Asas Do Destino escrita por Isabelle


Capítulo 3
Akatsuki


Notas iniciais do capítulo

N/A: música do cap akatsuki
http://www.youtube.com/watch?v=aErTF0gRP-g



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Asas do  Destino

Capítulo 3 –

                    Akatsuki

               O inverno estava no fim, Sapporo começava a esquentar. Em breve a primavera ditaria suas cores e as cerejeiras explodiriam em diferentes tons de rosa por toda a ilha. Ele ouvia nos fones de ouvido a música que fazia com que ele viajasse há tempos em que realmente fora feliz.  A lembrança o maltratava um pouco, mas naquele momento podia se dar ao luxo de chorar. Estava sozinho e não magoaria ninguém.

Nunca se cansaria de ouvir a voz dele “Para meu mais caro amor...”, ele nunca o esqueceu, a música provava isso. E ele? O que fez? Traiu a pessoa que mais amou na vida. Não foi forte para lutar contra seu destino. Apenas e covardemente se entregou aos caprichos de seu pai. Não era mais o Saga, e sim Sakamoto-san um bem sucedido advogado. Seus devaneios são interrompidos quando sua sala é invadida intempestivamente. Takashi limpa as lágrimas rapidamente e se levanta do sofá.

- PAPAI! PAPAI! – uma menininha de cinco anos corre para seus braços chorando copiosamente.

- O que foi estrelinha? Calma, papai está aqui!

Ninou a filha com carinho. Se não fosse por ela estaria morto com certeza. A pequena se acalmou e acabou dormindo no colo do pai. Ele a colocou na sua cama e passou o resto da noite com ela. Sempre que a mãe viajava ela tinha pesadelos. Takashi nunca conseguiu fazer com que ela contasse para ele o que a aterrorizava tanto.

Keiko com certeza ficaria brava com os dois. Mas depois sorriria e tudo ficaria bem. Ela soube na primeira noite que ele não a amava. Mas, ela tinha amor pelos dois. Apesar de estarem no século XXI o casamento fora arranjado pela família. Ela foi persuadida a se casar porque não tinha tempo para ter uma vida pessoal. Desde sempre aplicada nos estudos. Ela fora criada por uma tia, que faleceu dois anos depois de seu casamento, praticamente sua única família. Tornou-se uma médica conceituada fazia parte da equipe de um renomado médico japonês. Estava em Tóquio representando ele em um congresso de medicina.

Quanto ao velho Sakamoto, nunca trocou mais que meia dúzia de palavras com o filho, Takaishi recebia ordens apenas, e as cumpria. A amargura o matou, apenas viu o nascimento da neta. Que não lhe trouxe felicidade. Culpou o filho por não ter lhe dado um neto homem, dizendo apenas que Kami o punia pela sua doença. Dias depois faleceu. Takashi não soube o que sentir. Apenas continuou.

Acordou naquele manhã com um aperto no coração. Sonhara com Shou a noite toda. Pesadelos na verdade. Mas, não iria procurar por notícias dele na internet. Não tinha o direito. Levantou-se. Ajudou Hoshi a se vestir e desceram para o café. Ele pouco comeu.

Deixou a filha na escola e foi para o escritório. Na sua mesa sorriu para a foto da esposa e da filha. Tirou da gaveta o kangi com o nome de Shou. “Ainda amo você...”


oOo


- Não deveriam estar cuidando do meu olho? - pergunto ao médico que faz um ultrassom do meu coração.

- O coágulo do seu olho não coloca a sua vida em risco. Temos que descobrir o que causa as hemorragias. – o médico me responde olhando atentamente a tela do aparelho.

- Então a cegueira será definitiva? – pergunto já sabendo a resposta.

- Sinto muito... – o médico desliga o aparelho e volta a me olhar. – Seu exame deu normal, mas terei que dobrar os antibióticos, não estou vendo a melhora que esperava. – o médico me informa.

O exame termina e eu fico sozinho na minha quase escuridão. Sonhei a noite toda com Saga, e sempre que tentava me aproximar, o pai dele me impedia de prosseguir. Era triste. Nem no sonho eu poderia tê-lo, aquele monstro preconceituoso cuidou de destruir tudo.

Depois do almoço Aya chega toda feliz e me leva para a sala de cirurgia, vão consertar meu olho finalmente. Um dos médicos teve a brilhante ideia de retirar um pouquinho do fluído do meu olho deixando espaço para a artéria ocular se expandir e supostamente o coágulo sairá de lá, e eu devo ver novamente. Acho que foi isso que Aya me explicou. Anestesia local, sem perigo para os outros defeitos que estou tendo. Isso tudo é tediante.

Vejo vários rostos que não conheço, não sinto dor. Mas assim que eles afastam a agulha, segundos depois eu posso ver. Um alívio percorre minha alma, não queria ficar cego. Minha mãe terá uma grande surpresa quando chegar.

Na verdade a surpresa foi minha, meu pai está no quarto quando eu chego. Como é bom vê-lo. Sinto-me seguro perto dele. Eu sabia que ele não ficaria longe por muito tempo, quase uma semana naquele hospital. Ele ligava todos os dias é claro. Mas, não é a mesma coisa.

Abraço meu pai, mas não me sinto bem, coloco o pouco que tenho para fora do estômago, e mergulho em uma inconsciência negra.


oOo


- Como assim ainda não sabem o que meu filho tem? – Kazamasa-san está alterado.

- O fígado do seu filho está falhando, não sabemos o que está causando todas essas reações, e enquanto não descobrirmos temos que tratar os sintomas. Olhe... Acredite, temos uma equipe trabalhando no caso do seu filho. Todos os exames que conhecemos ou já foram feitos, ou serão feitos ainda.  Já o coloquei na fila do transplante.
              - Posso doar um pedaço do meu...

- Lamento não nesse caso. – o médico se retira frustrado também .


Kazamasa-san volta para o quarto vazio e abraça a esposa. Está perdendo o seu filho, e nem ao menos sabe por quê.

Era quase noite quando Shou volta para o quarto. Os médicos conseguiram estabilizar novamente o músico.  Shou estava dormindo, mas era um alívio para os pais tê-lo no quarto novamente. Mas, a cada recaída, ele ficava mais ausente, mais fraco.

Na manhã seguinte Aya entra no quarto com um panfleto. Era a propaganda do Congresso de medicina. A garota informa aos pais que tem ali um  representante de um grupo de médicos especializados em diagnósticos de  doenças raras. Kazamasa-san entendeu o que a garota queria.

- Como saberei quem é? – perguntou levantando-se já pegando o casaco.

- Eu vou com o senhor, vai precisar disto também. – Aya mostra a pasta de Shou que ela havia “tomado emprestado”, isto poderia lhe custar o emprego, mas quem se importa? Shou precisava de uma segunda chance.

Misato beijou o topo da cabeça da garota com carinho.

- Que Kami acompanhe os dois. – beijou o marido e eles se foram.

Na saída do congresso, Aya e Kazamasa conseguem chegar perto do representante.

- Pode ajudar meu filho, por favor? – Kazamasa quase grita no meio de tanto barulho.

- Senhor... Eu...

- Por Kami... – era possível ver o desespero na face do homem.

- Rapaz de vinte e sete anos, com hemorragia interna, exames negativos para a maioria das doenças conhecidas, fígado em colapso, antibióticos sem resultados positivos. Suspeita improvável de Lúpus. – Aya despejou um resumo do quadro de Shou.

- Me deixa ver isso... – Aya entrega a pasta de Shou, quase não respirava de ansiedade.

A jovem médica olha rapidamente o prontuário de Shou. E vê que não há mais nada o que fazer.

- Sinto muito, não posso ajudar... – disse devolvendo o prontuário e começou a se afastar.

- “Ver o que todo mundo vê, pensar o que ainda não foi pensado...” – Aya fala para a médica.

A médica se perde na multidão. Mas ficou com as palavras na cabeça. No caminho do hotel, não conseguia esquecer-se do caso de uma pessoa tão nova e condenada. Lembrou-se da frase que Aya lhe gritara. Estava cansada e dividida. Queria voltar para sua família o quanto antes. Sentia saudades de sua pequena.

- Hospital Universitário de Tóquio, rápido!

Keiko jamais poderia deixar de responder a um pedido de ajuda e nem tão pouco a um desafio. A frase final de Aya tinha sido um desafio afinal de contas.

Chegou ao quarto de Shou e havia uma discussão na porta. Médicos e o senhor que pedira ajuda a ela. podia ver o rapaz sendo atendido por enfermeiros, ele gritava com um certo Ryuu.  Debatia-se e Kazamasa entrou e acalmou o
filho.

Shou estava tendo um delírio. Os médicos que assistiam discutiam que só faltava isso para diagnosticar Lúpus, a psicose. Nesse instante, Keiko entra na conversa.

- Quem é Ryuu?

- E quem é a senhora? – perguntou o médico chefe.

- Perdoe-me. Sou Sakamoto Keiko, médica da equipe do Dr. Noboru de Sapporo, o senhor deve conhecê-lo. Keiko fez uma reverência educada.

- Eu a chamei. – Kazamasa deixa o filho e vai para a porta.

- Quem é Ryuu? – ela insiste na pergunta.

- Não interessa quem é Ryuu, o que interessa é que alucinação é sintoma de Lúpus.

- Tem uma grande diferença entre alucinação e psicose, não acho que seja Lúpus. – Keiko rebate. – Quem é Ryuu?

- Nosso gato! – Misato até então quieta responde finalmente.

- Então o gato existe,  não é psicose, é só um rapaz sentindo falta do bichinho de estimação. –responde Keiko cruzando os braços.

- Esqueça a droga do gato ele está morto!! – Kazamasa-san praticamente grita com a médica.

- Morreu do que? – Keiko pergunta calmamente. Aumentando a tensão do grupo.

Kazamasa-san sai de perto, ele estava perdendo a paciência com a médica. Mas, Misato vê que havia algo ali.

- De velhice... Tinha dez anos.

- Quando? - Keiko se aproxima da mulher.

- Pouco antes de o Shou ficar doente, uns quinze dias? – responde Misato tentando entender onde a médica a sua frente pretendia chegar.

- Onde ela dormia?

- Com Shou...

- Não é alergia. Já descartamos isso logo no início. Doutora, não está ajudando em nada. – um dos médicos comenta.

- Um gato não morre de velhice aos dez anos. Não vou discutir com vocês. Senhora, onde está o gato?

- Eu não acredito... – Keiko deixa todos com os nervos à flor da pele.

- Cemitério de animais. – Misato se aproxima do marido, e com todo o jeito pede. – É pelo nosso chibi, busca logo, ele não tem muito tempo!

Kazamasa olha para os olhos da esposa e sai correndo pelos corredores do hospital. Mesmo que não acreditasse naquela insanidade, ele nunca resistia a sua esposa. Ele mesmo pegou uma pá e desenterrou o animal, por sorte a terra congelada conservou o suficiente para necropsia.

Keiko pessoalmente a fez. Do lado de fora da sala somente os Misato e Aya, Kazamasa-san havia acompanhado o filho, o fígado havia chegado. Mas, o coração de mãe de Misato sabia que aquele anjo teria a resposta que Shou precisava.

- Eu encontrei o que precisava!

- Ele foi para a cirurgia há cinco minutos. – Aya disse meio descrente.

- Ele não precisa de cirurgia. Onde eles estão? Leve-me até ele. – Keiko tinha uma pinça com um tufo de alguma coisa na ponta.

- Venha comigo. Espero que tenha um plano, não sei como pode impedir uma equipe de transplante. – disse Aya correndo a frente pelos corredores, com as duas mulheres no seu encalço.

Keiko invadiu a sala de cirurgia, sem paramentos.

- O que significa isso?

- Ele não precisa de cirurgia, ele não tem hepatite lipoide, é alergia aguda a Naftalenon. 

- Aquelas bolotas que colocamos nos armários para evitar mofo?

- Não uma substância produzida por cupins para proteger seus ninhos. – Keiko percebe que ele não dará ouvidos para ela. então joga a pinça na bandeja de instrumentos cirúrgicos.

- Quem é a senhora e baseado em que diz isso?

- Sou a doutora Sakamoto e me baseio na necropsia que acabo de fazer no gato dele. – ela se aproxima mais retira o avental que usou e joga sobre Shou.

- Acabou com meu ambiente doutora, mas terá que se explicar com a direção do hospital.

Em uma sala com ânimos exaltados Keiko tentava explicar porque sua teoria era a certa.

- Doutora, a senhora passou dos limites. Se fosse uma causa ambiental ele teria melhorado quando veio para cá. Mas ele só piorou, mas estou curioso, vou ouvi-la.

- Doutores, o nafetalenon é um gás que adere às células adiposas, quando ele veio para cá com toda a certeza ele perdeu peso, as células adiposas foram quebradas para gerar energia para as funções do corpo. Liberando o veneno na corrente sanguínea, espalhando-se por todo o corpo. O gato não morreu de velhice.

- Ela insiste no gato...

- Ele morreu de hemorragia interna causa por alergia por naftalenon. Exatamente a mesma coisa que está matando seu paciente.

Houve um silêncio. Todos na sala processavam a informação.

- Cupins? – Sakamura disse mais para si. – Então entupimos o garoto de calorias e em vinte quatro horas ele está fora daqui?

- E eu com minha filhinha em casa.

Todos saíram e foram tratar de medicar Shou corretamente. Keiko tratou de ligar para casa.

- Moshi, moshi! kaa-san! Hoshi com muita saudade! Quando a
senhora volta?

- Logo filha, kaa-san também está com saudade! Onde está seu pai?

- Takashi ouve uma emergência devo ficar mais um dia ou dois. Desculpe-me, não poderia deixar um jovem de vinte e sete anos morrer.

- Claro meu bem, e quem foi o sortudo?

- O vocalista daquela banda Alice Nine, conhece? Eles o chamam de Shou.

Do outro lado da linha silêncio. Takashi não sabe o que dizer.

No corredor Misato ouve Keiko repetir o nome Takaishi varias vezes. Só poderia haver um Sakamoto Takashi.


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Notas finais do capítulo

Capitulo inspirado no seriado House.



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