:: Capítulo 2: Terça-feira ::

Escrito por: Wenky (Andréia)

Terça-feira. 19:00 horas. Cozinha da Lucy.

Depois de passar boa parte de mais um dia fugindo de praticamente todos da guilda e de maiores aproximações com Natsu para que não começasse a rolar mais boatos, Lucy chegou em casa por volta das sete da noite. E sentia como se uma parte dela fosse comer qualquer coisa que colocassem na sua frente, então certamente a primeira coisa que fez ao chegar foi ir em direção a sua geladeira e a vasculhar.

Mas não poderia imaginar no que seus olhos viam: não havia absolutamente nada para uma boa refeição. E seus olhos correram rapidamente para a sala, para Natsu e Happy com seu último pacote de biscoito em mãos. Algo subiu em sua testa com a cena. Quase que quis gritar! Como que eles chegavam em sua casa ainda mais rápido do que ela e faziam questão de esvaziar a sua dispensa?

— Estávamos famintos. – Natsu lhe informou.

— Aye!

Lucy ergueu uma das sobrancelhas e pensou na última vez em que fez compras, chegou a conclusão de que fora menos de uma semana. Ela havia feito compras e em menos de uma semana não havia mais nada! Quais tipos a mais de dificuldades poderia haver em conviver com Natsu?

Deu um suspiro pesaroso enquanto esses pensamentos lhe enchiam. Talvez ela estivesse sendo rude demais com isso. Talvez estivesse se aborrecendo demais com poucas coisas, afinal de contas, Natsu era seu amigo. Era um grande amigo. Apesar de toda a confusão e de toda a bagunça que ele causava e ainda com os comentários sobre os dois que enchia sua mente, ele não deixava de ser um grande amigo. E ele já lhe salvara várias vezes em missões. Foi ele quem a salvou quando se conheceram, e graças a ele ela estava na Fairy Tail.

Então talvez ela devesse ser um pouco menos exigente e levar aquela semana sem toda essa tensão, sem toda essa preocupação com a bagunça que Natsu causaria ou as coisas que ele quebraria. Talvez ela devesse levar tudo isso como uma diversão. A que sempre costumavam a ter juntos de alguma maneira quando ela não estava levando tudo a sério. Talvez devesse se juntar mais a ele e aproveitar sua companhia, sem todos esses pensamentos malucos que lhe corriam na mente.

— Err. – começou coçando a garganta e com uma das mãos na cabeça. – A dispensa está vazia e a geladeira também. Que tal pedirmos uma pizza? – e deu um sorriso convidativo e no segundo seguinte seus ouvidos já estavam se enchendo dos comentários de Happy e Natsu.

E começou a rir junto deles e de sua animação.

— HEHEHEHE Mas tem que ser a maior possível. – Natsu lhe disse. – Ainda estou faminto, esses biscoitos não adiantam de nada. – comentou apontando para o pacote vazio.

— Ok. – Lucy confirmou dando uma piscadela e indo em direção ao telefone para fazer o pedido.

— Por que não compramos alguns chocolates? – Happy indagou.

Lucy pensou por um tempo.

Por que não fazerem uma noite divertida juntos? Poderia ser realmente bom e ainda impediria em partes de que Natsu destruísse algo, já que ele estaria ocupado comendo alguma coisa e assistindo algo na televisão. Apesar de que, pensando melhor, Natsu tinha o verdadeiro dom de destruir as coisas, era quase que impossível não quebrar nada, não fazer nenhuma algazarra, não ser barulhento. Mas era o jeito dele e eles sempre se divertiam, não era mesmo?

— Certo! – deu um sorriso – Vocês dois vão comprar alguns chocolates enquanto eu faço o pedido da pizza.

— Grande?

— Sim, tamanho família. – afirmou para o garoto de cabelos róseos e no minuto seguinte ele estava saindo pela janela junto de Happy para comprar os chocolates. Pela janela, como sempre. E Lucy decidiu sorrir diante da mania do amigo.

Não demorou mais de vinte minutos para que o entregador de pizza chegasse e Lucy fosse lhe atender, assim como Natsu e Happy estavam de volta em alguns minutos e haviam trago três barras de chocolate e um refrigerante. Logo os três se juntaram em frente a televisão, cada um pegando um pedaço de pizza.

Natsu havia pegado o maior de todos e pouco se importava com o filme que passava em um dos canais que Lucy havia ligado. E não demorou muito tempo para que não restasse mais nada da pizza. E Natsu e Happy passaram alguns minutos discutindo sobre quem havia pegado o pedaço maior e que Natsu nem havia deixado muito para ele.

Lucy ria enquanto seus olhos se prendiam na TV. Se lembrou de quando conheceu Natsu e lhe pagou uma refeição. Se lembrou do susto ao ver a conta, mas ao mesmo tempo se lembrou de como ele era divertido e isso a fez rir mais uma vez.

— Natsuuu. – a voz de Happy saiu mais alta. – Eu não vou deixar você comer mais chocolate. – declarou enquanto puxava uma barra da mão do amigo.

— Mas essa é a minha! – Natsu retrucou. – Lucy, cadê a outra que estava aqui?

— Ora, essa é a minha! – disse com um pequeno sorriso.

— Mas então aonde o Happy colocou a minha?

— Você não já comeu?

— É claro que ele já comeu e ainda está querendo a minha! Isso não é justo, Natsu!

E o garoto de cabelos róseos revirou os olhos.

— Você sabe que é minha por direito, não é? – indagou Happy que se emburrou.

— Por que vocês dois não olham para a televisão? – Lucy deu uma sugestão, na verdade, soou quase como uma repreensão com a intenção de fazê-los ficarem quietos.

E até que ficaram, seus olhos se prenderam na tela e depois de um tempo Lucy percebeu que estavam entretidos. E ficaram assistindo ao filme por um bom tempo, até ela começou a sentir seus olhos cansados, começou a se perguntar se tal cansaço era normal em um horário tão cedo. Até que se lembrou de que mal dormiu na última noite por conta de toda confusão que fora criada e então começou a entender os motivos de suas pálpebras estarem cansadas e quase se fechando. Começou a entender porquê o som da televisão parecia lhe ninar perfeitamente e porquê o cansaço tomava conta dela. E aquela sensação estava realmente boa, sentia que apenas precisava de um lugar para apoiar a cabeça antes que tombasse completamente e de qualquer jeito em seu tapete.

Até que conseguiu um bom apoio, suficientemente confortável: o colo de Natsu, e decidiu se deitar inconscientemente de onde estava se deitando. De início os olhos dele pareciam confusos com o fato dela estar se deitando nele, e quase quis chama-la. Mas percebeu que a amiga estava realmente cansada. Happy observou a cena por um instante.

Lucy deitada no colo de Natsu.

Natsu a observando enquanto ela parecia estar caindo num sono profundo.

Natsu a observando por um bom tempo. Parecia quase perdido, como se por um instante ele estivesse pensando em algo, e estivesse concentrado em seus pensamentos.

E a cumplicidade. E o tipo forte de cumplicidade que tinham um com o outro.

Os olhos de Happy pareciam divertidos, até chegar perto de Natsu e sussurrar:

— Ela gossssssta de você. – e dar uma risada.

Natsu se virou para ele com as sobrancelhas cerradas.

E Happy riu mais ainda.

E por um segundo quis se levantar dali e fazer com que Lucy se levantasse também, antes que Happy percebesse que ele já estava ficando levemente corado. Antes que fosse possível perceber o seu rubor. Mas pensou que ela estava confortável, e ainda que tê-la deitada em seu colo fosse desconfortável em todos os sentidos, ele se sentia incapaz de retirá-la dali.

E então, ficou dessa maneira por alguns minutos, até que o filme acabou e Natsu se decidiu que não iriam passar a noite toda desse jeito, iria levá-la até a cama.

E Happy parecia estar se divertindo com a situação enquanto Natsu carregava Lucy de forma desajeitada e dessa mesma maneira se preparava para coloca-la em sua cama.

Até que seus olhos se abriram sonolentos e perdidos. Como se por conta do balançar ela tivesse despertado. E Natsu estremeceu levemente.

Kuso! Ele havia a acordado.

— Natsu? – indagou, a voz baixa e embolada. Ainda perdida, ainda se localizando.

Ele a olhou por um tempo e nesses segundos Lucy pôde perceber que estava sendo carregada por Natsu até sua cama. Um rubor lhe subiu e ela quis que ele a colocasse no chão e estava quase pedindo por isso até que ele lhe colocou em sua cama e lhe deu uma pequena risada sem graça.

E ela quis gritar a sua maneira histérica, como sempre fazia.

Mas se calou engolindo algo confusa. Sentiu um forte rubor subindo que lhe impedia de falar algo, qualquer coisa que fosse.

E de alguma maneira, ambos agradeceram o fato de estar escuro e o rubor em suas faces não pôde ser visto. Mas incrivelmente, apenas por alguns minutos se fez um silêncio entre eles, o silêncio mais constrangedor possível. E os olhos de Lucy pararam em Natsu, e os dele nela. E ela corou mais ainda pensando que havia se deitado em seu colo, ainda que inconscientemente. E pensando nele a carregando. Nele a observando dormir e mais ainda quando a voz de Happy quebrou o silêncio dizendo:

— Eles se gossssssstam.

Algo se formou na testa da loira, juntamente do rubor que tomou toda sua face.

— Cala a boca, gato! – sua voz saiu alta. – Já está tarde. – declarou. – Vamos todos dormir. – e se virou em sua cama apertando fortemente os olhos, agradecida por conta da falta de luz impedir a todos de ver sua face completamente corada. Ainda que sua voz lhe denunciasse em partes. Mas de fato, sua mente só conseguia processar uma única coisa: O que foi aquilo que acabara de acontecer?

“Ah, ele apenas te carregou”

Algo sussurrou. E ela suspirou aliviada, não havia nada demais e...

“Que olhar foi aquele?” A pergunta se fez em sua mente, afinal, ainda que estivesse de fato escuro ela pôde perceber o olhar. E a tensão, e o silêncio.

Oh, Kami sama! O que foi tudo aquilo? E aquela sensação? E por que seu coração estava acelerado? Por que o rubor? E... Droga! Natsu também estava dormindo naquele quarto! Mas desde quando aquilo começou a importar? Eles sempre ficavam próximos em suas missões. Mas não sozinhos, pois é. Eles nunca ficavam dormindo no mesmo local sozinhos. Mas ainda tinha Happy, não tinha? Aquele maldito gato ainda servia para algo e... Maldita inner em sua mente repetindo os acontecimentos e lhe lembrando de tudo que a incomodava! Por que tinha de a lembrar? Por que não simplesmente repetia que era coisa da sua cabeça? Afinal de contas, na noite passada ela não havia se incomodado de dividir a cama, ok, ele já estava adormecido. E ela ficou numa posição tão desconfortável que acabou por acordar debaixo da cama. E tudo que ela queria era o incomodar para sair da sua cama e...

Oh! Quantas controvérsias! Sua cabeça queria explodir!

Tudo que sabia era que devia parar. Devia parar de fazer comparações e de pensar, devia parar de agir como se tudo estivesse estranho. Afinal de contas, aquilo só devia estar parecendo tão “romântico” porque ela ficara com aquelas ideias loucas do pessoal da guilda repetindo-se constantemente. Era isso! Estava apenas vendo coisas onde não tinha! De qualquer jeito, ela passou todo o tempo até adormecer repetindo em sua mente que de fato não havia nada.

Apenas coisa de sua cabeça.

Nada mais.

E no dia seguinte, a única coisa que poderia desejar era Natsu destruindo tudo. Isso mesmo! Era mais agradável quando ele era irritantemente destruidor.

:: Continua ::