#9

Seu relógio já estava a apitar há alguns segundos, mas ela simplesmente decidiu ignorá-lo aquela manhã. October definitivamente não queria ir para a aula naquele dia, ainda estava se recuperando dos apelidos novos que havia ganhado no dia anterior.

– Filha, acorda ou vai se atrasar para ir ao colégio. – Brenna apareceu em sua porta, caminhando sonolentamente até o relógio, que já estava beirando a irritante naquele momento. Bateu a palma de sua mão sobre ele, analisando a cabeça da filha soterrada no meio do edredom. Já esperava que isso acontecesse... Era típico toda vez que aquelas meninas conseguiam a ofender profundamente.

– Não quero ir. – resmungou com a voz abafada. Olhando a filha com pesar, resolver se sentar ao seu lado, tentando descobri-la daquele sufoco.

– Tober... Eu prometo que vou te buscar se alguma coisa der errado, ok? Mas você tem que ir pra escola, querida.

Fazendo seu habitual bico de quem estava segurando o nó na garganta, deu lugar para um bufar extremamente impaciente enquanto se levantava, quase que se rastejando. - Vou fazer seu café da manhã. Que tal panqueca, hm?

Brenna abriu um sorriso no meio de todo aquele sono que ainda estava sentindo, tentando agradar a filha de algum modo. Mas October era um tanto difícil demais enquanto aquele assunto delicado que havia se transformado a escola. Deu de ombros para a mãe, fechando a porta do banheiro atrás de si.

Sentindo aquilo, Brenna decidiu que apesar de tudo não deixaria a filha se rebaixa facilmente pra aquelas meninas. Assim como Paul, ela também tinha gênio forte.

– Tober, escute o que a mamãe está dizendo, tudo bem? – Brenna colocou em prática seus conselhos assim que October sentou a mesa para tomar café. – Mamãe já sofreu bastante também sabia? E mesmo assim não deixei que as pessoas fossem melhores do que eu. Ignore-as.

– Porque elas mexiam com você mãe? Por causa das suas tatuagens? – perguntou inocente, apontando para o corpo da mulher coberto por aqueles desenhos sombrios, porém nenhum pouco assustador diante dos olhos dela.

– É... Isso também.

– O que você fazia?

– Eu fingia que não escutava! É fácil...

– Não parece, mamãe. Elas são muito ruins.

– Tober, filha! Você é linda... Você é tudo para seu pai, e pode ter certeza que pra mim também, não ligue para que aquelas miniaturas de barbies falam. Elas não têm nada do que você possua! Aqueles mascarados que matam e morrem por você. Você gosta deles, não?

– Sim! Eles são meus melhores amigos...

Brenna riu nasalada ao escutar da boca da filha aquilo que já havia percebido há alguns tempos. O olhar de October brilhava ao mencionar que iria ao show da banda de seu pai, ou quando ouvia dizer que eles iriam passar à tarde de domingo em sua casa. Eram divertidos e a fazia se sentir bem com suas piadas, essas que eram super engraçadas diante de seus conceitos.

– Ok, vamos para escola mostrar pra aquelas meninas quem é que manda? – Perguntou enfim, vendo um sorriso radiar sobre o rosto da pequena Gray. Ela assentiu freneticamente, saltando de sua banqueta para apanhar sua mochila o mais rápido que podia.

°°°

October adentrou sua sala de aula, olhando tudo e a todos ao seu redor. Odiava chegar atrasada, não gostava de ter toda aquela atenção voltada apenas a si. Sentou no mesmo lugar que o dia anterior, ignorando as risadas debochadas que já surgiram de Casey. Não tinha motivos para simplesmente começar a rir, mas parecia que enxergava algum tipo de placa reluzente sobre a testa de Gray, como algo escrito: “Me incomode às sete horas da manhã.“

– Oi October. – Escutou aquela voz aguda próxima a si. Rastreando da onde vinha se virou para trás, se surpreendendo com quem via sorrindo amigavelmente.

– Oi Stacy. – respondeu indiferente.

– Eu não estou mais falando com a Casey, ela é muito chata. – disse simplesmente. October deu de ombros, fingindo interesse. – Você é muito legal, sabia Tober?

Mas não evitou franzir o cenho ao escutá-la falar daquele modo. Era uma das melhores amigas daquela menina que a odiava com todas as forças, estava sendo no mínimo estranho demais aquela conversa súbita de paz ambas as fronteiras.

– Porque está conversando comigo?

– Já disse, te acho legal. Estava pensando... Vou fazer uma festa do pijama na minha casa no sábado, quer ir? As meninas e a Casey não estarão lá.

October não evitou ficar pensativa por instantes, apesar de tudo sua maior vontade era fazer amizades, amigos que não fossem de quarenta anos e que não falassem seis palavrões em cada frase que pronunciavam, de todos os tipos. Ela queria ser como todas as outras, mas as mesmas não a permitiam, o que às vezes a fazia se fechar naquele mundinho só dela. Esse que se resumia em contar rir das palhaçadas dos amigos de seu pai, do próprio, a comer as deliciosas panquecas da mãe e, agora o mais novo item de sua lista, Jones Fehn Junior, que tinha obrigação de alimentá-lo todas as manhãs antes de ir pra escola.

– Vou falar com a minha mãe, pode ser? – disse enfim, tirando suas conclusões. Ela iria, embora estivesse se sentindo insegura a todo aquele bom humor. Talvez Stacy estivesse arrependida, ou fosse simplesmente diferente de todas as outras que a fazia chorar e não havia parado para perceber isso.

– Claro, me dê à resposta amanhã.

Sorrindo normalmente voltou a se sentar ereta em sua carteira, prestando atenção a aula, ou melhor, tentando. Já estava imaginando como seria na casa de Stacy, e aquilo estava a animando profundamente por dentro. Teria enfim amiguinhas.

Escutar sua mãe fora, afinal, a melhor coisa que fizera.