Diário Dos Sonhos escrita por Laila Cobbs
– Alice? Você está bem? - ouvi a voz de Anne me chamando. Nós saímos do dormitório e percorremos o longo caminho até o refeitório, com Anne me contanto alguma história, mas eu não havia escutado nada que ela dissera.
– Me perdoe, Anne. Eu estava meio distraída. Noite passa eu tive um sonho tão estranho...
– Me conte. Dizem que é bom compartilhar os sonhos com as outras pessoas. - ela sorriu, e pude ver um brilho de curiosidade em seus olhos amarelos.
E contei sobre o sonho, e sobre os que eu tivera antes desse também. E logo vieram as perguntas.
– Você não se lembra de nada antes dos seus 8 anos?
– Não. Durante o incêndio na minha casa, eu bati a cabeça e tive uma amnésia.
– Oh, sinto muito. - ela apoiou a cabeça nas mãos e ficou pensativa por um tempo. - E esse menino do sonho... o tal de Daniel... será que ele não é uma lembrança de antes dos seus 8 anos?
– Na verdade, eu não havia pensado nisso. Mas quem sabe? Afinal, no meu sonho, ele falou algo sobre isso...
– Sabe, sonhos podem ser memórias sobre algo que um dia aconteceu.
– Eu não acho que isso seja uma memória. Não parecem coisas... possíveis de acontecer.
Voltamos a tomar nosso café da manhã em silêncio, apenas pensando sobre o que fora dito.
O dia passou rápido, mais rápido que o de costume, e logo já era hora de dormir.
E como eu já esperava que acontecesse, outro sonho veio...
Eu estava em um jardim de um belo castelo, com uma torre alta e uma grande porta de entrada. De onde estava, podia ver um jardim, e resolvi seguir para lá. No meio do jardim, havia uma árvore com folhas verdes e brilhantes, galhos altos e um balanço em um deles. Ao redor da árvore, ao longo de todo o jardim, haviam rosas brancas e jasmins, que deixavam um cheiro maravilhosamente bom.
Fui até a árvore, e me sentei no balanço. Somente quando olhei para as minhas pernas, percebi que estava com um vestido delicado e cor de rosa do qual eu não me lembrava de ter posto.
Comecei a balançar em um movimento suave, sendo atingida pelo perfume das flores a cada vez que ia para a frente. Fechei os olhos, me deliciando com a sensação, quando ouvi uma voz suave dizer atras de mim:
– Você voltou.
Não pude deixar de sorrir ao ouvir a voz dele. O que estava acontecendo comigo? Eu mal o conhecia, e já me sentia tão confortável perto dele.
– Olá, Daniel. - respondi, abrindo os olhos e olhando para tras, afim de ver o recém-chagado.
– Se lembra do meu nome. - ele sorriu, e não pude deixar de sorrir também. Mesmo que ainda não pudesse ver suas feições perfeitamente, sabia que era bonito. E seus olhos verdes estavam olhando diretamente para mim, como se pudessem ver a minha alma.
– Eu não deveria? - perguntei cautelosamente.
– Oh, não é isso. Eu apenas achei que não tivesse escutado quando eu disse, na última noite. - ele se aproximou, e começou a empurrar o balanço levemente.
– Falando na última noite, acho que você me deve explicações. Ou vai me mandar embora novamente?
– Sinto muito sobre isso. - ele parou de me balançar, foi para minha frente - Que tal irmos caminhar, enquanto conversamos?
Daniel estendeu a mão, e eu a segurei. Começamos a caminhar pelo jardim, lentamente.
– O que exatamente quer saber? - ele me perguntou delicadamente.
– Como você parece me conhecer tão bem? E como parece que eu já te conheço a muito tempo? Você é só um sonho, não é? Por que sinto que é mais do que isso? - eu simplesmente soltei todas as perguntas que estavam em minha cabeça.
– Hey, vamos com calma - ele soltou uma risada curta - Bom, respondendo a primeira pergunta, sim, eu realmente te conheço melhor do que a mim mesmo. E você já me conhece, só não se lembra. E quanto a parte do sonho... me desculpe, mas terá que descobrir sozinha.
– Você respondeu as minhas perguntas, mas não exclareceu nada. - murmurei.
– Me desculpe, Alice. Eu sei que disse que lhe explicaria tudo, mas pode ser perigoso. Existem coisas que simplesmente devemos descobrir sozinhos, coisas sobre nós mesmos.
– Mas... que tipos de coisa? - eu estava ainda mais confusa.
– Coisas que somos, que aconteceram conosco, e não nos lembramos. - ele olhava no fundo dos meus olhos, talvez procurando um pouco de reconhecimento que eu deveria sentir ao olhar em seus olhos.
E esse reconhecimento veio.
Ao olhar em seus olhos tão profundamente, começaram a aparecer fleshes, que iam embora tão rápido quanto surgiam. Flashes de momentos em que eu vira seus olhos antes, da mesma maneira que estava vendo agora. O verde esmeralda preenchia minha memória, mesmo eu não sabendo de onde as memórias vinham.
– O... o que foi isso? - sussurrei o mais alto que minha voz permitiu.
– Algumas lembranças suas, sobre mim. - ele sorriu novamente.
– Mas... por que não consigo enxergar, ou sonhar com seu rosto, Daniel?
– Por que para sonhar de meu rosto, precisa se lembrar dele. E essa memória está ligada a outras, que você não tem agora. Mas não se preocupe. Logo, você se lembrará.
Nós haviamos parado de caminhar, e pela primeira vez, percebi que estávamos em um campo de Tulipas vermelhas. A visão era de tirar o fôlego,
– Tulipas vermelhas. Todas para você. - ele sussurrou em meu ouvido.
Antes que eu pudesse responder, senti novamente a temperatura cair. Nuvens escuras cobriam o sol, e os pássaros voavam para longe.
– O que está acontecendo? - perguntei assustada. Notei novamente a mesma postura tensa que Daniel assumira na noite passada.
– Você precisa ir.
– Não antes de você me explicar o que está acontecendo. - as Tulipas balançavam com o vento que começava, e Daniel parecia ainda mais nervoso.
– Por favor, Alice, acorde. É perigoso você ficar agora. - ele praticamente implorava.
– Me explique o por que! - eu insisti.
– Não me faça acordá-la a força, por favor. Eu te explico depois, prometo.
– Promete? - sussurrei.
– Sim, prometo. Agora por favor, acorde. - ele sussurrou de volta, com urgência na voz.
– Como?
Ele se aproximou de mim, e quando achei que iria me abraçar, ele se abaixou e pegou uma Tulipa que estava aos meus pés. Mas a Tulipa não era uma flor normal: Ela brilhava, como se uma lâmpada de luz azulada estivesse dentro dela. Daniel pegou a flor com cuidado, me deu um beijo no rosto, e colocou a flor em minha mão. Quando meus dedos tocaram a Tulipa, minha visão começou a ficar turva, e eu já podia sentir os lençóis de minha cama.
A última coisa que ouvi antes de acordar, foi a voz de Daniel dizendo: "Bom Dia, minha querida"
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