Sunset: Breaking Down escrita por fernandaflores


Capítulo 1
Capítulo 1 - O Labirinto do Rato




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1 - Labirinto do Rato

Rat's Maze – Bella's Perspective



Como se estivesse encarcerada dentro de minha própria mente, não consegui me forçar a abrir os olhos – eles eram tão pesados. Eu senti como se estivesse lutando por eras, mas no final não conseguia clarear minha mente, ou mover o meu corpo - como uma boneca de pano. Ainda que pudesse levantar uma rocha de uma tonelada, eu não conseguia mover meus dedos.

Minutos, talvez horas, se passaram - mas era inútil. Tudo estava confuso, mas eu tinha essa sensação de que algo estava fora do lugar.

Tentei então me concentrar em outra coisa, mergulhar nos sons ao redor de mim, para que eu pudesse me localizar. Eu pude ouvir as cortinas deslizando lentamente contra o batente da janela com o ar que entrava por uma fresta. A brisa era fria, e eu pude sentir o cheiro fresco de pinheiro e chuva. Pude também ouvir o som vindo de algum lugar... no piso abaixo – foi quando me dei conta de que não estava em casa, no nosso chalé na floresta, mas sim na casa de Charlie... minha antiga residência.

Como eu fui parar aqui, presa no meu próprio quarto, completamente incapaz de me mover? Qual era a última coisa de que podia me lembrar? Eu me senti como que presa num labirinto, como um rato de laboratório. Minha mente pregava peças em mim.

Eu mal podia escutar um voz infantil que sussurrava ao telefone, então uma porta se fechando. Seria Renesmee? Não, definitivamente não era a minha filha. Fez-se um silêncio mortal. Eu estava mergulhando novamente - fragmentos de memória embaralhados e incertos. O rosto de Jacob invadiu a minha mente - sangue e medo. Ele estava tentando me avisar, mas os outros estavam se aproximando e eu tentei...

Tudo era vazio agora - a última coisa de que me lembro é de ouvir Edward urrando em prantos.





Mergulhei nas imagens da minha memória, já estava ficando zonza. Apeguei-me então a uma lembrança feliz, como um barco a deriva a procura de um porto seguro. Ouvi a voz de Zafrina dizendo “Você tem que lutar. Você consegue.”



Eu estava perdida numa floresta muito vasta, de árvores altas, mal podia enxergar o céu lá em cima – aquele lugar certamente me lembrava a casa de Nahuel. Ele havia passado um tempo conosco em Forks, e quando resolvemos ir atrás de seu pai, o Dr. Johan, fomos até à sua vila, no interior do Amazônia.

Não estava com medo, apesar de ter a sensação de estar sendo seguida. Algo, ou alguém, me cercava – mas por algum motivo, eu percebia agora que nada daquilo era real. Algo estava... fora do lugar. Tentei então fechar meus olhos, me concentrar não mais naquilo que via, mas naquilo que sentia.

Eu via a floresta, mas o cheiro era de lavanda – Renesmee usava uma essência com uma nota desse perfume. As árvores farfalhavam, uma chuva fina caia, mas eu pude ouvir ao longe um coração pulsando, pequeno e frágil – aquele som era tão familiar.

Esqueci de tudo à minha volta, agarrei-me então a este som. Meus ouvidos conheciam muito bem aquele ritmo – era Renesmee. Lembro-me de deitar à noite em nosso quarto, e enquanto repousava ao lado de Edward – ficava sempre atenta ao som daquela leve batida ritmada no quarto ao lado.

Tum-tum. Tum-tum. Aquilo me acalmava. Eu sabia que tudo estava no seu devido lugar.

Abri meus olhos outra vez e vi que Renesmee estava lá, sentada na beirada do assento. Minha pequena prendia a respiração enquanto me observava. Nessie riu quando olhei pra ela.

Um alvoroço tomou conta da sala de Zafrina – de repente todos comemoravam. Só então me lembrei de que aquilo era um teste. Pela primeira vez consegui me libertar das suas ilusões. Edward sorriu orgulhoso, ao pé da porta da varanda.

Eu vinha treinando com Zafrina por bastante tempo, e ela sempre tinha um novo truque a ensinar. Pediu-me desta vez que eu retirasse o meu escudo protetor pessoal, que sempre guarda minha mente, e permitisse que ela me cegasse por um tempo e mergulhasse na sua ilusão. Ela queria que eu aprendesse a retomar o controle, mesmo que fosse pega desprevenida. Para mim não fazia o menor sentido, mas fiz o que a amazona pediu, pois ela disse que me ensinaria a lutar como uma guerreira.

Há três dias começamos o treinamento corporal, onde eu me sai muito bem, graças à minha resistência – eu não era ágil, mas por algum motivo, aguentava suas investidas com muita determinação. Cheguei a vencê-la pelo cansaço, no entanto, o treinamento mental era que exauria as minhas forças.

Eu cheguei a pensar que uma das desvantagens da minha atual condição vampírica era a incapacidade de poder dormir. Queria muito poder simplesmente apagar e acordar renovada – o meu escudo consumia muito das minhas forças. Huilen voltava agora do pasto e colocava Zafrina a par de tudo. As conversas se amenizaram.

Alice e Rosalie riam na cozinha das tentativas infrutíferas de Jake. Desta vez, ele serviu uma porção de filé para Renesmee. Eu ficava feliz de tê-lo por perto nessas horas, já que não gostava da ideia dela se alimentando apenas de sangue o tempo todo – sempre quis que ela tivesse uma alimentação mais humana, mas ela não me dava ouvidos.

Nessie olhou para a gigantesca travessa de filés fumegantes e suculentos, o cheiro exalado impregnava o ambiente. Mas ela olhou com desinteresse, enquanto ele insistia que comida brasileira era o sétimo céu. Nessie escolheu criteriosamente um pedaço, pinçou-o com seus dedos pequeninos e comeu sem talheres, como seu companheiro, apenas para demonstrar alguma consideração pelo gesto. Ela era uma criança difícil de agradar.

Aquietei-me na rede da varanda. Jasper discutia com Zafrina e os outros táticas de guerra e planos para a retaliação contra os Volturi - eu queria apenas descansar. Pendi meu corpo para o lado, me posicionando para deitar, quando Edward prontamente se esgueirou para dentro da rede, permitindo que o seu peito de mármore perfeito fosse o apoio para a minha cabeça. A luz iluminava docemente as feições gentis de seu rosto, e eu me aninhei no conforto do seu abraço.

Ficamos os dois deitados numa rede rudimentar, na varanda de uma fazenda no interior do Brasil, numa cidade da qual nunca tinha ouvido falar, num estado chamado Mato Grosso do Sul, que era conhecido pela produção de gado. Era ali que se escondia a fazenda de Zafrina. Ela ficava a poucos quilômetros do Pantanal, uma região conhecida pela variedade da fauna e da flora – o lugar era lindo, e a mata oferecia um verdadeiro banquete aos olhos, mas não tínhamos autorização para caçar.

O Brasil era um lugar exótico que fazia suas próprias leis. A caça a humanos era permitida apenas em datas comemorativas, portanto a maioria dos vampiros se viravam no dia a dia com pequenos animais. Por isso Zafrina utilizava a sua fazenda como um negócio de fachada. Ela recebia o gado de corte de toda a região, pois tinha um dos maiores abatedouros do Estado. De lá o sangue de bovinos era extraído e tratado para o consumo, depois distribuído para todo o país. Uma parte da produção era exportada junto com a carne, principalmente para a China. Por isso não era de se estranhar uma fazenda tão grande e ostensiva no meio do nada.

Huilen também havia explicado que nem no Pantanal, nem na Amazônia, os vampiros tinham autorização para caçar os animais considerados sagrados por eles. Ela disse até que as florestas eram guardadas por diversas espécies de metamorfos que se vestiam de animais, esperando os caçadores que adentravam a mata para destruir o equilíbrio da natureza.

Apesar de termos ouvido de Nahuel histórias da sua terra, sobre botos cor-de-rosa que saiam do rio e se transformavam em homens que roubavam as índias das vilas ribeirinhas, só acreditei mesmo quando vi com meus próprios olhos um nativo transformar-se em réptil bem na minha frente.

Crescer cercado de tanta natureza talvez permitisse que eles tivessem uma mente mais receptiva. O povo dessa terra era muito simples e tinha as suas próprias crenças. Os humanos dali pareciam conviver bem conosco. Eles sabiam que havia algo de diferente ou perigoso, mas aceitavam bem as diferenças. Era bom ter um lugar onde podíamos nos sentir acolhidos, andar na rua à noite com liberdade e conhecer os lugares como turistas comuns – era muito conveniente pra mim, tendo um marido vampiro, um melhor amigo cão e uma filha meio-vampira.

Damphyre.” disse Edward. “Nós sabemos agora que ela é uma Damphyre.” Ele sorriu com o canto dos lábios, enquanto afagava minha cabeça.

Eu havia instintivamente estendido minha proteção para ele. No começo isso exigia muito de mim, mas agora havia se tornado um hábito. Essa era uma forma de permitir que ele estivesse sempre dentro da minha cabeça, dando lhe alguma paz – sob meu escudo, todo o resto era silêncio.

Damphyres, metamorfos, vampiros.” permaneci por um tempo pensativa. “E pensar que a cinco anos atrás isso tudo soava fantástico demais para a minha jovem cabeça humana.”

Há muita coisa ainda pra você descobrir, Bella. Vamos com calma, temos todo o tempo do mundo.”

Eu sorri, enquanto deslizava minhas mãos sobre o seu peito, contornando as suas curvas de linhas perfeitas.

Talvez devêssemos comprar uma fazenda na região. Aro e os outros nunca vieram pra cá. Essa terra está além dos limites do território deles.” ele me beijou na orelha, contornou o meu pescoço e foi descendo para o colo.

Qualquer lugar no mundo pra mim está perfeito, desde que seja ao seu lado.” Eu olhei nos sues olhos e avancei sobre os seus lábios com voracidade. Aquilo me dava... fome.

Edward riu, percebendo as minhas necessidades. Levantou-se mais que depressa, me pegando no colo e correndo para a mata. Ele me fitava com um olhar penetrante e selvagem. Precisávamos saciar a nossa fome um do outro.



Eu me mexi. Por um instante, contorci os dedos do pé por reflexo, em resposta à minha memória tão vívida e intensa. Senti o lençol da cama roçando as pontas dos meus dedos e uma intensa dor no corpo, como se tivesse dormido por décadas. Uma sede imensa arranhava a minha garganta. Foi então que abri os olhos. Estava claro agora, não chovia. Aos poucos consegui me mover, sentando-me na cama. Eu me senti fraca e vulnerável. Eu me senti mortal.

A janela continuava aberta, como se há muito tempo nada tivesse sido mexido no quarto. Estava tudo empoeirado – até mesmo os meus cabelos e minhas roupas estavam cobertas pela poeira. Algumas folhas secas estavam deitadas ao chão, e a cortina esvoaçava com mais vigor. Dirigi-me até a janela com muito esforço – minhas juntas pareciam enferrujadas por falta de uso. Olhei para fora, e vi os pinheiros cor-de-outono, algumas crianças brincavam não muito longe dali. Havia o som de um motor distante e o barulho de um animal muito pequeno e leve caminhando sobre as folhas secas. Pude ouvir seu pequeno coração bater e meu instinto caçador me fez estreitar os olhos e encher a boca de veneno, como que por reflexo. Foi quando eu vi aquela jovem de cabeleiras castanhas saindo das árvores com ar apressado. Ela olhou para cima, e nossos olhares se encontraram.

Vi seu rosto contorcendo-se numa expressão que oscilava entre o espanto e a raiva. O medo tomou conta de mim. Perigo. Eu precisava fugir – não sabia se conseguiria pular a janela e escapar. Virei-me para correr, quando senti uma mão quente e delicada cobrir os meus olhos ao mesmo tempo que a outra mão agarrava a minha cabeça.

Durma.” ela sussurrou. Só pude ouvir a sua voz infantil cantarolando uma canção de ninar. Tudo era vazio novamente.



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