He woke up from dreaming and put on his shoes,

Started making his way past two in the morning,

He hasn’t been sober for days…

Leaning now into the breeze, remembering Sunday, he falls to his knees,

They had breakfast together, but two eggs don’t last like the feeling of what he needs,

Now this place seems familiar to him… […]

Forgive me, I’m trying to find my calling, I’m calling at night,

I don’t mean to be a bother, but have you seen this girl?

She’s been running through my dreams and it’s driving me crazy, it seems…

I’m gonna ask her to marry me… Even though she doesn’t believe in love.

- Remembering Sunday

Poseidon

As coisas deram certo pra mim, é verdade. Eu estava no Brasil há quase um ano e tinha me adaptado bem. Até no inverno é calor aqui, é bom. Melhor do que andar cheio de roupas por causa da neve. Consegui emprego e fiz alguns amigos. Moro em uma cobertura que tem vista para a praia.

Ainda estou solteiro, para meu espanto. Não é que meu sonho sempre foi me casar e ter filhos, ok? É que... eu sempre me imaginei formado, em um emprego bom e estável, casado e com pelo menos um filho de olhos verdes. Sim, pareço uma garota falando assim, mas é verdade. Meus pais não foram os melhores do mundo, todos sabemos, por isso quando era pequeno eu costumava me imaginar com meus próprios filhos, fazendo aquilo que Cronos nunca fez. Nem comigo, nem com Hades.

Mesmo assim, eu estou feliz. Tenho que estar, não é? Eu tenho uma mulher na minha vida, pra não dizer que fiquei tão solitário. O nome dela é Sally. É uma carioca de cabelos pretos e olhos lindos. Meus sentimentos por ela são os mais fortes, desde Athena. A verdade é que eu nunca quis comparar as duas, não seria certo. E eu sei que é bobo, e que vocês provavelmente vão querer me bater, mas eu ainda amo aquela garota de cabelos cor de ouro e olhos cinzentos como uma tempestade. Não me julgue por isso.

Só há um problema na equação. Dois, honestamente. Sally é casada. E muito feliz, diga-se de passagem. O que ocorreu – ou ocorre – entre nós não é sério e não vai nos levar a lugar algum, verdade. A outra parte da questão é a seguinte: ela está grávida. E eu sou o pai.

Eu estava pensando nisso enquanto tomava um suco, olhando o horizonte lá longe. Eu tinha conversado com ela ontem, dito que talvez eu voltasse para a Califórnia, para a formatura de Apolo (e minha mente continuava a acrescentar: e de Athena, daqui a seis meses!).

Ela não viu problema nisso. O marido pensava que o filho era dele e graças aos deuses ele também tinha olhos verdes (!), o que é uma coincidência notável ou apenas o cartão de visita de Sally. Ela disse que qualquer coisa me mandava um e-mail.

E eu soube o motivo de ter tido uma paixonite por ela. Sally era totalmente amável e simpática, sempre estava sorrindo, agindo como se não existisse nenhum problema no mundo. Eu não poderia encontrar mulher melhor para me consolar.

Então minhas malas estavam prontas. Eu iria naquela noite mesmo e estava mais ansioso do que nunca. Como seria aquele reencontro? Não queria nem pensar. Sofrer por antecedência nunca fora muito legal.

Dormi por algumas horas, antes de tomar banho e ir para o aeroporto. No meu sonho eu vi Athena, em um vestido branco e com um sorriso lindo no rosto; seus cabelos caíam em uma trança por cima do ombro direito e ela me estendia sua mão, como se me convidasse.

Ter aqueles sonhos já tinha virado rotina, mas nunca me pareceram tão reais quanto dessa vez.

Entrei debaixo da água fria e me esqueci da vida por alguns minutos, mas depois não pude mais evitar. Troquei de roupa, verifiquei se não tinha esquecido nada, peguei as malas e desci pelo elevador.

Quando cheguei ao aeroporto, a lembrança de quando me despedi daquelas pessoas me vieram à tona e a tristeza e a vontade de voltar para o meu apartamento me atingiram. Mas era tarde demais, eu já tinha feito minha escolha e agora seguiria até o final, mesmo que não me fosse favorável.