Talvez Não Seja Assim Tão Fácil. escrita por mcgatti


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Olá, como vai você?
To com fome =/ alguém arruma comida pra mim?



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POV MARCOS

Eu estava triste, triste mesmo, desde o dia que eu fui embora da casa da Isa. Ela não falou comigo por 5 dias.

Mas, ela não entenderia, ela não entenderia a dor que eu senti, os problemas que eu passei, a raiva, o ódio, a pena.

Eu estava sentado na escada que dava pro meu quintal, o sol já ia se pôr. 5 dias... Ela foi a única pessoa que eu realmente confiei nos últimos anos... o resto... os outros....sempre foram tão superficiais... sempre preocupados com dinheiro... aparência...

Eu precisava fazer alguma coisa, provar pra ela que eu era diferente, que eu não era um idiota que simplesmente saia bebendo e apanhava, que eu tinha motivos, e ela deveria saber quais.

Me levantei, troquei de roupa e fui, determinado a mudar a ideia dela, a mudar tudo, até a mim mesmo. 

Eu nunca havia contado a niguém, ninguém mesmo.

Bati na porta, ela me atendeu, não queria conversa, a convenci a vir comigo, a levei ao parque, onde nos sentamos em uma pequena subida, de onde podíamos ver o pôr-do-sol e as pessoas no resto do parque.

A olhei nos olhos e comecei.

–Eu vou te contar o que aconteceu comigo, o por que de eu ser desse jeito, o por que de ninguém saber do meu passado.

POV ISABELA

Ele ia mesmo contar... oq que ele nunca havia contado, pra mim? A menina que o odiou desde o primeiro minuto?

Minha vontade era de pedir desculpa, de dizer que ele não precisava disso, mas parecia q ele iria contar mais por ele mesmo, que pra me deixar a par da verdade.

POV MARCOS

-Eu tinha 12 anos. Cheguei em casa um dia, encontrei minha mãe sentada, tremendo na cama... uma marca roxa no seu braço e uma no rosto.Meu pai não estava em casa. Uma fúria tomou conta de mim. Um instinto quase assassino. 

"E isso se repetiu... uma, duas, três vezes... e a cada dia minha mãe ficava mais fria... mais distante. Um dia eu cheguei mais cedo em casa, encontrei meu pai bêbado, com uma faca na mão, ele não me viu chegar... quando me aproximei, percebi que minha mãe estava no chão, exatamente aonde ele olhava, a faca apontada pra ela. Ele foi pra cima dela. Me joguei no meio do caminho, a faca me acertou."

Eu tirei minha camiseta, permitindo que a Isa visse a cicatriz que eu tinha nas costas, uma cicatriz de fora a fora. E continuei:

-Meu pai correu, minha mãe me levou pra um hospital particular, não sei que desculpa deu, mas não me perguntaram nada, e não fizeram denúncia alguma ao meu pai. Ele continuou indo em casa, continuou vivendo com se fosse meu pai, continuou exigindo que eu o tratasse como pai.

POV ISABELA

Enquanto ele me contava, ele mantinha o olho preso ao horizonte, como se reviver aquilo estivesse o matando por dentro, como se a ferida fosse nova, como se uma faca estivesse o cortando, começando de dentro.

Uma lágrima rolou pelo seu rosto e eu sabia, esse não era nem o começo, essa não seria a primeira lágrima, não mesmo.

Ele tirou sua camiseta, nas suas costas tinha uma cicatriz, que o cortava, de fora a fora, acabando com a toda a beleza do corpo. A forma como ele fechou os olhos enquanto contava com a havia ganhado...

Eu nunca o vira ou vira qualquer um naquela situação, como se fosse um brinquedo, que a qualquer momento se quebraria, que restariam apenas pequenos pedaços, pequenos pedaços de algo que já havia sido quebrado antes.

POV MARCOS

-Depois disso, eu comecei a passar menos tempo em casa, quando fiz 13, a coisa piorou, meu pai começou a se virar contra mim também, por defender minha mãe. E eu só segurava a força, o ódio. Não queria que minha mãe me visse me virando contra meu próprio pai.

"Até o dia em que ele disse que não se importava mais. Ele estava traindo minha mãe, ela simplesmente continuou vivendo sua vida, como se nada estivesse acontecendo, mas a cada dia ela ficava ainda mais fria, menos viva... mais aérea. Eu fugi de casa, fui pro lugar mais longe que eu podia. E eu comecei a.... a usar drogas, a vida estava muito difícil, por que não fugir pra um mundo só meu? Eu tenho uma irmã, Julia, na época, ela tinha 11. Ela viu tudo isso. Pra que? As coisas foram ficando piores ainda... fiquei 2 semanas fora de casa, tinha drogas, armas, tudo oq eu quisesse."

Comecei a olhar pra minha mão, eu não tinha forças pra olhar pra Isa.

-Me ofereceram uma vaga no tráfico, minha vida estaria feita, grana, poder, mulheres... eu podia ter começado, eu podia ter "ganhado a vida assim" Mas a cada vez que as cenas do meu pai bêbado em casa, passavam na minha cabeça, eu me lembrava dela, da minha irmã. E eu voltava, eu voltava e a abraçava. Sob o efeito das drogas mesmo, sem meus pais saberem, não que eles se importassem, por que nem ao menos me ligaram. Mas eu voltava pra mostrar pra ela que ainda tinha alguém que confiava no fim de tudo, no fim disso, no fim da guerra.

"E ela chorava, simplesmente chorava. Ela não precisava de alguém que apenas dissesse "Tudo vai ficar bem" Por que não iria ficar. Ela precisava de alguém que a entendesse, que tivesse visto tudo. E pra isso eu estava lá. Não importava, eu podia sofrer, morrer, mas não ela. Não deixaria que nada acontecesse com ela."

POV ISABELA

É nesses momentos que você repensa a sua vida, quando você vê que a sua vida, as "dores" que você tinha... não eram nada.

Você percebe que tudo o que você achava ser um problema, é tão insignificante...

POV MARCOS

Eu chorava... Fazia tempo que eu não chorava, desde quando eu prometi a minha mãe que seria forte, pra cuidar dela, desde a cicatriz...

Mas eu precisava continuar, precisava não pela Isa, mas por mim mesmo.

-E assim se passaram 2 meses, indas e vindas, drogas e problemas. Segurei armas, roubei... Não era isso que eu queria pra minha vida, não era esse irmão que eu queria ser pra Julia. Eu precisava ser a figura de pai, que o meu nunca foi.

"E eu superei isso, parei com as drogas, 4 meses depois eu estava quase recuperado. Os médicos diriam ser impossível. Mas eles não passaram pelo que eu passei, eles não viram o que eu vi. Mas você vai dizer : "Marcos, é fácil ser um pobre drogado, quando se tem pra onde voltar, quando se tem uma família com dinheiro" não é assim. Eu não tinha pra onde voltar, lá não era minha casa."

"Quando eu fiz 14, minha mãe se separou. Casou com um empresário, americano, que estava vivendo no Brasil. Nos mudamos pra cá. Achei que fosse melhorar, melhorou, mas não completamente, minha mãe voltou a ser aquela mulher alegre, que eu conhecia. Mas ela ficou distante... meio que tinha um mundo entre a gente. Um mundo conhecido com "negócios" Jantar de negócios, festa de negócios, viagem a negócios. Ela não se importava mais com o que acontecia comigo ou com a minha irmã."

"Comecei a me cortar, ela só reclamava do que eu fazia ou deixava de fazer. Terminei a escola, faltava o colegial, ela não se contentava com qualquer coisa, queria que eu passei nesse, no mais concorrido, só pra poder falar pras amigas. Eu passei. Ela não falou comigo. Nada. Nem um parabéns. Nada. Ela não estava lá. Ela sempre estava com o "Jonh" em algum lugar, resolvendo alguma coisa. Nunca tinham tempo, pra nenhum de nós. E eu de novo, tive que cuidar da minha irmã."

"Em dezembro do ano passado, eu namorava uma menina. Yasmin,ela era linda. Eu estava bêbado. Tentando passar a raiva, coisas aleatórias que acabaram com o meu dia. Ela veio atravessar a rua, pra falar comigo."

-O carro veio, não deu tempo.

Eu mordi minha mão, doia tanto, contar isso, tudo junto.

-Ela morreu atropelada na minha frente. Na minha frente.

Olhei pra Isa, ela tinha um olhar triste, como se tentasse conter o choro, achando ser melhor pra mim.

-Ela morreu na minha frente.

Afundei o rosto do joelho. Eu não precisava mais fingir que era forte, eu não precisava. Só queria... estar ali.

POV ISABELA

E eu vi, aquele menino que eu achava tão forte, tão auto suficiente, caido na minha frente, como uma criança, uma criança que está tendo um pesadelo e precisa de ajuda. 

Mas, o que eu faria?

Eu o abracei. Ele me apertou mais contra o seu corpo.

-Eu estarei sempre aqui. Me desculpe por tudo, pelo que eu fiz, pelo que eu deixei de fazer. E agora eu entendo por que beber é seu menor problema. Eu vou estar aqui. Eu estou aqui.


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Notas finais do capítulo

Eu to com fome ainda.
Tá calor.
Eu quero um panda.
Enfim, tchau _o/



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