Sai do quarto ainda meio sonolenta indo para a cozinha enquanto coçava os meus olhos. Cheguei à mesma e abri a geladeira em busca de algo para comer. Foi aí que eu lembrei que tinha que fazer comprar. Bufei voltando para o quarto e indo para o banheiro aonde fiz a minha higiene matinal. Troquei de roupa e logo estava pronta para sair de casa. Peguei o meu celular que por sorte ontem não quebrou, a minha carteira, e os coloquei no bolso do short. Botei algumas pulseiras nos meus pulsos para tampar os cortes que ainda se cicatrizavam e peguei as chaves do apartamento saindo em seguida.

Andei pelo corredor chegando ao elevador. Nem precisei apertar o botão, pois assim que cheguei de dentro dele saiu uma senhora e um homem agasalhados. Entrei antes que a porta fechasse e apertei o botão. Me encostei na parede e fechei os olhos de cansaço devido a outra noite mal dormida. Acho que nunca ficarei em paz, ou dormirei de novo tranquilamente. O elevador parou interrompendo os meus pensamentos e eu sai do mesmo em direção as portas de vidro da portaria. Disse um bom dia para o porteiro que novamente respondeu e sai do prédio dando de cara com uma manhã gélida. O céu estava nublado e parecia que mais tarde iria chover, mas mesmo assim tinha algumas pessoas andando pela rua tranquilamente. Acho que esse tempo era comum nessa cidade.

Apressei o passo e abaixei a cabeça olhando para os meus pés que se movimentavam conforme eu andava. Pelo canto do olho eu podia ver alguns carros passando pela rua, não muitos, mas muito mais que ontem à noite. Logo cheguei naquela rua com algumas lojas e lanchonetes. Andei mais um pouco e entrei em outra rua, aonde tinha um mercadinho. Entrei nele e percebi que não estava muito cheio, o que era bom por sinal. Quanto menos tempo demorar melhor.

Peguei um carrinho e comecei a andar pelos corredores colocando as coisas que eu queria dentro dele (não sou eu que vou pagar mesmo). Peguei as coisas que precisava e acrescentei alguns salgadinhos, biscoitos, doces e bebidas. Voltei a andar a procura cereais, até que parei para pegar refrigerante, o que não foi uma boa idéia, pois algum filho da puta passou o carrinho por cima do meu pé.

– AAAAHH! QUE MERDAAAA! MEU DEDINHOO! QUEM FOI O IDIOTA QUE PASSOU ESSE CARRINHO POR CIMA DELE? – Comecei a resmungar e a gritar no meio do corredor, enquanto aquele ser estava parado na minha frente apenas me olhando sem fazer nada.

– Ah, meu deus! Me desculpa! – Falou depois que eu parei o meu escândalo. Apenas o fuzilei enquanto massageava o meu pé que latejava.

– Desculpas não melhoram nada! – Resmunguei fazendo-o me encarar.

– Está doendo? – Aquele ser ainda tem a coragem de perguntar se está doendo? Qual é o problema dele? Não respondi apenas o fuzilei colocando o meu pé no chão enquanto o xingava de tudo quanto é nome baixinho.

– Ryan o que você fez dessa vez? – Ouvi uma voz feminina perguntar. Ah, então o desgraçado se chamava Ryan...

– Nada demais, eu só passei sem querer o carrinho em cima do pé dessa garota. – Resmungou. O quê?

– Só? Só isso? Arg! – Gritei apontando o dedo no rosto dele. – Você é um idiota sem noção! Acaba de passar esse carrinho no meu pé e fala que não foi nada!

– Para de exagero garota! – Exclamou batendo no meu dedo o abaixando.

– Exagero? Claro! Não foi o seu dedo! – Reclamei cruzando os braços.

– Ei gente! Calma, não precisa brigar. – Falou aquela mesma menina de antes.

– Ah sim, claro! Vamos todos desculpar um ao outro e depois vamos sair para tomar sorvete juntos e felizes! – Exclamei sarcástica.

– Ótima idéia! Vamos! Vou te apresentar os meus amigos! Eu sinto que ainda vamos ser grandes amigas! – Respondeu ela sorrindo. É, acho que ela não percebeu o meu sarcasmo.

– Tudo bem, tudo bem. – Bufei já cansada daquilo tudo. – Olha, eu realmente preciso terminar de fazer essas compras. Não tem nenhuma comida na minha casa e eu estou morrendo de fome. Cheguei ontem de Nova York, e não consegui dormir direito à noite. Então por favor, não enche.

– Ah, você tem que terminar essas compras? Deixa que eu te ajudo. – Disse ela ignorando completamente o que eu acabei de dizer começando a empurrar o meu carrinho. – Então... Você veio de Nova York? Que legal! Mas por que veio morar aqui? Algum parente? Emprego? Ah, você tem quantos anos? Afinal, qual é o seu nome? Eu acho que...

[...]

Peguei a chave do apartamento e destranquei a porta entrando seguida da Caitlin e do Ryan que carregavam algumas sacolas. É, aquela garota se chama Caitlin e, não, eu ainda não consegui me livrar dela. Enfim, colocamos as sacolas em cima da bancada da cozinha e comecei a guardar as coisas enquanto o Ryan apenas olhava e a Caitlin me ajudava.

– Bem que você podia ajudar né? – Disse parando de colocar as coisas na geladeira e olhando para o Ryan que comia um dos meus salgadinhos.

– Ah, eu já carreguei aquelas sacolas até aqui em cima! Não reclama não. – Resmungou. Apenas revirei os olhos e voltei a guardar as coisas dessa vez nos armários.

Depois de algum tempo acabamos de arrumar tudo. Já estava pronta para dispensá-los e agradecer pela ajuda quando a Caitlin saiu me puxando e só deu tempo de eu pegar o celular e as chaves que estavam em cima da mesa perto da porta.

– Calma! Deixa eu pegar o meu casaco e trancar o apartamento. – Falei quando já estávamos em frente ao elevador.

– Ta, mas se você não voltar em cinco minutos eu vou lá e te...

– Ta. Ta. – A interrompi voltando para o meu apartamento.

Entrei no mesmo que estava aberto pegando o meu casaco em cima do sofá, desde ontem à noite. Eu até pensei na possibilidade de ficar por ali mesmo, mas me lembrei da Caitlin e acho que ela seria capaz de cumprir o que prometeu. Sai do apartamento o trancando em seguida. Segui caminho para o elevador, mas decidi ir de escadas. Cheguei à portaria e encontrei a Cait e o Ryan me esperando em frente às portas de vidro. Andei na direção deles que logo me viram. Saímos do prédio indo para a tal sorveteria. Sim, a Cait levou a sério aquele meu papo de todos irmos tomar sorvete juntos e felizes. Acho que ela não conhece uma palavra chamada ironia, mas enfim, agora estou sendo meio que obrigada a ir.

A Caitlin tagarelava algo que eu não estava muito interessada em saber, enquanto o Ryan mexia no seu celular e eu apenas caminhava quieta olhando para as pessoas ou carros que passavam. Viramos em uma rua que eu ainda não tinha ido aonde tinha uma rampa de skate e uma pracinha com parquinho aonde tinha algumas crianças e casais. Em volta da pracinha tinha lojas de doces, sorveterias, confeitarias, lanchonetes e algumas lojas masculinas aonde da vitrine se podia ver que algumas vendiam skates, outras tênis e bonés, e uma ou duas eram femininas. Ryan logo guardou o celular no bolso e saiu correndo em direção a pista de skate, e eu e a Cait fomos para a sorveteria. Empurramos a porta de vidro fazendo um barulhinho irritante e fomos para a fila fazer os pedidos. Logo chegou a nossa vez:

– O que vão querer? – Perguntou a atendente simpática.

– Eu quero um Milk shake de morango. – Disse a Caitlin para a moça. – E você Melly?

– Pode ser o mesmo só que de chocolate.

– Então um Milk shake de chocolate e outro de morango? – Perguntou a mulher. Assentimos e ela digitou algo no computador. - Obrigado pela preferência, a Ice&Shake agrade. Por favor, esperem os seus pedidos ao lado, que logo chegarão.

Esperamos um pouco e logo um homem nos entregou os milk shakes. Nos sentamos em uma mesa ao lado das grandes janelas de vidro que davam visão para a pracinha.

– Nem nos esperaram. – Ouvi a voz do Ryan resmungar. Me virei e dei de cara com outros dois garotos ao lado dele.

– Pensei que iam ficar lá andando de skate. – Disse a Caitlin chegando pro lado dando espaço para o Ryan sentar ao lado dela, enquanto os outros dois garotos se sentavam ao meu lado.

– Me da um pouquinho? – Perguntou o Ryan com uma voz fofa à Caitlin que o olhou parando de sugar o líquido pelo canudinho.

– Se você quer, compra um. – Disse voltando a beber. Os meninos ao meu lado apenas riram enquanto Ryan a fuzilava.

– Então, Melly, esse ai ao seu lado é o Chris e o do lado dele é o Chaz. – Falou o Ryan nos apresentando. Eles apenas sorriram para mim que retribui educadamente.

– E então, cadê o Justin? – Perguntou Caitlin provavelmente aos garotos.

– Hoje é dia dele ficar com a Jazmyn e o Jaxon. – Disse o garoto ao meu lado. Acho que o nome dele é Chris.

– Ele ainda não voltou para casa? – Novamente Caitlin perguntou.

– Não. Ele disse que só vai voltar quando o pai for se tratar ou a mãe parar de aceitar aquilo. – Dessa vez respondeu o outro garoto, o Chaz. Olhei para eles com o cenho franzindo demonstrando que não estava entendendo nada.

– Justin é um amigo nosso que foi morar sozinho por motivos... Hum... Pessoais... – Comentou Caitlin percebendo a minha dúvida. Assenti voltando a beber o meu Milk shake.

[...]

Suspirei fechando a porta do meu apartamento e jogando o meu casaco novamente no sofá. Deixei as chaves e o meu celular em cima da mesinha e fui para o meu quarto. Tomei um banho e botei o meu pijama. Fui para a cozinha aonde peguei um pacote de doritos e uma latinha de coca cola. Voltei para a sala ligando a televisão e deixando em um canal qualquer. Me joguei no sofá abrindo o pacote de doritos e começando a come-lo. Abri a latinha de coca cola e tomei um gole. Comecei a ver o filme que eu nem sabia o nome, mas aparentava ser interessante.

Depois de um tempo ouço a campainha tocar. Quem seria? Já eram 20:30 da noite.