Asas Do Destino escrita por Isabelle


Capítulo 6
Subaru


Notas iniciais do capítulo

NA:música do capítulo Saburu
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Asas  do  Destino

Capítulo 6 –

                    Subaru





               Nos Estados Unidos Takashi é acometido de uma vertigem, quando voltava para o hotel depois de um coquetel em homenagem ao japoneses. Embaraçado ele é atendido por uma secretária que lhe traz um copo de água ainda no saguão do hotel. Takashi olha para a TV ligada em edição extraordinária. Um mapa do Japão e a foto de um correspondente lhe chamou atenção.  Ele se aproximou do aparelho cambaleante.


- Aumente o som por favor. - pediu para recepcionista, que o fez de pronto.


Ele estava confuso, seu inglês não funcionava bem no momento. Ele perguntava a secretária o que estava acontecendo e ela também muito nervosa tentava explicar a ele em japonês. Takashi entendeu duas palavras, Sendai e Tsunami. Passou a mão no celular e ligou para Keiko. Mudo. Ligou para Aya. Ela não tinha notícias concretas. O terremoto fora violento e não houve alerta de tsunami, não houve tempo. Na TV os dados chegavam e Takashi foi para o aeroporto. Não poderia ficar ali nem mais um segundo.


No aeroporto descobriu que não teria vôo naquele momento. Não tinha como sair dos Estados Unidos no momento. Horas depois um dos acionistas maiores da empresa americana, conseguia a liberação do jato para levar os japoneses de volta. Somente Tóquio estava operante. Não havia como chegar a Sendai. Takashi tinha o rosto lívido. Apenas ouvia a TV.


“Um forte terremoto de 8,9 graus de magnitude atingiu nesta sexta-feira a costa nordeste do Japão, provocando um tsunami de ao menos sete metros em cidades na região norte do país. O último balanço oficial divulgado pelo governo informou que o tremor seguido de tsunami deixou ao menos cento e setenta e oito mortes confirmadas. Somando mortos e feridos, pode haver mais de mil vítimas, segundo a polícia. Só na costa de Sendai, há informações de que foram encontrados entre duzentos e trezentos corpos.”


Takashi finalmente deu vazão as lágrimas. Ele deveria estar com elas! Sua estrelinha estava longe dele. Ele começou a quebrar tudo que havia no quarto do hotel que ocupava em Tóquio. A secretária que o acompanhava chamou os seguranças e um médico e ele foi sedado.



oOo


Aya olhava para a caixa que a amiga havia deixado em seu poder alguns dias antes. Lágrimas copiosas caíam de seus olhos. Ela sabia que a amiga não havia sobrevivido. Tinha que abrir. Devia isso a ela.


Levantou-se e foi até a sacada. Sentou-se na cadeira, era madrugada e nem o vento a incomodava naquele momento.   De olhos fechados ela abriu a caixa. Permaneceu assim por um tempo. “Aya! Covardia nunca foi seu forte!”, abriu os olhos e foi retirando de lá uma a uma tudo que a amiga havia lhe deixado de herança.


Um envelope com o nome “Shou” e outro com o nome “Saga”. “Ela sabia! Mas como?”. Voltou a caixa, um envelope com seu nome, esse ela abriu.


“Minha amiga

          Se você abriu o pior aconteceu.

          Sim eu sei sobre meu marido e seu amigo Shou. Não tive coragem de mandar Takashi ao encontro do seu amor verdadeiro. Eu o amo demais. Mas agora, não importa. Eles serão felizes. Finalmente!

           O que quero que faça é simples: entregue as cartas a seus donos. Eles são teimosos, bem sei, vão precisar de um empurrãozinho, meu e seu também!

          O kanji é para Hoshi. Diga a ela se puder que sua kaa-san estará sempre com ela, e se ela sentir muita saudade para olhar para o céu eu sorrirei para ela lá de cima.

          Meus últimos pensamentos foram para eles, que eles cuidem bem da minha estrelinha.

          Dizem que se leva um minuto para conhecer uma pessoa especial, uma hora para apreciá-la, um dia para dela gostar e até mesmo amá-la, mas mais do que uma vida inteira para esquecê-la.

          Agradeço a Kami por ter oportunizado a mim, conhecer quatro pessoas tão especiais.”.


Aya chorou muito naquela noite. Mas sabia o que tinha que fazer, procurar Shou. Ele saberia ajudar Saga. Quanto ao paradeiro de Hoshi ela já havia enviado um funcionário da segurança do hospital para Sendai para achar a menina. Não seria fácil, ela sabia que levaria tempo.



oOo



Shou ouviu bem o pedido as palavras ecoavam em sua cabeça enquanto as águas levam Keiko para seu túmulo eterno. A garota estava tão perto dele. E ele não conseguiu salvá-la. Todos choravam no momento. Hoshi se agarrou a Shou.


- PUXEM! RÁPIDO! AGUENTA AÍ AMIGO! – Nao gritava para Shou, ele ouvira o que Keiko dissera. Não entendeu direito no momento, mas reconheceu a médica. Todos a reconheceram. A doutora do gato. Abraçaram Shou na sacada e ficaram ali agarrados a ele e a Hoshi que gritava pela mãe, mas não soltava Shou. Alguém lembrou que deveriam voltar ao restaurante, era mais seguro.


As horas se arrastaram. A água demorou a baixar, os serviços básicos também. Por fim um celular deu sinal de vida entre os abrigados no hotel e todos conseguem falar com seus parentes fora de Sendai.  Equipes de resgate começam a ajudar pessoas ilhadas. Uma noite de terror chegava ao fim. Shou tinha Hoshi dormindo sobre ele, a garotinha não falou nada além de chamar por um tal de “Shi” e por sua mãe. Shou dormiu horas depois que a garotinha sucumbiu ao sono. Nao achou melhor não acordá-los. O sono muitos vezes era uma bênção para aqueles que haviam perdido.


O hotel preparou um café da manhã meio improvisado. Equipes de resgate chegaram quase na hora do almoço, o hotel ainda estava ilhado. Saíram pela janela dois andares abaixo do usado por Shou no dia anterior.


Hoshi pouco comeu. Uma das funcionarias a levou ao banheiro e a reconheceu. O quarto que mãe e filha estavam estava parcialmente inundado. Nao e Hiroto desceram para pegar alguma coisa que dissesse onde encontrar a família da garotinha. Tudo estava revirado pela lama. Nada pode ser salvo.


Shou com a garotinha em seu colo tentou falar com ela.


- Minha estrelinha, pode me dizer qual seu nome? – perguntou calmamente, olhando a garotinha nos olhos.


- Hoshi... – o olhar da garotinha se iluminou, o homem do seu sonho a chamou de algo familiar.


- Ah então eu não me enganei! Eu sou o Shou! – o rapaz estendeu a mão para a garotinha e eles se cumprimentaram.


- A kaa-san não vai voltar né? – ela perguntou com tristeza nos olhinhos negros.


- Olha... Eu não sei. Então vamos esperar que uma pessoa mais forte que eu conseguiu segurar ela não é mesmo?


- Eu sei, ela não vai mais voltar. – uma lágrima correu dos olhinhos já muito vermelhos da pequena.


- Quem sabe se você me disser quem é o “Shi”, nós podemos te levar até ele? – Shou ofereceu.


- Papai viajou. Muito longe sabe? – a menina explicou.


- Como ele chama meu bem?


- Sakamoto Takashi. Eu moro em Sapporo, minha mãe é a doutora Sakamoto Keiko.


Shou ficou gelado. Esse nome só poderia ser dele. E o sonho? “Salve minha estrelinha...”. Kami brincava com sua sanidade. Ouvia a garotinha repetir algo bem ensaiado, ou pelos pais ou pela escola. Ele já estava apaixonado. Não poderia mais se afastar dela.


Pegou o celular e ligou para Aya. A conversa foi difícil. A garota estava próximo a Tóquio. Shou anotou o celular de Saga, ele deveria estar morto por dentro. Então colocaria a filha em contato com ele para aliviar a tensão.


Em um local seguro a banda aguardava o helicóptero que a PSC mandaria para buscá-los, já que os instrumentos e o ônibus deram perda total. Mas o que importava é que estavam vivos.


oOo



O celular de Takashi estava desligado. Depois do desequilíbrio ele dormiu por conta do sedativo que o médico lhe dera. Dormiu a manhã toda. Na hora do almoço, acordou meio tonto. Ligou a TV que ainda noticiava, o que para ele era o fim do mundo.


Previamente, a agência de notícias japonesa Kyodo chegou a afirmar que cerca de 88 mil poderiam ter desaparecido na tragédia. A informação, porém, ainda não foi confirmada por outras fontes.

O tremor danificou o sistema de resfriamento do reator 1 da estação elétrica de Fukushima Daiichi, um dos seis da instalação localizada na cidade de Onahawa, região de Miyagi, a 270 quilômetros a nordeste do Japão. Por causa do problema, o primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, emitiu um alerta de emergência nuclear e anunciou um raio de 10 km de isolamento em torno da usina, que está com níveis de radioatividade mil vezes acima do normal. Previamente...”


Mais essa agora, se a água não matar a radiação possivelmente, Takashi pensou desligando a TV. Pegou o celular, estava desligado. Ligou. Muitos chamados entre eles Aya. Antes mesmo de retornar a ligação da amiga, ele toca, não conhece o número, mas mesmo assim atende.


- Moshi, moshi.


Do outro lado da linha Shou emudece por um segundo, ele reconheceria aquela voz mesmo que uma eternidade se passasse entre eles.


- Saga...


- Shou...


Um silêncio de alguns segundos se instaurou entre eles.


- Estou procurando um tal de “Shi” você conhece? – Shou  falou em um tom calmo, Hoshi acompanha a ligação.


- HOSHI! ELA ESTÁ COM VOCÊ? – Takashi quase caiu da cama. Shou passa o celular para Hoshi.


- Shi!!! Estou com saudade!


- Estrelinha você está bem? Está com a mamãe?


- kaa-san foi embora Shi, mas o moço bonito do meu sonho está aqui. Você conhece ele?


- Sim estrelinha, deixa o papai falar com ele. – Takashi estava meio perdido.


- Saga ainda estamos em Sendai, esperamos o helicóptero que a PSC vai nos mandar, vamos para Tóquio. Não sei detalhes. Se quiser pode nos esperar na casa dos meus pais. Vou direto para lá com certeza. – a voz de Shou era incerta.


- Keiko?


- Sinto muito... Eu não consegui... – Shou respondeu com a voz embargada.


A ligação caiu e Hoshi abraçou Shou, eles precisam um do outro naquele momento. Mas percebeu que a garotinha tinha ficado mais animada com a curta conversa com o seu querido “Shi”.


Nao olhava para a cena. Estava preocupado com o amigo, aliás todos estavam. Shou e Hoshi pareciam se conhecer a tempos. A cena foi interrompida quando um funcionário da PSC adentrou o grande salão em que a banda estava.


O trajeto foi feito em silêncio. No caminho só devastação, nada além disso. Imaginavam a quantidade de pessoas que estariam desaparecidas para sempre. Vidas perdidas. E muitas que tiveram uma segunda chance. Shou pensava em Saga e na pequenina adormecida em seu colo. Não sabia o que fazer. Devolver a filhar para Saga e continuar respirando. Ele com certeza não o amava mais. Talvez nunca tenha amado. Era isso. Ele deveria esquecer-se de tudo e viver sua vida.   






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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora!
Espero que gostem!!
Jinhos da Belle