Os Sonhos Me Contaram escrita por N a y


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Depois de muuuuito tempo sem postar nada, finalmente voltei com esse décimo capítulo aqui. E bem grandinho, até...
Me esforcei muito por ele. Tive que mudar muita coisa pra ficar do emu agrado e sem falar que é muito ruim escrever sem inspiração.
Espero que realmente gostem ^.^



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Ethan POV

Então ela chegou. Já era perceptível sua chegada antes mesmo de entrar no condomínio. Por causa daquela sensação. Não sabia por que ela me causava aquilo mais forte do que qualquer outra pessoa me causava.

Rachael era diferente. Diferente até entre nós.

Queria poder explicar tudo a ela antes de do dia 27 chegar. Isso não simplesmente não será possível. Há pouco tempo, apenas dois dias, sem contar o último, é claro, sempre deixamos o último dia a critério da pessoa. Eu tinha certeza que ela não iria desperdiçar o último dia. Daqui três dias, se contar hoje.

Na verdade era pra eu ter ido falar com ela no primeiro dia que cheguei aqui. Mas houveram imprevistos. Primeiro chegamos atrasados aqui. Depois Lupatini enviou a mensagem atrasada. E em seguida Nathaniel aparece. Eu não sei por que aquele indivíduo viera aqui, mas aquilo era muito estranho.

Lupatini conseguiria explicar tudo em um dia só se quisesse. Mas essa não era a tarefa dela aqui. Era minha. E seu jeito também era um tanto peculiar. Não que fosse prejudicial ou coisa do tipo. Mas talvez não seja a melhor maneira de fazer isso. É muita informação para uma pessoa absorver.

- Com licença. – Disse Rachael ao entrar.

Já era de se esperar que ficasse insegura. Mas havia algo mais com o que ela estava preocupada. Ela observada cada canto da sala com um olhar atento. Não que isso fosse de modo algum me incomodar, porém havia algo que ela estava procurando. Havia um móvel antigo em que ela não tirava os olhos. Era um pequeno armário no canto.

- Há algo que você procura?

- Tudo isso é estranho.

- O que é estranho?

- Essa casa, os móveis, as paredes. Você. Tudo.

Ergui uma sobrancelha. Sim, tudo era estranho para uma pessoa que mal sabe o que lhe espera pela frente.

- Não há nenhuma foto. Nenhum indício de que alguém mora aqui. Os móveis estão todos empoeirados...

- Realmente ninguém morou aqui durante muito tempo. Mas então nós chegamos. Essa casa já era minha antes de ser abandonada. E na verdade nem vim de um intercambio. Mesmo assim, isso não significa que não viajei para vir até aqui.

Virou o olhar em minha direção. Me encarou por alguns segundos como se me analisasse. E por fim disse:

- Você fala como se fosse muito velho.

Não respondi. Sorri maliciosamente, ela era esperta. Esse era um assunto que queria deixar para depois. Mais uma vez voltou a observar os móveis da casa.

- Você disse “nós”. Alguém de “nós” seria uma criança? Uns treze anos?

Agora ela me deixou surpreso. Sim, havia. Não sabíamos sua idade ao certo, mas aparentava ter doze. Uma menina dos cabelos loiros e olhos azuis. Seu nome era Anita Lupatini, mas todos a chamavam pelo seu sobrenome. Apesar de sua aparência ser linda e graciosa, sua mente era de uma adulta extremamente esperta. Eu não, nem as outras pessoas conseguíamos saber o que ela pensava e muito menos o que ela faria. Creio que ela seja a pessoa que melhor sabe pensar em situações difíceis nos Jardins. Como Rachael sabia de sua existência e de que ela era da minha equipe eu não sei.

Havia também um homem, Nathaniel Appel. Já não gostava dele desde sempre. Nossos gênios não batiam. Na verdade, não tinha nenhuma razão concreta para odiá-lo. Dessa vez apareceu do nada dizendo que iria nos acompanhar.  Não entendi nada, mas não tinha como dizer não.

Sempre tomamos o cuidado de ela não encontrar e nem ao menos ver eles dois. Eles saiam na hora que ela vinha ou ia para a escola. Não tinha como ela saber.

Mas ela sabia de alguma forma.

- Sim. Doze anos.

Ela continuou a observar os móveis da casa. Sua expressão mudou para medo. Cochichou algo sobre não ser muito claro.

- O que? – Indaguei.

- Ahn... Nada. Nada não.

Sua expressão não era nada convincente. Estava na cara que ela estava mentindo. Tinha, sim, alguma coisa que ela sabia. Algo que estava deixando-a assim desde quando ela colocou seus pés nessa casa. Algo que ela não queria me contar. Acabei por assentir. Não havia nada que pudesse fazer para fazê-la falar. Se eu perguntasse não adiantaria de qualquer jeito.

- Rachael, você disse que consegue sentir. Então deve haver algo com o que você aproxima isso.

Ela parou pra pensar um pouco, como se perguntasse se deveria mesmo responder. Finalmente falou:

- Eu... – hesitou – Acho que não tem algo com o que eu possa realmente comparar. É uma coisa que eu sei que não vai me fazer mal ou bem. Não incomoda. Mas ao mesmo tempo sei que é algo que não era para estar lá.

Novamente sorri. Acho que é exatamente isso. Algo nem bom nem ruim. É algo com o que eu estou acostumado a conviver todos os dias. Todas as pessoas diferentes, como nós, causam essas sensações uns nos outros, mudando apenas a intensidade, que variava de um para outro.

- No começo é mesmo estranho. Logo você se acostumará. Encontrará pessoas que também lhe causarão esse tipo de sensação. Nós falamos que isso é o nosso sexto sentido. Mais tarde também saberá diferenciar cada pessoa a cada variação dessa sensação. Quando você se acostumar, e se distanciar das pessoas que ativam esse sexto sentido, aquilo lhe fará falta. Como se fizesse parte do seu corpo.

Ela nada respondeu. Na verdade não seria surpresa se ela não estivesse ouvindo, parecia estar tão absorta em pensamentos que era difícil dizer se o chão em que ela estava pisando era o mesmo que o meu. Não demonstrava nenhuma emoção.

- Você disse “nós”. Quem é “nós”?

Bom, teríamos que chegar a essa ponto alguma hora. Não queria que fosse agora, mas...

- Antes disso queria confirmar uma coisa. – Esperei alguma resposta. Nenhuma – Você gosta muito da natureza, não?

Ela deu um sorriso tímido. A resposta era sim.

- E com natureza, também estão incluídos animais em geral, certo?

- A-ham.

- Nós. – Fiz uma pausa – Existem mais pessoas como eu e você.

Acenou com a cabeça.

- Essas pessoas vivem de certa forma afastadas. Longe dos seres humanos normais. Vivemos numa espécie de comunidade onde tudo é diferente. É um lugar mais puro, vívido. Gostar da natureza era algo em que todos nós temos em comum. Lá é um lugar em que todos nós achamos um lar de verdade, que nos sentimos bem.

É lógico que eu dizia aquilo para não tentar assustar. Apesar de ser tudo verdade. Os primeiros dias são os piores.

Rachael tinha uma expressão pesada em sua face. Surpresa, tristeza, raiva, medo? Eu não sabia dizer. Ela havia percebido. Um dia, obviamente, teria de ir lá. E provavelmente também estava ciente que esse dia estava perto. Exatamente em três dias.

- Nós costumamos chamar esse lugar de Jardins. É mais fácil você relacionar esse lugar com o jardim do Éden.

Me encarou como se duvidasse do que eu estava falando.

- Você realmente está dizendo que eu tenho eu vou ter que ir pra mesmo?

- Sim.

Essa fase, na teoria deveria ser a mais difícil, mais dolorosa, triste. Porém, não era o que a acontecia. Para todas as pessoas dos Jardins, essa parte foi muito fácil. Fácil não era exatamente a palavra certa. Talvez aceitável fosse. Todos que iam pros Jardins sempre tiveram a vida na Terra muito solitária. Não eram acostumados a ter amigos ou carinho pelos familiares. Geralmente só tinham contato com os pais e mais ninguém ou então com apenas só com o pai. Até hoje, eu havia descoberto apenas uma exceção.

Rachael.

Tinha duas amigas fiéis. E não era assim tão solitária com os colegas de classe. E essa era uma das razões das quais Rachael era diferente. A outra era que ela emanava um poder diferente dos demais. Era intenso. Ela e outras dez pessoas era assim também, de um poder incrível. Mais uma pessoa estava por vir ainda.

- Vou simplesmente abandonar todos?

- Isso é um assunto delicado. Esse tempo não foi calculado e terá de ser o mínimo possível.

Não que eu estivesse sendo sangue frio, mas era que esse tempo não existia. Não foi previsto que alguém precisaria desse tempo.

Ela inspirou vagarosamente, tentando se acalmar. Havia algo com o que se preocupava. Desde o momento em que colocou os pés nesta casa. Algo que ficou evidente quando perguntou de uma criança. E tenho quase certeza que parte do impacto das palavras que eu dizia estava sendo amortecido por causa disso.

- Há algo te incomodando, não há?

- Está tão na cara assim?

- Está.

Fechou os olhos, finalmente se sentou. À minha frente, no sofá.

- Essa criança que eu te falei. Ou melhor, que te perguntei... Será que – Fez uma pausa – Você poderia descrevê-la pra mim?

Lupatini? Ainda estava interessada nela?

- Digamos que ela seja graciosa. Possui uma aparência frágil. Mas ela é muito esperta. Tem olhos azuis e cabelos loiros. Está sempre com uma...

- Espera. – Me interrompeu – Ela? Uma garota? Eu me referia a um garoto.

 Um garoto? Mesmo? Eu realmente falei dei informações sobre Lupatini sem precisar. Se ela estivesse aqui, me mataria.

Rachael estava igualmente surpresa.

- Quem seria a tal garota? Se ela mora aqui, então acho que já a vi. No parque. Com mais alguém. – Ela se atropelava com as palavras, não sabendo como se expressar.

Então ela realmente viu Lupatini e Nathaniel. Agora eu queria saber quando. Nós tomamos tanto cuidado para ela não vê-los. O fato de ela ter visto e sentido os dois, significava que Lupatini sabia disso e não havia me falado. Para as pessoas como a Rachael, que estão passando por esse processo, é melhor que eles não sintam mais ninguém além de mim ou qualquer outro de nós que esteja os preparando. Assim há menos confusões.

- Mas, voltando, o garoto que eu te falava se parecia muito com você. Achei que fosse seu irmão ou coisa do tipo.

Eu sou filho único. E mesmo que fosse algum primo meu, duvido que fosse mais novo.

- Não tenho nenhum parente parecido comigo. Onde você viu esse suposto meu irmão?

Hesitou. Não queria falar onde. Mesmo sendo apenas o lugar.

- Eu não posso falar.

Não podia, ou não queria? Quanto mais eu falo com ela, mais eu acho que ela pode ser a nova Profetisa dos Jardins.

Depois de passado algum tempo em silêncio, ela abaixou a cabeça.

- Por quê? Por que temos que ser diferentes?

Não sabia se devia responder aquela pergunta. Era uma resposta que nem todos aceitavam facilmente. Havia aqueles que nem ligavam pra isso, como eu, e outros que não queriam ser assim, mas encaravam tudo mesmo discordando sem realmente demonstrar.

Desviei a pergunta.

- Há muitos mistérios que o ser humano não pôde desvendar e talvez nunca desvende. Por isso eles criaram na cabeça um ser divino. Nós, que somos diferentes, temos certos poderes sobre fenômenos da natureza e afinidades com a mente humana.

- Mente humana?

- Sim, há pessoas com o poder de se comunicar mentalmente e outras moverem ou criarem objetos do nada. É interessante. Você também esta incluída. Talvez você ainda não saiba qual é esse poder, mas você descobrirá eventualmente. Ele já deve ter se aflorado.

- Se todos tem um poder, qual seria o seu?

- Eu? Consigo ver tudo num raio de 2 km. Com tudo, eu quero dizer que daqui eu posso ver a rua, as outras casas e o que o porteiro está fazendo neste exato momento. Só que não é sempre, digamos que seja só quando eu quero.

Na verdade alguns poderes só se ativam com a fala ou algum movimento. O meu se ativa com um estralo. Mas isso ela descobriria depois de conhecer outras pessoas.

- Há também uma questão de idade. As pessoas dos Jardins deixam de envelhecer depois de algum tempo. Eu fiquei com a aparência de dezenove anos. Lupatini com doze. Na verdade, Lupatini é exceção. Geralmente as pessoas estabilizam entre dezoito a vinte e sete anos. Há também a idade em que as pessoas vão pra lá. É mais ou menos a sua idade. Entre os dezesseis e dezenove anos.

Parei. Meu sexto sentido chamou. As duas outras pessoas residentes dessa casa se aproximando. Estalei os dedos e os vi calmamente caminhando em direção a esta casa. Nem precisava ter feito isso, mas o fiz só pra confirmar. Pela expressão de Rachael ela também parecia ter percebido.

O que Lupatini e Nathaniel faziam aqui? O combinado foi outro. Algo me dizia que tinha a ver com o fato de Rachael já tê-los visto.

Quando chegaram, ainda tiveram a cara de pau de tocar a campainha.

- Ahn... Com licença.

Fui atender à porta. Assim que a abri, uma mão me puxou e outra fechou a porta rapidamente atrás de mim. Por reflexo me desprendi com facilidade e empurrei o corpo que me segurava para trás. Nathaniel. Eu já não gostava dele. E ele fazendo essas coisas me deixava com mais ainda repulsa dele.

Lupatini se encontrava a minha esquerda.

- O que vocês querem, hein? E pra que me puxar assim, Nathaniel?

Eu nunca consegui chamá-lo pelo apelido, Nathan. Talvez fosse pelo fato de não gostar dele. E ele também não era idiota de não perceber isso, por essa razão não sei por que ainda implicava comigo.

- Ethan, você se irrita fácil, não é? – Deu uma risadinha.

Já Lupatini permanecia séria e fria. Eu nunca a vira sorrir na vida, pelo menos nunca longe de uma pessoa. Só perto dele ela mudava.  Ficava sorridente, feliz, como se fosse outra pessoa. Nos Jardins encontramos pessoas destinadas para cada um de nós. Lupatini havia encontrado a dela. Dizem que ficar ao lado dessa pessoa especial faz você se sentir bem, vívida, alegre. Não encontrei coragem de perguntar a Lupatini como ela se sentia ao lado dele. Do jeito que ela era, era capaz de me ignorar e sair andando.

- Mudança de planos. – Explicou Nathaniel – Vamos nos apresentar para Rachael hoje e...

- Ele quis dizer, você vai nos apresentar hoje. – Interrompeu Lupatini – E partir para os Jardins mais cedo. Como você provavelmente já sabe, ela já nos viu. E se não sabe, agora está sabendo. – Não gostava muito do jeito de como Lupatini explicava as coisas, mas eu tinha que concordar que era o jeito mais rápido – Então não tem o porquê de ficarmos enrolando.

- Não sabíamos que ela iria sair mais cedo da escola ontem. Você também não nos avisou nada! – Reclamou o energúmeno.

Ele sabia muito bem que eu não tinha como avisar, mas insistia em implicar comigo. Sair junto com ela seria estranho demais e mesmo que eu fizesse isso ainda tinha a chance de ela ver os dois.

- Já explicou o principal pra ela? – Perguntou Lupatini.

- Ainda não.

- Acha que ela vai ficar bem passar pros Jardins de primeira sem saber o que vai encontrar?

- Não sei bem, mas acho que sim.

- Achar não é ter certeza, Ethan. Você vai ter a oportunidade de explicar a ela sobre isso. Ou você explica ou não. Você tem que saber.

Lupatini era firme em dar ordens ou sermões desse tipo. Mesmo com o tempo que havia passado com ela, ainda era estranho, uma garotinha dizer isso pra mim.

- Eu sei que o tempo, dessa vez está corrido, mas acha que consegue explicar tudo?

- Nem pensar. Acho que até sei o que não vou explicar.

Fiz uma lista mental do que falar e não falar.

- Já falou sobre a data? – Perguntou Lupatini.

- Sim. Só não falei que dia é.

- Mas já disse a parte dos poderes, né?

- Já.

- Ótimo.

Com essa última palavra, sem mais nem menos, se virou e entrou na casa. Fiquei meio sem reação, mas a segui em direção à porta, com Nathaniel seguindo logo atrás de mim e aposto que achando graça da minha reação. Quando pude ver, Rachael estava exatamente no mesmo lugar, em pé, como se não tivesse feito um só movimento.


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Notas finais do capítulo

Valeu por quem leu até aqui!
Mereço reviews?



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