Nayara! — Eu ouvi alguém me gritar ao fundo. Quando olhei pra trás pude ver Bernardo correndo, de uma forma muito desajeitada mas com um lindo sorriso no rosto.

Bernardo é meu melhor amigo, meu irmão. Conheço essa peste desde que ele tinha 8 anos. Ele me ajuda muito. É do tipo cuidadoso, carinhoso e ás vezes acaba sendo um pai pra mim. Já vivemos muita coisa juntos. E é dele que eu vou sentir mais falta.

— Ei, Mocinha! Você ia embora sem se despidir de mim? — Ele disse fazendo cara triste e olhou pro chão.

— Ber! — Eu disse o abraçando como se o mundo fosse acabar em instantes. — Eu te liguei e você não me atendeu. E quando passei na sua casa, dona Cássia me disse que você tinha ido pra casa de um amigo. Então eu vim pro aeroporto, mas eu sabia que você viria se despidir de mim!

— Boba você hein?! — E rimos feito idiotas.

Cássia é a mãe de Bernardo, minha segunda mãe práticamente. Ela sempre me ajuda, conversa bastante comigo. É o tipo de mãe liberal. Não sei como Bernardo consegue achar ela chata. Não mesmo.

E foi assim que passei minhas últimas horas no Brasil. Abraçada com o meu melhor amigo, ouvindo meu pai dizer umas dez vezes pra eu me cuidar, vendo minha mãe chorar dizendo que sentiria minha falta, e claro, presenciei as ultimas artes do meu irmão.

Bem, minha mãe se chama Carolina e é uma pessoa tranquila, mas nada liberal. Pra ela tem sempre o limite. Confesso que, ás vezes, me sentia presa e sufocada dentro de casa. Meu pai, Marcos, nunca foi muito presente. Mas sempre fez de tudo pra agradar a mim e ao meu irmão. E meu irmão, Pedro de apenas um aninho é uma pestinha! Do tipo que não me deixa dormir, bagunça o meu quarto e me deixa até sem ar quando chega do nada, me abraça e diz um "eu te amo" fofo. Por mais que certas horas eu ache essa família chata, sufocante e meio caótica, adimito, vou sentir falta de todos. E no meio desses meus pensamentos, senti meus olhos ficarem nublados. Então fui cortada por uma pergunta.

— Está tudo bem Boo? — Era assim que Bernardo me chamava, de Boo.

— Sim... Vou sentir sua falta garoto. — E senti uma lágrima fina escorrer pelo meu rosto. Então Bernardo me envolveu em seus braços.

— Ei, não chora! Eu prometo que vou te visitar quando puder. 

Então eu ouvi que precisava entrar na sala de embarque. Senti meu coração acelerar e ficar pequeno. Eu estava deixando a minha família, os meus amigos, o meu país, pra tentar a vida em Londres, do lado da minha amiga, Samara. Amiga essa, que até hoje eu conhecia apenas virtualmente. Eu era do Rio de Janeiro e ela de Boa Vista. Completamos 18 anos e decidimos nos mudar para um país em que poderíamos arrumar um emprego com mais facilidade. E vários fatores nos levaram a pensar na Inglaterra. O clima, nossos ídolos, as oportunidades, nossos ídolos e as pessoas. Sim, nossos ídolos! Somos fã de One Direction. E acho que nossa empolgação era mais por estar indo para perto deles do que por qualquer outra coisa. Enfim. Resolvemos então que alugaríamos um apartamento em Londres.

"Ultima chamada para o vôo 774" Mais uma vez tive os pensamentos cortados e fui me despedir dos meus amigos e familiares. Todos choraram bastante. Inclusive meu pai, que tem ar de "durão" mas no fundo é uma maria mole. Sorri com os meus pensamentos, disse o último adeus e entrei na sala de embarque. Agora era só eu.

Eu e meus pensamentos. Meu sonho e o silêncio. Fiquei um tempo imaginando como seria em Londres. Chorei um pouco, é. De repente senti meu celular vibrar. Era uma mensagem da Anne.

 "Amiga, volta logo :("

Nem preciso dizer que eu tive vontade de sair correndo dalí para abraçar meus amigos. Pensei em como seria divertido se eles fossem comigo. Até tentei convencer alguns de que lá seria melhor. Mas a maioria prefere ficar por aqui. Porque os pais tem uma boa renda fixa e a oportunidade de empregos pra eles sempre foi grande. E esse nunca foi o meu caso. Minha família não tem tanto dinheiro. Temos o suficiente pra levar uma vida boa e confortável. E no meio do assunto, quero dizer, do meu assunto né. Já que não havia ninguém alí comigo; resolvi mandar sms pra Samy. 

"Ahhhh, daqui a pouco estaremos em Londres! Isso é um sonho?? Hahaha x"

 Ela respondeu tão rápido que eu pensei "essa menina deve estar com o celular grudado na mão, porque não é possível."

"Não amiga, não é um sonho. Estamos indo, "juntas", para a cidade dos sonhos. Isso vai ser incrível haha x"

E então, foi autorizada a entrada no avião.