Ele encarou aquele olhar que jamais em sua vida havia esquecido.

_ Jamie!

Ela o encarava também, do mesmo jeito que quando o viu pela primeira vez, cinco anos atrás. Estava agora quase tão alta quanto ele e era uma linda mulher. Bruce não conseguia falar, sua voz presa na garganta parecia se calar diante das lembranças que agora passavam pela mente dele, o que ele nunca quis lembrar de novo vinha como um tiro em sua alma.

_ Bruce!

Era alguém chamando por ele com urgência e abriu a porta. Bruce se virou.

_ Bruce, o rapaz que você atropelou... Uma mulher entrou e... atirou nele. Fugiu em seguida. – Bruce estava estarrecido, seus pés não saiam do chão – Ele morreu. – O agente viu que o capitão não se mexia, apenas olhava pra ele com os olhos estirados e seu coração visivelmente acelerado – O que vamos fazer, Capitão?

Ele enfim despertou, e enquanto saia da sala falava quase aos berros para todos ouvirem.

_ Mandem viaturas para minha casa. Cacem essa mulher! Busque informações de como ela estava vestida, cabelo. Olhos...Façam uma busca por Toda New York! Eu quero essa mulher nas minhas mãos, viva ou morta! – ele gritou, como se assim toda a cidade ouvisse e fosse procurar por Grace.

_ Capitão, e a garota na sala dois?

Com sua respiração descompassada, ele quase não conseguia falar mais. Grace sabia destruir sua vida sem mesmo estar ali.

_ Mantenha essa menina presa até eu voltar. Não a deixe escapar. Ela tinha meu nome nas mãos, não sei o que pretendia.

Bruce correu para sua casa. Betsy era sua prioridade.

Quando chegou ele foi para dentro e a abraçou.

_ Mãe, Grace matou um homem no hospital pensando que era eu!

_ Oh, meu Deus!

_ Precisa ficar aqui, e por favor, não saia por nada! – ele a segurou pelo braço e a puxou até o quarto, viu que ele estava arrumado – Fique aqui dentro, está bem? Não saia, e não abra pra ninguém.

_ E Laurence?

_ Ele se juntou à busca, trabalha comigo agora. Temos que pegá-la.

Ele saiu depressa e voltou para a rua. Olhava para todos os lados e parava todas as mulheres e até homens que se parecessem com ela ou podia ser ela disfarçada.

Depois de alertar todos os postos de saúde, rodoviárias e estabelecimentos comerciais possíveis, os agentes que estavam espalhados pela cidade, quase toda a corporação, continuaram a fazer as rondas. Para facilitar o reconhecimento dela, Bruce ligou para duas emissoras, pois fora constatado que era mesmo Grace agindo em New York, a informação agora oficial se espalhou pelos canais de TV mais populares. Ninguém tinha, porém, uma foto atual dela, e não tinham ideia de como ela era realmente.

Enquanto andava pelas ruas, Bruce foi avisado pelo rádio que o comissário estava no escritório para falar com ele. O agente também disse que por não haver razão para manter presa a garota encontrada, ele ordenou que ela fosse solta.

Aquilo deixou Bruce arrasado. Arrependeu-se por não tê-la levado consigo como fazia antes, quando ela era uma menininha.

Bruce queria gritar, socou a direção, não acreditou que a viu ali, e depois não a veria mais. Por mais que tentasse achar que fora um engano, aquela imagem dos olhos de Jamie provava que era ela.

Ele não podia mandar viaturas atrás de Jamie, mas mandaria as forças armadas, a SWAT, e o FBI atrás dela se seu desejo de acha-la contasse como pretexto.

As buscas por Grace continuaram.

Grace não lidava bem com pessoas, mas era astuta com disfarces e encenações. E ela conseguiu outros disfarces, e tentava ainda chegar até Bruce de alguma forma.

O dia amanheceu, fazia um frio imenso. Bruce não queria desistir, havia rodado por muitos lugares até de madrugada, procurava por duas mulheres pelas quais tinha sentimentos fortes, e que o fez descontrolar sua vida quando entraram nela. Agora estavam de volta, abalando suas estruturas.

Ele rodou um pouco mais pela cidade, antes de ir para o escritório, não viu sinal de Grace ou de Jamie em nenhum lugar. Parou para abastecer seu carro, e ali ficou a pensar. As lembranças eram sobre Jamie. Sempre evitou até mesmo de pensar naquele nome, e agora até a dor que sentiu naquele dia de despedida o machucava de novo.

Quem era Jamie agora? Por que o procurava, e ao encontra-lo desapareceu? Por que não disse nada ao vê-lo? Teria se lembrado dele?

Ele pensou nas informações que passaram sobre ela. Jamie ainda não falava, como era antes, estava sem voz.

Quantas coisas agora invadiam sua cabeça!

_ Senhor? – era o frentista.

Bruce pagou o homem e saiu.

Pelo rádio enfim ele teve informações a respeito de Grace.

Esteve rodando a cidade e fazendo compras, mas sempre que a informação chegava, ela já estava longe. Ninguém sabia o que ela pretendia.

As buscas por Grace passaram a ser aleatórias. Bruce não podia colocar toda a polícia em tempo integral atrás de uma só pessoa, então colocou apenas alguns policiais nas ruas para procurar por ela.

No escritório, ele buscava mais informações.

_ Não tivemos mais notícias sobre Grace. – disse um agente – Mas eu vi aquela menina que prendemos ontem.

_ Onde? – ele disse assustado.

_ Numa loja de roupas.

_ E o que ela fazia lá?

_ Estava parada, na frente da loja. Ela parecia estar chamando por nós, acenava com a mão, eu acenei de volta, achei que ela tivesse me reconhecido.

_ E como sabe que ela acenava pra você? – disse com desdém, não achava que Jamie faria aquilo

Mas ele não podia repreendê-lo, Jamie não estava sendo procurada, não oficialmente.

_ Não sei, eu só supus. Ela saiu de lá depois.

A suposição do agente estava errada.

Jamie estava mesmo chamando por ele, esteve atrás de Grace e seguindo seus passos desde que ela saiu da Califórnia.

Jamie esteve por muito tempo atrás de sua verdadeira identidade. Deixou seus pais adotivos em Albany e voltou para São Francisco. Ao saber onde ficou depois de perder seus pais, ela foi até a casa de Betsy, mas lá viu Grace que estava em frente o lugar minutos depois de matar seus pais.

_ Bruce vai ser o próximo! - Grace disse antes de reparar que Jamie a encarava.

Grace estava drogada e riu para a menina que nada disse. Mas Jamie sabia que Bruce era o homem que procurava. Com a ideia de acha-lo, Jamie seguiu os passos de Grace. E lá estava novamente, observando enquanto ela comprava roupas. Estava disfarçada, mas Jamie a conhecia bem. Vendo a viatura passando ela acenou, mas o policial foi embora.

Grace havia mudado seu esconderijo, estava agora em uma casa abandonada afastada da cidade. O dinheiro que ela tinha havia acabado e ela tinha poucos mantimentos.

_ Droga, eu não tenho mais pão.

Era quase dez da manhã, e ali nunca aparecia alguém por se tratar de um lugar cheio de lixo e urubus.

Mas Grace percebeu que uma pessoa estava ali. Quando saiu da pequena lona armada feito cabana, ela se deparou com Jamie.

_ Eu conheço você? – disse espantada, pois Jamie a encarava com frieza.

Sinalizando que não falava, Jamie deu a ela um papel, tinha um recado pra ela, e depois de ler, Grace disse feliz.

_ Seja bem vinda, Jamie. Somos parceiras agora!