19/01 - Sábado

Não sei se foi a coisa certeza a fazer, na verdade eu nunca sei o que fazer então essa situação não foi especial, mas... acabei aceitando o convite de Peter. Ok, ok, eu sei que foi mal da minha parte, até porque eu nem quero nada com ele, mas aceitei.

Hoje de manhã peguei meu telefone celular e mandei uma sms pra ele, explicando que iria com ele, porém só isso. E apesar de Peter ter mentido e tudo mais não o afetou em nada quando ele respondeu que ficava feliz por eu ter aceitado e que não me pressionaria a nada.

Então... é, de alguma forma deu certo.

Ah, como eu já sou bem adiantada, hoje fui comprar o vestido para a festa. Thomas mandou um convite oficial a todos e o traje era simples, porém todos os meninos de calça, mesmo que jeans, e terno e as meninas de vestido básico. Nada muito extravagante.

Convidei Val e Lizzie para irem comigo, mas elas não puderem porque Val tinha que ir ao dentista e Lizzie teria que ir as aulas de natação. Mas não fiquei em casa, pelo contrário, fui sozinha comprar meu vestido.

Fui na Prints, uma loja de roupa feminina no centro de San Francisco que tem roupas incrivelmente lindas e caras. Claro que tive que quebrar o meu porquinho e, com muita dor no coração, trocar minhas milhares moedas por notas de dólares mas acho que valeu a pena.

Alguns minutos depois de ficar procurando, achei um vestido realmente legal. Ele era florido, em tons de rosa, verde, amarelo e azul e não era curto ou chamativo, era perfeito. Quando fui pegar da arara, onde milhares de vestidos estavam pendurados em horizontal, do outro lado eu vi Bina.

─ Oi, Alex ─ falou ela dando um mínimo sorriso pra mim ─ Veio comprar um vestido para a festa do Thomas.

─ Sim ─ afirmei, mostrando o vestido a ela ─ Foi esse aqui. Ele é legal, não é?

Bina franziu o nariz e sacudiu a cabeça. Ela deu a volta na arara e veio parar do meu lado, tirando o vestido da minha mão.

─ Não, ele é bonito, mas não caiu bem em você ─ comentou ─ Na verdade, eu achei um vestido bem legal, mas acho que ele não ficaria bem em mim. Quer dar uma olhada?

Era impressão minha ou ela estava tentando me ajudar? Mesmo confusa com aquilo tudo, assenti e a acompanhei até a arara da frente. Bina pegou um cabide onde estava pendurado um vestido tomara-que-caia preto com um laço rosa enorme na cintura, era bonito mas... não tinha nada haver comigo.

─ Hm, não sei ela combina comigo ─ murmurei, meio incerta.

─ Ele vai ficar totalmente divino em você! ─ exclamou ela, sorridente ─ Vamos fazer o seguinte, já que estou dando meu vestido pra você, me dê o seu, vamos experimentar aí depois você decide se quer trocar ou não, o que acha?

Não sabia como dizer a ela que eu apenas queria um vestido bonito, não o melhor da loja, mas ela parecia tão dedicada em me agradar que fui colocar o vestido.

Fiquei parecendo um pedaço de carvão mal cortado, literalmente. Mas... ela abriu um sorriso tão grande e disse que eu estava linda e o vestido que eu escolhi ficou tão bem nela que eu não quis trocar. Acabei comprando o saco de lixo que era o vestido, mas me senti feliz por ela estar feliz também.

E eu nem sabia porque queria ver Bina feliz, já que ela nem era a minha amiga.

Enfim, depois das compras perguntei a ela se ela queria tomar um café comigo, e ela aceitou. Fomos ao Starbucks, onde ela pediu um cappucino e eu um expresso, e nos sentamos em um mesinha.

─ Obrigado por me defender do Rony, ontem ─ falei, enquanto tomava um gole do café ─ Eu... nunca pensei que ele chegaria ao ponto de me bater.

─ Ah, de nada ─ disse ela, sorrindo ─ Mas, apesar de eu ter te defendido dele, tenho quase certeza que ele nunca encostaria em você, nem um dedo. Rony se irrita fácil mas tenho certeza que ele nunca bateria em uma garota como você.

Quase cuspi o café de volta, mas me limitei a colocar o copo em cima da mesa e observar minhas próprias mãos.

─ O que você quer dizer com “uma garota como eu”? ─ perguntei.

─ Rony as vezes se faz de durão, mas ele é muito cavalheiro em relação as garotas que ele respeita, e obviamente ele respeita você, e o modo como você o enfrenta.

─ Eu não o enfrento, nunca. Eu, na verdade, só me defendo, mas eu nunca tive a intenção de deixar ele com raiva.

─ Assim como nunca teve a intenção de fazer ele gostar de você?

A pergunta de Bianca me acertou como um soco, daqueles bem certeiros e carregados de raiva. Olhei para ela e o que vi foi seus olhos me estudando detalhadamente.

─ Ronald gosta de mim? ─ perguntei, surpresa.

─ Sim, mas não fique tão mortificada, se ele soubesse disso ficaria bem pior. O que quero dizer ─ explicou ela, ao ver meu olhar confuso ─ É só que ele não sabe que gosta de você, e tenho certeza disso. Alguns garotos são meio lentos, e infelizmente Rony é um deles.

Dei alguns segundos a ela, esperando que ela jogasse os copos para o ar, subisse na mesa e gritasse que aquilo era tudo uma brincadeira bem feita, onde ela só fingia que era boazinha e que Rony na verdade me odiava mais do que qualquer coisa no mundo. Mas ela não fez isso, e na verdade o que eu vi foi a sinceridade nos olhos dela, a sinceridade no que ela havia falado.

─ Sei que você está falando a verdade ─ murmurei, agora entendendo tudo ─ É o que você sabe, mas eu tenho certeza de que ele não gosta de mim, nem um pouco. Nada.

Bina deu de ombros e colocou seu cappucino na mesa.

─ Então ─ concluiu ela ─ Você vai ter que escolher em qual certeza acreditar.

Olhei por alguns segundos para o balcão, mas minha visão periférica registrou Bianca colocando algo rapidamente dentro de sua bolsa, de um modo bem suspeito. Mas, não comentei nada, porque vi e senti que de alguma forma, Bianca Castellare estava mudando.

Aléxia.