Clarisse:

Se já não me bastasse estar num jogo no qual nem ao menos fui avisada que ia participar e ter que aturar meu irmão Fobos -que graças aos deuses seu gêmeo não compareceu -já é difícil,imagine só entrar num outro jogo dentro de um jogo(que fui obrigada a participar)que não mede só forças mas atenção e um psicológico forte.E esse era meu ponto fraco.O psicológico.

Em fim,nunca tive um lugar específico onde tive estrema tristeza um medo,mas se era para pensar em um lugar extremamente ruim esse lugar era minha casa.

Não quero que fiquem com pena de mim,isso jamás!Pelo contrário... mas se querem saber a verdade,o porque de tanto querer deixar meu pai contente em me ter como filha, é por minha mãe.Minha mãe é uma mulher forte e bela,mas não tem muito tempo para seus filhos... minha irmã caçula deixou minha mãe meio sem tempo para outras atividades.Como ela pouco tinha tempo para "viver" não teve escolha quando eu disse que queria morar no acampamento meio-sangue.Ela não insistiu.Sabia que lá seria o lugar mais adequado para meu treinamento e seria mais seguro,já que nesse ring minha mãe não luta.

Rings,os rings eram a vida de minha mãe,uma excelente lutadora de box que teve que se ausentar alguns anos para cuidar da filha que arrumara com um outro lutador -ela teve uma grande surpresa quando ele arrumou suas coisas e disse "Meu nome é Ares e sou o deus da guerra".De início ela ficou sem saber,mas ele voltou para se despedir de mim e explicar a minha mãe o porque de estar partindo.

Ares nunca morou comigo,na verdade só por dois dias,mas disse que eu seria grande,a melhor de todas,caso contrário eu receberia nas costas as consequências.

Depois que Ares foi embora na maior arrogância,minha mãe passou a cuidar de mim como se fosse uma obrigação,não algo que ela gostasse de fazer.Ela dizia que me amava,mas eu via em seus que ela sentia falta dos treinamentos e lutas.Então logo cedo tive que enfrentar meus problemas sem a ajuda de minha mãe,que dizia que os monstros que eu matava todos os dias eram consequências de ter um pai olimpiano e que essa jornada eu caminharia sozinha- Ok -Eu não a culpava,ela fora enganada por Ares e tudo o que ele lhe deu foi um fardo chamado Clarisse que ela teria que levar sozinha.

Eu estudava numa escola pública de minha cidade,Washington,o ensino era de qualidade e rígido,como de costume,todos tentavam me ensinar da melhor maneira possível,mas eu não conseguia assimilar tudo da mesma maneira que os outros alunos.Isso me enfurecia e eu descontava minha fúria e tristeza nos outros.Assim eu fui expulsa de várias escolas de Washington até eu encontrar Léptus.-um sátiro que vinha me vigiando a tempos.-Ele de alguma maneira sabia tudo sobre minha vida em casa tanto como na escola.Uma vez estava "pedindo" o dinheiro do lanche de alguns nerds no recreio de minha nova escola quando esse sujeito me abordou.

"Ei,pare com isso e me dê um minuto de sua atenção."disse ele educadamente.Me lembro como se fosse ontem.

Eu já ia virar-lhe uma bufetada na cara quando ele parou minha mão no meio do caminho e disse:

"Sei muito sobre você Clarisse La Rue..."

Fiquei em choque,nunca nem havia visto esse cara de aparência desengonçada,cabelos com dreds pretos com folhas entre eles,uma calça bufante laranja-vivo e ainda por cima mancava.Quis muito lhe dar um liçãozinha e ensinar-lhe a não entrometer-se enquanto eu aplicava uma surra em uns moleques idiotas de minha escola.Mas a única coisa que fiz foi:

"Como-como sabe m-meu nome?"gaguejei.

Então ele me levou para um beco perto da escola e me contou sobre o acampamento.Disse que a anos vinha me vigiando e finalmente recebera ordens para me levar.

Não acreditei no que aquele maluco dissera,para mim ele estava sob efeito de alguma droga alucinante.

Mas então naquela tarde aconteceu uma coisa....

****

Acordei,depois de cair uns cem metros para baixo,num túnel escuro e gélido.Eu estava não chão da minha antiga sala de estar,minha mãe batia num saco de pancadas num canto da sala perto da janela.

Eu odiava a decoração,era de péssimo gosto.Só de lembrar me dá enjoo,mas ver isso pessoalmente agora é muito pior.

O relógio ao lado da porta da cozinha indicava cinco horas em ponto,na tv o notíciario da tarde passavam as mesmas coisas todos os dias,não pode ocorrer nada de grave que já é transmitido a semana toda e mais um pouco,até parece que não acontece mais nada no mundo,apenas o que eles querem transmitir.Minha mãe soltava uns gemidos altos "hum!" "Poff","argh!" enquanto batia no saco de pancadas,eu cansava da dizer para ela fazer menos barulho enquanto eu assistia The Wallking dead.

Já eram cinco e quinze quando a porta se abriu.Eu entrei pela porta e joguei minha mochila rasgada e suja na poltrona,corri para a cozinha e abri a geladeira faminta.Então atravessei a sala,passei por mim mesma -ou pelo menos a minha imagem -como se eu fosse insólita.Aquela sensação foi apavorante...mas eu me lembro bem desse dia.Foi o dia que eu me mudei para o acampamento.

Abri a lata de refrigerante- Pepsi,minha predileta. -e troquei de canal,já ia começar meu programa.

Me sentei ao meu lado no sofá.

–Não me lembro de culpar tanto espaço.-comentei para mim mesma,já que Clarisse 1 não podia me ouvir nem me ver,nem minha ocupada mãe.

"PLIN!!" o som da campainha tocou, "PLIN", duas vezes...

"Droga,quem será o sortudo que vai levar um murro na cara hoje?" murmurei,colocando a lata de Pepsi no criado mudo ao lado do sofá.

Clarisse 1 abriu a porta,olhou para minha mãe e disse:

"Pediu pizza?"

minha mãe respondeu,sem parar o que estava fazendo:

"Sim,o dinheiro está em baixo do tapete"

Clarisse 1 olhou para onde estava pisando,deu um passo para o lado,ergueu o tapete e pegou o dinheiro.

"Obrigado" disse o entregador.

"Não há de quê" respondeu Clarisse 1

"Clarisse,já não lhe disse que quem tem que agradecer é você!?" minha mãe finalmente parara de treinar para tomar um gole de água em sua garrafa.

"Sim,mas aquele cara agradeceu antes...não pude fazer desfeita"

"sei..." mamãe me lançou um olhar acusador e voltou a treinar.

Clarisse 1 olhou para a lata de Pepsi e disse:

"onde estávamos?ah sim..." 'Ela' pegou sua latinha e voltou para o sofá e se sentou bem em cima de mim.

–Buf! como você pesa Clarisse -eu não estava sentindo nada,nem estava lá de verdade...isso foi a tanto tempo...mas eu não perderia a oportunidade de fazer piada comigo mesma,isso seria inédito!

Clarisse 1 voltou a atenção para a tv, que agora começara seu programa preferido,o The Wallking Dead.

Passara-se uns longos e entediantes minutos,eu ainda gostava de TWD mas já tinha visto esse episódio mais de mil vezes.Pude até repetir as falas antes de serem ditas pelos personagens.

Minha mãe parou de treinar e passou pela sala.

"Não vai querer pizza?"

"Já tinha até me esquecido" "pode pegar para mim?"

Vendo desse ponto eu e minha mãe tínhamos uma relação boa... isso quando não estávamos brigando.

Minha mãe foi até a cozinha,e então a parte que eu mais temia começou.

Ouvi uns barulhos de pratos caindo,copos e talheres também foram ao chão,logo depois um estrondo.

Eu e Clarisse 1 levantamos num pulo só e corremos até a cozinha.Lá encontramos minha mãe caída no chão apagada.Sobre a mesa uma criatura surpreendentemente estranha e pavorosa.Estremeci como nunca antes na vida,eu nunca tinha sentido pavor igual.

–Megera.-disse eu entre os dentes.Megera era o nome da fúria que um dia quase matara minha mãe.

"Olá,cheguei a tempo para o jantar?-Megera gargalhou alto e apontou para minha mãe desacordada no chão da cozinha."Sabe por quê estou aqui?" continuou ela.

Pude ver os pelos da nuca de Clarisse 1 levantarem arrepiados.

"N-não,o-o que é você?"

Megera bufou."Sou a fúria que persegue a infidelidade,rancor,inveja,cobiça e ciúme.Sua mãe tem tanto rancor no coração que não consegue viver com isso..." "mas não vim atrás dela...vim atrás - A fúria apontou seu dedo indicador longo e torcido para Clarisse 1 - de você.

Estremeci também,como se tivesse voltado no tempo e sentido tudo de novo.

A fúria saltou sobre "mim",antes que ela conseguisse "me" alcançar agarrei uma das facas do faqueiro de minha mãe e avancei contra a fúria.

Com suas garras grandes e afiadas, ela me desferiu um golpe certeiro que me deixou com um fino arranhão na bochecha.Ele sangrava e ardia,mas eu tinha mais preocupações do que um arranhão no rosto.

Enquanto Clarisse 1 e Megera lutavam,eu observava minha mãe.Uma mulher tão forte e independente,e agora parecia mais vulnerável do que nunca.

Minha mãe...

–Vai deixar sua mãe ai?!No meio da briga?-Gritei para o nada,ninguém podia me ouvir,mas mesmo assim insisti.

"Puxei" o ombro de Clarisse 1,mas a atravessei e caí de joelhos no chão.

–Sua mãe,idiota!Tire sua mãe daqui!

Corri até minha pobre mãe desacordada no chão frio da cozinha,cheia de pratos,copos quebrados e talheres em volta.

Fiquei de quatro para checar se minha mãe estava respirando- Ok,ela ainda respira -certifiquei-me -Coloquei a mão sobre o local onde devia estar seu coração- Ainda bate e parece bem.

Notei no peito de minha mãe um colar,um colar que eu nunca nem se quer prestara atenção.Um colar com uma pequena pedra vermelha cintilante.

–O rubi!-exclamei.

O som de vidro se quebrando e gritos atrás de mim me fez virar e ver o que acontecia.Clarisse 1 fora jogada conta a janela e sangrava acima da sobrancelha.

Eu já sabia como essa história iria terminar,então não dei muita importância.

Quando voltei para o colar de minha mãe tive vontade de quebrar tudo e sair gritando de raiva.O colar tinha sumido.

Sobre a barriga de minha mãe estava um bilhete amassado,com uma caligrafia garranchosa e desdenhosa.Nele dizia:

MAIS ATENÇÃO!

PS.:ESTOU DE OLHO EM VOCÊ.SEJA ESPERTA.

–ARES.

–AAAAAAAAAAAAAAH!-gritei.-Maldição!

Clarisse 1 caiu ao meu lado,também inconsciente.