Estávamos cruzando a fronteira da Virginia para o Kentucky,as moitas arvores deixavam a paisagem linda,os cervos nas belas campinas e muitos pássaros sobrevoando os vales verdes tornavam as cidades do interior do Kentucky muito mais amigáveis do que a grande metrópole de Richmont.

-Que lugar agradável!- Percy observava as belas paisagens do Kentucky enquanto dirigia- Muito diferente de Nova Iorque.

-E Richmont- completei- Mas Frankfort também é uma cidade grande.

-Mas é mais pacata e simples,o único verde em Nova Iorque é o Central Park.

Meia hora depois estávamos na capital do Kentucky,Frankfort.

Frankfort não era tão pacata como Percy havia dito.Ela era grande e movimentada como qualquer outra capital,mas a ‘europa’ que Sofy havia dito era bem visível.Os prédios tinham monumentos na frente e as construções usavam paredes de tijolos,a calçada da fachada era de granito escuro e polido.Janelas arredondadas e rústicas com grades que trançavam desenhos tribais.As portas de madeira branca levavam os pendentes de sinos de vento e maçanetas de ferro que davam voltas na ponta diziam “Não quer entrar e tomar uma xícara de café?”

-Acho que você está enganado.Isso aqui se parece muito com uma cidade grande.-disse eu,maravilhada com tanta beleza

-Eu não disse que a cidade era pequena,só disse que era diferente de Nova Iorque.

Peguei o mapa da casa de Sofy e desamassei-o

-Pare e pergunte a alguém onde fica o bairro Vile Alfredoor.

-Vile Alfredoor?Isso é italiano?

-Deve ser.

Paramos um pedestre que atravessava de uma calçada para a outra e pedimos uma informação.

-Desculpe- Percy chamou o pedestre- Sabe me dizer onde fica este bairro?-Percy mostrou o mapa ao senhor.

-Huuum...O senhor mordeu os lábios- É um bairro da classe alta da cidade,fica na parte sul.Siga a avenida até o final e vire a primeira a direita quando encontrar uma loja de móveis luxuosa.

-Esse bairro é da parte nobre?

-Sim senhor.

Percy me olhou com uma careta.

-Obrigada pela informação,senhor.

-Disponha

Continuamos,e assim como o senhor nos disse,descemos e avenida principal em direção ao bairro nobre de Frankfort.

-Me sinto traído.-disse Percy de repente.

-traído?

-Sofy não nos contou que era rica.

-Deuses!Que tipo de pessoa diz “Oi,Eu sou rica!”..vamos Percy,ela só não quis parecer cheia de si e arrogante.

-Ela podia ter avisado o que íamos encontrar.

-Não dissemos que íamos visitar seu pai.

-Tudo bem,mas não vou ficar a vontade com tanto luxo.

O bairro era cheio de ruas largas e espaçosas,onde carros de luxo poderiam trafegar a vontade um ao lado do outro sem o menor problema.

As casas eram grandes e muito bonitas,algumas simples e outras parecidas com palacetes.Mas mesmo as mais simples pareciam conter ouro no jardins.

-O que será que o pai dela faz?-perguntou Percy,procurando pelo número da casa

-Vamos descobrir.

Peguei o papel com o endereço da casa de Sofy e chequei o número da casa.Procurei por todos os lados da rua até encontrar uma pequena casa amarela com anões no jardim.

-Esta aqui- apontei para a casa

-Achei que seria maior- Percy parou ao lado da casa e nós descemos.

-Não conhecemos por dentro,mas era de se imaginar que fosse um palácio.

Tocamos a campainha do interfone,e uma voz masculina nos atendeu

-Pois não?

-Senhor Jean MeggRyan?-perguntei

-Não,é o filho dele...Quem gostaria?

-Viemos falar sobre Sofy e Victoria- interrompeu Percy

O garoto demorou para responder.

-Pai!-gritou ele do outro lado da linha- Tem dois jovens querendo falar com o senhor sobre Sofy e Victoria.

Ouvimos uma agitação no outro lado e a porta se abriu.

-Entrem- disse o garoto eufórico.

Entramos na sala de visitas,onde inúmeros vasos de flores estavam espalhados pela vasta sala Com dois confortáveis sofás de jardim azul e branco.A mesa no centro continha um bule e uma xícara,mas o que chamou a atenção no resto da casa fora o tamanho.Por fora você diria que era uma das casas mais simples do bairro de luxo,mas ao olhar seu interior você pode notar que os moradores são bem de vida.

Um garoto auto e loiro desceu a enorme escada aos pulos e tropeços.Ele parou em nossa frente e estendeu a mão,respirando ofegante.

-Meu nome é Brandow Jean,muito prazer...vocês são?

-Sou Annabeth Chase e este é Percy Jackson.-Apertamos a mão de Brandow,educados.

-Vocês disseram algo sobre minhas irmãs...conhecem elas?

-Conhecemos as duas- respondeu Percy- Perdão,mas precisamos falar com seu pai primeiro.Ele está?

Brandow coçou a cabeça,confuso.Então ele disse:

-Tudo bem...queiram me seguir,ele aguarda vocês na Estufa.

Andamos alguns metros na companhia de Brandow até pararmos de frente para uma bela porta de vidro,onde dava para se ver a grande piscina de forma esquisita e a estufa no fundo da casa.

-Meu pai é paisagista,ele adora tudo o que envolve a natureza.Creio que poderão notar quando estiverem na presença dele.

Atravessamos o jardim,e com certeza o pai de Sofy e Victoria adorava tudo que fosse verde.

Haviam balanços de madeira acolchoados entre o amontoado de plantas ornamentais e variadas.As borboletas pousavam de flor em flor no canteiro de rosas e margaridas.

-Deve ser maravilhoso viver no meio de tanto verde- disse eu,encantada com tanta beleza

Brandow me olhou com curiosidade- Quando não se tem que colocar adubo todos os dias e recolher as folhas secas,é.Mas chega uma hora que fica cansativo.

O garoto abriu as duas portas da estufa e apontou para uma enorme fonte no centro.

-Depois da fonte vocês irão encontrar uma mesa  com suco e bolinhos,sintam se em casa.

Agradecemos e contornamos a fonte,como Brandow dissera,havia uma mesa redonda de vidro que nos servia bolinhos e uma jarra de suco de laranja,e uma poltrona e um sofá de dois lugares.

Nos sentamos no sofá e esperamos que o senhor Jean MeggRyan aparecesse.

O lugar era encantador,as plantas coloridas deixavam o lugar muito mais agradável de se respirar.O barulho da água corrente que vinha da fonte relaxava qualquer vestígio de estresse que houvesse no lugar,a tranquilidade de lá era simplesmente maravilhosa.

-Achei que ele estivesse nos esperando aqui- disse Percy

-E estou.

Um homem louro e bem vestido se aproximou de nós carregando um pequeno vaso de flores amarelas,ele vestia uma luva de jardinagem e adubada a flor com delicadeza.

-Perdão por deixa-los esperando alguns instantes,sou Michael Jean MegRyan,pai das garotas que vocês disseram ser o assunto da visita.E vocês são?

-Somos Annabeth Chase e Percy Jackson,senhor.

-Os dois?- Michael riu- estou brincando.É um prazer tê-los em minha casa.

-O prazer é nosso.

-Vieram falar de minhas desaparecidas filhas.Creio que tenham boas noticias.

-De uma certa forma,senhor.-disse Percy- Perdão,mas o senhor sabe da mãe das garotas,certo?

Nós já havíamos ensaiado no carro o que diríamos ao senhor Jean quando nos encontrássemos.Antes que colocar tudo para fora,tínhamos que nos certificar que ele sabia da existência dos deuses e que sabia que as garotas eram semideusas.

-Se está falando de Deméter,a deusa da agricultura,minha resposta será sim.

Eu e Percy nos entreolhamos,aliviados.

-Então o senhor sabe que Victoria e Sofy são semideusas- supus.

-Não sei muito sobre o assunto,mas posso imaginar que signifique metade deusas,correto?

Michael se posicionou de uma forma nervosa na poltrona,como se o assunto o ferisse.

-Nós também somos semideuses- interrompeu Percy- Eu sou filho de Poseidon e ela é filha de Atena.E assim como suas filhas,também somos filhos de mortais com imortais.

-O senhor deve se perguntar todos os dias o que houve com suas filhas,não é mesmo?- disse eu

-A todo instante.Os policiais dizem que elas foram sequestradas,e a essa altura estejam mortas.-Michael colocou o vaso de flores no chão ao lado de sua poltrona e tirou as luvas de jardinagem- Mas tenho certeza que vocês vieram trazer boas noticias.

A tranquilidade do lugar não era a mesma,agora o clima era de muita tensão.Mesmo que houvesse pepinos nos meus olhos e um par de massagistas eu não ficaria tranquila.

-Como eu disse...- Percy assumiu a mesma posição que o senhor Jean,instável- de uma certa forma.Nós conhecemos Sofy e Victoria durante um jogo que participamos.Esse jogo é totalmente feito pelos deuses,e essa foi a verdadeira causa do sumiço das garotas.Elas foram raptadas para participar dos jogos...mas só se pode sair de lá se você encontrar a saída.Infelizmente elas não conseguiram no ano em que foram raptadas,mas nós conseguimos ajuda-las de alguma forma.Mas infelizmente...

Percy não continuou,o senhor Jean o fitava intensamente,esperando pelo pior ou por boas noticias.

-Sofy está bem- disse eu- Ela está no acampamento meio sangue.Um lugar onde pessoas como nós recebem treinamento para se defender de monstros que nos ameaçam diariamente.

-E quanto a Victoria?Ela não está com a Irmã?

Era quase possível notar que aquele sábio homem já percebera o que quis dizer.Mas ele não conseguia assumir para si mesmo.

Abaixei a cabeça,pensando no que dizer,mas talvez essa fosse a melhor reação.

-Victoria não resistiu.Tentamos ajuda-la mas infelizmente ela acabou falecendo.Por sorte conseguimos resgatar Sofy e leva-la ao acampamento.

O senhor Jean abaixou a cabeça igualmente a mim e disse:

-Tive três anos para me preparar para más noticias.Mas quando se tem a certeza,dói ainda mais.

-Nós sentimos muito.

-Serei eternamente grato por terem salvo minha filha Sofy e terem tido o trabalho de vir me avisar.

-Foi a pedido dela,senhor- falei,levantando a cabeça para fita-lo- Assim que ela estiver totalmente recuperada ela voltará para casa.

-Mas por enquanto ela tem que permanecer no Acampamento- interrompeu Percy- É fundamental para sua recuperação.

-Ela está bem?- Perguntou Michael,preocupado

-Perfeitamente- respondi- Mas ainda está em observação.Ela pode ter tido algum tipo de trauma e nos vamos ficar de olho nela.

-Me mantenham informado- pediu o senhor Jean- Onde fica esse tal acampamento?

-Em Long Sland,Nova Iorque- respondeu Percy.

-Não posso visita-la?

-Não é possível,senhor,desculpe.Mas apenas meio sangues e imortais podem atravessar a barreira.É proibido para qualquer outra pessoa.

Michael Jean MeggRyan nos observou com cautela,então disse:

-Sirvam-se,os bolinhos estão uma delícia!

Aceitamos.Não faríamos desfeita com um senhor tão atencioso e que vinha passando por momentos tão difíceis.

-Obrigada-agradeci

Peguei um dos bolinhos e dei a primeira mordida.Desejei que houvesse algum cachorro por perto para eu poder fingir um acidente e derrubar o bolinho natural sem fermento no chão.A intenção fora ótima,mas o gosto estava longe disso.

-Esses bolinhos são feitos de fibras naturais e massa de centeio.Nele não vai fermento,ele cresce por causa dos grãos integrais.-comentou o senhor Jean enquanto nos servia de suco.

Pelo menos este estava bom.Tomei o suco com pequenas goladas para que ele não notasse minha falta de entusiasmo pelo bolinho.

-Estão ótimos- disse Percy,bebendo seu suco com desespero

-Vocês vieram de Nova Iorque até o Kentucky?

-Sim,viemos de carro- respondi,desesperada por um novo assunto que mantivesse minha boca longe do bolinho

-Minha nossa!Perdão pelo trabalho que tiveram...

-Não se preocupe- disse Percy- temos que ir até a Califórnia de qualquer forma.

O senhor Jean assentiu

-Se nos der sua licença- disse eu,deixando o bolinho intacto sobre a mesa e me levantando- temos que ir,sinto muito por qualquer coisa.Deixaremos o senhor informado.

O senhor Jean se levantou também,seguido por Percy.

-Agradeço o trabalho que tiveram mais uma vez.Vou leva-los até a porta.

Seguimos o senhor Michael Jean pelo jardim colorido da casa dos Jean MeggRyan e voltamos ao interior da casa.Não encontramos Brandow pelo caminho,o que foi um alivio.O senhor Jean nos guiou até a porta da frente e a abriu.

-Digam a Sofy que esperaremos ansiosamente por ela.

-Diremos.

Nos despedimos do senhor Michael e voltamos para o carro.Lá não dissemos nada,até deixarmos o bairro.

-Achei que surtaria- comentou Percy- Mas ele estava tão preparado para o pior...

-Ele teve anos para se preparar para receber a noticia.

-Agora vamos pensar em ir para a Califórnia e voltar logo ao acampamento.Estou doido para ver a cara dela quando contarmos que estivemos com o pai dela.

-Ela vai querer voltar na hora.