dizer, mesmo que eles só vejam a bainha... não é algo lá muito comum – eu disse, segurando em um tronco e depois me apoiando em outro enquanto descia. As folhas mortas ao chão faziam barulho de vidro se quebrando a cada passo.

 - Não é comum mesmo, tem razão – ela disse, sua voz vindo de um ponto um pouco à minha frente, já que só havia um caminho razoavelmente menos íngreme para descer, que era exatamente aquele que estavam usando e que só permitia uma pessoa por vez. – Mas não se preocupe com isso. Ninguém vai ver nossas armas, elas não vieram daqui, e nenhum mortal é capaz de entender o que não conhece – percebendo meu silêncio como um ponto de interrogação ela continuou. - As pessoas veem o que querem ver. Elas não acreditam que haja um mundo além deste, não creem em seres mágicos ou em portais que levem para um lugar melhor que este. Elas não acham possível a existência de pedras carregadas de energia que são capazes de fazer maravilhas, não acreditam em pessoas que viram animais, nunca creram em lobos ou águias gigantes, e já se esqueceram da existência de espadas de aço, bestas ou arcos. Nada disso se adapta a vida que elas conhecem, nada disso faz parte de suas consciências. Se você não acredita, você não vê. Se você não conhece, você não entende.

Silêncio. Eu estava sem palavras. Completamente muda. Logo eu, que sempre tinha uma palavra na ponta da língua pra tudo. Contentei-me em ficar quieta e repetir as palavras dela em minha mente como uma música, no ritmo das folhas que iam sendo quebradas. Até que alcançamos o muro com a fenda e eu estaquei ao lado de Nymeria.

 - Entendeu? – ela perguntou, olhando com carinho pra mim.

 - Acho que sim – respondi, sendo sincera. – Então... posso te perguntar mais uma coisa?

 - Claro – ela disse, passando uma perna e depois a outra pelo buraco no muro de tijolos e indo parar em mais uma pequena descida de grama que dava no acostamento de uma avenida.

 - Sobre as armas, os seres mágicos, as pedras, os lobos... se as pessoas não conhecem ou acreditam, elas não enxergam o vazio ao invés dessas coisas, enxergam? – eu passei pelo buraco também, chegando à descida de grama e vendo pela primeira vez em dois dias o mundo exterior. As lojas do outro lado estavam abertas, e várias pessoas circulavam pelas calçadas. Muitos carros passavam a todo vapor pelos dois sentidos da avenida e do lado de cá, separadas do contexto, estávamos nós. A poucos passos do acostamento da rua, mas a milhões de quilômetros da vida daquelas pessoas comuns.

 - Eles são mortais – ela disse, se referindo às pessoas comuns em quem eu pensava e foi como se as palavras de Lúcio ecoassem de novo em minha mente. – E não, não enxergam o vazio. Eles veem uma versão adaptada a sua realidade do que realmente está ali. É bem provável que quando algum deles olhar pra nós, verá duas garotas normais com um taco de basebol na cintura – ela olhou pra mim e sorriu, acabando com o clima tenso.

Eu sorri de volta, ainda um tanto anuviada, tentando organizar as informações. Começamos a descer e finalmente chegamos ao asfalto. Eu me sentia totalmente alheia àquele mundo e talvez fosse porque passara tempo demais em casa quando tantas coisas aconteceram.

 - Esquerda ou direita? – ela perguntou. Eu tirei o mapa da mochila e o desdobrei, ligando mentalmente o ponto que representava minha casa e o outro que era o Café.

 - Em frente – e então, ficamos esperando algum sinal fechar para que pudéssemos atravessar a rua.

Quando os carros que estavam mais próximos de nós e que vinham da nossa esquerda começaram a vir mais devagar, Nymeria me puxou para que atravessássemos, mas eu estava estacada no lugar, relembrando a cena do meu atropelamento, e não fui. Já que tinha começado a andar, ela terminou de atravessar e me olhou do meio da avenida, de uma faixa entre os dois sentidos e fez sinal para que eu esperasse. Mas eu estava em outro lugar, me lembrando de outras coisas, quando uma pergunta inquietante me veio a mente e eu não pude esperar ficar mais perto de Nymeria para fazê-la.

 - Nymeria! – eu gritei, e ela se virou para mim, seu rosto vislumbrado por entre os carros que passavam. – Por que eu vi vocês se transformarem, por que eu vejo as armas, por que eu vi a águia, por que eu vejo o brilho e a energia das pedras, por quê?! Se não passo de uma mortal comum... isso não faz sentido – eu gritei, já que não havia ninguém ao meu lado ou ao dela. E mesmo se houvesse, eu já não me importava mais.

O vento era forte e brincava com meus cabelos soltos. Eu vi o sorriso de Nymeria do outro lado. Era como o sorriso da minha mãe, quando vinha acalmar a mim e a Manoela com a melhor das notícias. Algo familiar percorreu pro mim: saudade.

 - É claro que faz sentido, Alice – ela gritou, seus cabelos pretos indo de lá pra cá, sua voz abafada pelo vento. Então os carros pararam e eu pude chegar perto dela. Parei ao seu lado e permaneci em silêncio, esperando. – Quem aqui disse que você é uma mortal comum? Pois você não é.

 - Não? – perguntei realmente surpresa.

 - Não – ela respondeu com a maior calma e o sorriso mais caloroso do mundo. – Você nos viu, da primeira vez, não porque você acreditava. Mas porque você conhecia. O sangue que corre em nossas veias é o mesmo, Alice – e então os carros voltaram a passar e os ruídos aumentaram quando ela disse: - O sangue de Lá.


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Notas finais do capítulo

eaeeeeeeeeeeee? reviews?



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