"Mas alguma coisa aconteceu
Pela primeira vez com você
Meu coração derreteu pelo chão
Achei alguma coisa verdadeira
E todo mundo está olhando
Achando que estou ficando louca"

Leona Lewis - Bleeding Love


- "Hey...Obrigado por me ajudar com aqueles caras...Eu não esperava que isso fosse acontecer...
- Por mim eu te deixaria apanhar pra eles. Mas eu confesso que achei muito injusto tantos caras indo em cima de uma garota.
- Bem, isso não importa muito, mas você me salvou. Prometo retribuir o que fez por mim.
- Não conte com isso. Afinal, eu sequer vou topar com você outra vez.
- Posso ver em seus olhos...O que você mais quer é ficar sozinho, não é? Parece que pensamos a mesma coisa...Vamos ser amigos, sim? Prometo não te 'encher' tanto...
- Ah, tanto faz.
- Não gosta de uma companhia, nem se essa pessoa for uma garota? Realmente você é um 'lobo solitário'..."


Sob pensamentos que envolviam seu passado, uma jovem queria que tudo isso sumisse de sua mente. Aquela definitivamente não era uma boa hora para voltar ao que já se passou...

- Argh, porque pensar nisso justo agora?

Ainda pensativa, porém com passos firmes, a garota caminhava pelas ruas de Milão, e claro, chamava a atenção dos homens que a viam, e recebia olhares invejosos das donzelas. Mas ao mesmo tempo que ela era admirada, ou invejada, ela era temida. Aquela jovem de pele alva, indiferentes orbes ametista e longas madeixas bordeaux tinha algo a mais.

Ela fazia parte da Mafia.

Ignorando principalmente os olhares maliciosos dos homens, ela continuou a andar, até chegar a primeira parte de deu destino. Fora da agitação das ruas e a movimentação das pessoas, havia uma mansão escondida entre uma pequena floresta. O lugar aparentava ser abandonado, não era possível que alguém habitasse um lugar como aquele. Porém, sem nenhum medo, a garota adentrou naquela mansão., que para qualquer pessoa, parecia uma casa de horrores. A noite tinha acabado de chegar, o que dava ao lugar um ar mais tenebroso. Depois de fechar a imensa porta, ela continuou a andar. Subiu as escadas lentamente, e respirou fundo: Sinal de que estava mais perto de seu destino. Logo depois de adentrar um escuro corredor, ela para em frente a uma porta dupla, feita de maderia nobre, porém desgastada. Sem receios, ela pega na maçaneta e a gira lentamente, até a porta se abrir, quando ela olha para dentro do quarto, dá um leve sorriso, que parecia ser de alívio.

- Mandou me chamar, Chefe?

- Oh...Estava esperando por você. - Uma voz rouca diz ao fundo - Por favor, entre.

A garota entrou no quarto, e chegou perto de uma cama, onde nela estava deitado um senhor que aparentava ter uma idade avançada, e uma saúde bastante debilitada. Logo em seguida ela se ajoelhou do lado da cama, numa expressão de respeito a seu chefe. Com dificuldade, o senhor começou a falar.

- Syrenna...Minha subordinada mais leal...Nosso equilíbrio está se desestabilizando...

- O que o senhor quer dizer com isso, Chefe?

- A Família Accanito está se dissipando...E sinto que não poderei fazer muita coisa a respeito disso... Os poucos que ainda fazem parte dessa Família...Alguns fugiram, renegaram sua origem, outros foram mortos cruelmente... Além do mais, as outras Famílias da Mafia continuam a nos perseguir... Você, apesar de tudo, é a única que não fugiu, aceitou seu destino...

- Eu não poderia derrotar todos eles... Me sinto mal por isso.

- Não se culpe, Syrenna.

- Mas eu ainda não entendi porque o senhor me chamou até aqui, Chefe.

- Tenho uma missão para você, Syrenna.

- E qual seria?

- Apesar de tudo, nem toda a Mafia está contra nós... Se quer que a nossa Família sobreviva, você tem que se aliar a mais poderosa Família de toda a Mafia italiana.

Ao ouvir isso, a ruiva arregalou os olhos.

- Chefe...O senhor não está dizendo...Para eu me aliar a Família Vongola, está???

- Exatamente.

- Isso seria arriscado, Chefe! Nós iríamos...

- Não, Syrenna. Isso está apenas e suas mãos, pois eu não tenho muito tempo restante.

- Mas a Vongola não é contra nós também?

- Claro que não. Tanto que o Nono já soube de sua missão, e me disse o que você deveria fazer.

- Então, eu tenho que falar com o Nono, certo?

- Não...Seu destino é o Vongola Decimo.

Mais uma vez, Syrenna se surpreendeu com a resposta de seu chefe.

- Mas...Porque fazer isso agora, Chefe?
- Syrenna...Desde o começo, a Família Accanito viveu nas sombras...Nosso poder era extremamente cobiçado, e por nos recusarmos a cedê-los, fomos caçados, tratados como escória por quase toda a Mafia...Por continuarmos em equilíbrio, garantimos a nossa sobrevivência, mas estamos sob constante ameaça...
- Chefe...
- Mas eu tenho certeza que você, com suas habilidades, vai cumprir seu objetivo.
- Chegar ao Vongola Decimo...Acho que isso não será nada fácil.
- Claro que não. Afinal, ele ainda tem seus Guardiões.
- Entendo. Parece que eles vão ser um empecilho pra mim...
- Você está errada, Syrenna.
- O quê? Como assim, Chefe?
- Se eles tentarem te impedir...ACABE COM ELES!

Nessa hora, Syrenna ficou paralisada. As palavras de seu chefe dessa vez quase a deixaram em estado de choque. Parecia que batalhas não eram o seu ponto forte, apesar da ruiva ser temida por muita gente na Mafia.

- Chefe...O senhor sabe que eu não gosto de lutar...
- Ainda com medo de você mesma? Você nunca mudou...
- Isso é para o bem de todos, Chefe.
- Tudo bem, não disse que era para matá-los...
- Ahn? - A ruiva reagiu, atônita - ...Não?
- Apenas derrote-os...Da sua maneira.

Syrenna levou uma de suas mãos ao peito e suspirou de alívio. De alguma forma, ela não queria lutar. O "medo" que ela sentia dela mesma a afetava justamente quando ela estava no calor de uma batalha.

- Chefe, devo partir imediatamente?
- Sim, Syrenna...O destino de nossa Família está em jogo...Vou lhe dizer para onde deve ir...
- Pode dizer, estou toda ouvidos, Chefe.

O silêncio imperou naquele momento. Syrenna estava apreensiva, mas ao mesmo tempo confiante. Queria cumprir seu objetivo, ela sabia que estava fazendo aquilo, pelo bem da Família. Depois de uma longa pausa, o senhor disse com dificuldade e tossindo muito:

- Você irá para Namimori.
- Isso é... No Japão...?
- Sim. Tanto os Guardiões, como o Vongola Decimo, estão lá, além de um daqueles bebês...
- Um dos Arcobaleno está com a Vongola?
- Está sim.
- Então, eu estou indo, Chefe.

Syrenna se levantou, e já ia se virar, quando foi impedida por seu superior.

- Syrenna, espere. Tem algo que eu ainda preciso te dizer.
- O que seria, Chefe?
- Meu último desejo.

Com as mãos trêmulas, ele pegou uma das mãos de Syrenna e a segurou firmemente.. Com um forte suspiro, provavelmente o último, ele disse:

- Quero que você viva, Syrenna. Pois você é a única prova de que a Família Accanito existe, e possui honra... E se os Accanito permanecem ou deixam de existir...Isso está em suas mãos...

Syrenna fechou os olhos e abaixou a cabeça, enquanto sua mão esquerda era lentamente solta pelas frias mãos de seu chefe, que morrera depois de suas últimas palavras.

- Entendido, Chefe. - Syrenna disse em um tom sério - Eu não falharei.

Ela se virou, saiu do quarto, e logo deixou a mansão com lágrimas caindo de seus olhos. Mas sua tristeza logo foi sanada por uma grande determinação. Ela ia fazer seus preparativos para sua viagem ao Japão. Mas alguma coisa a dizia que ela iria se encontrar com algo a mais. Syrenna, no entanto, pouco se importava com o que poderia encontrar em Namimori. Todos no mundo da Mafia sabiam que para Saki Syrenna, nada era impossível. Naquele momento, a Família Accanito estava prestes a sair das sombras, e cumprir sua aliança com a Vongola através dela, nem que para isso seja preciso derramar sangue. E de uma coisa a ruiva tinha a mais pura certeza.

Ela irá completar sua missão. Nem que para isso ela tenha que fazer o que mais tem medo...

Lutar.

continua...