A Grande Busca escrita por Rebeca Bembem


Capítulo 12
Minha nova amiga me presenteia com uma arma mortal


Notas iniciais do capítulo

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOI por favor desculpem a demora ç.ç eu estive trabalhando duro esses dias pra organizar as ideias e a linha cronológica da história, algo que voces vao descobrir mais pra frente ;) obrigada por nao desistirem da Grande Busca, queridos portadores. Espero que gostem =D



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Em dois minutos minha mochila estava pronta. No entanto, eu não parava de andar pelo quarto nem de conferir minha lista mental de itens necessários, mesmo que eu já tivesse confirmado pela milésima vez que tinha todos eles guardados. E afinal, era isso o que me fazia andar em círculos pelo cômodo: não saber o que era necessário. Necessário pra que? eu me perguntava enquanto passeava por cantos tão conhecidos e explorados do quarto que um dia fora meu. Será que eu ainda tinha alguma coisa? Será que valia alguma coisa ter aquela casa enorme e uma formidável quantia em dinheiro no banco se, no fim, não tinha minha família?

Sentei-me na cama e tentei focar em apenas um enigma. Já era demasiado difícil focar-se em um e fazer com que ele preenchesse sua mente e tomasse o lugar de outros pensamentos. Principalmente quando se tem medo que eles escapem, desapareçam e levem tudo que você conhece com eles. Um pensamento de cada vez. Esse seria meu novo lema. O primeiro de muitos, talvez. Suspirei, cansada, mesmo que o único trabalho que fizera no dia fora levantar colchões e encostá-los à parede. Um pensamento de cada vez, uma atitude por vez, uma pergunta por vez, me relembrei. E a primeira era: como Manoela havia conseguido levar seu celular quando fora sequestrada? Certamente o tinha no bolso, uma voz sussurrou em minha cabeça, assim como você sempre tem o seu.

E a segunda era: como Bianca havia deixado o bilhete dentro da caixinha onde mantinha meu colar? Não me lembrava de ter visto a silhueta de uma garota atravessando o quintal e o bosque no final deste quando dois homens fortes levaram Manoela. Deixe de ser estúpida, disse a mim mesma logo em seguida. Ela não precisava estar aqui pra deixar o bilhete, podia ter pedido a um dos homens que fizeram o pequeno favorzinho à sua mãe. O que era corajoso da parte dela, eu concluí, já que sua mãe supostamente não sabia de suas intenções de me ajudar. Não que ela tenha sido simpática no bilhete, mas deixara bem claro que estava em desvantagem e queria facilitar as coisas pra mim.

Em poucos segundos, percebi que tremia. A emoção das palavras da minha irmã ainda estava gravada em meu corpo. Perguntei-me pela centésima vez se encontrar Bianca não seria exatamente o oposto do que todos me mandavam fazer: ter cuidado em quem confiava. O que me intrigava era exatamente isso: como é que eu podia saber em quem confiar, quando tudo que eu conhecia já não era mais o mesmo? Meu chão fora tirado e várias cordas estavam ali, balançando, prontas para serem seguradas e evitar que eu caísse. O problema era qual delas escolher, se essas eram totalmente novas e desconhecidas.

Levantei-me, pensei, passeei pelo quarto e pensei novamente. Encarei o mapa impresso que me ensinava a ir ao Café Rio e senti uma agitação no estômago. Borboletas. Ah, como fazia tempo que meu estômago não praticava sua ginástica. Talvez acabasse se machucando por falta de treino e alongamento. Quase ri de mim mesma e de minha idiotice. Fazendo comparações estúpidas quando tinha uma decisão importante a fazer. Era bem típico de mim. Dei aquela risada de quem não sabe se ri ou chora e foi quando tomei uma decisão importante: não teria mais medo de dar o primeiro passo por temer cair.

Por toda a minha vida isso fora tudo que eu sempre fizera. Esperar e me esconder, sempre achando que as outras pessoas é que tinham a obrigação de tomar atitudes decisivas, já que eu morria de medo de falhar. Olhando para aquele mapa e percebendo que aquela atitude seria minha, as borboletas vieram. Medo de decisões. Fascinante. Era algo que eu sempre odiara em mim mesma, mas não tinha coragem de tentar mudar. Irônico, não? Pois dessa vez percebi que não havia nenhuma outra pessoa para dar esse primeiro passo por mim. Éramos eu e eu mesma, com a oportunidade de mudar o que sempre quis mudar ali bem na minha frente.

Cheia de uma quase coragem e orgulhosa por pelo menos ter conseguido me convencer a agir, guardei o mapa dentro da mochila. Celular, fones, um pouco de dinheiro que tinha na carteira, uma troca de roupa, um casaco, e alguns itens de higiene completavam a mala. Pra que levar tudo isso a um encontro com alguém que eu não fazia a menor ideia de como fosse ou o que queria? Não havia como saber se ia voltar pra casa. Aproveitei e peguei um dos cadernos que havia comprado para o próximo ano letivo e algumas canetas e coloquei junto com todo o resto. Endereços, nomes e referências podiam ser úteis. Assim como um livro, para desviar meus pensamentos e me levar para outro mundo por alguns momentos. Pensando em como precisava disso tirei um filho querido da prateleira e com cuidado o guardei.

Recolhi o bilhete de Bianca de cima da cama e olhei ao redor, absorvendo cada som e imagem, com medo de esquecê-los – a minha busca podia acabar de tornando grande demais, afinal. Analisei a cama feita por Raquel, os armários já deixados abertos novamente, os livros cuidadosamente arrumados nas prateleiras e os porta-retratos de uma família alegre com um meio sorriso aparecendo em meu rosto. Fechei os olhos por alguns segundos e guardei na memória o som dos pássaros cantando e dos poucos carros passando pela rua. Esperava poder ter aquela tranquilidade novamente.

Deixei a mochila por lá e guardei aquele pedaço de papel no bolso, descendo as escadas devagar, com o pensamento longe, as vozes dos outros integrantes da casa resvalando em mim sem que eu prestasse atenção nelas. Quase caí de cara no chão quando o último degrau chegou e se foi e eu não percebi, pisando em falso. Segurei-me no corrimão e ergui o olhar, com um “opa, foi por pouco” estampado na testa. Encontrei todos eles sentados nos sofás com a mesinha entre os dois grupos. Todos, menos Hugo. Este preferia sentar no chão a dividir um sofá com Pedro – não sabia se ele se importava com o fato de sentar ao lado de Raquel, mas Pedro certamente não queria isso. Sorri por dentro e ri internamente da necessidade de se mostrar superior e “donos do território” que os homens tinham. Finalmente tirei aquela película de outros pensamentos que encobria meus ouvidos e prestei atenção na conversa, antes que eles se calassem e notassem minha presença.

– Temos que leva-la à Toca. É o único lugar seguro e longe de Vi... ah eu sempre confundo o nome dessa mulher. Cersei, pronto. Ela está trás dos outros portadores das pedras e não sabemos se ela tem o colar de Alice, então o mais sensato a fazer é protegê-la e ensiná-la a se defender. Vai chegar a hora em que ela vai precisar usar uma arma pra se proteger. Você não vê que estamos em tempos perigosos? – dizia Lyanna, ainda vestindo sua camiseta do ACDC, em um tom de quem explica exaustivamente algo a uma criança. E essa criança era Hugo. Vi que ela ergueu a cabeça e reservou à mesinha um olhar irritado que não dera a ele.

Avancei alguns passos, esperando que eles continuassem a discutir o que fazer comigo – isso já era normal ultimamente – e percebi que Nymeria havia me visto. Com um pequeno sorriso, ela acenou discretamente com a cabeça, um movimento quase imperceptível e notei em sua discrição que não queria que ninguém mais me visse, para que eu pudesse ouvir o resto da conversa. Entendi e dei outro lento passo, agradecendo por Hugo estar virado para as três garotas e, assim como Pedro e Raquel, de costas pra mim. Agora Lyanna também havia me notado, e ela, mestra em atuação, apenas ergueu e abaixou os olhos, sorrindo ironicamente com eles como quem diz: “escuta só o que ele vai falar agora, você não vai acreditar” Katy não tinha exatamente a fama de ser discreta, mas também não tinha a fama de ser atenta, tanto que tão focada em encarar o chão com o cenho franzido nem reparou em mim.

– Acho que devemos ir atrás dessa mulher – dizia Hugo, cabeça erguida, orgulho mais forte que o bom senso, seco. – Essa Cersei. Temos que ir atrás de Manoela, temos que fazer alguma coisa! Levar Alice a esse centro de convenções antigo não vai resolver nada! Você propõe que fiquemos aqui, ou lá, tanto faz, parados, enquanto Manoela sofre nas mãos daqueles loucos?

Olhei para Lyanna, sem acreditar que essas eram realmente as intenções dela. Hugo estava certo, não estava? Tínhamos que agir e ir atrás de Manoela. Simplesmente não acreditei que Lyanna achasse essa ideia estupida. Perplexa, vi como ela evitou me olhar e se dirigiu à Hugo.

– Não proponho que não façamos nada para resgatar Manoela, você está muito enganado se pensa que não ligo para ela tanto quanto ligo para os outros portadores. Eles são sete, se você não sabe, sete a quem eu e minhas seis irmãs juramos proteger com nossas vidas – ela dizia, a irritação e a falta de paciência transbordando – Nós somos Guardiãs! Ouviu? Guardiãs! – ela dizia essa palavra com orgulho, com força, e ao som dela, Nymeria e Katy levantaram as cabeças e se tornaram subitamente solenes. Solenes como Guardiãs.

– Se nosso nome é esse, significa que estamos aqui pra guardar, proteger, resgatar, ajudar, treinar! Nós não estamos aqui pra relaxar ou pra brincar, sabemos o que estamos fazendo – Lyanna continuou, seu orgulho e ideologia de vida feridos – Assim que uma de nossas irmãs nos informou que Manoela tinha sido levada viemos o mais rápido possível para proteger Alice. E nossa líder mandou outra equipe atrás de Manoela, assim como nos mandou para buscar e levar Alice até a Toca em segurança. Para que ela possa ser protegida das aberrações que ameaçam a todos nós e para que ela pudesse treinar e se fortalecer. Você se engana se acha que estamos parados, sem fazer nada. Nesse exato momento temos duas guerreiras extremamente experientes atrás de Manoela, enquanto outras duas procuram pelos outros portadores. Também viemos aqui por você Pedro – ela disse, olhando pra ele, os olhos faiscando e eu vi que Pedro se ajeitou no sofá, surpreso pela mudança de rumo do discurso.

– Você também é um portador Pedro. E sinto muito se aquela aberração de águia levou seu colar antes que pudéssemos impedir – disse Nymeria, finalmente se pronunciando, aproveitando o silêncio momentâneo de Lyanna. – Queremos que saiba que viemos o mais rápido possível – ela deu um meio sorriso e eu me lembrei de como eles se cumprimentaram amigavelmente como velhos conhecidos na noite da chegada das lobas. Até mesmo Raquel parecia conhecê-las, eu me lembrei.

– Raquel é um exemplo perfeito de como a Toca pode ser um lar de proteção e bom treinamento – disse Katy, olhando para Hugo e rindo da confusão em meu olhar quando ergueu os olhos. – Ela passou um tempinho conosco quando as coisas ficaram feias em sua casa. Pedro a levou pra nós, de algum jeito sabia que tinha a quem recorrer.

– Meus pais me falaram de vocês – Pedro disse, abraçando Raquel, e eu não pude ver a expressão em seu rosto. – Eu sabia de toda a história de Lá e das Sete Pedras, e quando fiz quinze anos meus pais de deram meu colar e me contaram a responsabilidade de ser um portador. Também me contaram d’As Guardiãs e de como elas viviam para nos proteger. Não sei se tive a chance de agradecer a vocês por terem cuidado da minha pequena quando eu não pude – e vi que o abraço dele se tornou mais forte. – Obrigado – disse ele.

– Obrigada – disse Raquel, a voz fraca de gratidão.

O silêncio reinou e Hugo ficou sozinho em sua derrota. Por alguns momentos eu duvidara das intenções daquelas lobas incríveis sentadas à minha frente, e agora me arrependia profundamente. Elas tinham guerreiras atrás de minha irmã e isso tirava um peso enorme das minhas costas. Era uma luz no fim do túnel. Uma corda mais forte pra segurar. Pude enfim respirar um pouco mais confortada. Foi quando As Guardiãs se levantaram e Nymeria disse, como se eu tivesse acabado de aparecer:

– Olha só quem demorou uma eternidade no banho – ela disse em tom de convincente surpresa e veio até mim com suas “irmãs”.

Hugo se levantou rapidamente, engolindo em seco, provavelmente se perguntando se eu tinha escutado toda a conversa. Apressei o passo em direção das meninas que contornavam o sofá onde Pedro e Raquel não estavam mais sentados, para ver se o convencia de que acabara de descer as escadas. Cumprimentei com um sorriso o casal que me olhava e vi Lyanna carregar um embrulho em couro em uma mão e fazer sinal para que a seguisse com a outra. Mesmo sem armadura, ela carregava sua espada em sua bainha presa à cintura. A dúvida estampada em minha testa, segui as três até a cozinha e ouvi três pares de passos atrás de mim. Vi Lyanna abrir a porta dos fundos e ficar entre as outras duas, de frente pra mim e para a casa. Apesar de estarem com roupas de adolescentes normais, elas ainda eram intimidadoras.

Senti o vento no rosto e olhei para o céu. O sol que a pouco havia saído das sombras se escondera de novo, como que não querendo se expor demais. Eu te entendo meu amigo, pensei comigo mesma. Também me sinto exposta de vez em quando. Foi então que me lembrei de minha decisão de sair do esconderijo e encarar a vida. Encarei as Guardiãs.

– Temos um presente pra você – Lyanna disse, tentando esconder um pequeno sorriso de orgulho em uma expressão solene. Ela desembrulhou o que tinha nas mãos e uma bainha de espada foi revelada.

Prendi a respiração. A admiração e a fascinação com os entalhes em ouro na bainha de couro eram crescentes em mim à medida que eu chegava mais perto e tinha uma visão melhor dos detalhados desenhos. Eram linhas finíssimas, que brilhavam por si próprias, sem qualquer luz solar que refletisse no ouro. Eu via um Sol, perfeitamente colocado ao lado de uma Lua Cheia e os traços eram tão perfeitos que eu podia diferenciar os dois. Havia estrelas naquele céu que brilhavam tanto quanto as que apareciam no nosso céu à noite. Ergui os olhos, maravilhada, e encontrei as três sorrindo pra mim.

– Pode segurar – disse Nymeria. – É sua.

Peguei-a na mão com cuidado, temendo que fosse pesada demais e me surpreendi com a leveza. Ela tinha em torno de sessenta centímetros e eu sabia que isso a tornava menor que qualquer outra espada. E ainda mais importante: essa particularidade a tornava especial, única, minha. Segurei no cabo negro como a noite e percebi que encaixava perfeitamente em minha mão. Puxei. O som de aço raspando em couro me preencheu e eu fechei os olhos para apreciá-lo. Quando os abri novamente, o brilho do aço puro se refletiu em mim. Eu a balancei para um lado e para o outro, sentia que era uma parte integrante do meu braço. Uma parte de mim. Foi então que um relampejo dourado chamou minha atenção no cabo. Trouxe-o pra perto de meus olhos tomando cuidado para não me cortar ou furar alguém, pois sentia que o gume estava afiadíssimo.

E ali, brilhando por si próprio como uma estrela solitária no escuro da noite, um símbolo. Lá. O L virado do outro lado, e o A acompanhando-o, desenhados em uma caligrafia delicadíssima de quem escreve usando uma pena, escritos do lado contrário. Um espelho do nosso mundo, pensei. O outro lado, o avesso. . E foi então que eu senti que tinha uma casa. Um lugar a que eu pertencia.

– Toda boa espada tem um nome – disse Lyanna, desembainhando sua própria espada, segurando o cabo negro com uma mão e apoiando a ponta com a outra, mantendo-a reta, paralela ao chão onde pisávamos. Ela tinha um brilho no olhar quando olhava para a espada, e não era apenas porque o aço refletia naqueles mares castanhos.

– Como se chama a sua? – perguntei, me lembrando de como cavalheiros experientes costumavam consagrar seus aprendizes quando estes o mereciam. Sem saber se isto estava prestes a acontecer comigo, interpretei o aceno de cabeça de Nymeria como um incentivo e me ajoelhei aos pés de Lyanna, com a perna direita à frente, segurando minha espada da mesma maneira.

Vi sua sombra dar um passo á frente na grama, e senti o toque frio do aço nos meus ombros e cabeça.

– Garra de Loba – ela respondeu, guardando sua garra à bainha presa à sua cintura. – E a sua?

Levantei-me, respirando fundo, sentindo o vento fazer carinho em meu rosto. Ergui os olhos e vi o sol saindo de seu esconderijo novamente. Ele estava exposto. Mas eu já não me sentia assim. Eu sabia, ao segurar minha espada, que o perigo me chamava. E pela primeira vez na vida, não tive medo.

Defensora de almas – respondi.




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Notas finais do capítulo

e então???? REVIEWS, OK?
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