Dear Servent

Final Part

Haruhi_Hanamoto

            Estava na frente da minha casa…Já se tinham passado uma semana exatamente desde que o meu noivado com o irmão da Miku fora confirmado. A partir de agora eu moraria na casa dos Hatsune, sem Len.

            Minha mãe devia ter percebido que a maior parte da minha razão para não querer casar seria por causa de Len. Minha mãe embora só visse o que queria ela não era burra, e percebeu meus sentimentos. Logo ela decidiu que eu iria para a casa de Miku sem Len, e sim com uma garota chamada Kasane Teto.

            Teto não parecia ter sentimentos…Se mantinha sempre com uma expressão fria na face, e só falava se lhe fosse dirigida a palavra. Mas parecia ser dedicada ao seu trabalho e bastante decidida…Mas não era Len.

            Senti meu coração apertando no momento em que vi a carruagem que me levaria para a minha “nova casa”, Len não fora permitido a vir se despedir de mim, mas sua família tinha sido.

            Luka olhava para mim com um sorriso triste na face…Creio que tanto ela como Gakupo sabiam dos nossos sentimentos, e eles pareciam os entender. Talvez se Luka e Gakupo fossem meus pais tudo seria melhor, e mesmo que isso significasse que eu e Len seriamos irmãos não me importaria…Pelo menos teríamos um laço inquebrável, mesmo que esse não pudesse ser mais do que amor fraternal.

            A carruagem chegou finalmente, Luka e Gakupo me deram um abraço apertado e um beijo na face cada. Minha mãe simplesmente me olhou vitoriosa, eu a dei desprezo e olhei em volta com a esperança de ver Len pelo menos mais uma vez, mas não o achei. Entrei no veículo com Teto e acenei adeus, olhando uma última vez para minha casa, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas os fechei, e chorei silenciosa.

            Adeus Len…Eu te amo.

*-…..-*

            Devo ter adormecido porque não me lembro de nada da viagem, mas a verdade é que também não queria me lembrar. Queria acordar e descobrir que tudo não passava de um pesadelo e que Len estaria do meu lado quando eu acordasse, mas obviamente isso não aconteceu.

            A carruagem parou abruptamente e eu saí desanimada, Prima e Tonio vieram me saudar, assim como Kaito e Miku.

            Miku se mantinha silenciosa, com uma expressão pesarosa. Ela veio me abraçar e pude sentir meu ombro se humedecendo…A culpa não era dela, Miku não podia se sentir assim culpada, portanto fiz o sorriso mais sincero que consegui e falei com uma voz serena:

            - Miku, está tudo bem…Já não importa mais.

            - M-Mas Rin! E-Eu…

            - Shh! Eu já sabia que eu e ele não podíamos ficar juntos…Por isso está tudo bem Miku…Eu te amo também sabe? Nós vamos ser irmãs agora! – Disse para ela animada, Miku simplesmente me olhou e deu um sorriso leve me estendendo sua mão.

            - Irmãs! Isso não me desagrada!

            Eu sorri para ela, embora o que eu menos quisesse fosse sorrir alegre, eu não podia deixar Miku triste. Um som estranho como se fosse alguém tossindo chegou aos meus ouvidos, olhei para o meu lado e lá estava Kaito sorrindo galante para mim. Respirei fundo e com a melhor expressão de ironia que consegui fazer, dei uma vénia e estendi minha mão direita orgulhosa para que ele a pudesse beijar.

            - Espero que sejamos bons um para o outro, minha querida noiva. – Disse ele em tom de deboche.

            - Então espero que o senhor consiga controlar seus instintos e atender a todos os meus pedidos, meu queridíssimo noivo! – Disse respondendo á sua afirmação com um tom duas vezes mais evidente que o dele, ele fez uma careta e se virou andando de volta para dentro da casa.

            Os outros pareceram não ter notado, somente Miku e surpreendentemente Teto, que deu uma pequena risada abafada, e que notaram a minha extrema tentativa de ser mal-educada.

            Com um ar petulante entrei na casa, os serventes da família Hatsune me saudavam com animação, e eu, numa tentativa óbvia de ser desagradável, resolvi nem sequer os olhar de volta. Miku me olhava preocupada, e eu simplesmente sentia minha expressão ficar gradualmente séria…Sentia saudades de Len e sem ele eu parecia não conseguir controlar muito bem meu temperamento.

            Len…Eu quero te ver…

*-…..-*

            Já era de noite, estava dormindo desconfortável na minha nova cama. Até que alguém me abraçando me acordou:

            - Ojou-sama…Eu vim te buscar.

            - L-Len?

            -O próprio…

            - Len…LEN! – Me virei rapidamente e o abracei apertado, ele me abraçou de volta mas logo me afastou.

            - E-Eh? A-Algum problema? – Disse corando, Len olhou para o chão triste.

            - Ojou-sama…Acho melhor a senhorita me esquecer e casar com Kaito-sama.

            - Eh? O que? NÃO! – Ele se levantando e me ignorando se dirigiu até a porta do quarto, se virou para mim e deu um sorriso leve. – Por favor Len! Não me deixe de novo! – Eu já chorava novamente, suplicando e soluçando de dor.

            - Adeus Ojou-sama…Seja feliz… - Disse abrindo a porta e indo embora.

            - Não! Len! Não! NÃO! NÃO!

            “ NÃO!”

            Acordei…Aparentemente fora tudo um sonho, excepto pelo facto de eu ainda estar na casa de Miku, e que ainda estava noiva de outra pessoa.

            Eu estava suando frio…O maldito pesadelo me abalou, mas talvez não tenha sido pelo facto de Len me ter deixado, e sim porque eu realmente pensei que aquilo não era um sonho…E assim eu quebrei.

            Fortes soluços perfuravam meu peito, era como se uma parte de mim estivesse sendo arrancada do meu corpo, e que nunca mais voltaria. Eu deveria desistir, virar uma garota submissa e simplesmente desistir. Desistir do amor que eu já tive, desistir de lutar contra o destino…Desistir.

            Uma palavra que antes eu tomava como estúpida estava agora me causando mais dor do que qualquer outra coisa. Eu não queria desistir, mas o que eu posso fazer? Eu não posso simplesmente fugir, pedir a Deus que me salve…Seria muito complicado e inútil…

            - Rin-san…Por favor não chore! – Me assustei. Estava tão absorvida pelos meus pensamentos que não percebi que não estava sozinha. Kaito estava do meu lado, com uma cara preocupada. Me encolhi e disse mal-humorada:

            - O que você quer? Me destruir a vida um pouquinho mais?

            - Lamento imenso que a senhorita pense assim, mas a verdade é que eu estou lhe ajudando de formas que a senhorita não consegue entender ainda. – Disse polidamente. Bufei em tom de deboche.

            - Ah é?! Me diga então como você está me ajudando senhor Kaito! Prove para mim que obrigar uma garota que mal conhece se casar com você, a tirar de casa, e fazer com que a “noiva” seja avisada por ultimo?! Vá, rápido!

            - Rin-san, se eu ou sua mãe tivéssemos a avisado antecipadamente, corríamos o risco de que a senhorita pudesse fugir ou pior. Muitas garotas da sua idade já estão casadas, e o mais importante é que eu a amo genuinamente.

            - Hunf! Quase nunca conversamos! Como será possível você ter tanta certeza de que me ama?

            - A senhorita não iria entender. É muito nova ainda. Mas espero que chegue o dia em que irá entender minhas razões. E que nesse dia possa me amar.

            - Isso nunca irá acontecer.

            -Irá sim. Tenho a certeza. Talvez não hoje, não amanhã, não daqui a cinco anos, mas eventualmente. E eu estarei esperando esse dia ansiosamente.

            - Espere sentado. Não quero que se canse.

            - Agradeço sua preocupação, mesmo que irónica. – Bufei novamente e ele sorriu gentil. Levantou-se e se dirigiu até a porta, parou e se virou para mim. – Durma bem Rin-san. A senhorita precisa descansar, serão dias longos que se aproximam. Boa noite.

            Esperei ele sair e comecei a chorar novamente. Não! Eu nunca irei me apaixonar por ele. Nunca!

*-…..-*

            Cinco meses se passaram, e chegou o tão esperado dia por todos menos por mim. O meu casamento com Kaito.

            Fora uma festa nada menos que extravagante.

            Flores por todo o lado, comidas requintadas, milhares de convidados que eu não conhecia, vestidos belos, música sofisticada. Seria uma festa perfeita e talvez até divertida se não estivesse celebrando o final da minha vida, por assim dizer.

            Kaito sorria vitorioso e orgulhoso durante o dia inteiro, como se eu fosse um prémio adquirido. Uma jóia preciosa e rara, embora me sentisse como uma boneca vazia e fria.

            Forçava sorrisos, obviamente falsos até para quem não me conhecia. Miku se mostrava deprimida novamente, e Haku parecia se sentir da mesma forma. Mas dessa vez eu não me importei… Sabia que eu não a conseguiria animar nem que quisesse.

            Minha mãe estava sorridente e os pais de Miku estava um pouco apreensivos. Teto estava, como sempre, séria e indecifrável.

            Resolvi me afastar um pouco dos convidados e apanhar algum ar, estava cansada e deprimida. Porque ninguém me salvava?

            Fui um pouco para o jardim. Eu era permitida a sair frequentemente, mas me sentia menos livre do que quando não podia sair de casa.

            As belas flores do jardim me pareciam agora tão monocromáticas e sem perfume. Pareciam comigo…Toquei numa delas e senti solitárias lágrimas rolarem pelo meu rosto.

            - Len…Eu quero te ver… – Disse em um sussurro, e para minha surpresa, uma voz familiar e distante me respondeu serenamente:

            - Eu também Ojou-sama.

            Me virei receosa e lá estava Len. Com seus cabelos agora soltos e com um sorriso triste em seus lábios. Teria corrido para onde ele estava, mas receosa me segurei.

            - É mesmo você? Não é outro sonho? Não terei ficado lunática? Não és uma ilusão?

            - Se eu fosse um sonho com certeza não te deixaria acordar. Não estás lunática, minha voz não é uma mentira, tanto quanto minha presença não é uma ilusão.

            - Eu não sei se consigo acreditar…Eu…

            - Terei então que te provar que estou realmente aqui? – Acenei afirmativamente. – Então não me censure pelo que irei fazer nesse momento, meu amor.

            Ele se aproximou de mim e tocou na minha face, me encolhi levemente, mas ele tomou meu rosto em suas mãos e suavemente aproximou sua face da minha, fazendo nossos lábios se encontrar docemente.

            Oh! Se isso é realmente um sonho, por favor me deixe cair nas profundezas desse abismo de felicidade…Não me deixa voltar ao mundo real, nem que fosse para eu morrer. Eu não me importo. Deixe-me me afundar nessa sublime e doce insanidade, me deixe ser feliz. Não é muito para ser pedido, não é?

            Len quebrou o beijo, mas mantive os olhos fechado para não quebrar o feitiço. Como se eu estivesse num conto de fadas, e que o beijo do príncipe estivesse ainda fazendo efeito, mas então senti o abraço de Len e percebi:

            Não era nenhum sonho…Len estava ali, ainda havia alguma esperança.

            O abracei fortemente e me senti finalmente plena. Mas logo me separei dele e o olhei preocupada.

            - Como você conseguiu entrar? Len! E-Eu não quero me casar, e-eu-

            - Fique calma Ojou-sama. Eu fui convidado por Kaito-sama, e eu tenho um plano.

            - U-Um plano?

            - Sim. Ojou-sama, case-se com Kaito.

            - O QUE? NÃO!

            - Acalme-se! Faz parte do plano. Case-se com ele, e dirijam-se para a vossa nova casa. Eu os irei seguir. Quando chegarem tente adiar o máximo que puder a sua hora de ir deitar-se ao lado dele. Tente fazer com que ele vá para seus aposentos antes de você, isso e muito importante! Ouviu?

            - S-Sim…Len…Você tem a certeza de que o teu plano ira funcionar?

            - Tenho. Mantenha-se calma e me espere. Lembre-se do que eu disse.

            - Sim…Entendi…

            - Ojou-sama?

            - Sim? – Ele me abraçou novamente e me deu outro beijo, dessa vez um pouco mais urgente, mas também esperançoso. Se separou e me manteve perto de si durante certo tempo.

            - Já estamos ficando sem tempo. Tenho que me despedir.

            - P-Percebo… – Disse impedindo minhas lágrimas, Len me olhou e sorriu gentilmente.

            - Não chore meu amor. Eu te amo muito…Rin.

            - Eh? L-Len! – Senti minha face enrubescer. Len nunca me tinha tratado pelo meu primeiro nome antes, e eu nunca soube que aquilo me faria tão alegre. Ele sorriu novamente e me acenou adeus.

            - Eu também te amo Len. Estarei esperando. – Disse baixinho enquanto via ele se afastando.

*-…..-*

            A cerimónia continuou sem nenhum distúrbio, não vi Len novamente mas sabia que íamos nos encontrar novamente.

            Tive que aguentar os votos melosos e presunçosos de Kaito em relação a mim, e recitar os votos que foram escritos para mim, já ensaiados inúmeras vezes e sem nenhum erros, aguentar o leve beijo que ele depositou em meus lábios, tentando não esquecer da sensação dos de Len, e finalmente aguentar a viagem de carro para minha “nova casa”, sabendo que Len estava provavelmente numa carruagem atrás de nós ou algo desse género.

            A casa era grande e bela, talvez se estivesse lá por outra razão qualquer teria gostado de saber que passaria algum tempo nela. Mas a ideia de passar a viver lá em dadas circunstâncias simplesmente me desanimava de tal forma que era difícil de respirar.

            Kaito foi muito cavalheiresco  durante o resto do dia. Incrivelmente não me apressou para a tal “lua-de-mel” tão pouco desejada por mim. Me tratou com devido respeito e não foi um completo estorvo. Não tive que fazer com que ele fosse para os aposentos antes de mim, como fora dito para mim por Len, ele foi sozinho e anunciou que quando eu estivesse pronta que eu fosse para o quarto e me deitasse com ele.

            Me senti de certa forma aliviada, e tentei prolongar o tempo o máximo que pudesse, para dar tempo para Len fazer o que fosse que ele estivesse fazendo. Mas visto que já era meio da madrugada resolvi pensar que já tinha passado tempo suficiente e me dirigi para o quarto.

            O quarto se encontrava em silêncio, talvez Kaito tivesse adormecido pelo que respirei fundo e abri a porta para encontrar o quarto em completo breu.

            Esperei meus olhos se acostumarem com a ausência de luz e quando isso aconteceu a cena que tinha perante meus olhos era tão surpreendente que tive que prender minha respiração durante certo tempo.

            O corpo de Kaito estava no chão, completamente ensanguentado e sem vida, no quarto havia inúmeras manchas de sangue rubro que mostravam que houve algum tipo de resistência inútil por parte dele, e sentado na cama estava Len, olhando para o céu escura e sem estrelas, com uma adaga manchada de sangue brilhante em sua lâmina.

            Ele olhou para mim e sorriu feliz.

            - Eu vim te buscar Rin! – Disse alegremente e avançando para mim. Me encolhi automaticamente e ele fez uma expressão magoada. – Ah! Entendo… Acho que você não conseguirá amar um monstro como eu não é? Lamento…

            O que? Não! Len continuava sendo Len, não um monstro. Essa era a única maneira de eu conseguir me livrar de Kaito e dos outros. A única saída possível. E Len estaria comigo, não importa o que acontecesse. E eu o amava.

            Não importa o que acontecesse.

            Corri ate ele e o abracei, o beijando logo de seguida.

            - Eu te amo, Len! –Ele sorriu alegre e me estendeu a mão.

            - Então? Devemos ir, meu amor?

            - Sim! – Disse agarrando sua mão e o seguindo, pulando pela janela para a noite escura e acolhedora. Para um futuro feliz.

            Sem ninguém para nos incomodar.