A Tempestade escrita por hgranger


Capítulo 5
Capítulo 5 - Welcome to the Jungle


Notas iniciais do capítulo

Esse texto fluiu melhor e mais rápido, acho que será assim até o momento em que eu emparelhar de novo a história com a linha do New Moon em que Edward e Bella se reencontram.

Enfim, eu gosto muito dessa história, é um prazer para mim contá-la, espero que vocês gostem de ler. Agora é mais fanfiction do que versão.

Beijo.



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“Welcome to the jungle
We got fun and games
We got everything you want
Honey we know the names

We are the people that can find
Whatever you may need
If you got no money honey
We got your disease”

Welcome to the Jungle – Guns n’ roses

 

New York City, 19 de setembro

Manhattan. Um arrepio involuntário brotou em minhas costas. Uma das cidades mais interessantes e perigosas para um vampiro estar, no mundo. Certamente a mais perigosa dos Estados Unidos. A noite de outono estava fresca e as luzes brilhavam na cidade lá em baixo. Eu estava observando a ilha de Manhattan do alto de um arranha-céu localizado no Financial District, perto de Wall Street. As paredes do escritório eram todas de vidro, e a iluminação indireta e discreta deixava o ambiente em uma penumbra agradável; o aquecedor estava desligado, e o silêncio deixava tudo ainda mais tranquilo. Passava da meia noite, mas a cidade não dormia. Não era à toa que era chamada de cidade que nunca dorme. Ali em cima, porém, tudo estava calmo, e era até fácil esquecer de tudo, se não fosse o fato óbvio do porque de eu estar ali. Minha presença ali significava que eu não queria e não podia esquecer.

Olhei meu reflexo no vidro, analisando minha aparência criteriosamente. O terno cinza-escuro bem cortado sobre a camisa branca me davam um ar sofisticado que não combinava com minha idade aparente nem com meu espírito melancólico, mas eu não podia negar que o conjunto era interessante. Deveria, sem dúvida, agradar meu anfitrião, e havia sido escolhido com esse propósito. Aqui nesta cidade, o coração vibrante dos Estados Unidos, eu era um intruso – apesar de convidado. Nessas circunstâncias, eu tinha que jogar o jogo com as regras da casa, e isso incluía fazer uma boa figura – literalmente – diante de Edward Glove.

Me lembrei, mais uma vez – possivelmente a milésima vez naquele dia – de Bella. O que ela pensaria ao me ver daquele jeito? Riria de mim? Gostaria do Edward formal, tradicionalista? Empurrei os pensamentos para longe ao ouvir o som de um discreto pigarro vindo de trás de mim. Era Joshua, o porta-voz de Glove. Me virei para encará-lo dando uma última olhada em minha aparência, e sorri friamente, por mera formalidade.

"Pois não, Joshua?" O vampiro tinha uma aparência pouco chamativa, e se misturaria facilmente em meio à multidão. Alguém pouco perceptivo o confundiria com um humano. Só o que o denunciava era a falta de respiração, e o jeito de ficar imóvel que só um vampiro poderia ter.

"Desculpe-me interrompê-lo, senhor Cullen. O senhor Glove já está pronto para recebê-lo. Queira me acompanhar, por favor."

Até a voz era absurdamente normal. 

Acompanhei Josh em silêncio, observando que ele mancava discretamente. Minha curiosidade se aguçou. O que poderia deixar um vampiro daquele jeito? Ou ele já mancava antes de ser trasformado? Provavelmente eu nunca saberia a reposta, pois seria muito indelicado perguntar. Repassei cuidadosamente as instruções de Carlisle sobre como me comportar entre os vampiros da corte de Edward Glove, torcendo para não cometer nenhum erro. Aqui eu não poderia errar, sob pena de nunca sair da cidade, filho de Carlisle ou não. Nos dirigimos até um corredor, em direção a um elevador, que nos levou até a cobertura do prédio. Tudo era extremamente refinado, bem mobiliado, com decoração clássica, em tons escuros e terrosos, um pouco de dourado, com espelhos colocados em locais estratégicos, e câmeras de segurança. A segurança dos vampiros na cidade era uma preocupação vasta e paranóica. Bem, talvez não tão paranóica assim. Edward Glove tinha muitos problemas com vampiros para resolver, e eu herdara a admiração que Carlisle sentia por ele, principalmente porque ele tentava ao máximo resolver aqueles problemas de forma polida. Eles eram muito diferentes de nós.

A porta do elevador se abriu para um amplo saguão que fazia as vezes de escritório de Glove. Todas as paredes eram de vidro – inquebrável, imaginei. A noite reluzia com as luzes da cidade ao meu redor, e era fácil relaxar ali dentro. Havia uma música ambiente quase imperceptível, e reconheci um Jazz de John Coltrane. À direita do elevador havia um pequeno bar com alguns sofás confortáveis dispostos em L, várias estantes de livros estavam organizadas de forma impecável próximas às paredes. Um piano de cauda enfeitava o fundo da sala, e numa das laterais, uma mesa de mogno sólida escondia parte de um homem sentado.

A voz de Joshua surgiu por trás de mim, introduzindo minha presença.

“o Senhor Edward Cullen, filho de Carlisle Cullen.”

Aguardei que o homem sentado me dirigisse a atenção. Ele estava de cabeça baixa, analisando alguns documentos em uma pasta. Luzes indiretas deixavam o escritório à meia luz, exceto na mesa, onde ela era um pouco mais forte. O jogo de sombras deixava Edward Glove brilhando no ambiente. Observei em silêncio o homem de meia-idade, estatura mediana, cabelos negros já um pouco grisalhos, utilizando um monóculos preso com uma corrente. A postura, os traços, o terno preto, tudo nele irradiava força, poder e riqueza. E sabedoria. E educação. Ele poderia ser um rei em outra época, pensei. Talvez tivesse sido. Era fácil entender porque Carlisle gostava dele.

Depois de alguns segundos, Glove me dirigiu o olhar e sorriu. Me senti acolhido pelo sorriso, algo que era bastante raro em minha vivência fora da família Cullen. Glove se ergueu em um movimento perfeito, e se dirigiu até mim sem pressa. O olhar era solene e benevolente ao mesmo tempo. Com um gesto suave dispensou Joshua, que se retirou em silêncio pelo elevador; depois me estendeu a mão. Toquei-a, e senti o frio familiar da pele vampírica. Pensei em Bella mais uma vez. Eu sempre pensava nela, não importava o que estivesse acontecendo. Me lembrei de sua pele macia e quente sob meus dedos frios, e tive que me concentrar para voltar ao foco. Ele envolveu minha mão com as suas, e tive a impressão momentânea que ele tinha mergulhado no fundo da minha alma. Senti que podia confiar nele para qualquer coisa. Depois me lembrei que Carlisle me alertara para aquilo, e lutei para manter os pensamentos neutros. Carlisle achava que Glove também lia pensamentos. E que ia além, podendo manipular emoções como Jasper, e até mesmo modificar pensamentos e memórias. Mas era falta de educação conversar sobre isso na corte de Glove, portanto ele nunca tinha confirmado sua hipótese.

Havia ainda um outro motivo para Carlisle não ter investigado muito sobre Edward Glove e os outros vampiros de New York. Ele era um braço dos Volturi nos Estados Unidos. Uma unidade autônoma, porém aliada a eles. Ele preferia se manter distante. E eu também, até aquele momento.

Glove quebrou o contato de nossas mãos, e se dirigiu ao bar, me convidando para sentar. Me sentei a seu lado, tentando relaxar e manter os pensamentos tranquilos, e longe dos Volturi. Voltei novamente os pensamentos para Carlisle. Era o melhor que eu podia fazer. A voz de Glove era poderosa, uma voz de tenor que quase não combinava com sua idade aparente. “Seja bem-vindo à minha cidade, Edward Cullen. Sabe que o nome Edward tem origem anglo-saxônica e significa ‘o guardião próspero’? É assim que me vejo aqui, e espero que compreenda nossas leis, e concorde em segui-las enquanto permanecer em New York.” Não era uma pergunta, era uma ordem, cortês e inconfundível. Incrível. Eu nunca conhecera um vampiro como Glove. Eu treinara nos últimos dias para não escutar pensamentos alheios, sabendo que isso aqui seria considerado uma ofensa e descortesia. Treinei minha mente inicialmente para se concentrar na lembrança do sorriso de Bella, e quando tinha conseguido um controle razoável sobre isso, me lembrei que não seria adequado deixar que os vampiros aqui percebessem meu vínculo com ela. Tudo a que éramos apegados podiam se tornar fraquezas. E eu não podia colocá-la em mais perigo do que eu já havia colocado. Então consegui fazer com que minha mente borrasse os sons dos pensamentos alheios, até que eles se tornassem uma estática incompreensível ao meu redor. Carlisle me avisara sobre isso também. Os vampiros aqui tinham estranhos poderes, que aperfeiçoavam através do estudo... E de alguma forma eles haviam descoberto uma forma de adquirir os poderes dos outros vampiros, se... Os matassem, e bebessem seu sangue até o final.

Desviei a linha de pensamento, um pouco apreensivo. Olhei de relance para Edward Glove, e percebi que ele ainda estava esperando uma resposta para seu questionamento. Me amaldiçoei em silêncio, arrumei a postura, e acalmei meus pensamentos. Minha voz soou fria e controlada.

“Sim, senhor Glove. Não pretendo descumprir nenhuma de suas determinações. Carlisle já me deixou a par de todas elas.”

Ele pareceu sorrir levemente, satisfeito.

“O senhor poderia então repeti-las, senhor Cullen, apenas para eu me certificar de que estão perfeitamente compreendidas?”

Recitei suavemente as leis que Carlisle me ensinara. As leis de New York. As leis que só não eram aplicadas a Glove e àqueles que ele determinasse.

“Não invadir o território de outro vampiro sem pedir permissão. Não caçar no território de outro vampiro. Não usar poderes em outros vampiros dentro de seu território. Não criar outro vampiro dentro da cidade sem pedir permissão. Não revelar a natureza vampírica a nenhum mortal.” A última lei me deixou um pouco constrangido, mas se Glove notou, não comentou nada.

“Muito bem, jovem Edward Cullen. Vejo que foi bem informado por Carlisle. Estou seguro de que sua presença na cidade não me causará nenhum problema. Aceita uma bebida?”

Como seria descortês recusar, aceitei. Ele foi até o bar, e serviu um líquido escuro em duas taças de cristal. Carlisle já havia me prevenido sobre essa situação, também. Edward Glove servia sangue humano a seus convidados vampíricos. O sangue estava fresco, Carlisle me explicara que eles mantinham humanos como uma espécie de rebanho; eles não eram mortos para que o sangue fosse retirado. Eu não poderia recusar, sob a pena de ser considerado indigno. Como eu precisava estar ali... Torci para que os anos de auto-controle me ajudassem naquele momento. A última vez que eu provara sangue humano tinha sido quando Bella fora mordida por James, e eu tinha tido muita dificuldade em parar.

Glove me estendeu a taça com um meio sorriso, e uma certa expectativa. Inspirei profundamente antes de beber, relembrando os anos em que eu havia me alimentado de sangue humano. Naquela época eu matava para me alimentar. Não eram boas lembranças, mas o sangue humano era forte, denso, poderoso. Muito mais saboroso e potente do que o sangue de animais... Funcionaria em mim como uma droga estimulante. Eu precisava estar preparado para seus efeitos.

O líquido quente escorreu por minha garganta me enchendo de calor. Se espalhou pelo meu estômago e minhas entranhas me enchendo de vida e força. E eu não consegui mais parar de pensar em Bella, em relembrar aquele momento em que o sangue dela descia por dentro de mim da mesma forma, o êxtase daquele momento. O sangue tinha um gosto residual estranho. Talvez uma substância para evitar que coagulasse... Mas a sensação de euforia era intensa.  

Fiquei um longo tempo em silêncio, tentando controlar meus pensamentos. Percebi que Glove me observava com um ar curioso e meio divertido. Me assustei quando ele falou.

“Carlisle sempre me surpreendeu... Com a atitude de proteger os mortais. Percebo que herdou dele essa... Ideologia. Admiro o esforço que fazem nesse sentido, apesar de achar um tanto anti-natural.”

Continuei em silêncio. Qualquer resposta poderia soar ofensiva, então aguardei que ele dissesse mais alguma coisa.

“Bem, Edward.” Ele continuou enfim. “Vamos tratar então do motivo pelo qual você está aqui. Carlisle me disse que você está atrás de informação, correto?”

“Sim, senhor. Sobre uma vampira. O nome dela é Victoria.”

“Sim, Carlisle comentou comigo sobre o assunto. E o que lhe faz crer que conseguirá informações sobre ela aqui?” A pergunta demonstrava curiosidade genuína.

“Um dos vampiros que andava com ela me disse que ela tinha contatos aqui... Contatos íntimos.”

“Entendo.”

Ele se ergueu e andou em direção a uma das paredes de vidro próximas ao bar. Minha boca e língua estavam um pouco dormentes, inundadas pelo gosto de sangue humano. Eu tinha que me controlar para não ir até o jarro de onde ele havia servido as taças e beber todo o conteúdo. Glove ficou de costas para mim por um tempo, observando a noite e as luzes da ilha.

“Entenda, senhor Cullen, que sua presença aqui pode ser considerada por muitos dos vampiros desta cidade como uma ameaça, e eu não quero que isso ocorra. Se eu permitir sua estadia aqui, e livre entrada no território de outros vampiros, por motivos pessoais, minha autoridade aqui pode ser questionada, e nós não queremos que isso aconteça. As relações são frágeis demais, e eu não deveria permitir que nada externo ameaçasse esse frágil equilíbrio.”

As palavras dele fizeram sentido para mim lentamente. Eu ainda estava um pouco atordoado. Só conseguia pensar em Bella. Percebi que ele estava considerando negar o meu pedido.

“Porém, Carlisle é um velho amigo, e já me ajudou em algumas ocasiões importantes. Portanto, irei conceder o que me pede, abrindo uma exceção. Pode me informar quem é o vampiro com quem esta Victoria mantinha contato?”

Me esforcei para manter a calma e a serenidade, mesmo sob o efeito do sangue. Sabia que aquela era minha única chance de resolver essa última pendência.

“É uma mulher. O nome dela é Suzanne Worchester.”

Um sentimento estranho cruzou a face de Glove por um milésimo de segundo, e ele se recompôs. Fiquei em dúvida se ele jamais estivera ali. Desprazer? Cautela? Raiva? Impossível determinar, sem ler os pensamentos dele.

E agora que eu havia percebido. A mente dele não fazia nenhum ruído. Eu não precisava me esforçar em não escutar sua mente. Ele se mantinha em silêncio. Como Bella.

“Muito bem, Edward Cullen. Então eu lhe dou permissão para permanecer na cidade por setenta e duas horas. E para entrar no território de Suzanne Worchester e conversar com ela.”

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Saí do prédio de Glove em direção ao hotel ainda atordoado. O cheiro das pessoas ao redor me intoxicava, e eu acelerei o Volvo, tentando chegar no hotel o mais rápido possível. Eu sabia que a conversa com Suzanne provavelmente seria complicada e as chances eram desfavoráveis de que eu conseguisse alguma informação relevante, mas eu já tinha ido longe demais. Cheguei no hotel duas e meia da manhã, o lobby estava quase vazio. O lugar havia sido uma indicação de Glove, um território neutro dentro da cidade. Os outros vampiros sabiam que ali era um lugar para receber visitantes, e não causariam problemas.

Assisti o nascer do sol sobre o rio pela janela do quarto, pensando em Bella. Pensando em como eu queria encontrar Victoria, para me certificar de que ela estaria para sempre a salvo.

Aquelas provavelmente seriam as setenta e duas horas mais longas da minha vida.

 


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Notas finais do capítulo

Comentários, please. :)



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