Olhos Vermelhos escrita por liljer


Capítulo 1
Olhos Vermelhos


Notas iniciais do capítulo

Isso me veio de repente. Me fazendo perder uma noite de sono, enquanto eu pensava passo a passo e até anotava.
Eu não considero a Tasha como uma terrível vilã. Até gosto um pouco dela. Ela tem fibra e ideais, só não soube usá-los tão bem. Enfim, deixando de enrolação...
Boa leitura!!



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Lucas e Moira estavam atrasados.

E eu podia sentir, enquanto apertava a mão do pequeno Christian que algo ruim havia acontecido.

Maldita premonição.

“Eles estão atrasados,” eu brinquei com Christian, que tremia de frio, enquanto o vento vinha em nós. O sol começava a se por, e pelo o que eu sempre havia aprendido, os inimigos poderiam estar apenas nos esperando. Eu suspirei, frustrada, enquanto caminhava para o cinema cheio. Christian alegou algumas vezes estar com frio e fome e querer ir para casa. E eu também queria ir...

“Ok,” eu disse, de repente me sentindo exausta “vamos para casa.”

Christian abriu um pequeno sorriso, enquanto caminhávamos até o carro. Um Honda. Ele entrou e se sentou ao meu lado, no banco do carona, enquanto ligava o aquecedor e eu dava a partida. O que teria acontecido à Moira e Lucas? Eles nunca haviam deixado Christian sozinho por muito tempo. Nunca sequer se atrasaram... Sempre foram tão responsáveis a respeito do pequenino.

Eu peguei o telefone mais uma vez e disquei o número pela vigésima vez, e enquanto chamava e dava na caixa de mensagens. Outra vez.

Em alguns minutos havíamos chegado na casa de Lucas. Nós descemos do carro, ainda estava bastante frio do lado de fora, e por Deus, eu queria muito uma xícara de chocolate quente.

As luzes da casa estavam acesas, e eu me odiei naquele momento por não ter vindo mais cedo. Meus pensamentos girando com a pressão do frio sobre mim e Christian. Ele sorriu, notando que seus pais estavam em casa. Nós entramos sem nem ao menos bater ali.

A claridade vinha do final do corredor, e indo até a sala, pude notar que a lareira estava desligada.

“Lucas? Moira?” chamei no pé da escada. Um lado coerente e curioso me disse que eu precisava subir e ver se havia alguém ali. Então, eu tomei essa decisão. Deixando Christian atrás de mim. Meus passos pequenos e silenciosos. Eu não havia aprendido exatamente como usar o fogo, mas eu sabia que meus instintos estavam ali. Eu me voltei para Christian “fique aqui...”

Ele apenas assentiu, e eu agradeci por ele ser tão obediente naquele momento.

Eu subi as escadas, lutando para ser o mais quieta possível. O barulho das minhas botas mal rangiam na madeira.

As luzes no andar de cima estavam apagadas, exceto pela luz que saia pela brecha da porta do banheiro. Tão silenciosamente quanto pude, eu fui até lá. Eu abri a porta, tão quietamente, como se pudesse surpreender algum ladrão ali. E então... Não foi aquilo o que eu esperava.

Eu senti minha mente girar, enquanto a náusea me subia, e eu sentia a vontade terrível de gritar.  

O corpo estendido no chão não era de quem eu esperava, e aquilo me deixava contente, mas de alguma outra maldita forma, eu notei, sob todo aquele sangue de quem se tratava: o jardineiro.

A ânsia fora pior, mas ela desapareceu por um segundo, quando eu escutei um som.

“Tia Tasha” Christian murmurava, e quando me virei, eu o notei na porta do banheiro, no corredor. Não o suficientemente perto para ver o corpo, mas o suficiente para ver meu terror e que algo não estava bem.

“Querido!” exclamei em desespero, indo o mais rápido que pude até ele e o pressionando contra meu corpo. As lágrimas começavam a escorrer por meu rosto. E desviando um pouco meu rosto, eu me dei conta de que sangue escorria pela porta do quarto. Antigo quarto de Christian. Eu senti o terror vir... Eu não queria ver quem era daquela vez. Porque alguma coisa dentro de mim se acendeu tão rápido quanto poderia ter acontecido. Como um interruptor.

Moira e Lucas haviam se tornado Strigoi.

Todo o pânico voltou, ou talvez, nunca tivesse ido embora. Eu segurei Christian pelos pequenos ombros, enquanto ele me encarava assustado. Eu o estava assustando...

“Precisamos ir embora” eu disse, tentando esconder o terror do meu rosto.

“E quanto a papai e mamãe?” perguntou ele, assustado.

“Nós vamos vê-los...” menti. Dei-lhe um sorriso encorajador. O melhor que eu pude. Ele assentiu, ainda hesitante, enquanto caminhava até as escadas. Eu estava logo atrás dele.

“O Sr. Max!” exclamou Christian, esticando a mão, enquanto eu o carregava no colo.

“Precisamos ir, Christian!”

“Está no quarto...” ele choramingou. Eu suspirei, enquanto o colocava de volta no chão.

“Fique aqui.” Eu ordenei, e ele assentiu, enquanto eu corria até o quarto de Christian. Eu lutei contra a ânsia de vomito que me veio ao ver o outro corpo estirado no chão, ainda pior do que o anterior no banheiro. Dessa vez, tratava-se da antiga empregada Moroi de Lucas e Moira. E eu senti tudo ainda pior. Eu a havia conhecido. Havíamos conversado. E dessa vez, eu podia ver Mônica ensanguentada e sem vida, no quarto de Christian.

Mas eu não me dei muito tempo para pensar, enquanto eu corria até a cama e pegava o brinquedo dele que estava ali. Ignorando outra vez Mônica morta e correndo de volta até o corredor, para ver Christian encarando o nada, estático. Tão novo... Tantas coisas acontecendo...

Eu carreguei novamente, o tirando do transe e correndo para baixo, direto para fora, em busca do meu carro. E quando entramos ali, eu senti o alivio me vir... Bem, por parte... Alguma parte dentro de mim dizia que Moira e Lucas viriam atrás de nós. Strigoi não tinha coração. Não se importaria em nos matar. E por Deus... Christian era tão novo.

Nós chegamos na minha casa, onde eu costumava ficar quando estava fora da Corte. E Christian havia cochilado ao meu lado. Eu me senti amolecer, enquanto eu saia e o pegava no colo, caminhando para dentro e o colocando na minha cama. Ao menos, um de nós conseguia dormir em paz.

Eu me peguei sorrindo.

Mas logo, os acontecimentos me voltaram... Moira e Lucas... Meu irmão e sua esposa haviam se tornado Strigoi... Por livre e espontânea vontade.

Afundei meu rosto em minhas mãos, enquanto eu sentia as lágrimas voltaram aos meus olhos. Caindo.

“Merda!” não consegui evitar. E me levantando, mais uma vez, eu cobri Christian, deixando a luz de um abajur no canto do quarto acesa. Me certificando que as janelas estavam bem fechadas, eu liguei para meu guardião, Frank, que deveria estar comigo.

Merda. Eu não deveria tê-lo dispensado, onde diabos eu estava com a cabeça de tê-lo feito?

Quando Frank atendeu, eu dei-lhe a mais curta e desesperada explicação sobre o que havia acontecido. Sobre os pais de Christian.

“Eu estou indo para aí” ele disse, desligando o telefone. Eu me senti afundar na cadeira ao lado do telefone.

Eu não sabia exatamente quanto, mas ainda sabia que alguns minutos haviam se passado desde que eu estive ali, sentada, sentindo o vazio vir em cheio. Até que eu escutei um som do lado de fora da casa; carros.

Dois guardiões caminhavam até a porta, e eu a abri assim que eles bateram. Eu ainda estava apavorada, mas a sensação de pavor diminuiu assim que eu vi Frank. Eu o abracei, o que talvez nem fosse tão aceito no nosso mundo, mas éramos amigos...

“Está tudo bem” ele acariciou o topo da minha cabeça, enquanto eu matinha minha cabeça em seu peito. O outro guardião ao seu lado, parecia alerta.

“Onde está o garoto?” perguntou ele, enquanto espionava tudo.

“Dormindo,” eu disse. Ele assentiu, enquanto caminhava até o quarto. Frank me fez sentar, enquanto tentava me acalmar. E por Deus, eu não conseguia.

Em alguns instantes, eu senti Frank tenso. Algo estava acontecendo, percebi. E para minha surpresa, a porta da frente caiu, fazendo um barulho estrondoso. Nós nos viramos para a o corredor, onde a porta ficava. Frank se levantou, tal como eu, em um reflexo de guardião.

“Vá para o quarto, e se esconda!” ordenou ele numa voz que mal era um sussurro, e eu assenti. E sem hesitar, eu corri para o quarto onde Christian estava dormindo. O segundo guardião saiu rápido demais, indo ajudar Frank, e eu me senti agradecida.

Christian havia acordado com o barulho da porta. Seus olhos largos de medo, mas ele estava mudo, e eu agradeci por isso.

“Venha! Vamos nos esconder,” murmurei para ele, enquanto silenciosamente eu abria a porta do guarda roupa. Ele me encarou, hesitante, mas logo, entrou no armário. Eu estava logo atrás dele, me aconchegando no pequeno espaço ali, abraçando Christian. Na realidade, eu o protegi com meu próprio corpo. Me curvando sobre ele.

“O que está acontecendo, tia Tasha?” perguntou ele, sua voz rachada.

“Não se preocupe com isso, querido” sussurrei. Christian era forte, notei e concordei com um sorriso. Ele era forte.

E naquele momento, percebi que eu também tinha que ser.

Um longo som de luta soou fora do quarto, e eu me perguntei se estava tudo bem com Frank e o outro guardião. Eu torcia para que sim. Mas alguns segundos se passaram, e o silencio encheu tudo. Eu senti as minhas esperanças se renovarem. Estaria tudo acabado por fim?

Meus pensamentos foram interrompidos por sons de passos. E antes que eu pudesse fazer algo, a porta do quarto fora arrombada. Eu não respirei, e eu sabia que Christian estava da mesma forma.

“Natasha...” a voz de Lucas soou. Mas não era como se fosse a de Lucas. Era fria, sem nenhuma emoção. E um arrepio de medo me subiu. Christian ofegou baixo de medo. “Apareça... Apareça de onde você estiver...”

E antes que eu pudesse ter qualquer outra reação, a porta do guarda roupa se abriu, num puxão forte. A brisa causada pelo momento bateu sobre minhas costas. E logo, senti uma mão fria como gelo me puxar, me arremessando para longe. Minha cabeça em encontro com a cama. Lucas riu, friamente.

“Oh, meu Deus...” eu murmurei horrorizada. Ele se abaixou, segurando meus ombros cuidadosamente.

“É bom te ver” ele disse.

Eu o observei cuidadosamente, sentindo todo o terror me paralisar. Aquele era Lucas Ozera. Meu irmão. Agora, um Strigoi.

“Ande logo com isso!” a voz soou da porta. Eu me virei para ver Moira, e o choque também me veio. Seus longos cabelos castanhos em contraste com sua pele extremamente pálida. Tão branca como um cadáver. Eu resfoleguei, ainda paralisada. Seus olhos, antes azuis escuros, agora, com círculos vermelhos, e olheiras sob seus olhos, em sua pele pálida.

“Oh, meu Deus... Moira?”

“Ande logo, os guardiões logo virão!” ela exclamou para Lucas, que lhe lançou um olhar mortal. Eu me senti estremecer de medo.

“O que vocês vão fazer?” perguntei, agora, me voltando para Lucas.

“Levar Christian” disse Moira, caminhando até o guarda roupa.

“Não!” eu gritei. Moira o agarrou, arrastando-o de dentro do guarda roupa.  

“Mamãe?” Christian questionou, enquanto estudava a mulher ali.

“Ela não é sua mãe, Christian! Não vá com ela!” eu gritei para ele, seus grandes e assustados olhos azuis pálidos como os de nossa família, se alargaram em choque. Ele estudou sua mãe novamente, agora, detalhadamente. Eu sabia que ele estava como eu, não acreditando naquilo. E por Deus, eu estava lutando para acreditar. Mas o lado protetor de mim, todo o amor que eu sentia por Christian me veio. “Não vá com ela!”

Christian se encolheu no canto escuro do guarda roupa.

“Maldita!” gritou Moira, se materializando na minha frente, e me levantando pelo cabelo. Uma dor terrível, enquanto ela me jogava contra a parede, do outro lado do quarto. Eu não estava acostumada àquilo. Diabos, eu nunca me acostumaria.

Eu lutei contra a dor, enquanto sentia a adrenalina vir. E agarrando um abajur ali perto de mim, eu acertei Lucas, que estava mais perto de mim, com toda a força que eu pude. Ele cambaleou com o susto, mas logo se recuperou, caminhando até mim novamente, seu rosto convertido em fúria.

Eu me amaldiçoei por não saber usar minha magia corretamente. Mas tudo o que eu sabia, eu fiz. Colocando fogo ao redor do guarda roupa, afastando Moira, e arrancando um grito dela.

Lucas me agarrou pelo pescoço, e eu soube, naquele momento que eu jamais conseguiria detê-los. Eu me contorci, à medida que Lucas aproximava seus dentes afiados da minha garganta. E eu vi Christian assistir. Seus olhos largos de pavor. Enquanto Moira tentava evitar o fogo e chegar até ele.

Os dentes de Lucas acertaram meu rosto ao invés da minha garganta, e eu me senti contente por um instante. Foi nesse exato momento quando eles entraram.

Os guardiões, e as coisas aconteceram tão rápido que eu mal pude notar. O pavor ainda em mim. E em alguns instantes, eu vi suas estacas afundando nos peitos de meu irmão e sua esposa, após lutarem em vão. Os guardiões conseguiram.

E quando eu caí, eu senti a barreira do fogo cair também. E me arrastando até Christian, eu o agarrei, o apertando contra meu peito, enquanto nós dois chorávamos.

“Está tudo bem... Agora está tudo bem, querido” eu o ninei, enquanto ele chorava desesperadamente contra mim. Eu o apertei ainda mais. Soluçando.

Tudo o que eu podia ver, naquele momento era o caos e o meu amor por Christian, que nunca havia me parecido tão frágil. E eu soube, naquele momento que, por hora, tudo ficaria bem.

Porque eu me prometi, naquele instante, que eu havia sido fraca.

Até agora.

Fim.


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Notas finais do capítulo

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