Obscure Heart escrita por Lirium-chan


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá!~~
Vou reforçar alguns avisos. É paralela a Atashi no Shota Days e as autoras me autorizaram que eu a escrevesse. Ela se passa num plano temporal anterior ao de ASD. E gostaria de avisar que se qualquer coisa que eu escreva aqui futuramente entre em conflito com algo em ASD vocês só precisam desconsiderar o que eu escrevi, certo?~~
Eu escrevi essa fic pra uma brincadeira de Amigo Oculto. Eu nunca faço nada direito sob prazos, então gomen qualquer coisa~~
Tentem adivinhar quem eu tirei~~
Boa leitura :)



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O jovem andava pelos corredores silenciosos, o único som que poderiam ser ouvido era o eco dos seus próprios passos. Os pesados livros de química pareciam muito densos para os seus pequenos braços carregarem e, de fato, ele estava tendo certa dificuldade para lidar com o fardo. Seus ombros estavam encolhidos e ele permanecia alerta, até mesmo um pouco paranóico. Há muito que todos os estudantes haviam deixado o prédio, a maioria se dirigindo para suas casas, empregos de meio-período, algum programa com amigos ou parceiro e até mesmo os clubes já haviam encerrado suas atividades.

Ele amaldiçoava-se mentalmente, mas não poderia pegar toda a culpa para si. Não mesmo! Não tem responsabilidade pelo fato do seu professor de Química simplesmente não ser capaz de promover aulas interessantes o suficiente para que ele não dormisse em meio a elas, nem pela realidade da prova de tal matéria agendada para o dia seguinte, tampouco culpa por ter caído no sono antes mesmo de conseguir assimilar como classificar um átomo carbônico,e muito menos pela bibliotecária não ter notado a sua figura adormecida num canto isolado da biblioteca e simplesmente ido embora. Sua sorte foi que, observador como era, Piko sabia exatamente onde era guardada a chave de emergência. Caso contrário permaneceria trancado ali até o dia seguinte. Os livros que carregava não foram emprestados com seu cartão, mas ele precisaria passar a madrugada acordado a lê-los se quisesse uma boa nota.

No fim das contas, teria sido melhor simplesmente ter pedido ajuda para Len a respeito da sua dificuldade em Química, afinal, o garoto não era de negar qualquer ajuda para o melhor amigo. Mas o albino simplesmente detestaria incomodar o loiro com os seus problemas.

Virando o corredor, o olhar dele encontrou alguém encostado na parede acinzentada; o rosto coberto por uma sombra traiçoeira, devido à iluminação precária que o corredor tinha. Era alto, esguio e vestia o mesmo uniforme escolar que Piko, entretanto, o seu estava perfeitamente arrumado e não possuía uma única mácula. A presença desconhecida inclinou seu corpo para frente, livrando-se da sombra em sua face. Possuía uma pele alva, cabelos curtos e castanhos que beiravam ao negror e olhos penetrantes e de uma tonalidade castanha. Hiyama Kiyoteru. Ele era simplesmente o melhor aluno do colégio, notas perfeitas, modos educados, inexpressivo e inabalável. Dada a confusão de Piko ao ver o singelo sorriso cínico que se desenhava na boca do mais alto. Os olhos do aluno do segundo ano percorreram todo o corpo do mais novo com um brilho de luxúria, pouco antes de alargar o sorriso e passar a língua por entre os lábios.

O menor corou e se encolheu com o olhar recebido. Seu corpo era pequeno e delicado. Piko possuía cabelos brancos prateados que lhe terminavam ao pescoço, havia um fio rebelde no topo da sua cabeça que formava uma espécie de arco, os olhos eram grandes e bicolores, a sua orbe esquerda era azul enquanto a direita vermelha, sua pele era tão branca que aparentava ser feita de neve. Era mais andrógeno do que gostaria, podendo passar-se por uma garota sem nenhuma dificuldade.

– Utatane Piko. – Chamou o mais velho, em sua voz fria e inexpressiva. Apenas tomando o cuidado de não perder o contato visual com o pequeno, procurando avaliar a reação dele.

Inicialmente, o menor ficara atônito. Não fazia idéia de que o outro tinha conhecimento de seu nome. Afinal, ele era apenas mais um rosto desconhecido em meio a uma multidão de pessoas com quem, sendo ou não do seu agrado, Kiyoteru era forçado a conviver. Sem a menor necessidade de guardar o nome da pessoa em questão; principalmente o de alguém como ele, com quem provavelmente não fazia mais do que cruzar no corredor. No entanto, o nome do albino não era de todo desconhecido. Em fato, ele era mais do que acostumado a sofrer bullying por causa de sua aparência afeminada – sofrimento este compartilhado com o seu amigo Len. Então o fato de Hiyama arquivar o seu nome não seja tão inédito, com certeza, deve tê-lo escutado em diversas piadas de mau gosto, brincadeiras, gozações e etc. No momento em que considerou isso, Piko sentiu um calafrio percorrer sua espinha. E se… e se Kiyoteru estivesse ali para caçoar dele?

Não. Ele não parecia ser o tipo de pessoa que agride os outros dessa forma. Em fato, parecia-se mais com o tipo de quem precisa lidar com as tais zombarias. Pensando desse modo, tratou de devolver o sorriso nervosamente. Mesmo assim, não podia deixar de temer a figura na sua frente. Havia algo de alarmante em Hiyama Kiyoteru naquele fim de tarde.

– Hiyama-san! O que está fazendo aqui? Err… quero dizer, eu não imaginava que ainda houvesse alguém no colégio. Sem querer soar rude ou algo assim… gomenasai! - Exclamou o garoto, confusamente. Sua voz saia por um fio e ele parecia mais nervoso a cada palavra que lhe saia pela boca. Encontrava-se tão embaraçado que deixou os pesados livros caírem sobre os seus pés, mas nem ao menos se deu ao trabalho de perceber os objetos derrubados.

Ignorando as palavras do menor. Aproximou-se dele em poucos passos, abaixando-se ligeiramente para alcançar a altura do mesmo. Assustado com o olhar do mais velho – que mais pareciam querer penetrar na sua alma – corou e baixou a fronte, fitando os seus pés no chão. Kiyoteru segurou o queixo de Piko, forçando-o a manter contato visual. Beijou os lábios do menor com delicadeza, como se fossem pétalas de rosa prestes a se desmanchar. Permaneceram assim por alguns segundos que pareceram mais durar uma eternidade, saboreando os lábios um do outro com calma. Logo, Kiyoteru mostrou impaciência ao apertar o pequeno contra o seu corpo; assim forçando os seus lábios contra os dele, pedindo passagem com a língua. A mente do mais novo girava e embaralhava, afinal, aquilo era errado, certo? Mas se encontrava tão perdido que cedeu quase que imediatamente, abrindo passagem para que o interior de sua boca fosse explorado. Possuído pelo gosto doce do menor, prendeu o corpo do mesmo na parede. Seus dedos longos e finos percorriam o corpo do mais baixo com avidez, enquanto tomava os seus lábios com voracidade. Piko não fez nada a não ser deixar-se tomar pelo delírio e o prazer, experimentando a sensação quente dos lábios possessivos sobre os seus, e as mãos que exploravam seu corpo sem o menor pudor. Os gemidos de prazer por parte do pequeno cessaram com a separação, necessária pela falta de ar.

Kiyoteru aproximou a boca da orelha do outro. Piko ainda respirava com dificuldade, não pode evitar o gemido que deixou escapar ao escutar o que o mais velho murmurou em sua voz fria.

– Interessante.

Nenhuma palavra a mais, nenhuma palavra a menos. Afastou-se do pequeno, deixando-o caído sobre os próprios pés enquanto abandonava o prédio em passos calmos. Nesse momento ele havia, sem forma de dúvida, assumido sua face inexpressiva novamente. Piko observou o rapaz sumir de sua vista. Depois tocou os próprios lábios, fechando os olhos; como se ainda pudesse sentir o calor de antes. Ele tentava entender o que havia acontecido. Ainda corado, tratou de recolher os livros de Química do chão – como se finalmente tivesse se dado conta deles. Respirou fundo e andou em passos falhos para a saída, tentando, em vão, livrar-se dos pensamentos que lhe passavam pela mente.

Naquela noite, Piko não foi capaz de dormir. E o teste de química para o qual não estava preparado nem passava pela sua cabeça.




– Nee… Piko? – Len chamava o albino, enquanto cutucava o rosto do amigo adormecido.

– Hã? O que foi? – Resmungou o outro, esfregando os olhos recém-abertos.

Gomenasai! Você estava dormindo. Eu não queria te acordar, mas tocou para o intervalo e eu… - replicou o loiro, mexendo nervosamente os dedos.

– Are?! Estou lhe fazendo perder o almoço? Eu que devia pedir desculpas… vamos logo. – Respondeu o albino, levantando-se da carteira e encaminhando-se para fora da sala, o amigo em seu encalço.

– Você não dormiu bem esta noite? – Indagou o loiro, inocentemente.

Ambos os garotos já se encontravam em uma mesa isolada do refeitório, comendo seus respectivos obentôs. Conversavam sobre coisas aleatórias, enquanto tentavam ignorar os comentários e gracinhas que ora ou outra eram soltos na direção da dupla. Piko corou e respirou profundamente antes de responder a pergunta de Len. Não costumava ter segredos para com o amigo, mas não queria explicar para ele o motivo da sua insônia.

– Eu não dormi nada. Acabei ficando tão nervoso que nem ao menos fui capaz de pregar os olhos. - Respondeu com uma expressão de tédio compelido, levando os hachis ao alto sem causa aparente.

– Entendo… e como se saiu no teste? – Perguntou, pendendo a cabeça levemente para o lado e mostrando um sorriso adorável. Às vezes Piko perguntava a si mesmo se ele parecia tão feminino quanto o seu amigo, a resposta sendo sim, ou até mesmo mais.

– Eu realmente não quero falar sobre o teste agora… e não fique me olhando com essa cara de quem tirou nota máxima! – Devolveu, dessa vez apontando os hachis acusadoramente para o rosto do outro.

– Mas eu não estava fazendo cara nenhuma! – Defendeu-se Len, levando as mãos ao alto. Depois disso os dois irromperam em risos. Sim, eram grandes amigos.

Às vezes Piko sentia que seria capaz de destruir qualquer um que ousasse machucá-lo.

Teve a sensação de um olhar intenso sobre si, apreensivo, percorreu o olhar pelo refeitório. Tal foi a surpresa ao encontrar as orbes escuras de Kiyoteru sobre si, o rapaz fez sinal para que o menor lhe seguisse, desaparecendo num corredor logo em seguida.

Bruscamente, Piko levantou da cadeira onde estava sentado. Tinha perguntas a fazer, e o alvo do seu interrogatório estava ao seu alcance. Olhou seriamente para Len, que parecia não ter entendido a mudança brusca de humor no amigo.

– Len, acabei de lembrar que tenho algo importante para resolver. Já volto.

O loiro pareceu que ia protestar, mas, devido à face séria do outro, desistiu da idéia. Talvez o confrontasse mais tarde.

– Ah, claro. Então eu já vou para a biblioteca.

Piko foi até onde viu a figura do mais velho sumir, ignorando comentários como “Onde está indo, Piko-chan?”; não demorou a encontrar quem procurava, Kiyoteru sorriu e subiu as escadas. Sendo seguido pelo pequeno.

– Hiyama-san? – Arquejou, ao encontrar o outro encostado na porta de uma das salas do terceiro ano.

O mais velho tornou a sorrir, atravessando a porta atrás de si. Hesitante, o mais novo também adentrou no recinto. O albino estava prestes a perguntar se estaria tudo bem em entrarem numa sala de aula assim, ainda mais sem um funcionário do colégio por perto e considerando o que o “sempai” havia lhe feito no dia anterior.

– Não há problemas em ficar aqui. Os professores e a direção confiam plenamente em mim. Praticamente comem em minhas mãos! Ah, e não te tocarei sem a sua permissão novamente. Por hora. – Disse como se houvesse lido a mente do garoto em sua frente. Assumiu um meio sorriso, sentando sobre uma das inúmeras carteiras vazias na sala.

Levou os seus olhos bicolores ao chão, inquieto, enfiou as mãos nos bolsos do uniforme. Não pode deixar de pensar o quanto Kiyoteru parecia mais bonito quando sorria daquela forma. Enrubescido, balançou a cabeça negativamente numa tentativa falha de livrar-se do pensamento incômodo.

– Você por acaso tem algo para me dizer? – Replicou o mais alto, analisando as ações do albino com certo interesse.

Sim, Piko tinha várias, inúmeras perguntas. Havia entrando ali com o único objetivo de confrontar Kiyoteru por suas ações indevidas. Ou ao menor era o que havia planejado, naquele momento parecia que todas as indagações e acusações que procurava dirigir ao outro simplesmente resolveram desaparecer; deixando que apenas restasse uma pequenina ovelha branca diante do feroz lobo malvado. A comparação somente serviu para amedrontá-lo ainda mais.

– Etto… por que me chamou aqui, Hiyama-san? – Inquiriu. A voz saira num fio. Tentou fitar os orbes negros e frios do maior, apenas conseguindo enrubescer ainda mais. Xingou-se mentalmente, pois provavelmente devia estar ridiculamente shota e patético naquele momento.

Ele riu. Gargalhou. O aluno do segundo ano simplesmente irrompera em risadas. Sob o olhar assustado do albino (que provavelmente era uma das poucas pessoas a vê-lo sorrir e rir com tanta frequência) acalmou-se gradativamente, até que apenas restava um sorriso divertido em seu rosto. Finalmente tratando de retrucar a pergunta do mais jovem.

– Eu quero propor um acordo. – Se aproximou do menor, fazendo com que a distância entre eles não passasse de poucos centímetros.

– Um… acordo? – Indagou em resposta, perdendo-se no negror intenso que os olhos do mais velho refletiam pelas lentes dos óculos.

– Sim. Um trato. Entre mim… e você. – Murmurou na orelha do albino, mordiscando-a logo em seguida e fazendo um arrepio percorrer-lhe pela espinha.

– Que tipo de trato? - Inquiriu.

– Eu acho que você já sabe. Será que eu posso? – Pediu, dedilhando os lábios do pequeno.

Sim. Ele sabia, portanto, assentiu. Fechou os olhos em seguida. Totalmente entregue. E seus lábios foram tomados pela segunda vez;

E, naquele momento, um trato foi firmado.



Abriu o feche de sua bolsa, fazendo uma careta de desaprovação logo em seguida.

– Já é a quinta vez esse mês. – Comentou para o amigo, retirando a delicada blusa de bordados da mochila.

– Eu odeio quando esses idiotas fazem isso… estúpidos! – Resmungou o loiro, franzindo o cenho em reação a brincadeira.

– Também há uma saia, e roupas íntimas. – Afirmou o albino, calmamente, enquanto ainda vasculhava dentro da bolsa. “Não está aqui…”. Como esperado, o retardado havia substituído as suas vestes por roupas de garota, de modo que ele não poderia trocar de roupas após a Educação Física. Suspirou, cansado. Ele já estava mais que acostumado a lidar com esse tipo de situação.

– Piko-chan! Que blusa linda! Onde você comprou? Eu queria comprar uma para minha imouto, o aniversário dela está chegando, sabe? – Exclamou um garoto em tom zombeteiro, sorrindo abertamente enquanto tentava envolver o albino em um abraço. Sendo evitado a todo custo pelo pequeno.

Isso se essa roupa realmente não for de sua irmã, não é? Seu nojento maldito! Queime no inferno!”

–M-Me solta! – Reclamou, ficando vermelho e empurrando o engraçadinho para longe si.

– Oh, desculpe! Onde está o meu cavalheirismo? – Levou as mãos ao alto, sorrindo cinicamente.

– Hey, c-cala a boca! E você não tem permissão para chamá-lo pelo primeiro nome! - Reclamou Len, finalmente se pronunciando ainda que hesitante.

– Opa! Eu vou sair daqui! As garotas estão nervosinhas! - Riu o provocador, retornando para o seu grupo de amigos. Os quais riam como hienas da cena presenciada.

– Você não vai assistir o resto das aulas? – Inquiriu Len, observando o albino arrumar a mochila. A preocupação estampada em seu semblante, afinal, eles ainda estavam na metade do segundo período.

– Não. Eu não posso com essas roupas. Acho que vou matar aula por aí, se eu chegar mais cedo em casa minha mãe cometerá homicídio. – Sorriu logo em seguida, pendurando a bolsa em um dos ombros.

– Entendo… - O loiro demonstrava aborrecimento.

– Não precisa ficar assim. Eu não ia prestar atenção mesmo! – Respondeu, tocando no ombro de Len como num consolo. Acenando para ele logo em seguida.

Pisou no pátio. O sol ainda no céu, apesar de estar com um brilho fraco e opaco. Na primavera, aquelas árvores estariam florescendo, e o pátio seria coberto por pétalas de sakura. Mas ainda era outono, portanto, Piko deixou que sua bolsa caísse aos pés de uma das enormes cerejeiras, deitando-se abaixo dela logo em seguida. Fechou os olhos momentaneamente, apenas sentindo o orvalho e a grama verde pinicando no seu corpo, além de uma brisa suave que lhe acariciou a face naquele tempo frio. Lembrou-se, com um arrepio incômodo, que ainda estava usando o uniforme de Educação Física. Suspirou pesadamente; às vezes se pegava pensando que todos aqueles idiotas deveriam cair mortos.

Hiyama Kiyoteru. Haviam iniciado um tipo complicado de relacionamento a pouco menos de um mês. Não, ninguém além das partes envolvidas sabia que estavam juntos - se é que podia referir-se ao que eles tinham como juntos. Não seria bom que o aluno modelo se envolvesse com um outro rapaz. “Ainda mais se for alguém como eu”. Para o albino também não seria vantajoso, só serviria para aumentar as gozações e reforçar o estereótipo de shota. E como uma adição, não podia deixar de pensar no como isso ainda poderia atingir o loiro. Não causaria sofrimento no amigo por uma escolha sua. Ficariam bem assim, enquanto a escuridão crescente caísse sobre ambos. Ele o tocava, maculava e o possuía… depois, o deixava como se nada realmente tivesse acontecido. Assim como o combinado. Dolorosamente, a névoa de memórias cobriu sua mente. Permitindo-lhe retornar a um momento do dia anterior.

Piko ainda encontrava-se totalmente vestido, um lençol vermelho cobria precariamente o seu corpo da cintura para baixo, ele ainda transpirava pela atividade recente. Kiyoteru, por outro lado, estava livre apenas de seus óculos e gravata, alguns botões da camisa social abertos e as calças caíam-lhe nos pés, enquanto que abraçava o albino por trás. Deslizou os dedos longos e finos até os cabelos brancos do outro, afagando-os delicadamente. “Eu te amo…” ele murmurou, depois de uma risada seca, provocando uma série de reações descomedidas e desastradas por parte do menor.

Balançou a cabeça negativamente, cobrindo os olhos com uma das mãos. Por mais que tentasse reprimir no canto mais profundo de sua mente o que havia escutado, as palavras de Kiyoteru foram bastante vívidas e claras. Não que ele realmente acreditasse na fala do mais velho. Ele tinha aquela aura perigosa ao redor de si mesmo, aquele sorriso mordaz, aquele sabor venenoso impregnado no corpo e que causava uma espécie de torpor delirante em Piko. Sempre soube que não deveria deixar-se enganar pelo lobo, mesmo assim seguiria pelo caminho da floresta. Sim, ele era um desgraçado destinado a cair por ser viciado na sua ruína. Deixava-se cobrir pela completa escuridão, recebendo um doce beijo de mentiras. Sentia-se sendo destruído lentamente, tendo a alma distorcida pela cobra peçonhenta. Ele sabia disso. Mas não podia deixar de fazê-lo. Iria manter-se preso na ilusão o máximo que lhe fosse permitido. Ele caminharia nas trevas; foi esta a escolha tomada no dia em que se entregou por completo.

Escutou o sinal tocar, ecoando de dentro do prédio. Assistiu a rápida dispersão de alunos e pensou em ir ao encontro de Len, para despedir-se melhor dele antes de ir para casa. Sim, o loiro provavelmente deveria estar à espera de sua gêmea naquele momento. Ao contrário do que planejava fazer, recolheu a mochila e dirigiu-se para a saída da escola. Os pensamentos sombrios não lhe permeavam mais a mente, afinal, pensava o garoto, não adianta remoer muito na própria destruição quando já se está caminhando até ela. Mal sabia ele que a destruição estava mais próxima do que ele esperava e, ao contrário do que julgava, ele não estava nem um pouco preparado para ela.




Na volta de casa, todos os dias; Piko precisava passar por uma rua estreita, que ficava deserta naquela hora do dia. Não é que ele necessariamente morresse de medo a idéia de andar por ali. Ele já havia presenciado alguns assaltos e coisas do gênero. Então, sempre hesitava antes de pisar naquele lugar. É claro, como a maioria costumava fazer, ele poderia pegar um caminho mais seguro. No caso, a viajem seria ainda mais longa. Ele não gostava de caminhos longos. Quanto mais tempo sozinho, mais tempo ele teria para pensar. E pensar não era exatamente algo que estava lhe fazendo bem ultimamente. Sempre acabava martirizando a si mesmo com frequência. Ao menos, quando chegasse a sua casa, poderia ouvir uma música pesada no volume alto e ocupar sua mente com qualquer outra coisa. E era apenas uma ruela qualquer; pequena, seria rápido.

Espantou-se, portanto, ao encontrar Kiyoteru em frente a um – menor ainda – beco escurecido. Mais espantado ainda ficou ao perceber que ele não estava sozinho. Havia cerca de meia dúzia de rapazes dentro do beco; todos eles pareciam engolir o menor com o olhar assim que ele entrou no alcance de suas vistas, pareciam completamente enfeitiçados pelas feições dele. O de óculos, por outro lado, parecia fixamente concentrado no caro celular em suas mãos, a testa levemente franzida. Finalmente, desprendeu os olhos do aparelho e fitou o albino com o olhar mais gélido que já havia lançado para o último.

Piko fazia uma boa idéia do que viria a seguir. O ambiente armado não poderia ser melhor para o que estava prestes a acontecer; engoliu em seco, como pode ser tão idiota? Não conseguiria fugir, suas pernas estavam trêmulas e ele nem sequer sabia como se mantinha de pé. Ele queria fugir. Droga, não, ele não queria fugir. A verdade é que ele queria esmagar os crânios de todos aqueles garotos. Um por um. Lenta e dolorosamente. Seu corpo tremia por inteiro de tanto ódio que lhe queimava o interior.

– E o que estão esperando? – A voz de Kiyoteru cortou o vento, como uma navalha. Dirigiu a pergunta com um quê de desafio para o grupo de jovens atrás de si. Eles finalmente apresentaram final de vida, se aproximando do pequeno cautelosamente enquanto lambiam os beiços – lembravam a perfeita imagem de animais selvagens avançando contra a indefesa presa. Piko lançou um breve olhar para o de óculos, desejando poder abrir um rombo em sua alma pútrida; abaixando os olhos ao chão em seguida, fechando os punhos com violência ao passo em que suas unhas criavam marcas na pele alva. Nunca havia sentido tanta repulsa pelo maior quanto naquele momento.

Um dos garotos o puxou violentamente pelo braço, trazendo o corpo dele para dentro do beco; fazendo com que caísse nos braços de terceiros. Nem teve tempo para processar o ato. O livraram do peso de sua mochila – esta que foi atirada bruscamente em algum canto aleatório. Com os olhos escurecidos de desejo eles passaram a percorrer as mãos sedentas por todo o corpo do albino. Repugnância, nojo, repudia, agonia, temor; tudo parecia ecoar nos ouvidos de Piko e embaralhava-se numa fantasia deturpada de puro terror. Em meio aquele sofrimento angustiante, ele pareceu perder a razão e o discernimento.

– Tire. As. Suas. Mãos. De. Mim. – Ordenou pausadamente. Os orbes bicolores firmes e intimidadores fixos em um dos agressores, que a esta altura tentava despi-lo da camisa. O que recebeu as palavras estacou os movimentos, ao passo que tentava entender as palavras estabelecidas pelo menor. Ele estava prestes a rir, quando, cansado de esperar, o garoto o segurou pela gola da camisa e, com uma força descomunal, o prendeu contra a parede. Sorriu maniacamente, desferindo uma série de socos precisos e dolorosos no rosto assustado do maior. Não tinha conhecimento de onde havia retirado toda aquela força, mas sabe? Estava adorando aquilo.

O corpo no qual desferia os golpes pesados se tornara mole, o seu dono estava inconsciente e, com certa decepção, Piko o derrubou no chão sem o mínimo cuidado; desferindo um chute em seu estômago que fez o rapaz encolher-se em reflexo, mesmo que estivesse desacordado. Ao fim dessa ação os colegas do agredido se levantaram contra o albino, mais por desespero do que por qualquer outro motivo. Com exceção, é claro, de Kiyoteru; o mesmo nem ao menos havia encostado um dedo no pequeno naquele dia. Ele apenas observava tudo, com um olhar de interesse genuíno a uma distância relativamente segura, apesar de que ainda corria um perigo considerável, por sua conta e risco, claro.

O albino grunhia quase como uma besta fora de controle. Esmurrava e espancava os garotos que tentavam, em vão, controlar a situação. Uma risada maníaca se desenhava em seu rosto ao quebrar os membros e partes de suas –antes agressores - vítimas. Em pouquíssimo tempo; estavam todos desacordados aos seus pés. Não estavam mortos, infelizmente para Piko. Ele olhou para as mãos, estavam um pouco sujas de sangue e ardiam de forma incômoda, seu corpo doía por inteiro e sua respiração estava acelerada. Apenas em lembrar-se do que fizera, seu corpo entrava em êxtase. O medo no rosto deles, os gemidos de dor, a fraqueza dos seus corpos, a verdadeira natureza da fragilidade humana. Era tudo tão… lindo.

Percebeu um movimento e, em uma ação rápida, prendeu o corpo do rapaz na parede. Era Kiyoteru. Ele havia perdido os seus óculos e um filete de sangue lhe escorria pela boca, ainda assim, lançava-lhe um olhar ameaçador e um meio sorriso se desenhava em seus lábios. O albino pensou divertido que ele deveria tê-lo acertado sem notar em meio ao seu descontrole, não pode deixar de sorrir com a idéia. Lá estava ele; a pessoa que era a fonte de todo o seu ódio, rancor e ira. Ele podia torturá-lo... podia até mesmo matá-lo! Estava à mercê de sua pretensão. Prendeu o corpo do maior contra a parede, concentrando tanta força nesse único golpe que o rapaz arqueou as costas dolorosamente. Bruscamente, o segurou pela gola da camisa e fitou odiosamente os orbes enegrecidos de Kiyoteru, o último que se permitiu arregalar levemente os olhos.

– Não me toque nunca mais. – Disse, por fim, com um ruído rouco e trêmulo. Quase se podia perceber o rancor e a hostilidade derramando-se ao fim de cada palavra dita. Acertou-lhe um soco impetuoso no estômago, derrubando-o no chão e fazendo-o encolher-se instintivamente, enquanto ofegava pausadamente.

Antes que fosse abandonado definitivamente; Kiyoteru levantou um pouco a fronte, tentando esboçar um sorriso falho e olhando diretamente para o menor.

– Eu sabia… sabia que você era interessante. – E soltou uma risada seca. O albino não fez menção de olhar a figura resignada ao chão. Mas suas palavras lhe causaram uma nova onda de desgosto. Naquele momento, não conseguia sentir nada em relação ao mais velho que não aversão. Apenas a lembrança de tê-lo permitido tocar em seu corpo lhe causava uma vertigem arrebatadora.

Sem mais nenhuma palavra ou uma mínima troca de olhares, ele deixou o outro caído ao lado de seus comparsas. Uma onda de alívio lhe percorreu o corpo ao entrar na segurança de sua casa, mesmo que esse sentimento fosse traiçoeiro. Ele sabia que não haveria mais luz. Nunca mais confiaria em ninguém completamente, nunca mais permitiria que lhe tocassem e lhe enchessem com falsas promessas as quais nunca foi capaz de acreditar. Prometeu a si mesmo que protegeria Len da escuridão e da dor que encontrou. Mas pra ele… pra ele não havia mais volta. Seu coração havia renascido nas trevas. Ele havia se tornado um predador. E, ironicamente, devia tudo isso a Hiyama Kiyoteru. Será que devia agradecê-lo? E sorriu. Sim, um dia iria eliminar a sua existência por completo.



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Notas finais do capítulo

Algo nessa fic me incomoda, só não sei dizer bem o que. O simples fato de que eu não pude pedir a opinião de nenhuma das garotas que participaram do amigo secreto me deixou bem perturbada - já que todas elas fecham o círculo de pessoas pra quem eu costumo fazer isso. Eu queria ter criado um background melhor pros dois protagonistas, mas eu precisaria de mais capítulos e precisa ser uma One-shot. Acho que o final poderia ter sido melhor também...mas enfim. O Piko era pra ter se tornado Yandere no final. Mas ele tá mais pra Yangiri bonzinho que não matou ninguém -Q Desculpe, Haru-chan. Não me mate, sim? *VaiSeEsconderDebaixoDaCama*
Acabei de realizar que essa é a maior One-Shot que já escrevi e o primeiro Yaoi que posto.
Espero que você(s) tenha(m) gostado!
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