Certo dia, ao término do expediente, passei perto de um parque nas redondezas do escritório. E lá, vi o Sky-High-san sentado no banco.

Estava só.

E em seu colo, um enorme buquê de rosas.

Fiquei curioso.

O que ele fazia ali?

Me sentei num banco qualquer ali perto, que dava para enxergá-lo perfeitamente bem. Por mais que, bem, “trabalhássemos” juntos, não me sentia no direito nem com intimidade o suficiente para chegar e perguntar-lhe: - O que está fazendo?

Sky-High-san, sempre foi o meu ideal. Ele é o herói perfeito. Não é a toa que o título de KOH fique tão bem nele.

King of Heroes.

Tão puro, determinado, bondoso, forte e justo. Já eu, nunca me convenci ser digno de ser chamado de herói.

Pequenas gotas de água começaram a cair das nuvens que nem sei quando se amontoaram sobre nossas cabeças. Olhei para cima e meus lábios se contorceram minimamente em desgosto. Voltei minha atenção para ele, que apenas baixou levemente sua cabeça.

Aquilo me deu um aperto tão grande no coração.

Não sei o que estava acontecendo, não sei o que ele estava fazendo, não sei o que estava sentido... Só sei que... Aquilo doeu muito em mim.

Rapidamente comprei um guarda-chuva e caminhei até ele, dessa vez não me importando se eu devia ou não, ou se eu podia ou não. Apenas, queria fazer isso. Não consegui me barrar e prossegui. Parei a sua frente e ele demorou a me notar. Seus olhos levantaram-se lentamente e como sempre, sorriu...

Mas com um olhar horrivelmente, vazio.

Estendi-lhe meu guarda-chuva e ele comprimiu seus olhos num sorriso ainda maior.

– Origami-kun! - disse com aquele sorriso perfeito...

– Shh! Keith-san! Estamos em público! - repreendi-o num pequeno sussurro.

– Hahaha, é mesmo. Desculpe... Ivan-kun. - sorriu sem graça.

– Vai se resfriar... - apenas disse.

Ele me olhou levemente espantado, mas mais uma vez, aquele sorriso desenhava-se em seu belo rosto. - Obrigado, e obrigado, Ivan-kun. - fechou seus olhos e baixou minimamente a cabeça. - Eu estou bem. - seus dedos se entrelaçaram sobre seu colo.

Ele esperava por alguém que não veio.

Muito provavelmente esperava por ela. Aquela pela qual todos dizem que ele se apaixonou... Nossa... Meu peito dói só em pensar. Que tenso... Haha...

– Fique com ele. - entreguei-lhe meu guarda-chuva.

Ele me olhou espantado e recusou, obviamente.

Suspirei e quando ele tentou me devolver o objeto, me transformei num gato e lhe disse que assim eu correria muito mais rápido. - Tirando o fato de que se engrossar, eu posso me esconder por ai. - sorri. E logo sai de perto dele antes que ele dissesse algo para me impedir. E até sair de seu campo de visão, corri sem olhar uma única vez para trás.

Me transformei num passarinho e me abriguei num toldo bem longe dali, onde eu ainda pudesse vê-lo... E por duas horas, continuei ali. Zelando por ele em silêncio.

... Até que... Eu não aguentei mais... Voei em sua direção e atrevidamente, pousei em seu ombro esquerdo. Ele me olhou espantado, mas riu quando abri minhas asas e tirei o excesso de água delas.

– Oya*. Chuva forte, não? - disse num terno sorriso.

Sky-High-san tem um lindo Golden Retriever chamado Jhon. Achei que fosse só com ele que o Sky-High-dono* conversasse... Hm, pensando bem, já o vi falando com outros animais... Com vários outros animais.

Para não dar na vista, como qualquer outro passarinho, pulei me virando para ele e inclinei minha cabeça num pio. E mais uma vez, eu via aquela carreira perfeita de dentes. - Obrigado por me fazer companhia. - disse e se virou para frente, fitando o nada... Com um doce sorriso nos lábios.

As horas foram passando e já estava muito tarde. Todo esse tempo, ele ficou em silêncio. Não entendi bem o porquê, mas ele ainda sorria. O tempo todo. Até que em um determinado momento, ele suspirou.

Certo, aquilo me doeu. E como me doeu. Por impulso, pulei para mais perto de seu rosto e encostei minha cabeça em seu pescoço. Ele se virou minimamente e acariciei seu rosto com minha cabeça... É estranho fazer isso, mas bem, eu não posso fazer isso com minhas asas... Posso...?

Senti sua bochecha se mover e ele colocou seu indicador direito à minha frente. Entendi que era para eu subir ali e assim o fiz. Ele me puxou para perto de seu rosto e como eu estava de costas, me virei para fitá-lo de frente. Virei minha cabeça de um lado e do outro e ele carinhosamente sorriu. Nunca o havia visto tão de perto... Ele realmente é muito bonito. Não entendo com o que a pessoa ficou insatisfeita para deixá-lo plantado aqui por tanto tempo! Nossa... Estou começando a ficar irritado!

… Contudo, antes que minha ira começasse a despertar e fazer seu estrago costumeiro, vi seu rosto se aproximar de mim. Por reflexo fechei meus olhos e me encolhi levemente. Foi então, que senti seus doces lábios me tocarem o topo da cabeça.

Nem preciso mencionar o susto que foi, né? Mas... Ainda bem que eu estava “versão pássaro”! Assim não dava para ver o quanto eu fiquei vermelho.

… Espero...

Fiquei em pânico, não sabia o que fazer. Foi então que sua mão, num delicado movimento, me jogou para cima. Não entendi muito bem, mas bati minhas asas. Parado no ar, olhei para ele sem entender e mais uma vez, aquele sorriso me desconcertando.

– Obrigado! E então, obrigado! - ele levantou suas mãos naquela pose tão tradicional dele.

Não posso negar... Fiquei feliz com isso. Embora ele não pudesse ver, abri um enorme sorriso e fui embora. Nem havia notado que ele não estava mais com o buquê em mãos. Assim como, nem notei que a chuva havia cessado. Ficar perto dele, realmente me desconcerta todo. Eu ainda estava meio preocupado, mas ele havia demostrado que não havia mais necessidade para isso.

Que já estava tudo bem.

08.03.2012