Diário De Uma Retardada escrita por Simjangeum


Capítulo 33
Não roube um beijo meu, ouça meu problema


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui de novo o/
Estamos perto do final já... os últimos capítulos vão ficar maiores e mais cheio de "ação" do que blah blah desnecessário. Um enorme obrigado para a Miss Manson pela recomendação, muito obrigado sua linda! Boa leitura pra vcs!
P.S: a leitura dessa capítulo requer uma dose de tranquilizantes ao final (se persistir os sintomas, o médico deverá ser consultado).



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21/01 - Segunda-Feira

Hoje, no começo da aula, Peter veio falar comigo. Eu estava tomando um sorvete com Lizzie, perto do portão de entrada, quando ele apareceu.

─ Posso falar com você? ─ perguntou ele, evitando olhar para Lizzie.

Lizzie revirou os olhos e resmungou que iria procurar por Freed e que depois a gente conversava. Depois que ela saiu, Peter chegou um pouco mais perto.

─ Eu só queria saber que horas eu posso te buscar na sexta, pra gente ir na festa ─ explicou.

─ Por que não falou isso na frente da Lizzie? ─ perguntei desconfiada.

─ Eu, hm, não gosto muito dela ─ comentou, corando ─ Ah, então...?

Fiquei muito desconfiada pelo fato de Peter não gostar de Lizzie, afinal, todo mundo gosta dela, mas resolvi não perguntar nada.

─ Passa lá em casa as sete ─ respondi, dando um sorriso ─ O motorista da Lizzie vai levar ela, o Freed, Val, George, e nós dois. Isso, é claro, se não tiver problema pra você.

Peter ficou branco como papel, deu uma tossida, pigarreou e deu um sorriso amarelo.

─ Haha, é claro, vamos sim ─ respondeu, dando um beijo rápido no meu rosto ─ Até depois, então.

Olhei-o meio desconfiada, terminei meu sorvete e fui pra aula.

* * *

Pra variar, ou não, a aula foi chata e tediosa. Não aconteceu nada de legal... até bater o sinal para a saída.

Estava saindo da sala quando encontrei Bianca e Rony conversando ali perto. Ela parecia furiosa com ele e ele estava um tanto sério. Tentei sair sem nenhum dos dois me verem, mas não consegui.

─ Aléxia! ─ chamou Bina.

Vire-me, um tanto nervosa, e fui até eles.

─ Você pode me esperar lá no portão para irmos para minha casa? A gente pode ver um filme, hm? ─ sugeriu ela, tentando mascarar seu tom arrogante. Algo me dizia que estava brigando com Rony ─ Só vou terminar aqui com o Stark e dar uma palavrinha com o diretor e já te encontro lá.

─ Tudo bem ─ murmurei em resposta.

Fui até o portão, perdida em pensamentos. Por que os dois estariam brigando? Seria por minha causa? Bianca contou pra Rony que ela contou pra mim que ele gostava de mim?

─ Hey, Antonelle! ─ chamou alguém, me puxando pelo braço enquanto eu passava pela porta da entrada.

Era Rony. Assim que me virei para ele, sua mão me largou, como se eu o tivesse queimado. O que não aconteceu, é claro, porque não sou do Quarteto Fantástico.

─ O que foi? ─ perguntei, sem olhar diretamente para seus olhos.

Quando ele abriu a boca para falar, não entendi nada. Isso é, porque na minha mente a frase “ele gosta de você” começou a sair com uma voz cantada e isso pareceu ter abafado a voz dele para mim.

─ Eu, hm, eu não ouvi, desculpa ─ falei, sacudindo a cabeça como se isso pudesse esvaziar a minha mente.

─ Então preste atenção agora ─ alertou em uma voz séria ─ Fique longe da Bianca. Não fale com ela, não fique perto dela, finja que ela não exista. Aléxia... Alex, ela não é de confiança.

─ Rony eu sei muito bem escolher meus amigos, você não precisa ficar escolhendo eles pra mim ─ retruquei, cruzando os braços ─ Além do mais, Bina mudou.

Ele deu uma risada e depois deu um tapa leve na minha cabeça e ficou sério.

─ Você enlouqueceu né? Conheço a Bianca melhor do que qualquer outra pessoa e posso afirmar que ela não mudou ─ falou ele ─ Ela só está querendo te enganar, enganar a todos nós. Olha, não sei o que ela está aprontando, mas você não pode deixar que ela faça alguma coisa.

─ Olha só, vou esperar ela no portão ─ avisei, arrumando a alsa da minha bolsa ─ Tchau Rony.

No entanto, quando me virei para sair, ele novamente me puxou pelo braço, mas dessa vez com tanta força que eu quase cai. Instintivamente, ele me segurou pela cintura e eu o segurei pelo pescoço.

Fiquei atordoada, mas não o bastante para não perceber que ele estava perto demais de mim.

O rosto de Rony estava tão perto do meu que eu podia ver a mínima sombra que os seus cílios faziam em seus olhos azuis, como sua boca estava entreaberta e como sua respiração estava acelerada. Aquilo nunca tinha acontecido antes, mas... pela primeira vez, desde que eu conheci ele, eu quis beijá-lo. Mas como nesses últimos dias eu andava meio idiota, mais que o normal quero dizer, puxei o rosto dele para mim e o beijei.

Não, espera, eu não beijei ele não. Não por falta de vontade, mas porque no exato momento em que os lábios dele encostaram os meus ele foi jogado no chão. Pela Bina.

─ Não encoste nela, seu idiota ─ resmungou Bina, me puxando pelo braço e me fazendo sair do transe ─ Primeiro você quer bater nela e agora tenta agarra-la. Olha aqui, Ronald, não vou deixar você usar ela como você me usou.

Não deu tempo de Rony se defender, porque Bina deu um chute na perna dele e saiu para fora do prédio da escola, me arrastando consigo.

* * *

─ Então, ele te bateu? ─ perguntei, pegando um biscoito do enorme pote que estava em cima da cama.

Eram três horas da tarde e eu estava no quarto de Bianca, ela sentada em um puff rosa e eu sentada em sua enorme cama. A casa dela não era glamourosa como eu pensava, na verdade, era mais normal que a minha. Seu quarto, por exemplo, parecia ser menor que o meu, porém tinha mais objetos espalhados pelos móveis.

─ Rony queria que eu aceitasse sair com ele, então, como eu não aceitei, ele me bateu ─ revelou ela, com a cara fechada ─ Foi um tapa na cara, bem estalado por sinal.

─ Típico dele ─ comentei ─ Rony se faz de bom moço, mas não é nada. Não acho que ele possa ter sentimentos. E o meu psicólogo ainda...

Fechei a boca antes que pudesse falar mais alguma coisa. Não conseguia acreditar que eu... eu... eu tinha contado meu segredo, meu maior segredo, logo pra Bianca.

─ Você vai a um psicólogo? ─ perguntou ela, em um tom de voz diferente.

─ Não, não quero falar disso... ─ murmurei, em um tom baixo.

Naquele momento, comecei a ficar nervosa. Não queria falar daquilo, não com ela, nem com ninguém! Não queria que todos pensassem que eu sou louca ou algo assim, porque eu não sou! Eu nunca fui! Eu...

─ Calma, espera Alex, você está tremendo e suando frio ─ sussurrou ela, sentando-se na minha frente e segurando a minha mão firmemente ─ Olha, é bom as vezes a gente conversar sobre coisas que nos afligem, mas se você não quiser contar, não se preocupe.

Respirei fundo e fechei os olhos por alguns minutos, mas não consigui conter o nervosismo. Se eu pudesse contar pra alguém sobre os meus problemas, talvez... talvez eu ficasse melhor, era o que eu pensava.

─ Eu tenho um psicólogo, mas eu não vou nas consultas ─ murmurei, de olhos fechados ─ Ele me deu um diário para eu escrever os meus sentimentos, e eu ainda faço isso.

─ Seus pais sabem que você não vai as consultas? ─ perguntou ela.

─ Não. E eles também não sabem que eu não tomo os remédios ─ respondi.

Tudo ficou em silêncio por alguns segundos, mas não ousei falar nada ou abrir os olhos.

─ Quais os problemas que você tem? ─ perguntou Bina.

Aquilo me deixou com muita raiva, o modo como ela falou parecia que acreditava realmente que eu...

─ Eu não tenho nenhum problema! ─ gritei, abrindo os olhos ─ Todo mundo diz isso, mas é mentira! É mentira! Eu não tenho nada! Eu sou... normal.

─ Ok, calma! ─ exclamou Bina, apertando o meu braço ─ Que problemas eles acham que você tem?

Então, me lembrei do dia em que fui a primeira vez em um psicólogo, um de verdade, dois mil anos antes do Nelson.

─ Fui diagnosticada, depois de alguns testes, com transtorno de ansiedade, um nível médio de estresse, bipolaridade, início de esquizofrenia e de bulimia.

Bina me olhou em um misto de surpresa, deleite e horror. Até eu fiquei horrorizada com o que eu falei e também como eu falei.

─ Você já contou isso pra alguém? ─ perguntou ela, baixinho.

─ Não ─ respondi, abaixando a cabeça de tanta vergonha.

─ Então, eu não vou contar pra ninguém tá? ─ murmurou ela, com um sorriso.

Então aconteceu uma coisa realmente improvável. Bina estendeu seus braços em minha direção e me abraçou, me consolando.

Havia duas coisas naquele abraço dela. A primeira era que ela queria me proteger, de alguma forma ela queria que eu me sentisse segura com ela, a segunda coisa eu não consegui distinguir, mas algo me dizia que não era nada bom.

Aléxia



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