Os Três Amores Da Minha Vida escrita por Azzula


Capítulo 3
A Mestiça




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 ‘’Ter sido chamada de mestiça só me fez acordar para como as pessoas me veem. A quem eu estava tentando enganar?’’ – pensava enquanto me levantava da cama.

   Abri os olhos lentamente e olhei no relógio. Ainda era de madrugada, e não estava conseguindo pregar os olhos. Recebi uma mensagem.

   ‘’ Ana, preciso falar com você! Você está acordada?

                                                                   Kiseop “

   Ás 02:34 da manhã, não queria ter que lidar com Kiseop. Não respondi.

   Cocei a cabeça freneticamente, é uma mania minha fazer isso quando estou nervosa. Comecei a andar em círculos pelo quarto pensando em mil e uma coisas que gostaria de dizer para Kiseop. Percebi minha boca estranhamente seca, definitivamente precisava de água! Quando abri a porta, uma surpresa;

_ O que faz aqui? – perguntei surpresa à Kiseop, em um sussurro.

_ E-eu... O que VOCÊ está fazendo aqui? – retrucou teimoso.

_ Posso estar na frente do meu quarto? – ele deu as costas. – Kiseop! O que queria falar comigo? – ele enfim, bateu a porta de seu quarto e me deixou no corredor com mil e um pontos de interrogação.

   O que ele fazia na porta do meu quarto? Aish... esse garoto é realmente louco!

   A cede instantaneamente passou e eu voltei para a cama, revirando-me de um lado para o outro até finalmente dormir.

   Já de manhã, notei meu computador ligado, havia acordado mais cedo que o normal e ainda estava morrendo de cansaço. Aproximei-me do computador e pude ver claramente o bloco de notas aberto, e nele escrito algo parecido com um bilhete;

   “Ana, me desculpe. Queria não ser covarde e dizer-te isso pessoalmente. Sei que foi errado te xingar daquele jeito, não sei onde estava com a cabeça. Sei que você acha que eu não sou uma boa pessoa, afinal, não tenho tentado convencê-la do contrario, mas você me irrita vendo somente as coisas que quer ver. Existem tantas coisas que eu queria que tivesse percebido desde o início, talvez tudo seria mais fácil. Me desculpe, Kiseoppie.”


   Meus olhos arregalaram-se e eu não conseguia pensar por uns minutos. Kiseop havia estado em meu quarto enquanto eu dormia?

   Tomada por um impulso, abri a porta do meu quarto sem raciocinar direito. Caminhei até o quarto de Kiseop, e sem bater abri a porta. Vi Kiseop dormindo largado na cama e por algum motivo que nem eu sei explicar, comecei a chorar.

   “Pelo amor de Deus Ana, não seja chorona! Pare com isso já!”

   Não conseguia conter-me. Eu jamais imaginei que Kiseop se desculparia, e que conseguiria usar tão bem as palavras. Também estava confusa, pois não tinha entendido metade  da mensagem. Estava enfurecida também, ele havia entrado no meu quarto sem permissão, assim como estava fazendo com ele agora.

   Agachei-me ao lado da cama, e analisei seu rosto enquanto dormia. Não sabia se devia acordá-lo, ou se devia continuar ali, apenas olhando.

   Sua respiração calma saia por sua boca entreaberta e as vezes ele resmungava. Brookie tinha razão, ele era realmente lindo. Havia uma franja caída sobre seus olhos, aproximei-me para tirá-la cuidadosamente. Ao tocar a mexa vi rapidamente suas pálpebras tremendo, e sim, Kiseop estava definitivamente acordado! Fiquei com raiva, porém, não me descontrolei.

   Levantei-me calmamente como quem iria sair do quarto. Dirigi-me até os pés da cama em silêncio absoluto, e preparei-me para puxar sua coberta.

   Quando Kiseop percebeu o que eu faria, arregalou os olhos imediatamente e segurou a outra ponta da coberta. Tarde demais.

   Quando vi, já havia puxado coberta suficiente para ver todo seu abdômen perfeito, e como era perfeito, então caí na real: Kiseop estava pelado! Olhando um para o outro, cada um de um lado da cama com olhos arregalados, eu literalmente paralisei. Não conseguia parar de pensar no que havia de baixo daquele cobertor, e só conseguia repetir várias vezes para mim mesma “Não desmaie, não desmaie, não desmaie!”.

_ Ya! O que pensa que está fazendo?

_ Kiseop, vo-vo-cê está p-ppp-ela...

_ NÃO POSSO? – perguntou ele nitidamente envergonhado.

_ Desculpa, eu não...

_ Não vai conseguir me ver pelado outra vez!

_ Aish idiota! Não é isso! É que..

_ Você pode por favor esperar por um segundo do lado de fora do quarto?

_ Ok! – disse, me retirando e por alguma razão fechando os olhos com força.

   Não sei por que eu estava ali esperando ao lado da porta. O que eu iria dizer a ele realmente? Tudo aquilo que eu tanto queria dizer, naquela altura já parecia bobeira, e estava muito mais fácil enquanto ele apenas “dormia”. Pensava sem pausa contemplando o chão.

_ Tudo bem, pode entrar agora! – disse ele com metade do corpo para fora do quarto.

   Quando entrei, pude perceber que ele estava ainda sem camisa. Fiquei impressionada, envergonhada, tentada. Tentando disfarçar meu acanho, concentrei-me em seu rosto, e senti minha pele corando.

_ A propósito, obrigado. – disse ele piscando para mim.

_ Ãh? – disse, acordando de uma hipnose. – Obrigado pelo que?

_ “Brookie tem razão, ele é mesmo lindo”. – disse ele rindo convencido tentando imitar minha voz.

_ Aish, Kiseop! Isso não...

_ Hm... vamos ver... “Isso não” o que? – finalizou franzindo o cenho.

   Eu definitivamente preciso parar de pensar em voz alta!

_ Não é nada disso seu... – decidi não xingar.

_ Lindo?

   Joguei uma almofada em sua direção.

_ Além de tudo é agressiva? – disse debochado. – Por que está aqui?

_ Nem eu sei. – disse contemplando o chão.

_ Foi mais uma daquelas ações impulsivas? – disse ele me entendendo.

_ Sim. Como sabe?

_ Convivo com você à dois meses, por mais que pense que eu não presto atenção, estou sempre atento.

_ Hmm...

   Kiseop começou a andar em minha direção lentamente, aproximando-se cada vez mais.

_ Kiseop... – estava começando a queimar de dentro pra fora.

_ Me desculpe. – disse ele, abraçando-me finalmente.

   Eu paralisei.

_ Me desculpe por ser um péssimo irmão, um péssimo anfitrião, e um péssimo amigo. – disse desabafando com a cabeça apoiada em meu ombro.

_ Ok. – tentava me livrar de seu abraço, sem sucesso. – Está tudo bem. – disse finalmente alisando seus cabelos macios. – Preciso mesmo ir agora.

   Ele me libertou de seu abraço um tanto tímido. Ambos estávamos envergonhados. Finalmente virei-me para ir embora, quando surpreendentemente dei de cara com a porta. QUEM HAVIA FECHADO AQUELA PORTA?

   Kiseop riu de imediato, e eu segui para meu quarto, desejando morrer, esfregando a mão em minha cabeça.

_ Ai. – tenho certeza que disse isso quase que em pensamento, mas foi o suficiente para Kiseop rir ainda mais alto.

   Já em meu quarto, arrumei-me para a escola, e liguei para Brookie. Não sabia se deveria ou não contar tudo o que aconteceu a ela. Não queria remoer essa história, ainda mais naquele momento, onde tudo parecia resolvido.

_ Amiga! Por onde você anda? Não vai me dizer que bebeu de novo!?

   Aquilo me fez pensar. A antiga Ana teria saído a noite para beber e descarregar as dores do dia. Mas não fazia sentido sair para beber, uma vez que alguém havia sinceramente me consolado com carinho. Esse alguém era JunHyung.

   Sorri ao pensar nele.

_ Não louca! Não fiz nada disso. Só quero saber se está bem.

_ É um alívio! Estou bem amiga, quer que eu passe ai pra irmos à escola juntas?

_ Hmm... Ok!

_ Em 10 minutos estará pronta?

_ Já estou pronta!

_ Estou a caminho. Love u!

_ Love you too.

   Estava sem fome. Capturei uma maçã na geladeira e esperei na varanda por Brookie.

   Foi inevitável não sentir um frio na barriga. Aquele sim seria meu primeiro dia de aula, estava ansiosa.

   Pude ver de longe o carro do pai da Brookie se aproximando, fui para a calçada.

_ Olá Ana. – disse o pai de Broo, sempre educado.

_ Oi! Desviei muito o caminho de vocês?

_ Claro que não! Aqui é caminho. – sorriu.

_ AMIGA! – disse Brookie, como se não nos víssemos à um ano.

_ Oi Broo. – disse entrando no carro.

   Fomos então.

__

   Ja era hora do intervalo. Brookie havia se despedido de mim as pressas, Min Ho Soo seu namorado, estava no hospital da escola. Provavelmente ele teria sido atingido por uma bola de basquete, e tinha sangramento nasal, algo assim.

   Sentei-me sobre a grama e apreciei o vento fresco. De onde estava, podia avistar todos os membros do U-Kiss, conseguia ouvir SooHyung gargalhando, e automaticamente aquilo me contagiava.

   Kevin sempre com suas brincadeiras fofas e Hoon sempre tímido, o mais calado de todos. Queria definitivamente me tornar amiga deles, mas estava insegura quando a Kiseop. Talvez, depois de um incrível progresso, ele regredisse novamente, pensando que talvez eu quisesse roubar seus amigos.

   "Melhor deixar como está" - pensei.

   De repente, fui surpreendida por alguém se sendando à meu lado.

_ Oi. - disse rapidamente sorrindo, com um sorriso que mal cabia em seu rosto.

_ O-oi. - Gaguejei, pois era ele. Onew.

_ O que faz sozinha aqui? - disse olhando para mim, e em seguida, olhando para onde eu olhava. - Você queria estar lá com eles?

_ Não, na verdadeu eu...

_ Vamos, me conte! Eu ja sei sobre você, Ana. – riu provavelmente de minha expressão.

_ Como sabe? - indignada.

_ Longa história. Sua foto saiu no blog da escola, logo em seguida todos começaram a querer saber quem você era e descobriram.

_ Descobriram tudo?

_ Tudo eu não sei, mas que você mora com Kiseop por exemplo, sim.

   Aish, havia me esquecido do blog. A noite anterior fora tão cheia de acontecimentos que simplesmente bloqueei essa informação. Então deixei passar. Kiseop me mataria.

_ Você ja comeu? – perguntou ele com a intenção de distrair minha fisionomia preocupada.

_ Já, comi uma maça. Tenho outra, quer?

_ Não obrigado. Eu já comi, mas sinceramente comeria de novo. – disse franzindo o cenho de forma engraçada, que fazia seus olhos quase se fecharem, e passando as pontas dos dedos por sua testa.

_ É? O que comeu?

_ FRANGO. – disse quase que loucamente. Foi inevitável não rir. – Você devia sorrir mais.

   Permaneci em silêncio. Eu estava tão ruim assim? Parecendo sempre triste?

_ Não que você pareça triste... – disse ele me surpreendendo. Teria eu pensado alto outra vez? – É que você... Como posso dizer? Hmm... Você sorri bem. – finalizou sorrindo acanhado.

   Ri novamente.

_ Você também sorri bem.

   Continuamos ali, conversando por alguns minutos. Toda vez que ele sorria, meu coração parecia saltar para fora. Ele era muito mais que atencioso, e conversamos sobre tudo.

_ Gosto de como me sinto com você. – desabafou ele. – É difícil conversar com uma garota que não tenha segundas intenções. Gosto disso.

_ Confesso que no início, não sabia quem você era. – disse desapontada. – Mas mesmo se soubesse, acredito que você seja uma pessoa normal, não teria porque trata-lo diferente.

_ Então quer dizer que agora você sabe quem eu sou? – disse um tanto estranho.

_ Sim. – olhei para baixo, com medo de desapontá-lo ou de ele me interpretar mal.

   Silêncio.

_ Obrigado. – sorriu calmo desta vez, ainda fitando o chão.  – Obrigado por me tratar normalmente.

   Sorri.

   Inesperadamente, fomos interrompidos por uma estranha.

_ Oppa! – dizia em uma voz melosa. – Você não deveria estar conversando com essa mestiça! – olhou para mim e foi embora.

   Ficamos tensos.

   Onew contemplava o chão, sempre ameaçando dizer alguma coisa, mas não dizia. Não suportando a vergonha, levantei-me e sai o mais depressa que podia dali, sem chamar atenção, porém, desesperada.

   Ao atravessar a escola, percebia que de certa forma, chamava a atenção das pessoas por onde passava.

   Brookie veio correndo em minha direção, arrastando-me para longe da cantina. Mostrando-me frenética, algo em seu celular.

_ Ana! – recuperava o fôlego. – Já viu isso?

   Segurei o aparelho em mãos e logo reconheci que era o blog da escola com a seguinte matéria:

  “ Porque temos que estudar com uma mestiça?

 Aqui temos a foto de Chiao Ana, uma bolsista vinda do Brasil, evidentemente mestiça! Como se não bastasse termos que aceita-la, ainda somos obrigadas a vê-la convivendo com nosso tão amado Kiseoppie. Sim, essa nojenta mora na mesma casa com ele, e existem rumores de que eles não se dão nem um pouco bem.

Como ela se atreve a perturbá-lo em sua própria casa?

Essa garota realmente não tem noção de com quem está mexendo? Só vamos avisá-la de que não deixaremos isso passar! Deixe Kiseoppie em paz sua vadia! " 

   Cai de joelhos. Brookie foi desesperada chamar alguém, e eu continuei lá, não ouvindo absolutamente nada ao meu redor. Não conseguia para de pensar em como o Senhor e a Senhora Lee reagiriam se descobrissem, ou no quão encrencada estaria, se aquilo era tão grave a ponto de eu ser expulsa da escola ou algo assim.

   Enquanto viajava em mil e um pensamentos, pude sentir um braço me resgatando, levantando-me e apoiando meu corpo sobre seu ombro, me arrastando para longe dali.

   Estava completamente paralisada, atordoada, perplexa. Deixando que me arrastassem, sem ao menos reconhecer quem era.

   Pude ver de forma embaçada, pois meus olhos estavam já cheio de lágrimas, Kiseop olhando de longe para mim, com uma expressão indescritível. Ele também parecia paralisado e seus olhos pareciam queimar.

   Chegamos então a um lugar familiar. Era novamente, a quadra de esportes, e sim, era ele, meu misterioso amigo JunHyung.

_ Primeiro, enxugue essas lágrimas. – disse ele baixo apontando-me um lenço.

   Não pensei duas vezes antes de lhe obedecer.

_ Você também já sabe? – consegui dizer mais baixo que ele, quase como um sussurro.

_ Sim, todos já sabem. Não há nada nessa escola que não se espalhe rápididamente.

   Mais lágrimas escorreram.

   Ele se abaixou na minha frente, com o rosto inclinado perto do meu, capturou o lenço em minhas mãos, e enxugou minhas lágrimas.

   Eu me sentia ridícula. Mais uma vez, sendo consolada por ele. Mas uma vez, me dispondo àquele papel de fraca. Mais uma vez...

_ Me desculpe. – era tudo que podia dizer.

_ Deixe de se desculpar. – disse, sentando-se então à meu lado. – Não se preocupe com isso! As pessoas com acesso a esse blog só escrevem lixo atrás de lixo.

_ Mas... – soluçava. – A diretoria vai...

_ Eles não farão nada! Confie em mim. – disse puxando minha cabeça para seu ombro, como fizemos no primeiro dia.

   Ele novamente me deu um de seus fones de ouvido, e ouvimos a mesma música do dia anterior, que simplesmente fazia com que eu chorasse mais, porém, calma.

_ Qual o nome dessa música? – perguntei tentando mudar o clima.

_ “On Rainy Days” ouvimos ontem, se lembra?

_ Sim. – conversávamos baixo.

   “On Rainy Days” aquela seria nossa música, mesmo que em segredo.

_ Me pergunto se sempre vou encontrar você em situações como essa. – pude sentir sua respiração aumentando, como se ele estivesse rindo.  

_ Eu também. Espero que um dia, estejamos em uma situação contrária, então poderei retribuir.

_ Me retribua de apenas uma forma. – disse ele calmo.

_ Como? – também não me alterei.

_ Continue sempre assim. Não se torne diferente comigo.

_ Porque faria isso?

_ Não sei. Só não mude. – inesperadamente, beijou minha testa.

   Era incrível como me sentia calma com ele. Como me sentia segura, protegida. Eu jamais mudaria com ele, não com ele. 

  Me perguntei se todos os dias de aula seriam tão dramáticos como os últimos, e algo em minha mente dizia que as coisas só piorariam.

   Mas naquele momento, não importava. Estava me sentindo segura, finalmente.

   Sabia pouco sobre JunHyung, mas sabia também, que não poderia perde-lo. 

* uma mensagem*

" Onde você está? Por favor, esteja bem.

                Kiseop. " 


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Notas finais do capítulo

Por enquanto, dando muito pano pra manga. Algumas coisas esquentaram. Continuem lendo, obrigada *---*