Fiquei atônita com a ação de Scorpius. Eu conto a ele meus mais sórdidos e segredos e ele me beija! Sua mão esquerda estava pousada em meu rosto enquanto a direita segurava minha cintura. Já as minhas, estas estavam soltas ao lado do meu corpo. Minhas lágrimas cessaram, estava muito ocupada tentando entender a situação.

Não que nunca tivesse me sentido atraída por Scorpius Malfoy, mas dada as circunstâncias, não poderia ter sido um pior momento para um beijo. Especialmente pela gigantesca semelhança dele e de sua mãe.

Fiz a coisa mais sensata a ser feita (talvez não tão sensata, mas a mais apropriada para o momento): apoiei minhas mãos em seus ombros e o afastei, ligeiramente corada.

– Desculpa – Ele pediu rapidamente, também com o rosto avermelhado – Eu... Eu não-

– Tudo bem Scorp – Me apressei a dizer e sequei meu rosto ainda úmido – Acho que é só... Matt achou que era melhor eu te contar – Dei os ombros e me virei em direção a porta, parei para observá-lo – Me acompanha de volta às Masmorras?

Ele murmurou algumas afirmações enquanto se endireitava e tentava – em vão – recuperar sua pose de sonserino. Andamos em um silêncio constrangedor até o Salão Comunal. Mesmo que o beijo não tivesse sido aprofudado por nenhum dos lados, soube que havia um certo gosto em minha boca. Gosto de menta. Tal gosto que condizia com o cheiro que perfurava as minhas narinas, vindo do rapaz ao meu lado. Para meu maior constrangimento, todos notaram nossa ausência, então fomos recebidos com vários pares de olhares e sorrisos enviesados.

Senti minhas bochechas queimarem e caminhei silenciosamente até Matt. Ao sentar em seu lado no sofá, pude ver Scorpius se sentar no chão próximo a meu primo, também com as bochechas avermelhadas.

– Aonde estavam esse tempo todo? – Daniel perguntou distraído.

– De todos, achei que você seria o ultimo a perceber nossa ausência, anda tão distraído ultimamente, Danny – Comentei, colocando o máximo de veneno possível em minha voz.

Estava certa de que possuía os olhos vermelhos e um pouco inchados de chorar, então faria tudo para desviar a atenção de mim, mesmo que isso significasse colocar a corda no pescoço de um de meus melhor amigos.

– Ok... Senti uma ameaça nessa frase, o que ele fez? – Os olhos de Annabelle brilharam com a probabilidade de ter algo contra o irmão.

– Falando nisso Annabelle – Matt começou ao meu lado. Algo me dizia que ele queria livrar o irmão mais novo de uma cena constrangedora, mas eu não estava certa do porquê – E James?

– O que tem James? – A morena se remexeu desconfortável, com as bochechas um pouco coradas.

Permiti-me relaxar um pouco, evitando olhar para Scorpius. Sabia que fora um pouco rude com ele, mas não podia corresponder a um beijo quando mal conseguia corresponder aos meus próprios pensamentos.

– É isso que todos querem saber! – Milla revirou os olhos – Vocês estão se pegando ou você foi só mais uma?

– Milla! – Scarlett repreendeu, mas algo em seu olhar deixou claro que todos pensavam exatamente como a outra falara.

Albus sorriu de lado, me deixando confusa. Ele era sempre o primeiro a ir contra seu irmão. Mas havia algo em seu olhar. Algo que ia além de desejo de superioridade-Potter (eu havia inventado esse termo ao perceber a constate guerra dos dois irmãos para sobrepor um a importância do outro). O brilho em seu olhar era mágoa. E não qualquer mágoa, aquele tipo de mágoa que só é encontrada no olhar de um jovem apaixonado.

– Ele veio me procurar hoje de manhã – Annabelle confessou envergonhada – Mas eu... – Sua voz falhou.

– Annie? – Skie chamou, calma – Não me diz que você dispensou o cara pelo qual você é apaixonada desde, sei lá, sempre.

– Ok – A morena deu os ombros – Eu não digo.

– Você é louca? – Milla arregalou os olhos – Claro que o beijo do James não é lá grande coisa, mas até uma semana atrás você faria de tudo por ele!

– Como você sabe que o beijo do meu irmão não é grande coisa? – Albus perguntou subitamente.

Milla corou sob o olhar de todos, com uma expressão de “ops, falei de mais”.

Por mais que eu me esforçasse para continuar na conversa e fizesse meu cérebro trabalhar a mil por hora para criar algum comentário sarcástico e provocativo que se encaixasse no contexto, não consegui acompanha-los. Meus pensamentos fluíam rápidos demais – ou lentos demais – e voltavam alternadamente em pequenos momentos da minha vida, uma cela com uma mulher de rosto bondoso, um quarto com chocolate quente, um beijo...

Quando acordei de meus devaneios, já está na hora da janta e Albus não está mais entre a gente, assim como Matt, que desaparecera do sofá ao meu lado. Annabelle bufava e murmurava alguns “elogios” que pareciam ser proferidos aos dois, os quais não condiziam nada com seu olhar de preocupação.

Marcus ainda estava lá, com uma carranca usual. Mas ele não aparentava estar com raiva, assim como Annabelle, ele estava tenso. E, no caso de Marcus Bostick, estar tenso significa estar preocupado.

O ponto é: Marcus Bostick nunca ficava preocupado.

Ignorei minha curiosidade por hora, sendo preenchida pela fome. Entretanto, não poderia cogitar a possibilidade de andar por aí sozinha novamente, então propus aos meus amigos que fossemos jantar.

Annabelle foi a primeira a aceitar, claramente louca por um motivo para sair das Masmorras. Scarlet e Milla deram os ombros e se levantaram, seguidas por Daniel e Aiden. Scorpius e Karen conversavam sozinhos, mas também nos acompanharam.

Isso pareceu despertar Marcus de seu estranho devaneio, ele se levantou num salto e puxou Karen, sussurrando algo em seu ouvido que fez a loira estreitar os olhos, confusa, mas assentiu e se afastou de nós com ele.

Observei-os curiosas, até Aiden me puxar pelo braço para acompanha-los, sussurrando algo como “eles precisam ficar sozinhos”.

Meu olhar inconscientemente encontrou o de Scorpius, que desviou rapidamente. Senti meu estomago se revirar e minha boca secar, molhei os lábios, tentando melhorar a situação, só então percebi que o gosto de menta ainda estava em minha boca.