Derrubando Barreiras escrita por GabMaia


Capítulo 3
Arrependimento é pouco




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Segunda, 31 de Janeiro de 2009.


Tudo está preto. Não há luz, não há vida, não há nada. Apenas a certeza de que nunca estive tão sozinha.


*******

Acordei em algum lugar esquisito, porém levemente familiar. Não sabia onde estava e a minha cabeça estava a ponto de explodir. Não conseguia reconhecer nada, e minha mente não parava de repetir a noite anterior como um filme. Algo de estranho havia acontecido. Eu tentei me levantar, mas não consegui. Logo caí sentada na cama, e não tive outra opção senão deitar e voltar a dormir.

*******

Dormi o que pareceram mais meia hora, e acordei com a Fernanda me sacudindo. Com a força com que ela o fazia, deveria achar que eu estava morta.

– Mê!!! Mê, fala comigo!! Você tá dormindo há 13 horas!! AIMÉE!!

– O.. Oi.

Percebi que minha voz estava diferente.. Estava tudo diferente, não sei.. Sei que eu nunca havia me sentido assim antes.

– Aimée, fica calma. Não faz esforço. Eu já liguei pra sua mãe e ela sabe que você está aqui. Você só está com uma ressaca pesada, porque misturou muita bebida.. e outras coisas também. Mas depois eu te explico, agora você tem que ficar melhor.

Fiz que sim com a cabeça, não achava que teria forças pra falar mais. Ela me deu um remédio para ressaca e mandou que eu esperasse mais um tempinho até que fizesse efeito. Deixou uma toalha e roupas limpas na cama perto dos meus pés e falou para eu tomar banho e me arrumar assim que eu me sentisse melhor.

Demorei o que pareceram 20 minutos. Levantei, ainda um pouco tonta, mas nada que passasse de uma dor de cabeça normal. Fui ao banheiro, e olhei novamente para aquela marca em meu braço direito. Continuava sem saber como havia surgido. Parecia algum tipo de queimadura.. Peguei as coisas e tomei banho. Fui pra sala, porque a Fernanda disse que tinha algumas coisas pra conversarmos.

– Oi.. Já estou um pouco melhor.

– Oi Mê.

– Então, o que você tinha pra me falar?

– Senta aí.

Me sentei no sofá ao lado dela. Ela estava com um olhar preocupado..

– O que você se lembra de ontem à noite?

Não lembrava de muita coisa. Só de ter tido uma sensação muito boa e de querer sentí-la de novo. Acho que não conseguia lembrar o que era pois havia bebido muito..

– Não de muita coisa.. Por que?

– Você fumou crack. E foi o João que te deu..

– O que???

– Sim, Mê.. Olha, eu sinto muito por isso, e eu já dei o fora no João. Ele não poderia ter feito isso. Cara, que filho da puta..

– Mas Fernanda... Por que ele fez isso? Por que eu não consigo lembrar?

– Você tava muito bêbada. Vomitou 4 vezes vindo pra casa. E ele fez isso porque é um filho da puta. E tem outra coisa.. Eu tava conversando com ele e.. - ela hesitou.

– E o que?

– E ele me disse que não foi a primeira vez. Ele me falou que na festa da sexta ele também te deu. E você gostou.

Eu não podia acreditar que eu tinha feito aquilo. Sabe, eu senti ali, naquele momento, que estava entrando num beco sem saída. E não estava com medo de como sairia dali. Nem sabia se conseguiria dar a volta.. Eu estava indo com toda a velocidade, e havia esquecido da existência do freio. Não falava em relação à droga, mas eu não parava de beber, de ficar bêbada e de vomitar sem parar. 

– Sim.. A sensação, que eu me lembre, foi ótima.. Mas eu sempre me orgulhei de não ter experimentado nada, e agora espero me orgulhar de ter resistido..

Bom, o que eu posso fazer? Naquele dia, eu realmente pensei que seria capaz de vencer o vício. Eu estava iludida Não sabia o quão forte o crack era.

– Ta. E - ela pegou meu braço - o João disse que essa marca foi uma queimadura com o cachimbo. Você deveria estar querendo saber o que era.

– Ah, sim.. Merda, esse João é um filho da puta mesmo. Caralho, que vontade de meter minha mão no meio daquela cara.

– Nem me fale. Não acho que serei capaz de olhar na cara dele mais. Nunca mais..

– Nem eu.

– Enfim, amanhã temos aula, então hoje a gente tem que acalmar. Foram muitas emoções nas férias!

– É.

Sim. Pior do que qualquer férias que eu havia tido desde a oitava série. Quando tinha 14 anos, e naquelas férias, pela primeira vez, fiquei bêbada. Mas eu nunca havia bebido tanto em minha vida como naqueles dias. Eu ia para todas as festas que ficava sabendo. E a Fernanda sempre ao meu lado.

– Fernanda, posso te perguntar uma coisa?

– Claro.

– Por que a sua voz estava estranha ontem no telefone?

Não sei porque me preocupei.. Mas eu nunca tinha visto a Fernanda com a voz daquele jeito. Parecia que havia chorado horas sem parar. E eu estava intrigada com aquilo.

– Ah, não foi nada não. Eu só estava com sono.

– Certeza?

– Claro, claro.

Ficamos vendo televisão até as 19h30. Ela me avisou que havia ligado para minha mãe e que ela havia passado aqui mais cedo para deixar as minhas coisas pra eu ir com a Fernanda pra escola amanhã.

Fui dormir às 20h00 porque eu estava exausta e minha cabeça estava a mil. Iria ser difícil me concentrar amanhã na aula. Mas desde quando eu me concentrava?

Entre milhões de pensamentos, o de que eu havia feito uma grande bosta não me abandonava. Eu não parava de pensar no que a Fernanda havia me dito. Eu.. eu sentia que meu mundo estava prestes a desmoronar.


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