Wingless Angel escrita por Sugi_hide


Capítulo 3
Aceitar a loucura é sinal de lucidez.


Notas iniciais do capítulo

Demorei, eu sei!Me desculpem, mas desanimei com essa fic e a culpa não é de vocês. Pelo contrario! É por vocês mesmo que eu continuo escrevendo.
O capitulo está curtinho, mas ta recheado!
Espero que gostem e desculpe qualquer erro, não tem betagem essa fic.
Kissus!



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A sala de emergência estava cheia; havia crianças desanimadas tossindo e espirrandoem um canto, um senhor com uma aparência nada boa em outro, mas quem me chamou atenção mesmo foi um jovem de não mais que dezesseis anos. A principio nem notara sua presença, estava ocupado no balcão assinando pedidos de eletrocardiogramas dos meus pacientes, porem, uma agitação incomum se sucedeu envolta do garoto e, como um profissional competente, fui correndo ver o que acontecia.

Em seu peito, o coração pulsava a ponto de sua blusa movimentar-se junto com as batidas fortes e aceleradas; as pessoas ao redor olhavam assustadas acreditando que o menino morreria ali mesmo, mas eu tratei de acalmar todos e coloquei o meu novo paciente deitado sobre umas cadeiras desocupadas.  Ele respirava com dificuldades e então mandei que prendesse o máximo que conseguisse a respiração, sem sucesso, pedi para assoprar as costas da mão com força e em poucos segundos seu coração voltou a normalidade. Minha suposição estava comprovada.

Depois de voltar totalmente ao normal, o garoto me sorriu e agradeceu dizendo que não era a primeira vez que isso acontecia. Eu lhe disse que não era nada grave e que o nome de seu problema* era muito mais assustador do que o próprio, alem disso, entreguei-lhe o meu cartão e mandei que ele marcasse uma consulta depois para lhe explicar melhor o que ocorria. Sabe, não sou de me gabar, mas diferente dos médicos atuais eu realmente tinha certeza nos meus diagnósticos. Eu não fiz faculdade somente para ser chamado de médico, eu a fiz para salvar vidas. Por isso sempre corria atrás de novos estudos para atualizar-me e conseguir ser um dos melhores cardiologistas de Seoul.

Voltei a atenção para o balcão; as recepcionistas me irritavam com aquela quantidade de papel que necessitava da minha assinatura. Quanta burocracia! Mas era parte do trabalho e eu tinha que fazer.  Assinei umas três folhas a mais quando uma voz fina e bem rouca despertou-me do meu mundo tedioso.

-Appa... Eles querem me furar outra vez! –YoungMi vestia a camisola do hospital, estava nitidamente abatida e seus olhos eram contornados por uma sombra pesada.

-YoungMi, o que esta fazendo aqui?  -Disse segurando sua mãozinha e tomando seu pulso. Estava fraco e não era nada bom para sua saúde ficar passeando pelo hospital repleto de bactérias. –Você não esta em condições de andar por ai. Esteve com febre a semana inteira.

-Mas appa... Eles querem tirar meu sangue outra vez, já tirou na terça-feira! –Ela dizia emburrada com um bico nos lábios.

-Eu sei filha, mas é pro seu bem! Tem que ver se você esta melhorando. –A peguei no colo e disse a uma das moças que terminaria de assinar outra hora. Caminhei com minha princesa pelos corredores levando-a de volta para seu quarto. –Mi você é uma menina forte e corajosa! É só uma picadinha!

-Sei appa. Mas eu não quero!-Cruzou os braços e suspirou pesado. –Quero te fazer uma pergunta.

-Diga filha.

-Sábado que vem é meu aniversário e... Eu vou passar aqui não é? –Sua carinha triste me partia o coração quebrando o em milhões de pedaços, entretanto eu não podia arriscar sua vida levando-a para casa. YoungMi estava sofrendo de uma pneumonia forte e se ela piorasse, somando o estado de seu corpo com a imunidade baixa, não teríamos tempo o suficiente para reverter a situação e nem poderia pensar nas conseqüências disso.

-Mi, eu acho que não vai dar pra você sair até sábado. Você sabe que tem um bichinho dentro de você que esta atacando e...

-... E os guardas que tomam conta do meu corpo estão cansados. Preciso tomar remédio para que eles fiquem acordados e esse remédio só tem aqui no hospital. Sei de tudo isso! Você fala o dia inteiro!

-Mi. –Respirei fundo abrindo a porta do quarto para entrar com a pequena ainda em meus braços. –Você não imagina como eu queria te levar pra casa.

-Às vezes não parece! –Ela pulou do meu colo e correu para cama resmungando. Cobriu-se e ligou a televisão mudando o canal para um que passasse desenho.

Não respondi absolutamente nada. Eu sabia que ela não agüentava mais ficar naquele lugar horrível, todavia se eu a tirasse de lá e depois acontecesse alguma coisa de ruim, nunca mais me perdoaria.  Fiquei apenas observando-a, sentei no sofá e voltei a divagar nas bobeiras que me perseguiam.  Fazia exatamente uma semana desde que aquela alucinação aparecera pela primeira vez; foram duas vezes e nada mais. Ponderei. Ou estava em um momento difícil e minha mente buscou um refugio em meio a loucura ou aquele garoto era realmente um anjo de palavra e só voltaria caso eu o chamasse.

Ri baixinho para não chamar atenção de YoungMi, talvez eu não precisasse de um neurologista; um bom psicólogo ajudaria com muitos dos meus problemas. Acho que o que mais necessitava no momento era de alguém que pudesse escutar meu desabafo.

O bipe de meu celular tocou e eu lembrei que ainda tinha muito para fazer naquele dia, a começar pelo pacientes que esperavam uma consulta na sala de emergência. Despedi-me da princesinha lembrando-a que se precisasse era para chamar as enfermeiras. Ela concordou e voltou a assistir o desenho.

O resto do dia foi bem entediante; minha cabeça so pensava na saúde da minha filha e muitas vezes eu perdia as informações dadas por aqueles que eu atendia. Pedia humildemente para repetir e forçava a atenção, mas como sempre meu foco se perdia. Se continuasse assim meu emprego não duraria muito e não era hora de ficar desempregado e, não digo pelo dinheiro, mas sim, pela facilidade no atendimento e na obtenção de medicamentos.

O relógio marcava seis horas da tarde e meu horário de descanso não durava mais que trinta minutos. Aproveitaria para ver se a febre voltara a atacar Mi, porem, antes mesmo de sair da sala reservada para atendimentos cardiológicos, meu bip tocou outra vez e eu estranhei ser uma chamada de Yesung.

Voltei a arrumar minhas coisas, todo material que havia usado como estetoscópio, entretanto Yesung continuava mandando sinal. Em questão de segundos larguei tudo espalhado pela mesa e corri desesperado atropelando macas, doentes e enfermeiras. Uma idéia horrível ligada a YoungMi assombrava-me de forma que me fazia esquecer todos em minha volta e seguir o chamado do futuro médico.

Escancarei a porta do quarto e o menino moreno segurava um bisturi entre os dedos apontados para a garganta de minha pequena. Passos largos e afoitos me levaram até Yesung para impedi-lo de continuar. Tomei da gaveta aberta um cano e uma bomba de oxigênio, não era necessário perguntas, YoungMi tivera uma parada respiratória. Abri sua boca e coloquei o afastador sendo auxiliado por uma das moças de branco; posicionei a entrada do tubo, mas sua garganta estava muito fechada e o objeto não encontrava passagem de maneira alguma. Forcei, não era minha intenção fazer uma traqueostomia, queria enfiar lhe o cano de qualquer forma. Estava nervoso e minhas mãos tremulas não facilitavam o trabalho.

-KangIn ela já esta muito tempo sem ar! –Ele passou algo similar a cera quente sobre o local onde o bisturi deveria cortar. –Vamos fazer isso logo!

-Não! –Berrei nervoso.

Yesung não me deu ouvidos, levou o objeto cortante ao seu alvo e fez menção de iniciar o corte quando o tubo finalmente escorregou e a bomba de oxigênio encheu os pulmões de YoungMi outra vez. Larguei o corpo puxando o ar com dificuldades; as mulheres que estavam presente e Yesung também pareciam nervosos.  Por um minuto achei que pudesse desmaiar tamanha a onda de adrenalina que corria por meus vasos sanguineos.

Depois que normalizamos os batimentos e a respiração da princesinha, pedi para ficar sozinho com ela. Apenas Yesung continuou comigo, me amparou. Passeia as mãos pelos fios negros da minha garotinha que dormia profundamente a fim de se recuperar dos momentos atrás.

-Yesung, como isso aconteceu? Você estava aqui?

-Não, eu estava passando por aqui por acaso. Na verdade foi Deus quem me colocou aqui, eu nem tinha o que fazer por esses lados.

-Isso esta parecendo reação alérgica. –Disse deslizando os dedos pelo rosto da menina e constatando pequenos pontos avermelhados e um inchaço brando. –O que ela comeu?

-Pode ser mesmo KangIn, quando cheguei no quarto um das enfermeiras jogou a bandeja com o lanche de Mi sobre o sofá. –Yesung pegou aquilo que restara da comida e eu procurei algo que pudesse ter resultado uma alergia forte como aquela.

-Amendoim. YoungMi é alérgica e com a imunidade baixa a reação foi o que presenciamos. Esse chocolate que deram pra ela tem pedaços de amendoim. –Amassei irritado o resto do doce entre meus dígitos depois arremessei na parede o que sobrara.

-Calma KangIn, ela já esta melhor agora! –Yesung pousou a mão sobre meu ombro e eu, não conseguindo conter a angustia, o abracei deixando os soluços escaparem sem piedade.

-Você precisa se acalmar. –Disse ele correspondendo ao meu abraço, envolvendo-me com seus braços e afagando-me os cabelos. –Tem que ser forte por ela.

-Eu sei... –Disse enquanto as minhas lagrimas molhavam a blusa de Yesung escorrendo teimosas de meus olhos castanhos.

Passei minutos assim até cessarem os soluços. Depositei um selar na testa de minha filha e sai acompanhando de Yesung rumo a lanchonete para comprar água e algo comestível. Não que sentisse fome, porem se não me alimentasse ficaria fraco e não poderia proteger minha menina. Compramos sanduíches naturais e água. Voltei para o quarto de YoungMi, mas Yesung deixou-se cair em uma das cadeiras da ala neonatal.

Comi sem gosto ou vontade. Risquei de minha agenda o resto dos compromissos e dediquei o começo de noite a minha filha. Liguei a televisão para me distrair, porem nada fazia me parar de pensar nas milhares de doenças que poderiam causar tais sintomas em minha paciente mais importante. Não havia encaixe, eu estava com milhares de peças de um grande quebra cabeça e não sabia como começá-lo. Por mais que buscasse um ponto de referencia, este variava a cada recaída e eu voltava para o zero.

Será que existia alguma forma de fazer aquilo resolver-se logo? Eu estava disposto a fazer qualquer negocio para livrar aquela criança de todos os fios ligados em seu corpo.  Queria ver YoungMi na escola, cheia de apresentações, ou quem sabe nas aulinhas de ballet, sapateado, canto... O que ela desejasse. Queria poder tirar umas férias e levá-la a Disney para conhecer a Branca de Neve que tanto desejava. Mas a situação estava apenas piorando, quando concertava de um lado quebrava de outro.

Deitei no sofá ainda pensando em uma forma de curar qualquer que fosse sua doença. Mordia os lábios, nervoso; batucava o copo de plástico e remexia-me sem parar. Meu único objetivo era proteger aquele anjinho deitado na cama, entretanto, perguntava-me se tinha essa capacidade. Talvez precisasse de outro tipo de ajuda, só talvez...

-Leeteuk... –Sussurrei sem ao menos perceber.

Peguei meu celular e liguei um alarme para meia hora depois, tiraria um cochilo e quando acordasse checaria a normalidade dos aparelhos presentes no quarto. Fechei os olhos e só então percebi uma dor de cabeça latejar. Precisava dormir nem que fossem quinze minutos. Fui perdendo a consciência aos poucos; já não escutava os passos por detrás da porta, muito menos os berros das crianças nos quartos vizinhos. Estava me sentindo leve e quase não pensava em nada.

Um peso pressionou minha cabeça e tentei mexer a pálpebra, porem dois dedos mantiveram-se sobre meus orbes impedindo meu ato. Quando desisti, senti um carinho gostoso por entre os fios de meu cabelo; as unhas causavam-me arrepios que eriçavam meus pelos.  Os dedos deslizaram por minhas bochechas ainda acariciando-me. Estava tão bom que minha curiosidade em saber quem estava ali morreu ao sentir toques tão macios e aconchegantes. Senti-me protegido.

Quando formulei tal idéia abri os olhos rapidamente e me deparei com quem menos queria. O garoto da franja jogada de lado sorria-me de forma sincera. Mirava-me com ternura e proteção.

-Você me chamou... –Sussurrou fraco próximo de meus ouvidos.

-Eu não chamei ninguém... –Sentei afastando-me automaticamente.

-Chamou sim. Você disse meu nome claramente. –Ainda não havia afastado sua mão de meu rosto e eu estava visivelmente corado.

-Não.

-Sim, não se preocupe. Eu vou cuidar de você e da YoungMi agora.

-Não posso aceitar isso...

-Não fale nada. Durma, você precisa descansar. –Tampou meus lábios com a ponta do dedo fino proibindo-me de falar.

Não contestaria; meus ombros pesavam toneladas e eu voltei a deitar aceitando, temporariamente, aquela condição. Fechei os olhos novamente e ele voltou a acariciar meus cabelos.

-Eu prometo pra você que ela ficara bem.

Sorri de lado, poderia ser real ou não. Não era hora de avaliar minha lucidez, muito menos de enfrentar aquela loucura. Ficaria na minha, deixaria tudo rolar como deveria ser. Talvez fosse obra desse tal de Leeteuk o Yesung estar passando perto do quarto quando YoungMi sofreu o ataque. Talvez eu devesse dar uma chance. Era apenas uma chance, que mal tinha nisso?


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Notas finais do capítulo

Enfim, quem gostou??
Espero que todo mundo e que mandem os lindos reviews de sempre. Vocês são experts nisso.
Alias, por curiosidade a doença citada no começo da fic( a que o garoto teve uma crise)chamasse Taquicardia Paroxística Supraventricular. Eu não pesquise nada, eu tenho isso ai! ♥
Mas era so por curiosidade mesmo!
Beijos!