Alguns dias se passam. Alice e Daniel estão tomando café na cozinha quando ela olha o calendário na parede e faz um comentário.

 - O aniversário do Bernardo é esse fim de semana.

 - Ainda bem que você me lembrou. Não sou muito bom em guardar datas.

 - Os meus aniversários você nunca esqueceu.

 - Claro que não, além do mais o meu é pouco tempo depois. – brinca com Alice, que lhe bate com o pano de prato.

Enquanto continuam comendo e conversando, o telefone toca. Era Larissa.

 - Oi Li, bom dia. Não te acordei né?

 - Bom dia Lari, claro que não, levanto cedo.

 - Menos mal – diz sorrindo – Então Li, sábado é aniversário do Bê...

 - Eu sei, estava falando disso quase agora com o Daniel.

 - Pois é, decidimos fazer um churrasco aqui em casa, só pra família e pra nós mesmo sabe? Se bem que você e o Daniel já são da família há muito tempo! – diz rindo – Posso contar com vocês né?

 - Pode sim Lari, que horas?

 - Vou fazer no horário do almoço, por volta do meio dia.

 - Tudo bem então, sábado estaremos aí. Beijos.

 - Beijos Li, até sábado.

Alice desliga o telefone e conta do churrasco para Daniel.

 - Vamos poder ir né?

 - Claro que sim, porque não poderíamos?

 - Não sei, você sempre está cheio de trabalho...

 - Eu trabalho em casa esqueceu? Fora que já adiantei muita coisa moranguinho, ou seja, o fim de semana da gente não vai ser prejudicado em nada.

 - Que bom. Estou com saudade do Bê, da Lari e da Amanda.

 - Eu também. E a Larissa hein? Superou aquele lance da avó?

 - Superou né, não havia mais o que fazer. Agora ela está bem com o Bernardo e a Amanda, está feliz e é isso que importa.

Enquanto Alice e Daniel conversam, Larissa e Bernardo fazem o mesmo em sua casa.

 - Pronto Bê, já falei com a Alice e ela e o Daniel vem no sábado.

 - Oba, vou ver a madrinha e o padrinho! – diz Amanda feliz.

 - Vai sim filha. – diz Larissa – Você vai chamar mais alguém amor? – pergunta a Bernardo.

 - Acho que não, é só um churrasco, melhor fazer só com a família mesmo, uma coisa mais sossegada sabe? Por mim nem faria nada, você que está insistindo.

 - Claro Bê! É o seu primeiro aniversário na nossa casa, não podemos deixar passar em branco.

 - É papai, e eu quero comer brigadeiro. – diz Amanda recebendo um grande beijo de Bernardo.

- Já que vocês duas fazem tanta questão assim, então pronto. Agora tenho que ir trabalhar. Está pronta Dinha?

 - Você que vai me levar na escola hoje papai?

 - Vou sim, não quer?

 - Quero sim, claro que quero! Vou pegar minha mochila e já venho. – diz a menininha saindo correndo.

Bernardo vê a filha correndo pela casa e ri fazendo um comentário para Larissa.

 - A cada dia ela parece mais com você.

 - Comigo? Ela é a sua cara. Só emprestei a minha barriga.

 - Não digo fisicamente, mas o jeito dela. Espoleta que nem você.  – diz rindo e Larissa faz uma careta.

 - Pronto papai! – diz Amanda trazendo em um carrinho uma mochila maior que ela – Tchau mamãe. – diz dando um beijo em Larissa  correndo para o carro, seguida por Bernardo.

Larissa os olha ao longe e sorri. Vai para o quarto da filha e começa a fazer uma arrumação básica.

Apesar de ser apenas uma criança, Amanda não era tão bagunceira. Era sim uma criança bem ativa, mas tinha uma organização que Larissa não sabia dizer de quem puxou.

Estava arrumando a cama da filha quando viu alguns sapatos embaixo da cama. Abaixou para pega-los, mas ao levantar sentiu uma forte tontura, que a fez sentar na cama.

 - Eu e essa mania de levantar rápido demais. – diz pra si mesma levando uma das mãos a cabeça. – Já vai passar.

No dia seguinte, Daniel se prepara para levar Alice ao trabalho, mas nota algo estranho. Ela continuava dormindo. Alice nunca foi de dormir tanto, nem em fins de semana.

 - Hei Alice? Não vai trabalhar hoje não?- diz a chamando.

 - Só mais cinco minutinhos amor, por favor... – diz cobrindo a cabeça com o edredom.

Ele estranha, mas a deixa dormir. Passado os cinco minutos, volta à chama - lá.

 - Já passaram cinco minutos, hora de levantar ou vai se atrasar.

 - Não Dan, por favor... Não me sinto bem hoje.

 - Como assim? O que está sentindo?

 - Meu estômago está embrulhado, to com vontade de vomitar...

Daniel coloca a mão na testa dela.

 - É... Você está um pouco quentinha mesmo. Vou ligar no seu serviço e dizer que não está bem.

Daniel vai até a sala e liga para o trabalho de Alice, dizendo que ela não está bem. Ao voltar não a encontra mais na cama, mas ouve sons vindos do banheiro. Vai até lá e encontra Alice ajoelhada em frente ao vaso sanitário.

 - Você está bem? – pergunta a ajudando a levantar.

 - Mais ou menos...

 - Toma um banho, vou te levar ao médico.

 - Não precisa Dan, deve ter sido algo que comi ontem e me fez mal. Amanhã já vou estar melhor.

 - Comi as mesmas coisas que você e não estou passando mal.

 - Almocei com uma colega, deve ter sido o tempero do lugar que não estou acostumada.

 - Pode até ser, mas ainda acho melhor irmos ao médico.

 - Já disse que não precisa Dan, vou melhorar. Agora posso dormir mais um pouco?

 - Claro. Vou estar na cozinha, qualquer coisa me chama. – diz dando um beijo na testa dela e saindo do quarto.

Alice não demora muito a dormir mais uma vez.

Durante todo o dia Daniel pára seu trabalho e vai ver como Alice está. Ela parece bem, mas dorme o dia todo.

No fim da tarde, após ter terminado seu trabalho, Daniel vai para a sala assistir um pouco de televisão. Ao chegar encontra Alice deitada no sofá.

 - Se sente melhor moranguinho? – diz sentando ao lado dela e colocando mais uma vez a mão em sua testa.

 - Um pouco. To com fome...

 - Com febre você não está mais. Vou fazer um chá pra você.

 - Chá? To com fome Dan!

 - Eu sei, mas como não sabemos o que te fez mal, melhor não exagerar. Vou trazer umas bolachas de água e sal também.

Daniel vai até a cozinha e volta com uma xícara de chá e um prato com algumas bolachas.

 - Não dá pra passar nem uma manteiguinha? – pergunta Alice com um olhar de cachorrinho sem dono.

 - Não senhora.

Ela faz uma careta, mas come assim mesmo.

 - Se você não ficar boa até o sábado não vamos ao aniversário do Bernardo.

 - Como assim? Eu disse que íamos.

 - Mas se você não melhorar não vamos. Como quer sair doente?

 - Não seja exagerado Dan, já disse que deve ter sido algo que comi, vai ver como amanhã estarei novinha em folha.

 - Vamos ver, vamos ver... – diz Daniel com um olhar repreensivo.

 - E ainda estou com fome! Essas bolachas secas e nada é a mesma coisa.

 - Vou ligar pra sua mãe e ver o que posso fazer pra você comer.

 - Nem pense nisso! Se você ligar pra minha mãe ela vai fazer o maior drama. Vai querer vir aqui e se bobear me internar!

 - E depois o exagerado aqui sou eu! – diz Daniel rindo – Tudo bem, não ligo pra ela, vou ver o que posso fazer pra você comer.

 - Arroz com batata cozida. Ela sempre fazia isso quando eu não estava bem da barriga.

 - Tem arroz pronto, só vou cozinhar umas batatas pra você. Mas se você não melhorar vou ligar pra ela.

Alice concorda com a cabeça e Daniel lhe dá um selinho antes de ir para a cozinha.

No dia seguinte Alice parecia melhor e foi trabalhar normalmente. A noite quando Daniel foi busca - lá no trabalho, perguntou como ela estava.

 - Estou bem, não se preocupe.

 - Não está mentindo pra mim só pra irmos ao aniversário do Bernardo não é? – diz com uma sobrancelha erguida.

 - Juro que não, estou bem mesmo. Mas vamos ao aniversário né?

 - Se você diz que está bem, então vamos sim.

Alice ficou aliviada, mas por dentro se sentia um pouco culpada. Pela primeira vez em tanto tempo havia mentido para Daniel. Vomitou algumas vezes durante o dia, mas não achou que valia a pena preocupar o marido com algo que ela considerava tão pequeno.

Enquanto ela se sentia culpada por ter mentido para Daniel, Larissa não conseguia esconder que algo de errado estava acontecendo com ela. Bernardo a conhecia bem.

 - Ainda está com tonturas?

 - Um pouco.

 - Acha isso normal Larissa?

 - Acho.

 - Ah acha é? – diz Bernardo cruzando os braços diante do peito.

 - Acho Bê. Fiz um pouco de esforço além da conta nesses últimos dias e sempre que faço isso fico um pouco tonta.

 - Você só está se sentindo tonta? Mais nada?

 - Como assim?

 - Não sente mais nada além de tonturas? Tipo enjôos e coisas do tipo?

 - Não sei Bê, acho que não. Por quê?

 - Nada não. Só pensei em uma coisa, mas deve ser invenção da minha cabeça. – diz desviando o olhar.

De inicio Larissa não entendeu, mas quase que em seguida olhou para Bernardo e leu em seus olhos o que ele quis dizer.

 - Você acha que eu...

 - Não sei Lari, ao menos não tenho certeza. Mas você sabe que pode ter acontecido.

 - Não Bê, acho que não... – diz pensativa.

 - Sua menstruação está regulada?

 - Está. Quer dizer, não veio pra mim ainda, mas está no prazo.

 - Deixa pra lá então, viajei. – diz Bernardo com uma expressão no rosto que Larissa não conseguia definir como sendo alivio ou decepção.

 - É, vamos esquecer isso mesmo. E aí, como se sente prestes a completar 23 anos?

 - Normal. A Amanda e você parecem muito mais empolgadas que eu. – brinca.

 - Claro, afinal é o homem da nossa vida que está prestes a ficar mais velho. – diz animada.

 - Pois é, mais um ano sendo vitima nas mãos de duas mulheres que se aproveitam do meu amor por elas. – diz brincando com a esposa e recebendo um beijo em seguida.

 - Sei que você gosta desse mimo todo. – diz Larissa rindo e enchendo o esposo de beijos.