Esquecidos escrita por PetiteHunter


Capítulo 2
- Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é realmente curto. Desculpem por isso D:
Boa Leitura!'



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         Quando a euforia adolescente típica se acalmou após a notícia que anunciava uma história para o filme, a rixa entre Lísis e Simone finalmente se apaziguou. Embora todos estivessem ansiosos e curiosos a respeito, Emily pediu um pouco de tempo para pensar. De alguma forma a história estava se interligando aos seus sonhos, ela podia ouvir os cliques do quebra-cabeça se montando em seu subconsciente. Na varanda do Chalé, tinha o notebook de Akemi nas mãos enquanto alguns dormiam, digitando quão rápido poderia, tentando não se perder em meio de tantas palavras. Richard a ajudava com as cenas, marcando os lugares e entrando em contato com algumas pessoas que conhecia com seu netbook. David também estava ali, rabiscando algumas falas.

         A neve, que começara a cair pouco depois da briga, havia cessado deixando uma grossa camada branca cobrir todo o gramado, assim como o teto da Kombi e o telhado do Chalé. A noite estava quieta, como se tramasse algo. O silêncio não reinava ali por pouco, com as palavras raramente trocadas entre os três. O som da caneta se arrastando pelo papel lembrava a de unhas se arrastando pela lousa, o som das teclas afundando lembravam marchas fantasmagóricas junto à brisa gelada em suas direções.

         Em certo ponto da noite, as pálpebras de Emily não aguentaram mais o brilho e contraste da tela, ela notou que David e Richard, embolados em seus cobertores térmicos também cochilavam. A tela do netbook piscava freneticamente, mostrando a bateria fraca. A caneta na mão de David pendia, quase caindo.

         Uma lebre cinza surgiu do céu, assustando a Emily que tinha os olhos quase fechados. Pousando forçadamente no teto da Kombi, a lebre pulou de volta para o chão, virando a cabeça para fitar Emily. Encarava-lhe com certo desdém, como se não fosse muito mais digna que um floco de neve. Então ela voltou a correr, sumindo por de baixo de um pequeno armazém, não muito longe do Chalé.

         A necessidade de segui-la percorreu cada fibra do corpo de Emily. Sem conseguir controlar os movimentos,ela se levantou deixando o cobertor cair sob seus pés descalços. Desceu os dois degraus, deixando o pé afundar na neve. Ela andava um pouco trôpega, como se sua perna estivesse quebrada. A cada inspiração, sentia algo se alastrar em seus pulmões, inflando-os.

         Caindo de joelho em frente ao armazém, ela encontrou um pequeno buraco na parede fazendo ligação com o chão. Sua mente sabia que a porta estava a menos de um metro de distancia, mas seu corpo precisava entrar ali.

         É impossível! Gritou, mas apenas um lamento baixo saiu por sua boca. Seus pensamentos estavam se embaralhando, estava difícil de raciocinar. Passou primeiro os braços, sentindo o chão grudento do lado de dentro. A cabeça e os ombros passaram quebrando alguns ossos, ela sentia cada osso se partindo. Ao chegar na cintura, o buraco tentou se fechar e um grunhido de raiva passou por seus lábios.

         Emily não controlava nada. Era apenas uma espectadora de seu débil e animal corpo, sendo controlado por algo maior que ela, uma força tão esmagadora que partia a alma.

         Com força descomunal, o resto de seu corpo passou pelo buraco. Se rastejando pelo pequeno espaço, não conseguiu enxergar o fim do apertado túnel, mas continuou a rastejar, usando apenas os braços para impulsionar.

         Em certo ponto, o túnel começou a girar e sua visão se apagou. Ela sentiu o corpo ser chacoalhado e o frio em suas costas. O gelo em seu âmago concluiu a queda, e em pouco tempo estava no chão. Um chão revestido por um longo tapete de veludo vermelho vivo.

         O teto estava distante, revestido de dourado e entalhado perfeitamente. Um grande lustre bronze ofuscava sua visão. O barulho de conversas era constante. Como se fosse fumaça, Emily sentiu flutuar. Pessoas vestidas a gala caminhavam tranquilamente e falavam russo. Algumas dialogavam em inglês, e um trio a cinco metros de distancia, sentado no bar conversava em francês. Um jovem casal de gêmeos vestido de preto passou rindo. Emily os seguiu.

         O garoto tinha cabelos castanho-acinzentado assim como os da menina, olhos escuros iguais aos dela e o tamanho esguio. Eles rumaram para um dos corredores mais afastados do anfiteatro, adentrando no elevador. Enquanto subiam, a menina rodeou os braços ao redor do pescoço do irmão. Ele lhe retribuiu um sorriso genuíno, segurando firmemente em sua cintura. Em meio a carícias e roçar de lábios, a menina endureceu. Estava cinzenta, os olhos vagos e inexpressivos. Logo o Elevador parou e dois homens de terno e gravata entraram ocupando quase todo o espaço pequeno.

         - Você fez a coisa certa, garoto. – O homem moreno disse em russo. – Ela era um perigo para toda a cidade.

         Ele, com lágrimas nos olhos, se separou da irmã, tirando uma grossa seringa de sua cintura. Sem falar muito mais, ele saiu do elevador.

         A cena congelou. Emily permaneceu olhando para a menina, que agora aparentava uma estátua. Embora tudo em seu corpo estivesse morto, a expressão continuava tão sonhadora como antes.

         - Vamos – O outro disse. – Antes que comece a fazer efeito.

         - Não vai ser bom ela ter um ataque na frente de todos. – O moreno concordou.

         O elevador tornou a parar, a porta se abriu e os dois levaram a garota. E tudo ao redor de Emily se tornou uma grande massa cinzenta, que escureceu até sua alma se afogar no próprio breu.

* * *

          O dia seguinte se passou corrido. Um corre-corre impertinente, indo e vindo de lá para cá, comprando material e checando o que já tinham. Folhas e mais folhas de scripts improvisados, gritaria e conversas ao telefone todo o tempo. Quando estava tudo pronto, todos com exceção de Austin, que fora o único a não trabalhar por ter que dirigir, adormeceram na Kombi. David ainda se encontrava grogue no banco do passageiro na frente, mas fazia esforço exagerado para manter os olhos abertos.

         - Austin, me diz que você decorou o caminho do Hotel que se ofereceu pra patrocinar? – David perguntou grogue. Austin riu baixo.

         - Deste eu nem desdobrei o papel. – Riu com desdém.

         - Você está me zoando, NÉ? – David alterou o tom de voz, o que fez Ramon se mover desconfortável no banco de trás.

         - Não. – Falou baixo. – Vamos para Pripyat.

         - Mas e a radioatividade?

         - Qual é, você acredita nessa história pra boi dormir?

         - Mas houve o acidente e – ‘

         - Depois de todos esses anos não deve haver resquício nenhum de radioatividade, fantasmas ou zumbis. Eu chequei o mapa, há um posto de gasolina por essas bandas. Vamos comprar mais mantimentos e o que acharmos for preciso. Vamos direto para lá e acabar com isso. Vai ser muito mais fácil. Gastaremos menos também. – Deu de ombros. – Todo mundo sai ganhando.

         David negou com a cabeça.

         - Não, trate de ir para a porra do Hotel, Austin! – Irritou-se, sonolento. – Isso não é seguro.

         - A vida não é segura, David. Nem com a Warner Bros iríamos conseguir imagens tão boas como as da cidade em si. Vai ser moleza.

         - Emily não vai gostar disso. – Bufou.

         - Bom – Austin ajustou o espelho retrovisor para encarar Emily que tinha a cabeça tombada para o lado, dormindo serenamente. – Eu tive de me acostumar a ficar sem ela. Ela que se acostume a não ter os caprichos feitos.

         Certo tempo depois, a Kombi atravessava a grande placa enferrujada com as letras “Bem Vindos há Pripyat” cheias de neve.


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Notas finais do capítulo

OK, eu sei. Pequeno.
Queria agradecer a minha querida Bia, irmã. E minha amiga Li por comentar na fanfic original, já que pelo que parece, serão as únicas a ler.
Enfim, de qualquer forma, se você for um leitor novo, comente! É uma ótima maneira de dar coragem para a autora continuar :3
O próximo capítulo pode demorar um pouco, sabe como é.
Beijos,
Petite Hunter