Asas Do Destino escrita por Isabelle


Capítulo 2
4U - Para Você


Notas iniciais do capítulo

NA: Música do capítulo: 4U- Para Você
http://www.youtube.com/watch?v=ELRjB4BWbbI



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/205963/chapter/2

Asas do  Destino

Capítulo 2 –

                    4U - Para Você



               Nos meses que se seguiram, minha vida foi intensa, ensaios, escola e descobrir junto com Saga nosso amor. Não via a hora do ensaio acabar, não via a hora do pai de Saga viajar, não via a hora do fim de semana terminar, era sempre muita ansiedade, e os beijos ficavam mais exigentes, mais quentes, descobrimos juntos carícias e maneiras de expressar nosso amor.

Nao e os outros sabiam e não se importavam, até davam cobertura. Nossas vidas eram interligadas, conectadas, amigos desde sempre. Começou a surgir mais trabalhos para a banda e meu pai e o pai de Saga começaram a implicar com nosso ritmo, mas graças a Kami nossas notas eram impecáveis, então eles se mantinham estáveis no seu ponto de vista, “se o seu rendimento no colégio cair, é o fim da banda.”, mediante isso, eu e Saga estudávamos até durante as refeições."

Minha narração é interrompida, uma enfermeira entra no quarto.

- Hora de descansar, já falou muito por hoje. – diz a enfermeira com cara de brava, mas que logo abre um sorriso.

- Descansar do que? Você não me deixa nem levantar dessa cama! – reclamo em tom de ironia.

- Ela tem razão Shou, amanhã eu volto. E você me conta mais. Combinado?

Olho para Aya e lhe devolvo um sorriso fraco. Justo quem tem me aturado desde que minha vida se tornou um caos. Ela! A rebelde sem causa, agora uma comportada enfermeira que nas horas vagas me atura. Ironia de um destino cruel.

Ela sai e a outra enfermeira anota algumas coisas, coloca algum medicamento no meu soro e sai. Deixando-me só com minha solidão. Com meus pensamentos. Ligo meu mp3 e me perco ouvindo a música
que fiz para você. Que talvez você sequer tenha ouvido. Kami me pune por todas as nossas brigas, ou por eu amar você. Eu realmente não sei.

Acordei com uma sensação suave nas mãos. Senti o perfume perto de mim, era minha mãe. Ela sempre estava comigo. Incansável.

- Kaa-san, já disse que você deveria descansar mais. – falo antes mesmo de abrir meus olhos. – Ou quer que mande colocar uma cama aqui para a senhora?

Ela não respondeu apenas beijou minha testa carinhosamente. Se afastou e sentou-se na cadeira.

- Como está hoje tenshi? – aquele sorriso me ilumina sempre.

- Estou ótimo! Pronto para um Live (turnê)! – meu sorriso é fraco, do jeito que as coisas vão, o único lugar que vou é para o cemitério.

- Então vamos! O que estamos fazendo aqui? – ela devolve risonhamente.

- Vamos fazer mais alguns exames hoje, é isso que estamos fazendo aqui, tentando descobrir o que há com você! – Aya entra e responde a pergunta de minha mãe.

- Aya se eles não descobriram até agora, não vão descobrir, então, foi um grande prazer! A estadia aqui não é lá essas coisas, portanto eu vou me mudar para o hotel cinco estrelas dos Kazamasas.

- Hummm, comediante como sempre! – a enfermeira vira os olhos e começa a mover minha cama para fora do quarto para o tal exame.

Alterno momentos de inconsciência e lucidez, às vezes tenho febre, mas os médicos conseguiram me estabilizar, mas não sabem o que eu tenho, o tratamento está me matando aos poucos agora. Quando acordei depois do exame estava todo dolorido. Aya estava comigo.

- Afinal me dá a honra da sua companhia! – ela se aproxima me examinando. – Pensei que ia ficar dormindo o dia todo! Seu folgado!

- O que houve? – minha voz é meio débil.

- Você teve uma convulsão durante o exame, o contraste que aplicamos reagiu com alguma coisa. Mas, você é duro na queda. – Aya tenta mostrar confiança, mas nem ela acredita mais que eu saio dali com vida.

- Pelo menos não estou mais sendo acusado de ser um viciado. Só porque toco em uma banda, não significa que sou idiota! – eu provoco risos na garota.

- Estou curiosa... O que houve para que Saga sumisse tão repentinamente, se as coisas entre vocês e a banda iam tão bem? – eu noto que ela tenta desviar minha atenção, ela não gosta quando falamos do meu caso.

- As coisas nem sempre saem como queremos. Nenhum segredo dura para sempre. E isso foi nossa ruína. Até que durou muito. Eu acabava de completar dezessete, era uma noite quente de primavera. A noite mais perfeita da minha vida. Terminamos um show e fomos direto para a casa do Saga, seu pai não estava. Tínhamos sempre o cuidado de amanhecer cada um na sua cama, mesmo quando estávamos sozinhos, trancar a porta e tudo mais. Naquele dia não foi assim. Saga dormiu em meus braços. Acordamos com os primeiros raios de sol, e eu o beijei ternamente...

“- O que significa isso...? – a voz de Sakamoto-san não era mais que um sussurro, que em segundos se transformou. – SAIA JÁ DA MINHA CASA! VOCÊ DESONRA AS NOSSAS FAMILIAS!

- Pai...

- Cale-se! Não ouse! – Sakamoto-san afastou-se e foi para a sala.

- E agora, o que vamos fazer? – Shou estava sem chão.

- Vou conversar com meu pai, vá para casa, depois nos falamos. Vai dar tudo certo... – Saga tinha um fio de tristeza na
voz.

Os garotos se vestiram as pressas e desceram para a sala. A porta da sala estava aberta e Sakamoto-san sentado no sofá de cabeça baixa.

- Sakamoto-san...

- Saia. Não volte mais, não é bem vindo aqui. – o homem disse friamente.

Shou saiu silenciosamente. Estava arrasado e muito preocupado com Saga. Não havia pensado sequer que Sakamoto-san poderia contar o que vira a seu pai.

O que se seguiu na sala da casa de Sakamoto, só não terminou em tragédia, pois Koga-sama chegou a tempo, mas o estrago já fora feito. Marcas e hematomas podiam ser vistos pelo corpo do rapaz. Seu rosto sangrava. E ele estava inconsciente, quando a gentil senhora se colocou entre os dois.”

- Shou eu... Sinto muito. Eu não fazia idéia... – Aya está desconcertada.

- Tudo bem, isso não foi o pior, o pior foi ter que encontrar Saga às escondidas, Koga-sama me chamou no dia seguinte, estava indo para a escola na esperança de encontrar meu chibi, ela me parou no meio do caminho e disse que deixara a porta da cozinha aberta, que eu fosse rápido, que Sakamoto-san voltaria para o almoço. E ela voltaria em uma hora, e não queria me ver lá. Ela seguiu em uma direção e eu em outra. Quando entrei no quarto dele, quase desabei...

“- Não...

Shou abraçou o garoto com cuidado e chorou. Choraram juntos. Depois de um tempo, Shou se lembrou da advertência de Koga-sama, afastou um pouco o namorado e perguntou.

- Você tem que vir comigo...

- Não... – Saga colocou os dedos nos lábios do garoto e sorriu fracamente. – Está tudo bem. Tudo vai ficar bem. Eu amo você, aconteça o que acontecer, eu amo você. Sempre amarei, não importa o que ele faça. Nosso amor é para sempre...

Colou delicadamente os lábios nos lábios do garoto que o estreitava em seus braços protetoramente.”

- Foi a última vez que eu o vi. Naquele mesmo dia eles se foram. No meio da noite. Ele cheirava a sangue e medo naquele dia. Não entendi por que. Eu fiquei por um longo tempo esperando uma ligação que fosse, mas nada. Nunca mais soube dele. Procurei pelas redes sociais, por muito tempo, mas se ele tem um perfil, não é com nenhum nome que conhecemos Nao também procurou por algum tempo, mas foi em vão também. A única coisa que me sobrou foram as fotos, e o kangi dele.
– interrompo um pouco e mostro a ela a jóia que trazia sempre comigo. – Ele deve ter o meu, ou já me esqueceu provavelmente.  

Eu estou cansado. Cansado de sonhar que um dia ele apareça naquele banco da praça, ou no meu camarim. É tudo tão ilusório. Fecho os olhos, Aya percebe que preciso ficar só. Ela coloca alguma coisa no meu soro que me deixa sonolento.

Aqui perdi a noção do tempo, não sei quanto tempo durmo ou fico acordado. Quando abro os olhos não sei bem onde estou. Um colorido tomou conta do meu quarto, flores, balões coloridos, cartazes, bichinhos de pelúcia e outras coisas que nem imagino o que seja, ah sim, meus amigos todos juntos ali. Sorrio.

- Onde estou? Meu médico disse que não poderia ser removido e nem ficar recebendo visitas. – digo sorrindo fraco.

- Ah! Já não era sem tempo seu dorminhoco! Estamos aqui a horas! – Nao se adianta estendendo a mão para mim.

- Isso tudo foi entregue por engano aqui nesse quarto, eu disse que tudo iria para a maternidade, mas ensinei o caminho errado para seus amigos. – Aya disse triunfante. – E o Dr. Sakamura não volta antes das dezessete horas, então tenho tempo de expulsar seus amigos daqui.

- Isso estava atulhando nossa sala na PSC, então resolvemos trazer para cá. É seu mesmo. Já contamos mais de três mil cartas, que não param de chegar, e sua mãe nos disse que seu quarto está cheio também. Seu Twiter está entrando em colapso, sua caixa de e-mail, explodiu. Todos querem saber como você está meu amigo. – Tora se aproxima explicando tudo aquilo.

Limpo uma lágrima teimosa. Eu não imaginava que eu fosse tão querido assim. Meus amigos percebem e tratam de alegrar minha tarde, que graças a Aya, foi muito especial. Estou cansado sim, mas feliz. Meus amigos são os melhores que alguém poderia ter. Kai apareceu por lá também. Ele disse que os outros Gazzetos estavam no saguão do hospital, não puderam entrar, mas que me mandavam força. Que todos na PSC sentiam minha falta.

Aya chegou por volta das dezessete e expulsou a todos, mas as cores do carinho permaneceram, o médico chegou minutos depois, por pouco não nos pegou em flagrante. Ao ver a nova decoração do quarto sorriu apenas, ele imagina sim o que houve, mas não falou nada. Só falta agora me mandar para casa para morrer em paz, ele não sabe o que eu tenho. Então não faz diferença se eu resolvo dar uma festinha no quarto ou não.

O médico me informa que mediante o exame eles vão mudar minha medicação, eu não entendo muito o que ele diz, e ele fala muito pouco. Uma péssima combinação. Aya me explica as vezes. Mas, uma coisa é certa no meu quarto só falta a rodinha para exercícios, me sinto como uma cobaia em uma gaiola.

- Okaa-san chame Aya, tem alguma coisa errada. – minha visão esquerda está escurecendo, uma sensação de pânico começa a me invadir.

- O que foi? – ela muda de feição ao sentir meu pânico.

- Meu olho esquerdo... – ela olha para ele com uma minúscula lanterna.

- Não tem nada aí, está doendo?

- Não posso ver...

- Eu já volto. Fique calmo.

Minutos depois meu médico entra apressado pela porta, mamãe chora segurando minha mão. Mais essa agora.

- Você tem um coágulo no seu olho. Vou avaliar com a equipe, não se preocupe. Fique tranqüilo. – o semblante do Dr. Sakamura não me deixa tranqüilo.

- Kaa-san, ouviu o que o médico disse tudo vai ficar bem. Agora seque essas lágrimas e vá descansar, já é tarde. Aya vai ficar comigo essa noite, lembra-se? E te espero para o café da manhã. Combinado?

- Mas filho...

- Kazamasa-sama, fique tranqüila, eu prometo que se esse bebê chorão te chamar durante a noite eu te ligo. – Aya sempre brincalhona.

- Está bem. Promete? – vejo desespero nos olhos dela.

- A senhora sabe que sim. – Aya responde carinhosa.

Minha mãe se foi, Aya também. Fico sozinho com minha solidão e agora com a escuridão total batendo a minha porta. Sua lembrança nesse momento é tão forte, sinto tanto a sua falta que chega a doer. Ligo a música que fiz para você, não sei por que sua lembrança está mais forte hoje. A melodia me embala. Inunda o quarto. Gostaria tanto que você ouvisse. Que gostasse dela.

- Que música linda! Na verdade sua voz é linda! – ela se aproxima com sua prancheta. – Sou sua fã, me dá um autógrafo?

Acabamos rindo de tudo. Ela deita do meu lado na cama, e respira fundo. Sei que ela também está cansada. E muito preocupada comigo. Minha amiga de tantas lágrimas, se não fosse ela, não teria sobrevivido a falta de Saga quando ele se foi. Ela estava sempre comigo naquele banco da praça, ela parecia adivinhar quando eu ia para lá. Nunca me perguntou nada. Nunca me cobrou nada. Apenas me abraçava.

Somente agora naquelas circunstâncias  ela resolveu dar vazão a sua curiosidade. Ou era uma forma de me manter ocupado. Não importa. As lembranças me ajudam a estar vivo, e ao mesmo tempo me faz aceitar a morte. Confuso eu sei. Mas é assim que me sinto.

- Quem escreveu essa música deveria estar muito apaixonado, ela é linda. – a voz dela não é mais que um sussurro.

- Sim eu estava. E morto por dentro. Nem sei como consegui cantar ela até o fim no lançamento do álbum. Eu disse antes, “Pra você meu mais caro amor...” no dia seguinte a imprensa especulava quem eu estava namorando. Foi um tormento, imprensa as vezes incomoda.

- É verdade! – ela se acomodou melhor. – Você contou como o pai de Saga reagiu ao amor de vocês, mas não me disse como seus pais reagiram. Eles ficaram sabendo?

- Sim. Minha mãe soube no momento em que se perdeu na tempestade dos meus olhos. Ela chorou comigo...

“- Filho, como isso foi acontecer? – Misato afasta um pouco o filho limpando suas lágrimas carinhosamente.

- O pai dele não deveria ter voltado hoje. Então nós nos esquecemos de fechar a porta, ele nos pegou durante um beijo.  Ele
disse que desonrei...– Shou estava constrangido, nunca havia falado com sua mãe abertamente.

- Desonrou quem? Mas... Você não ia dormir na casa de Sakamoto-san? – Inquiriu Kazamasa-san, não querendo entender o que acontecia.

- Minha casa... – responde Sakamoto-san, entrando na sala, transtornado.

- Não entendo... – Kazamasa-san olha para o amigo.

- Os dois! Doentes! Aberrações! Estavam se beijando, debaixo do meu teto. Há muito tempo! A conselheira da escola ligou. Perguntou se eu conversava com meu filho, se eu acompanhava a vida dele. – as lágrimas caiam silenciosas dos olhos do homem. – Se eu sabia com quem ele se relacionava, ficou um tempo falando
sobre diálogo. Então decidi voltar mais cedo. E seu filho estava beijando meu filho... Sua família desgraçou a minha.

Sakamoto-san saiu pela porta de cabeça baixa. Kazamasa, perdera o chão e sentou pesadamente no sofá.

-  Pai eu...

Kazamasa partiu para o filho com um tapa violento que o acertou em cheio seu rosto. Shou caiu, Misato ficou entre o marido e o filho, silenciosa. O olhar da esposa o trouxe a realidade. Ele havia machucado seu filho. Nunca havia feito tal coisa. Saiu pela porta cambaleante.

Shou jamais esqueceria o olhar de decepção do pai.

Dias depois de Saga ter partido, Shou caiu de cama com uma febre que não cedia. Kazamasa-san estava viajando e Misato cuidava do filho. Mesmo com o clima tenso na família Misato ligou para o marido. Ficou surpresa, ele não disse nada. Desligou o telefone assim que ouviu que o filho tinha febre há três dias.

A tarde desvanecia e Misato pedia a Kami que tocasse o coração do marido, mas Kami estava de plantão muito antes do pedido sincero da mulher. Ouviu a porta se abrir e o marido entrar correndo subindo os degraus aos tropeços.  Como se não houvesse tempo.

- Filho... Papai está aqui... – Kazamasa sussurrou apertando forte o filho contra o peito.

Shou delirava um pouco por conta da febre. Não registrava muito bem a presença do pai. Mas sentiu-se seguro.

Misato fechou a porta do quarto. Tudo ficaria bem entre pai e filho. Mas ela sabia que nada ficaria bem com seu filho. Aquele fio vermelho que vira anos atrás que a deixou até feliz, estava fortemente tensionado. Poderia até mesmo se partir.

Kazamasa-san passou a noite com Misato tentando baixar a febre do filho. Pela manhã ela deu lugar a um sono tranqüilo.

- Pai...? – Shou pareceu surpreso ao se ver acomodado no colo do pai como fazia quando era criança.

- Pode me perdoar filho? Não queria te machucar...

- Não me machucou... Eu o envergonhei...

- Não filho, você nunca me envergonhou, você é meu filho e eu amo você mais que a mim mesmo.

Shou fechou os olhos e dormiu tranquilamente. Perceber que seu pai ao menos tentava lhe compreender, não tinha preço...”   


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando!
Jinhos da Belle