Após termos saído do café, a Maria não pronunciou mais nenhuma palavra, tinha um olhar distante, calada, provavelmente porque um terramoto de sentimentos ocupava os seus pensamentos. Eu falava para ela, chamava-a e até cheguei ao extremo de gritar, mas nada resultou, ela continuava a olhar para a frente, com a sua postura reta mas insegura ao mesmo tempo, era difícil conseguir descrever esta situação, porque até para mim era estranha, o Louis tinha mexido com ela e isso eu tinha a certeza. Decidi então respeitá-la, recolhi a minha curiosidade, comecei a olhar para os meus pés distraidamente e várias imagens daquele dia invadiram a linha do meu pensamento, em apenas um dia eu e a Maria conseguimos arranjar mais problemas do que eu imaginária, mas era disto que a vida era feita, de imprevistos, não? Qual era a piada se tudo fosse monótono e correto? Certamente seria-mos seres sem vida. Uma pancada forte transportou-me de novo ao mundo real, o meu corpo termia como gelatina espalhando-se uma dor forte através dele, levantei um pouco a minha cabeça e percebi a razão desta sensação, eu tinha acabado de ter um encontro bastante amoroso com um poste que se encontrava no passeio, boa Filipa! E a maria em vez de mostrar preocupação, começou a rir escandalosamente e a apontar para mim, como se ainda ninguém tivesse visto a minha linda figura, senti as minhas bochechas arderem de vergonha e assim se passaram dez minutos da minha vida, sem conseguir fazer com que a Maria parasse de rir.

- Já acabaste? – Perguntei-lhe

- Por enquanto acho que sim, só tu para fazeres uma coisa destas! Estas bem?

- AHHHHHHHH! Só agora é que te lembras que me podia ter aleijado? Vamos fazer de conta que nada disto aconteceu, ok?

- Só se pagares bem – Interesseira, sempre interesseira.

- Vai sonhando. O que tens? Só o meu embate é que te chamou a atenção, queres falar?

- Oh, estou um pouco arrependida, não devia ter saído assim do café, o Louis é realmente divertido e provavelmente não o vou ver de novo. – Ela disse com bastante tristeza na voz, deixando o meu coração apertado de solidariedade.

- Sabes que detesto quando alguém tem pensamentos negativos, certo? Ele é famoso, vais ouvir falar dele, vamos encontrá-lo vais ver!

-Espero bem que sim. Anda, corre, temos que apanhar aquele autocarro para casa! – Disse a Maria já apressada a minha frente.

Após horas passadas a conversa com o meu irmão, decidimos ir dormir, a noite estava fria e não tínhamos energia suficiente para sair pelas ruas de Londres por hoje. Deitei-me, abracei a Maria e entreguei-me á inconsciência.

Desta vez, andava de mãos dadas com o rapaz desconhecido, conseguia ver apenas as nossas mãos entrelaçadas com uma força desnecessária, como se nos fossem separar a qualquer momento, ambos tínhamos pele de galinha, provavelmente devido ao frio, ou talvez, devido a descarga de sentimentos. O sonho era pouco nítido, não lhe conseguia ver a cara, mas eu sabia que era ele, tinha a certeza absoluta. As nossas mãos foram largadas de rompante, senti um aperto no peito e acordei a chorar compulsivamente, as gotas salgadas desenhavam diferentes caminhos pela minha cara, caído na almofada, agora húmida.

- Filipa? Estas bem? Porque é que estas a chorar? – Perguntou a Maria esfregando os olhos.

- Abraça-me, só te peço isso, por favor.

Senti os braços pequenos da Maria envolverem-me e isso acalmou-me instantaneamente, deixando assim de escorrer lágrimas visíveis, deixando apenas soluços e palavras silenciosas e sem perguntas ficamos assim por um tempo, elas não seriam oportunas neste momento.

- Agora que recuperaste, explica-me, o que é que foi isto? Um pesadelo?

- Antes fosse, preciso de te contar uma coisa, vais achar ridículo mas só te peço duas orelhas e muita atenção. – Disse eu secando o rosto.