Polícia escrita por judy harrison


Capítulo 7
Ósseos do ofício


Notas iniciais do capítulo

Foi apenas uma noite agitada de um policial, uma coisa normal... se não fosse aquela menina.



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Bruce e a menina ainda estavam no chão quando a viatura de Frank estacionou próxima a eles, acompanhada de outra viatura que chegou depois de tudo. A menina segurava a mão da mulher morta ao seu lado.

_ Mamãe! – ela falava e chorava muito.

_ Fique ai, Bruce. – disse Frank – A ambulância já vem.

Ele quase não o ouviu. O choro da criança em seu ouvido e a aquela visão da mulher a dois metros deles com seus olhos abertos e o corpo lavado de sangue o deixaram abalado.

A ambulância chegou e a menina foi a primeira a ser amparada, mas não havia sofrido nenhum arranhão exceto sua vida que agora foi marcada por aquela tragédia.

Bruce foi colocado por paramédicos na maca, mas saiu dela em protesto. Apenas seu braço tinha um leve sangramento, além de seu peito estar doendo por causa do impacto da bala.

_ Me soltem! A menina... – ele tentava sair dali para acompanhar a pessoa que levou a criança.

_ Senhor, seu braço! – insistia a paramédica – O senhor precisa ir ao pronto-socorro! – ela o segurou quando percebeu que suas pernas estavam falhando.

Bruce desmaiou de repente por causa da tensão e do cansaço.

Alguns minutos depois ele recobrou a consciência e se viu amarrado na maca e dentro da ambulância. Estava com ele a mesma moça que o segurava antes.

_ Para onde estão me levando? – perguntou, tentando se levantar sem sucesso.

_ Não se preocupe senhor Warwick, está indo para o pronto socorro central.

_ Não quero ir, eu não estou machucado.

_ O senhor levou dois tiros, - disse em lamento – um o feriu no peito e outro rasgou sua pele no braço. Precisa ir!

Sem escolha ele relaxou na maca, sentia mesmo aquela dor grosseira no peito, e seu braço ardia. Mas o que ocupou sua mente foi o rosto da menina que agarrou ao ouvir o disparo. Ele se lembrava de ter apertado seu corpinho frágil e se jogado ao chão fazendo com que ela ficasse sobre ele, ainda o sentia.

_ A menina que estava lá... O que houve com ela?

_ Ela está com agente, na viatura de seu colega. – levantou-se - Chegamos.

Bruce foi levado para a enfermaria e lá lhe fizeram os curativos. Sua pele, no braço havia sido arranhada apenas, e não precisou mais que uma assepsia.

Mas o hematoma causado pela bala em seu peito requeria cuidados, e ele precisou tomar anti-inflamatórios e relaxantes musculares.

_ Vai ficar em casa por uma semana! – dizia a enfermeira.

_ Não posso ficar todo esse tempo sem trabalhar.

_ Se quiser voltar a trabalhar, sim. – ela olhou para fora – Você tem visitas.

Quando ela saiu, Laurence entrou com Frank.

_ Ei, filho! Como está? – disse sorrindo, mas estava preocupado.

_ Eu estou bem, Laurence. Você não contou à minha mãe, contou?

_ Claro que não.

Do outro lado, Frank se aproximou.

_ Bruce, eu sinto muito pelo que houve. Eu não...

_ Agora não é hora, Frank! – Laurence advertiu.

Bruce sabia do que ele estava falando. Frank não revistou o bandido corretamente, e foi uma falha muito grave. Ele apenas balançou a cabeça demonstrando que não tinha ressentimentos, afinal Frank o salvou de ser alvejado depois. Foi ele quem gritou para que abaixassem, e foi ele quem matou o bandido.

De qualquer modo, fizeram seu trabalho. Um traficante estava morto e outro preso, eram dois a menos nas ruas, e isso deixava Bruce satisfeito.

Eram cinco horas da manhã quando Laurence levava Bruce para casa.

_ Hoje, pela tarde, você terá que ir até o departamento para fazer o seu relatório. Quer que eu busque você?

_ Não, obrigado. Tenho um encontro com uma garota na cidade. Eu vou com meu carro, assim que terminar.

Ele riu.

_ Não está em condições...

Mas Bruce estava sério.

_ Não é esse tipo de encontro.

_ Eu me referia a você dirigir. Pegue um taxi então.

Sem querer pensar em Grace, ele resgatou o assunto de sua mãe.

_ Tem razão. Diga-me agora o que está havendo com minha mãe e você, Laurence. Eu a tenho visto chorando pelos cantos e ontem ela estava muito abatida, veio da rua... Você estava com ela?

Dirigindo com tranquilidade, Laurence se lembrou do olhar triste e decepcionado de Betsy. Não podia esconder dele.

_ Eu estava em casa, - disse num suspiro - tinha uma visita, uma amiga. Sua mãe apareceu de repente, eu a recebi e ia sair com ela, mas ela foi até o quarto e a viu. Foi embora em seguida.

Ele achou estranho.

_ Mas, minha mãe na sua casa?

Laurence parou o carro perto da casa de Bruce, na esquina, a rua estava vazia ainda, apenas um ou outro trabalhador já saia de casa.

_ Bruce, não é novidade para você que eu sempre tive um carinho especial por sua mãe, e que ela nunca me deu uma chance.

_ Sim, ela diz que meu pai é o único que ela ama. Mas, e então ela foi à sua casa para quê?

_ Eu estive um dia em sua casa, nós conversávamos e eu me excedi, quis roubar um beijo. Ela me bateu e eu fiquei chateado. Por isso não tenho ido a sua casa.

Bruce não gostou da situação.

_ Mas você a está ignorando por um erro que você mesmo cometeu? Não pode forçar minha mãe a gostar de você, Laurence! Ela gosta, mas não é desse jeito.

_ Acontece que eu acho que ela esteve em minha casa para reatar comigo. Eu não imaginava isso.

_ Então, ao invés de fugir dela, fale com ela!

Laurence sorriu, era um garoto dando conselhos a um homem de 40 anos.

_ Você está certo, eu só estava com vergonha pelo que fiz, e por ela ter visto alguém lá comigo.

_ Minha mãe deve saber que você namora, não é? Isso não deve atrapalhar a amizade de vocês.

Não, se ela não me amar também, ele pensou.

Decidido a falar com Betsy de fato, Laurence avançou com o carro até a frente da casa. Queria ficar lá e esclarecer aquilo.

Eles entraram. Betsy ainda dormia, a porta de seu quarto estava fechada, mas era uma questão de tempo até ela ouvir vozes.

_ Laurence, se quiser se deitar em minha cama...

_ Não seja maluco. – riu – vou ficar aqui, mas vou esperar que ela acorde e esteja disposta a falar comigo. Pode ir para a cama, e durma, você precisa.

Bruce precisava mesmo, estava exausto ao extremo. Antes de ir, porém, ele se voltou.

_ Laurence, aquela menina que foi encontrada... O que fizeram com ela?

_ Está no juizado. Provavelmente vai para um orfanato. Aqueles eram os pais dela, e ela parece não ter mais ninguém.

Bruce foi para seu quarto, tirou a roupa e foi para o chuveiro.

Enquanto a água caia em sua cabeça, ele pensava nos olhos lindos daquela criança, e do modo como ela o encarou como se fosse alheia a tudo que estava acontecendo. Foi ali que a vida dela mudou, ela perdeu sua identidade, fosse o que fosse, e agora estava à sorte do destino.

Quando saiu ele se secou, só então foi que olhou os ferimentos que tinham em seu corpo. Olhou pelo espelho aquele raspão na parte superior do braço, e também o lado esquerdo do peito com um sinal avermelhado que logo ficaria roxo.

_ Que sorte a minha estar de colete. – disse ao se dar conta de podia ter morrido.

Mas o medo da morte não o assombrava, e sim a vida, com episódios incompreensíveis e inaceitáveis, como uma criança ser criada por um casal que a levava para as ruas, sujeitando-a a tudo, e no caso daquela menina, a presenciar a morte violenta de seus pais.

Bruce dormiu assim que se deitou, seu corpo pedia urgente por descanso.



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