"Aquele que diz uma mentira não calcula a pesada carga que põe em cima de si, pois terá de inventar uma infinidade delas para sustentar a primeira." - A.D.

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(...)

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Descemos as escadas de mãos dadas e fomos até a cozinha onde Mad e Dianna conversavam baixo. Pigarreei e rapidamente as duas nos olharam e sorriram fraco. Demi correu na direção da mãe e rapidamente a abraçou. Fiquei as olhando e senti saudade da minha mãe, depois da conversa que tive com Dianna eu senti uma necessidade de dizer aos meus pais o quanto eu os amo e o quanto eles são especiais pra mim.

Nos sentamos a mesa e começamos a jantar em silencio. A comida estava ótima e Demi finalmente comia, me deixando menos preocupado.

– Eu vou pra casa essa noite, tudo bem pra você? – perguntei pra Demi enquanto Dianna e Mad levavam os pratos pra pia. Ela fez um biquinho e eu acariciei seu rosto – Eu quero ver minha mãe princesa, amanha de manhã eu to ai pra te acompanhar. – sorri e a puxei envolvendo em meus braços.

– Posso ir com você... dormir na sua casa? – perguntou me encarando com aqueles olhos tristes. Assenti fraco e selei nossos lábios.

[...]

– Dorme bem. – dei um beijo na testa dela e a cobri. Ela fechou os olhos e puxou o cobertor se envolvendo. Sai do meu quarto e desci as escadas, sentei ao lado da minha mãe no sofá.

– Como você ta filho? – ela perguntou atenciosa me puxando fazendo eu deitar a cabeça em seu colo, começou a fazer um carinho em minha cabeça me fazendo fechar os olhos e suspirar.

– Ta sendo difícil... pras três. A Mad é mais forte, mas eu ouvi ela chorando sozinha no quarto. A mãe da Demi, Dianna, ainda amava o senhor Ricardo. Ela conversou comigo e falou dele de um jeito tão carinhoso, ela ainda ama ou amava ele. – suspirei – A Demi parece que... eu não sei o que fazer, eu tenho medo dela não se recuperar sabe, ficar nesse luto deprimente.

– Ainda ta muito recente filho, da um tempo pra ela. – sorri pra minha mãe que tinha um sorriso doce no rosto.

– Eu te amo sabia dona Pattie – ela sorriu abertamente e me deu um beijo na testa – Obrigado por tudo mãe, você é simplesmente a mulher mais maravilhosa do mundo pra mim. Eu te amo muito – eu já podia ver os olhos dela marejados, e aquele sorriso lindo e aberto que só ela sabia dar.

– Ei não chora não – me levantei um pouco e a abracei, ela retribuiu o abraço e fungou um pouco.

– Eu te amo filho, muito meu bebe – sorri e a beijei.

[...]

Senti Demi se mover na cama e abri os olhos a observando. Ela se remexia de um lado pro outro, os olhos apertados e uma expressão de angustia no rosto. Ela parecia estar tendo um pesadelo, rapidamente a peguei em meus braços.

– Me solta – ela se debatia e gritava baixinho, com a voz rouca – SOCORRO – a segurei firme em meus braços.

– Demi, amor calma. Ta tudo bem – ela parou de se debater e eu logo senti ela me abraçar forte. Acariciei seus cabelos e respirei fundo.

– Foi horrível – ela chorava desesperada. Deitei na cama e a abracei, fazendo ela deitar em meu peito.

Fiquei acariciando seus cabelos até pegar no sono de novo.

Abri os olhos devagar, com toda a preguiça possível. Demi dormia tranqüila agarrada ao meu corpo. Ontem eu não falei nada, mas ainda queria saber o que ela havia sonhado que tinha a deixado tão assustada. Me livrei de seus braços com cuidado e fui até o banheiro. Fiz minha higiene pessoal e desci, encontrei minha mãe tomando café na cozinha, lhe dei um beijo no rosto e enchi uma xícara com café pra mim.

– Filho, a mãe da Demetria ligou, falou que o enterro começa as dez. – olhei o relógio que marcava oito da manhã e assenti. Peguei um pouco de café pra Demi, junto com algumas torradas.

Quando entrei no quarto, ela estava sentada na cama, o cabelo um pouco bagunçado e o olhar perdido.

– Bom dia – falei me sentando ao seu lado na cama. Ela sorriu fraco, lhe entreguei a caneca e prato com as torradas.

– Obrigada – deixei que ela comesse e fui até meu closet, separei uma camisa social preta e uma calça jeans. Precisava parecer o menos moleque possível, afinal era um funeral.

– Vou tomar um banho – avisei e lhe dei um selinho antes de seguir até o banheiro.

Agora a coisa que mais me atormentava era o fato de não ter contado ainda pra Demi sobre o Kidrauhl. Aquilo vinha me perturbando desde a ameaça de Bryana. Alias, eu sabia que quando voltássemos pra escola, Bryana faria questão de contar e ferrar de vez com tudo.

Eu tenho que contar.

Ensaiei mentalmente enquanto deixava a água cair sobre minha cabeça. Eu contaria depois do velório, ela iria entender, eu não fiz por mal. Eu não contei de primeira e acabou que tudo se complicou.

Acho que eu fiquei tempo demais no chuveiro, quando fui perceber minha mão já estava enrugada, como se eu tivesse ficado horas dentro da piscina. Ri fraco com meu pensamento de que um dia eu ficarei assim, com a pele enrugada, claro que ao lado dela, a minha Demetria.

Enrolei uma toalha na cintura e sai do banheiro. Demi estava sentada na cama, com meu notebook no colo, ela tinha lagrima nos olhos quando me olhou. Arregalei os olhos e corri até ela.

Ela descobriu.

Ela rapidamente se levantou da cama, fugindo de mim. Ela já chorava e soluçava, eu estava sem reação.

Havia esquecido de apagar o login, e sempre que meu computador era ligado o chat entrava automaticamente. Ela foi esperta o suficiente também pra ir até meus arquivos e buscar todas as conversas. Todas as nossas conversas, entre Venita e Kidrauhl.

– Você... me enganou – levantei meneando a cabeça e fui até ela, a mesma colocou a mão em meu peito, impedindo que eu chegasse perto.

– Você não entende, eu ia te contar. – ela deixou que mais lagrimas caíssem, o rosto angustiado.

– Você mentiu... por quanto tempo? – encarei seus olhos, agora vermelhos. Senti um nó se formar em minha garganta. Abaixei a cabeça e ouvi ela soluçar.

– Desde a volta da Madison – sussurrei e ela se afastou, correndo pro banheiro e se trancando la.

Fiquei sem saber o que fazer, corri pro meu closet e vesti a roupa rapidamente.

– Demi... meu amor... por favor me perdoa. Eu ia te contar princesa, é só que tudo ficou tão complicado, eu fiquei com medo de te dizer e você ficar com raiva. – falava encostado na porta do banheiro, esperando que ela me ouvisse – Quando eu fiz a conta, eu só queria curtir sabe, ter alguém que não me conhecesse pra conversar, poder dizer tudo sem ser julgado ou zuado. Quando você voltou... toda diferente... tão linda... mais linda do que já era. Eu fiquei louco, mas mesmo assim eu sentia algo pela Venita... minha melhor amiga. Eu sorria bobo sempre que via uma mensagem sua – ri fraco e encostei a testa na porta – Lembra quando eu te levei pra tomar café? Eu te busquei em casa e a Madison tava la. Quando você me contou quem era a Madison eu comecei a suspeitar que podia ser você, que a garota maravilhosa que me ajudava e conversava comigo, poderia ser a garota linda e perfeita que eu sempre admirei. Mas eu deixei aquilo pra la, até o dia que eu troquei mensagens com você na escola, minhas suspeitas só aumentaram quando você mandou aquela mensagem falando que tinha encontrado alguém... você foi tão honesta comigo e eu... me perdoa, por favor! – fiquei esperando ouvir algum barulho, alguma palavra que fosse em resposta. Mas nada veio.

Ouvi o barulho do chuveiro e me distanciei da porta, desci e encontrei minha mãe assistindo televisão.

– Ta tudo bem? – ela perguntou e eu assenti fraco tentando não transparecer minha angustia.