_Eu não posso! – sussurrou ela.

_Não pode?

_Não! E por falar nisso precisamos nos distanciar, acabar com a farsa e não nos ver mais!

Ricardo ficou sem saber o que falar por alguns segundos e quando conseguiu apenas sussurrou:

_Por quê?

_Porque sim!

_Mas...

Ela colocou os dedos nos lábios dele e beijou-lhe por alguns segundos antes de pegar sua mochila e ir embora correndo. Ele se vestiu e saiu correndo atrás dela para alcançá-la, mas não a encontrou no caminho.

Quando chegou em casa foi direto no quartinho dela, mas esta não abiu a porta, embora estivesse lá dentro. Ricardo esperou por mais alguns minutos e depois desistiu, entrou em casa e subiu para o quarto.

Em sua cama tentou entender o que estava acontecendo, ele achou que ela também gostava dele, no entanto levou um fora e um pé na bunda na mesma hora. Agora sim ele se sentia confuso, agora que sabia que também gostava dela, agora que tinha percebido isso...

Foi até a janela e a viu abrir a porta para verificar se ele não estava mais lá, quando viu que não encostou-se à soleira da porta e ficou algum tempo ali,de longe Ricardo não conseguia ver direito, mas parecia que ela estava chorando.

Ele desceu correndo as escadas para encontrá-la, mas quando chegou lá em baixo ela já tinha fechado a porta e novamente não abriu para ele.

***

No outro dia na escola Ricardo tentou procurar por Barbara, mas não a encontrou em lugar algum, por mais que tentou ela parecia ter faltado naquele dia que lhe era tão angustiante.

E para completar o dia Lucas veio falar com ele na hora do intervalo. Ricardo tentou ignorá-lo por um tempo, mas como queria se livrar logo dele deixou que Lucas falasse:

_Ricardo, você precisa acreditar em mim, embora eu não possa falar o porquê, você tem que ficar longe daquela ruiva.

_Não estou te entendendo, sabia? Não era você quem acreditava nela?

_Sim, mas você estava certo!

_Estava?

_Eu não posso te dizer o porquê, mas estava. Você precisa ficar longe dela!

Ricardo pensou em dizer que ele tinha chegado tarde com o aviso, porque ele já estava longe dela, mas não iria dar esse gostinho a ele, ainda mais porque pretendia voltar com Barbara, quando ela parasse com o que estava fazendo.

_Obrigado pelo aviso, agora pode ir!

_Ricardo...

_Pode deixar que eu vou então.

Ricardo saiu andando e Lucas hesitou por um instante, pensando se o seguia ou não, mas optou pela segunda opção e seguiu andando na direção oposta a que o amigo tinha ido.

***

À noite, em casa, ele finalmente conseguiu falar com Barbara, estava chovendo e ele praticamente a encurralou, a casa estava vazia, seus pais tinham saído e ele trancou as portas, forçando-a a ficar.

_Me diz o motivo!

_Cara, você não sabe encarar um fora, não?

_Não é isso, e você sabe! Eu sei que tem algo errado, você sente alguma coisa...

_Mas e você?

_Eu o que?

_Também sente alguma coisa?

Ele hesitou.

_Eu achava que não... Mas sim, eu sinto!

Desta vez ela foi quem hesitou, abriu a boca algumas vezes, mas desistiu do que ia dizer. Ricardo percebeu que ela estava surpresa com o que ele dissera, assim como ele estivera quando descobriu que sentia mesmo algo.

_Eu preciso pensar, abre a porta!

Suspirando ele foi até a porta e a abriu, deixando que ela saísse na chuva.

_Quando tiver a resposta...

Ela não esperou para ouvir o resto, saiu correndo na chuva e entrou no quartinho rapidamente para não se encharcar mais ainda do que já deveria estar. Ele voltou para a sala e desabou no sofá.

Alguns minutos depois alguém bateu à porta. Se arrastando ele foi atender, imaginando ser seus pais chegando, mas era Barbara, toda encharcada esperando que ele abrisse a porta.

_Não esperava que a resposta viria tão cedo!

Ela ignorou a ironia.

_Eu aceito seu pedido! – ele abriu um sorriso e chegou mais perto para beijá-la, mas ela completou – Se conseguir me pegar – e saiu correndo na chuva.

Ele saiu correndo atrás dela, na chuva, escorrendo e caindo, molhando-se todo, mas quando finalmente a alcançou a chuva era como se não fosse nada. Ele a segurou pela cintura e beijou-a.