A Tempestade escrita por hgranger


Capítulo 6
Capítulo 6 - Sala de espera


Notas iniciais do capítulo

Vou tentar sempre trazer elementos visuais para os capítulos, acho que enriquece a experiência de leitura e me poupa um pouco descrições que nunca farão jus à beleza da realidade.

Vou dar um descanso ao Edward, ele merece, tadinho. Ainda vou revisar esse capítulo, postei com um pouco de pressa.



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"Hot motel
Stuffy inside
I know well
These eleven walls
Hot black tar
I tan my legs
Rest my heart
And dream of the city

Magazine and diet coke
I'm not a joke
This is me
Damaged leg
Heavy cart
Plastic cups
Linen mart
We're on our way
Roll the windows down
And scream out loud
We're tired now

(...)

Take it home
Stop on the way
To the bakery
For some fruit and cake
Home i lay
After a shower clean
I hit my head
And dream."

 

Saturdays - Nelly Furtado

 

20 de setembro.

 

Ponte do Brooklyn. Era tão clichê estar aqui que um meio sorriso irônico teimava em aparecer em meus lábios. Devia ser em torno de três da manhã, o tráfego de carros lá embaixo era suave e intermitente. Não fora difícil chegar até aqui em cima; na verdade escalar os cabos de sustentação da ponte tinha sido uma distração razoável. Pena que durara apenas alguns segundos.

Era irônico estar aqui, em um dos cartões postais de New York, e ao mesmo tempo um dos pontos de acesso a Manhattan. Mas a altura, o silêncio, o isolamento e a paisagem me faziam bem. A silhueta iluminada da cidade era inigualável.

Aqui eu não temia pensar livremente. No hotel indicado por Glove eu me sentia vigiado constantemente... Aqui eu poderia pensar, e sofrer, e relembrar, e me angustiar, enquanto analisava o panorama que se estendia à minha volta. Aqui eu podia ser o Edward novamente: solitário, doente de saudade.

O encontro com Glove tinha sido melhor do que eu esperava, mas a perspectiva da reunião com Suzanne já não era das melhores. Suzanne, segundo Carlisle, era uma vampira mimada, acostumada ao jogo de intrigas da antiga sociedade dos vampiros europeus, tendo sido criada por uma outra vampira muito antiga e poderosa da França. Devido a sua linhagem e influência, Suzanne vivia quebrando regras, e estava acostumada a sair impune das confusões que causava. Talvez isso justificasse a expressão de Glove ao descobrir que ela era o contato de Victoria.

Tinha sido realmente uma sorte conseguir essa informação de Laurent. Ele estava em Denali, com Tanya, e concordara em fornecer informações sobre Victoria, talvez como uma forma de se redimir dos problemas que James havia causado... Eu não acreditava muito nessa alternativa, me parecia que Laurent resolvera cooperar para não se indispor com Tanya. Ele me parecera realmente interessado em experimentar uma nova forma de viver, e ficar em Denali era uma opção extraordinária nesse sentido.

Então, aqui estava eu. Carlisle conseguira contato telefônico com ele, e ele dissera que um pouco antes de se juntar ao grupo, Victoria passara um tempo com uma vampira de New York, Suzanne Worchester. Rica, mimada, inteligente e perigosa. Quatro adjetivos preocupantes, quando se estava numa cidade cheia de vampiros que não se preocupavam em não se alimentar de humanos.

A geografia de New York era divida em territórios de caça. Carlisle estimava que nada menos do que quarenta vampiros se distribuíam nos cinco distritos: Manhattan, Brooklyn, Queens, Staten Island e Bronxs.Os territórios variavam de bairros enormes a pequenos conjuntos de ruas... O que fazia de certas áreas lugares muito perigosos. Mas New York era reconhecidamente uma cidade muito violenta, de elevada criminalidade, e como atraía muitos viajantes, alguns dos desaparecimentos mal eram notados, a não ser pelas famílias dos desaparecidos. New York também era uma cidade famosa pela quantidade de pessoas sem teto e imigrantes ilegais que viviam amontoados em condições subhumanas. Chinatown, Little Italy, os bairros negros como o Harlem, todos eles eram lugares onde se caçava com facilidade.

Curiosamente, alguns vampiros tinham desenvolvido técnicas de conseguir sangue sem matar as vítimas, conseguindo acessos a bancos de sangue, como Carlisle fazia às vezes, ou reunindo e seduzindo mortais que os acompanhavam e alimentavam, como os Volturi.

A sociedade se organizava segundo a lei do mais forte, em número de aliados, e por influências políticas. Ser mais esperto muitas vezes ajudava contra a força bruta. Como Manhattan era a capital financeira do mundo, e quem tinha o dinheiro controlava tudo, inclusive informação, os vampiros que controlassem os mortais mais importantes no jogo financeiro tinham controle sobre praticamente tudo. E isso os ajudava a permanecer invisíveis em meio aos mortais, em meio ao luxo e aos prazeres mundanos.

É claro que deslizes aconteciam, quando se tratava de vampiros que andavam entre os mortais como semi-deuses. E ali sempre estava Edward Glove e seus subordinados, para conter a ameaça de vazamento de informações sobre nossa existência, e para punir os culpados. Com rigor.

No início da noite eu fora apresentado a Axel Martin, um dos vampiros mais antigos da cidade, criado por Glove séculos atrás. Ele era o encarregado da segurança, tendo sob seu comando uma dezena de vampiros de sua confiança que patrulhavam os limites da cidade procurando imortais desgarrados ou outras ameaças, e que caçavam infratores das leis que eram condenados a alguma punição. Axel era um vampiro agradável, com um senso de humor caloroso, que inspirava confiança imediata, assim como Glove. Eles tinham um estilo semelhante, embora Axel fosse um pouco menos formal, talvez por ser mais novo. Ele tinha cabelos negros compridos emoldurando um rosto clássico, romano, e eu me perguntava qual seria sua origem. Talvez um dia eu tivesse a oportunidade de perguntar. Eu gostara dele instantaneamente. Ele me apresentou outros dois vampiros, um casal, Katrina e Ethan, que trabalhavam para ele patrulhando o perímetro imenso da cidade - entre outros vampiros, claro. Percebi que os vampiros daqui não chamavam tanta atenção como os que eu conhecia. Treino? Sangue? Dom? Eu não sabia. Eles me receberam da mesma forma calorosa, e eu percebi que, se me permitisser um dia baixar a guarda, talvez pudesse fazer amigos ali. Se aquilo algum dia voltasse a fazer sentido para mim.

Nesse período não consegui evitar ler alguns pensamentos esparsos, e captei aqui e ali a curiosidade generalizada que eles tinham sobre o vampiro que não se alimentava de humanos. Mas eles não pareciam me desprezar por isso, o que já era um ponto positivo. Os três me levaram para fazer um tour pela cidade, e me indicaram os pontos neutros da cidade. Central Park. Todas as rotas de entrada para Manhattan. Todos os parques menores e alguns lugares específicos, que eram uma espécie de centro de convivência, onde qualquer agressão seria punida com rigor. A geopolítica era complexa, e eu acabei fazendo um mapa para não entrar onde não devia, sem querer.

Naquela noite, também, eu iria ligar para Suzanne. Na verdade estava com o telefone na mão, olhando. Pensando no que eu iria dizer. Ela já sabia que eu iria entrar em contato com ela; essa era uma exigência de Glove, e ele mesmo havia conversado com ela, para perguntar se ela concordaria em me receber. Pelo que pude entender, ela dificilmente poderia recusar um pedido dele, então isso também estava a meu favor. Ela concordara em me receber, permitira que ele me fornecesse seu número de telefone, e estaria aguardando. Adeus, elemento surpresa. Agora eu não poderia ler seus pensamentos, nem pegá-la desprevenida.

Pensei um tempo em Bella. Eu queria ligar para ela, brinquei inumeras vezes com os dedos no telefone, discando o número da casa de Charlie. Mas era madrugada, ela provavelmente estaria dormindo. Era o quinto dia desde que eu a deixara, e ela permanecera no fundo dos meus pensamentos constantemente. Tudo que eu fazia, todos os movimentos aqui, eram pensando nela e em seu bem-estar. Me deixei lembrar, me deixei sofrer, me deixei deslizar pela escuridão que havia se transformado o meu mundo sem ela. Algum tempo depois me recompus. Era hora de ligar para Suzanne.

Disquei o número dela e me preparei para o pior.

Eu mal sabia o que me esperava.


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Notas finais do capítulo

Eu amo Edward Glove e Axel! :) Para mim é um prazer poder fazer essa mistura e ver que está agradando!



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