Anne avançou um pouco, e eu recuei. Como uma dança. Ela chegava perto, eu me afastava. E tudo o que eu pensava era: "o que está acontecendo?".

- Alice, não se preocupe. Eu não vou te machucar. - dizia Anne.

 - O que você é? - sussurrei - O que há de errado com teus olhos?

- Estou te assustando? Oh, mil perdões. - a menina deu um sorriso, e se afastou um pouco, indo totalmente para as sombras.

Não sei se deveria contar exatamente o que aconteceu depois, por que eu realmente me assustei. Mas resumindo os fatos: aquela Anne não era Anne. Em alguns segundos, seu pequeno corpo havia esticado, os cabelos compridos e loiros, se tornaram castanhos e curtos, e os olhos - amarelos, negros, eu já não sabia mais - ficaram azuis. Ah, e ela era um homem. 

- Quem é você?! - gritei. O que mais eu poderia fazer? Afinal, isto era algo que no meu mundo, era impossível. O problema é que eu estava no meu mundo

.- Permita  que eu me apresente. - o homem fez uma breve reverencia com a cabeça e disse: - Meu nome é George Davings

.- Davings? 

- Aposto que Daniel falou algo sobre mim, estou certo? - George estava com um sorriso arrogante no rosto.

- O que você quer? E... por que estava... igual a Anne?

- Você é cheia de perguntas, hein? - ele parecia impaciente - eu estou aqui procurando Daniel. Eu sabia que se me disfarçasse da sua amiguinha, teria chances de encontrá-lo. Afinal, era óbvio que ele não ficaria longe de você por muito tempo.

- Daniel não está aqui. Eu nunca o vi... pessoalmente. - me apressei em dizer.

- Eu sei que não. Por isso que estava aqui, tentando entrar em teus sonhos também. Mas parece que algo estava impedindo... Deixe-me adivinhar: estava sonhando com ele, não estava?

Eu preferi não responder. Mas normalmente, o silêncio entrega a gente.

- Claro que estava - ele ficou pensativo por um tempo, e depois disse: - Já que não consigo entrar em seus sonhos... aposto que te manter como refém irá trazer Daniel até nós.

George colocou um sorriso perverso no rosto, e começou a se aproximar de mim. Seus olhos azuis ficaram com um tom mais escuro, e eu me afastei. Ele deu um rápido salto, e suas mãos apertaram meus braços. Antes que eu pudesse reagir, uma voz que vinha da porta disse:

- Tire suas mãos imundas dela.