Enfim chega o aniversário de Bernardo. Enquanto Daniel se apronta no quarto, pode ouvir sons vindo do banheiro.

 - Tudo bem aí moranguinho? – pergunta ele ao longe.

 - Tudo sim, só deixei cair algumas coisas.

Aquilo não convenceu Daniel e ele foi sorrateiramente até o banheiro. Ao chegar Vê Alice com a cabeça baixa e com as mãos apoiadas na beirada da pia.

 - Você está passando mal de novo?

 - Não Dan, estou bem, sério mesmo.

 - Porque está mentindo pra mim Alice? Pensei que um podia confiar no outro.

 - Não estou mentindo amor, estou bem. Só tive uma tontura.

 - Você nunca teve tonturas Alice. Acho melhor ficarmos em casa, depois explico o que aconteceu para o Bernardo e a Larissa.

 - Não Dan, por favor! Não estou me sentindo mal, foi só uma tontura.

 - Uma tontura que veio do nada! – diz Daniel fazendo sinal de aspas no ar ao falar.

 - Não é nada demais amor, provavelmente só tive isso por ter vomitado esses dias.

 - Esses dias? Como assim esses dias Alice? Você me disse que só vomitou o dia em que não foi trabalhar...

Alice aperta os olhos e suspira derrotada.

 - Eu vomitei nos dias seguintes depois daquele também.

 - Não acredito nisso Alice! E porque não me contou? – pergunta Daniel nervoso.

 - Porque não queria que você ficasse preocupado e nervoso como está agora.

Daniel sai do banheiro e vai até a sala, sendo seguido por Alice.

 - Vou ligar para a Larissa e dizer que não vamos poder ir ao aniversário do Bernardo. – diz pegando o telefone.

 - Meu Deus Daniel, disse que estou bem, por favor, pra que essa tempestade em copo d’água? – diz impedindo que ele pegue o telefone.

 - Tem certeza que está bem?

 - Tenho sim.

 - Ok então, vamos ao churrasco, mas se você não se sentir bem, abra essa boca e me fale entendeu? Nunca mais me esconda nada.

 - Tudo bem, prometo não fazer mais isso.

Daniel a olha meio desconfiado, mas acredita nela. Eles então voltam a se arrumar e logo chegam à casa de Larissa e Bernardo.

 - Pensei que não vinham, demoraram. – diz Larissa ao recebê-los.

 - Sua amiga aqui aprontou uma, mas já passou. – diz Daniel olhando para Alice de canto de olho, vendo a mesma ficar vermelha como um pimentão.

Enquanto conversavam, Bernardo se aproxima e recebe o cumprimento dos amigos.

 - Agora sim chegou quem faltava! Sem vocês a festa estaria incompleta. – diz Bernardo aos amigos – Estão com fome? Tem carne pronta já.

 - Acho melhor você comer, pra não correr o risco de passar mal de novo. – diz Daniel a Alice.

 - Você passou mal Li? – pergunta Larissa.

 - Foi só um mal estar, estou bem agora.

 - A Larissa deu uma dessa esses dias também, estava com tonturas. – diz Bernardo fazendo as amigas se entreolharem.

Enquanto conversavam, Amanda entra correndo pela sala e se joga no colo de Daniel.

 - Padrinho, madrinha! Estava com muita saudade!

 - Nós também baixinha. – diz Daniel dando um beijo na bochecha da afilhada.

 - Hei e eu? Não ganho beijo não? – diz Alice fazendo um bico para Amanda que ri e dessa vez se joga nos braços dela a beijando.

 - Deixa seus padrinhos comerem primeiro Amanda, você vai ter muito tempo pra brincar com eles. – diz Larissa.

 - Ah não mãe, to com saudade da madrinha. – diz abraçando Alice e ficando com a cabeça encostada em sua barriga.

 - Deixa ela Lari, também estava morrendo de saudade. – diz Alice abraçando Amanda contra o corpo.

A garotinha se afasta da madrinha pouco depois, mas a olha com um sorriso nos lábios enquanto a encarava.

 - O que foi anjinha? – pergunta Alice.

 - Nada não madrinha. Ainda não posso contar.

 - Contar o que Amanda? O que você aprontou mocinha? – pergunta Larissa.

 - Nada mãe, mas não posso falar pra madrinha o que eles me contaram, ainda não.

 - Eles? Eles quem? – pergunta Larissa sem entender nada.

Amanda olha para Alice e ri, saindo correndo em seguida. Alice e Larissa se olham sem entender nada e dão risada também, se juntando aos demais presentes no churrasco.

Alice conversa com Larissa enquanto Daniel e Bernardo falam com outros homens próximos a churrasqueira.

 - O que você fez que deixou o Daniel bravo?

 - Menti pra ele. Aliás, não menti, omiti. Passei mal no serviço e não falei pra ele, mas hoje tive uma tontura em casa e ele percebeu.

 - O que você teve?

 - Acho que comi algo que não fez bem pro meu fígado e fiquei três dias vomitando. Acho que isso me deixou fraca e hoje tive a tontura.

 - Mas se sente bem agora?

 - Sim, já passou.

 - Entendi. Deve ter sido alguma virose. – diz Larissa.

 - Pode ser. Mas e você? Ouvi o Bê falando que você também passou mal.

 - Não foi pra tanto, apenas tive umas tonturas esses dias, mas foi porque fiz esforço demais aqui. Tenho mania de limpeza, então arrasto todos os móveis sabe? Mas foi só isso. O Bernardo até achou que eu poderia estar grávida.

 - Grávida? Sério?

 - Sim, mas não estou não. Não tive nenhum dos sintomas que tive quando estava esperando a Amanda, além do mais, minha menstruação está pra vir.

 - Mas vocês não pensam em ter mais filhos?

 - Nunca falamos disso...

 - Vocês são novos ainda e agora estão em uma situação melhor do que quando a Amanda nasceu. Acho que deveriam pensar no assunto.

 - Não sei, mas quem sabe né? – diz Larissa sorridente – E você e o Daniel? Estão planejando?

 - Não, estamos deixando rolar, mas até agora nada.

 - Mas então você já está aceitando melhor o fato de se tornar mãe?

 - Ah sim, isso sim.

A conversa continua descontraidamente até que notam que grande maioria dos convidados já haviam ido embora.

 - Bem, hora de arrumar a bagunça. – diz Larissa.

 - Eu te ajudo. – diz Alice.

Enquanto elas fazem à arrumação, Bernardo e Daniel dão uma geral na churrasqueira, ajudando também. Após alguns minutos está tudo limpo.

Os quatro ficam conversando por um tempo até que chega à hora de irem embora. Bernardo chama Amanda para se despedir de seus padrinhos e mais uma vez a menina faz algo que deixa os pais e padrinhos sem entender nada.

Ela se despede normalmente de Daniel e aparentemente de Alice também, mas fica alguns minutos abraçada a barriga da madrinha, como havia feito horas antes. Ao desfazer o abraço olha para Alice e para Daniel sorrindo e se escondendo atrás de Bernardo.

 - O que foi filha? – pergunta Bernardo sem entender.

Ela não diz nada, apenas ri e continua se escondendo atrás do pai.

Os adultos não entendem, mas não falam sobre o ocorrido, apenas se despedem.  

Mais tarde, quando Larissa já estava colocando a filha pra dormir, resolveu falar com a mesma sobre o que ela havia feito.

 - Porque você ficou daquele jeito quando abraçou sua madrinha filha?

Amanda apenas ri.

 - O que foi?

 - Nada mãe, só não posso contar pra madrinha ainda.

 - Não pode contar nem pra mim?

Amanda coloca o dedo sobre o lábio e olha pra cima pensativa.

 - Promete que não vai contar pra madrinha?

 - Prometo.

 - Eles estavam falando, mas nem você, nem o papai ou a madrinha e o padrinho ouviram eles, só eu.

 - Eles quem filha?

 - Os anjinhos mãe. Tem anjinhos na barriga da minha madrinha.

Larissa olhou para a filha sem entender.

 - Anjinhos?

 - É mãe, anjinhos. Eles falaram comigo, mas ninguém ouviu eles, só eu.

Mesmo sem entender o que a filha dizia Larissa resolveu dar continuidade a conversa.

 - E você já ouviu esses anjinhos antes?

 - Na barriga da madrinha não, mas na sua já.

 - Na minha barriga? – pergunta Larissa surpresa.

 - É mãe. Só que na barriga da madrinha eu escutei dois anjinhos e na sua um anjinho só.

Larissa sentiu um frio na espinha com as palavras da filha, mas sentia que Amanda falava a verdade, mesmo parecendo algo sem a menor lógica podia sentir que a filha falava sério.

 - E quando você fala com esse anjinho que você diz que tem na minha barriga? Nunca vejo você falar nada.

 - Ele fala comigo todo dia mãe. Ele fala bastante, mas você e o meu pai não conseguem escutar ele, só eu.

 - Faz tempo isso filha?

 - Lembra o dia que você fez aquela comida que o papai gosta? Aquela com o nome esquisito?

 - Que comida? – pergunta Larissa tentando puxar pela memória.

 - Uma gostosa que tem o nome esquisito. Gorofe eu acho.

 - Ah sim, strogonoff.

 - Isso, lembra quando você fez essa comida?

 - Lembro sim.

 - Ele começou a falar comigo um ou dois dias depois que você fez essa comida aí.

Larissa começou a lembrar daquele dia. Algum tempo depois após o jantar ela colocou a filha na cama e foi lavar a louça. Bernardo apareceu na cozinha e poucos minutos depois já estavam no quarto fazendo amor.

 - Posso dormir agora mamãe? Agora estou com soninho.

 - Pode sim filha, boa noite. – diz dando um beijo na testa de Amanda – Ah filha, só me diz uma coisa antes. Esse anjinho está falando com você agora?

 - Sim mãe, ele sempre fala comigo. – diz bocejando e fechando os olhos em seguida.

Larissa sai do quarto da filha e encontra Bernardo a esperando na sala. Ela senta ao lado dele no sofá, mas não diz nada.

 - Tudo bem? – pergunta ele enquanto a olha.

 - Sim, tudo bem sim, só estou um pouco cansada. Vai ficar chateado se eu dormir antes de você hoje?

 - Claro que não, dá pra ver que você está exausta. Mais do que ninguém você merece uma boa noite de sono.

Larissa sorri e dá um breve beijo em Bernardo, indo para o quarto em seguida.

Já deitada fica pensativa sobre as coisas que a filha lhe disse e das lembranças que teve enquanto a conversa acontecia.

Abriu a gaveta de seu criado mudo e de lá tirou uma agenda onde costumava anotar coisas importantes, entre elas os dias em que sua menstruação costumava vir.

Vendo as anotações do mês anterior Larissa se deu conta de que havia errado em seus cálculos. Ao contrário do que pensava, sua menstruação estava atrasada há mais de uma semana. Um pensamento pairou em sua mente. Um pensamento louco, mas que passou a ter toda a lógica do mundo.

 - Será que o Bernardo estava certo desde o início meu Deus? E essas coisas que a Amanda disse... Será que estou... Grávida?! Mas se as coisas que a Amanda disse tiverem lógica, então a Alice...

Larissa pega o celular e manda um torpedo para Alice.

“Oi amiga, que tal você e o Daniel almoçarem aqui amanhã? Esperamos por vocês ok? Beijos!”

Larissa espera alguns instantes e Alice responde a mensagem.

“Pode deixar Lari, amanhã estaremos aí. Beijinhos.”

No almoço Larissa conversaria com a amiga e veria o que ela achava daquilo. Seria apenas fruto da imaginação de uma criança ou algo além disso?