Acredito que o nosso ser é feito de duas faces. A batalha entre as duas metades de sua identidade, quem somos e quem queremos ser, é inevitável.

Chutei uma pedra com raiva, me sinto uma grande estúpida. Eu me perdi no meio da floresta na qual eu cresci, como isso é possível? Não faço ideia. Pelo o que eu entendi, agora os deuses tem que reconhecer todos os seus filhos. Mas antigamente não era bem assim, o chalé de Hermes era completamente lotado. Só os campistas que estavam lá a mais tempo tinham o direito de uma cama, o resto só ganha um canto no chão.

Por causa dos meus pesadelos, Luke achou melhor construirmos outro lugar para ficar. Ficava mais para dentro da floresta, um pouco perto da praia de fogos. È só uma pequena cabana, mas para os outros campistas era considerado um chalé para a deusa Quione. Peguei uma faca de dentro da minha mochila e comecei a cortar todos os galhos que estavam na minha frente, de verdade não estava com muita paciência. Cheguei na frente da pequena cabana e não tive coragem de continuar, era estranho entrar lá depois de tanto tempo.

Peguei a chave que eu deixava escondida debaixo de um vaso de flor e abri a porta. Eu esperava encontrar o lugar todo bagunçado, sujo com mofo e poeira para todos os lados, já que ninguém deveria ter usado esse lugar desde que fui embora. Mas pelo contrário, o lugar estava completamente arrumado e limpo, e parecia que algumas coisas nem eram minhas.

Escutei alguns passos vindo de trás de mim, mas não me dei ao trabalho de olhar quem era. Estava paralisada sem coragem de entrar.

– Ahn... Eu posso explicar... – Nate disse atrás de mim. Me virei e o encarei com uma careta. Ele fez um sinal com a cabeça para eu entrar primeiro. Entrei e joguei minha mochila em um canto, me virei para o meu (a partir de agora) ex-melhor amigo.

– Então...? – perguntei de braços cruzados. Ele engoliu em seco e entrou mas mantendendo uma grande distância de mim.

– Bem, depois que Quíron disse que você havia morrido, eu meio que me senti culpado, e comecei a passar um tempo aqui, foi mal. – Ele disse sem me olhar. Por um lado eu me senti feliz por ele se sentir culpado, afinal ele deveria. Mas logo tive vontade de quebrar alguma coisa, eu estava certa eles haviam dito que eu morri.

– Quando eles disseram que eu morri? – perguntei.

– Logo depois que Luke foo-oi ér po-po-s...– ele começou a gaguejar.

– Possuído. – falei entredentes. Me virei e fui para a parede do lado da cama, era onde tinham muitos desenhos e fotos.

– Eu tentei te contar assim que ele saiu do acampamento. Só que, Ally os deuses... me impediram. – Nate disse agora calmo.

Eu não sei o que me deixou mais irritada, Nate me chamando pelo meu apelido, ou ninguém ter me contado por que os deuses mandaram.

– Deveria ter me contado! – exclamei deixando uma lágrima escorrer no meu rosto.

– Eu queria! Eu queria e muito! Mas eles me disseram que iriam resolver isso, e que se te contássemos só iria causar mais problemas. E você iria ficar decepcionada com Luke, não era justo com você.

– E agora ele está morto! Eu poderia tê-lo impedido. Droga! – gritei.

– Desculpa, tá legal. Eu sinto muito. Mas não destrua a sua vida por causa disso. Por favor. – ele pediu.

– Era o trabalho de Annabeth cuidar para que nada de ruim acontecesse com ele! E de Thalia assim que ela voltou. Mas ninguém fez nada, não é justo. – falei passando mão por uma foto. – Ele era meu irmão, ele era a minha verdadeira família, o único que eu podia confiar. Foi errado ter confiado em vocês e nos deuses, já que nenhum de vocês realmente se importava com ele.

– Ally... – Nate começou.

– Sai daqui... – falei de costas para ele.

– Sinto muito. – ele sussurrou, mas não se mexeu.

– SAI DAQUI! – gritei. Senti toda a temperatura da cabana baixar. Isso acontecia quando estava com muita raiva, e acredite eu estava com muita raiva.

Ele se afastou com uma expressão triste no rosto e antes dele dizer qualquer coisa eu bati a porta com toda a minha força.

E pela primeira vez desde que eu descobri a verdade me permiti chorar. Me joguei na cama e me abracei com o travesseiro.

Não percebi o tempo passar, e quando me acalmei já era noite. Escutei alguém vindo para a cabana, mas eu não queria falar com ninguém.

– Clarisse, deixa ela. Você conversa com a Ally depois. – pediu alguém que percebi que era Chris.

– Cala a boca. Eu faço o que eu quero,nem a Annabeth nem a Thalia, podem ajudar agora.

– E se ela não quiser te ver?

– Acredite, ela precisa de alguém nesse momento. Ela perdeu o irmão. – Clarisse falou.

Eu sabia que Clarisse e Chris estavam namorando. Também sabia que Chris havia se aliado a Cronos junto com Luke. Afinal ele foi um indeterminado a vida toda. Agora que ele foi determinado por Hermes, eu tenho que considerar ele meu meio-irmão. Mas eu me recuso.

Alguém abriu a porta, e vi Clarisse entrando dentro da cabana com um pequeno jantar na bandeja. Chris estava do lado de fora, me olhando com tristeza. Clarisse sempre cuidava de mim quando eu era pequena. Foi sempre assim, ela era a malvada com os outros campistas mas quando se tratava da pequena Allison o seu coração de filha de Ares virava manteiga derretida.

Assim que ela viu que eu chorava veio correndo e se sentou ao meu lado. Me abraçou e eu não recusei. Pelo menos eu podia confiar em alguém. Agora que todos me temem. Eu preciso de alguém que realmente se importe comigo.